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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Chamado e envio correto - O princípio básico para o sucesso



INTRODUÇÃO
Creio que grande parte de nosso sucesso se assim posso dizer, no campo missionário é saber esperar o tempo de Deus, já que o missionário é aquele que é levado por Deus ao campo para simplesmente ver o que o nosso grande Deus é capaz de fazer.
Qual seria o grande modelo Bíblico de chamado e envio que poderia nos colocar com os pés no chão para evitarmos tragédias futuras?
Ex:
• Volta prematura por falta de retaguarda de oração e sustento.
• Falta de preparo adequado.
• Tratamento de caráter: submissão, obediência e fidelidade.
** 40% dos candidatos ao campo missionário voltam antes do tempo.

CHAMADO DE PAULO
1º. Deus o chamou.
“Disse-lhe porém, o Senhor: Vai! Este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome perante os gentios, os reis e os filhos de Israel. Eu lhe mostrarei o quanto deve padecer pelo meu nome.” Atos 9:15,16
2º. O Espírito Santo comunicou a liderança da igreja.
“Na igreja de Antioquia havia alguns profetas e mestres, a saber: Barnabé, e Simeão, chamado Niger, Lucio de Cirene, Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo. Servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então depois de jejuarem e orarem, puseram sobre elees as mãos, e os despediram. Assim estes, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Seleucia, e dali navegaram para Chipre”. Atos 13:1,4.

• Quem chama? O Espírito Santo.
• A quem comunica? 1º. Ao comissionado “atos 9:5,16”, depois aos seus líderes “atos 13:1,4”.
• Quem envia? O Espírito Santo através dos lideres da igreja, já que o missionário é extensão da igreja no campo.
• Qual o tempo do chamado para o envio? O tempo é do Espírito Santo, que nos chama e revela aos nossos líderes.
Deus quer nos preparar:
• Deus vai usar pessoas e situações para nos provar.
• Deus vai usar nossa liderança para nos dizer alguns “nãos”.
• Deus vai testar nosso caráter. “O CARATER ANTECEDE A MISSÃO”.
• Deus vai testar nossa submissão, obediência e fidelidade a nossa liderança, ao chamado e ao Senhor.
O espírito Santo não trás confusão. Ele é sábio!
Alguns princípios do envio:
Vs. 2 “Apartai-me” – Grego:aphorisate (aphoriso) = Separar p/ um serviço, estando ainda ligado a igreja.
Vs. 3 “Puseram sobre eles as mãos” – Grego: Ephitente tas cheiras = Transferência de autoridade eclesiástica.
Vs. 3 “Onde parecia que estava tudo certo, foram jejuar e orar para despedi-los, tudo com muita responsabilidade e no vs. 4 “enviados pelo Espírito Santo” parece contraditório, já que é a igreja que está enviando, mas nos mostra uma lição, onde o Espírito Santo envia através da igreja, já que a igreja é o templo Dele.”

Conclusão:
Há muita empolgação para o campo missionário, mas temos que ser maduros o suficiente para não abortarmos o missionário gerado pelo Espírito Santo na igreja e também não podemos enviar ninguém prematuramente, há um tempo de Deus e que Ele nos ajude a entendermos isto.

PR. ELIAS DE OLIVEIRA LARANJO

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Missiologia e a Teologia da Prosperidade


Wellison Barbosa dos Santos
Introdução
Nicodemos, membro do Sinédrio, o supremo tribunal dos judeus, foi procurar Jesus à noite, talvez com receio de ser visto com o Mestre, com uma argumentação interessante: “Sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele” (Jo 3:2)
Porém, a resposta de Jesus foi mais interessante: “A isto respondeu Jesus: em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” (Jo 3:3)
Jesus está mostrando que o reino de Deus não pode ser conhecido do lado de fora pelas evidências que sustentem as argumentações humanas, mas que o reino de Deus só pode ser visto e reconhecido em suas verdadeiras virtudes por quem estiver dentro dele.
A réplica de Nicodemos a Jesus foi proporcional ao que ele via e entendia: “Como pode um homem nascer de novo, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?” (Jo 3:4)
Diante disso, Jesus fechou a questão, dizendo: “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino dos céus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo.” (Jo 3:5-7)
Portanto, o reino de Deus tem na encarnação e Obra do Cristo e na sua consequência maior, o novo nascimento, o ápice das suas manifestações, o que parece ter mudado na concepção de muitos que dizem enxergar o reino estando do lado de dentro.
Sim, porque nos dias atuais quando a presença e a influência da teologia da prosperidade atingem até mesmo os redutos mais conservadores da fé cristã: não é mais Cristo e o novo nascimento, o ser uma nova criatura em Cristo Jesus, o grande sinal do reino de Deus entre nós.
O reino de Deus está entre nós porque agora somos prósperos e abençoados; não somos mais cauda, somos cabeça; não somos mais empregados, somos patrões; determinamos pela fé o que queremos de Deus e por aí vai.
Mais do que um produto da mídia habilmente manipulado, o que estamos assistindo no nosso país é um ataque frontal aos alicerces da fé reformada, cujas consequências atingem a obra missionária não somente na questão das contribuições financeiras e na disponibilidade de vocacionados, mas principalmente na teologia que norteia a nossa missiologia.
As igrejas adeptas da teologia da prosperidade estão repletas de “abençoados e prósperos”, mas não de verdadeiros discípulos de Cristo nascidos de novo; uma grande contingente resultante de um sincretismo tão perigoso quanto ao visto em várias localidades da África, onde a prática cristã e o ocultismo convivem em igual escala de importância.
Portanto, faz-se necessário refletirmos neste texto do evangelho de João, no capítulo 3, versículos 1-21, acerca dos impactos da teologia da prosperidade na teologia que norteia a nossa missiologia, tendo como premissas:
  1. A centralidade da Cruz
  2. A proclamação da Missão de Cristo
A Centralidade da Cruz (1ª Premissa)
Os sinais de quem via o reino de Deus pelo lado de fora inquietaram o coração de Nicodemos, assim como os supostos milagres da teologia da prosperidade preparados e veiculados na mídia tem inquietado o coração de muitas lideranças evangélicas brasileiras.
A grande maioria ávida em repetir as receitas de sucesso das grandes igrejas neopentecostais, reconfiguraram suas liturgias para atrair mais pessoas e consequentemente maiores arrecadações, mas não se preocuparam com os pressupostos teológicos preteridos em prol da adoção da “novidade” de sucesso financeiro e ministerial.
A centralidade da cruz foi o maior deles. Foi trocada pela centralidade de uma fé pragmática e de resultados extremamente duvidosos.
Jesus disse a Nicodemos: “Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do Homem. E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna.” (Jo 3:13-15)
O propósito de Deus foi concentrar no Cristo levantado na cruz as esperanças de uma nova vida para todo aquele que Nele crer.
O sangue de Cristo é a oferta única e suficiente para esta nova vida e não os valores depositados num envelope ou as unções especiais, conforme o apóstolo Paulo escreveu aos Romanos: “Justificados, pois, mediante a fé temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem obtivemos igualmente, acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus.” (Rm 5:1,2) .
O uso da fé, tão propagado pelos neopentecostais não é uma resposta à graça de Deus que, em Cristo Jesus concede a vida eterna a todo que Nele crer, mas sim uma proposta negociável fundamentada num paganismo que acredita poder manipular a divindade, a fim de obter seus benefícios, mediante o escambo espiritual. Parece-nos que a realidade das palavras do apóstolo aos Efésios foi esquecida: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza, filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo – pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” (Ef 2:1-9)
Não mais a cruz, mas a campanha fundamentada na oferta financeira é a porta que se abre no céu para toda sorte de benefício terreno. Assim, as palavras do apóstolo Paulo perderam o sentido para os adeptos da teologia da prosperidade: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas. Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra de reconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois rogamos que vos reconcilieis com Deus. Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.” (2 Co 5:17-21)
Descentralizar a cruz é desenvolver uma missiologia de resultados justificados pela quantidade de templos inaugurados, pelas metas de arrecadação alcançadas e pelo público literalmente pagante presente nas reuniões de fé e milagres e não mais pela obediência à ordem de Jesus: ”Ide, portanto, fazei discípulos em todas as nações, batizando-os em Nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou conosco todos os dias até a consumação dos séculos.” (Mt 28:19,20).
Portanto, a centralidade da cruz deve ser refletida na nossa pregação, cujo mote maior não deve ser a popularidade, mas o compromisso inegociável com a verdade das Escrituras Sagradas, bem retratada pelo apóstolo Paulo à igreja em Corinto: “Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.” (1 Co 1:21-24)
A pregação centrada na cruz não fechará as portas da teologia da prosperidade, mas certamente levará pessoas a uma fé cristocêntrica, conforme o apóstolo Paulo escreveu à igreja em Corinto: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza e temor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus.” (1 Co 2:2-5)
Tais pessoas serão potenciais candidatos ao campo missionário, formadas com bases teológicas que não negociam sua ética e seu conteúdo, refletindo-as na vida daqueles que hoje ainda nada ouviram de Cristo.
Façamos da cruz a nossa mensagem para “Jerusalém, Judéia, Samaria e até aos confins da terra”.
A Proclamação da Missão de Cristo (2ª Premissa)
Jesus explicou sua missão a Nicodemos nas seguintes palavras: “assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna.” (Jo 3:14,15)
Em seguida, Jesus explica o fator motivador da sua missão, o amor de Deus: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3:16)
Este amor se manifestou de “tal maneira”, ou seja, na cruz onde Cristo foi levantado à semelhança à serpente no deserto levantada por Moisés.
O mundo estava sentenciado no “corredor da morte eterna”, mas o amor de Deus se manifestou em Cristo Jesus para dar vida eterna aos que crerem no Filho Bendito.
Está foi e é a missão de Jesus: tirar o pecador do “corredor da morte eterna”, conforme o apóstolo Paulo escreveu aos Colossenses: “Ele nos libertoouo do império das trevas e nos transportou ao reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção a remissão dos pecados.” (Cl 1:13,14).
A Igreja participa desta missão no poder do Espírito Santo, conforme o apóstolo Pedro escreveu: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia.” (1 Pe 2:9)
Considerando a missão de Jesus, a teologia da prosperidade é uma “anti-missão”, pois além de desfocar a centralidade da cruz, desfoca também a realidade das pessoas para um “mundo imaginário”, à margem da missão de Jesus.
Ela não considera que os pecadores estejam no “corredor da morte eterna”, nem tampouco advoga um mínimo de justiça pelos que sofrem.
Ela advoga em causa própria oferecendo uma solução irreal para os problemas do povo, escondendo o grande e maior vilão de todo ser humano: o pecado.
Na sua “anti-missão” a teologia da prosperidade consegue ofuscar a tenebrosa realidade do pecado, através do brilho falso do materialismo, a ponto de concentrar todas as esperanças do povo no consumismo tão em voga nos dias atuais.
Daí, a pergunta que se faz num cenário como este: Jesus morreu na cruz por que e para quê, se o nosso grande problema não é o pecado?
As palavras do apóstolo Paulo aos Romanos sequer são lidas e pregadas nos púlpitos neopentecostais: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.” (Rm 5:12)
Benção e pecado convivem juntos na teologia da prosperidade, porque afinal de contas, o que importa é o carro novo na garagem, a mutação quase que automática de empregado para patrão, a certeza que as coisas a serem conquistadas dependem somente da aplicação financeira celestial, fixada em juros estratosféricos e resgate imediato.
Esta é a esperança oferecida pela teologia da prosperidade, a qual tem transformado e transtornado muitos púlpitos que outrora pregavam a mensagem da cruz.
Diferentemente, de tudo isso, o apóstolo Paulo escreveu à Igreja em Corinto que estava sendo afetada por ensinamentos que afirmavam não haver ressurreição dos mortos: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” (1 Co 15:19)
A “anti-missão” da teologia da prosperidade ignora o pecado e suas consequências eternas, fortalecendo a ideia da inexistência da eternidade, pois o que importa é desfrutar hoje do que Deus prometeu e tem que cumprir, porque a fé está em ação, determinando as bênçãos desejadas.
Jesus disse a Nicodemos o propósito da sua missão: “Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” (Jo 3:17)
A “anti-missão” da teologia da prosperidade afirma que o grande inimigo das pessoas é satanás que não as deixa prosperar, que as faz adoecer, que destrói suas famílias, deixando-as numa condição humilhante.
Que satanás é o grande inimigo, ninguém discute. A questão é se o seu objetivo seria tão somente destruir o que é visível, até porque se for isso, fica mais fácil resolver.
Nas palavras do apóstolo Paulo à Igreja em Corinto não parece ser isso: “Mas, se o nosso evangelho está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo como Senhor e a nós mesmos como vossos servos, por amor de Jesus. Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo.” (2 Co 4:3-6)
A “anti-missão” da teologia da prosperidade corrobora com o objetivo de satanás em manter as pessoas cegas quanto a “iluminação do conhecimento de Deus na face de Cristo”.
Na verdade, esta “anti-missão” estabelece um cativeiro disfarçado que leva o nome de Deus, mediante um apelo popular massivo travestido num falso evangelho, customizado pelos líderes neopentecostais a partir das suas revelações pessoais que contradizem as Escrituras Sagradas.
As advertências do apóstolo Paulo aos Gálatas são mais do que apropriadas nos dias de hoje às igrejas, outrora firmadas nas Escrituras, mas que se deixaram fascinar pela “anti-missão” da teologia da prosperidade: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.” (Gl 1:6-9)
Quais os resultados podem ser esperados do cativeiro da “anti-missão”? O apóstolo Paulo escrevendo aos Gálatas anteviu a frustração que aguarda muita gente: “Para a liberdade foi que Cristo vos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão. Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. De novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar está obrigado a guardar toda a lei. De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes. Porque nós pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém de fé. Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor. Vós corríeis bem; quem vos impediu de continuardes a obedecer à verdade/” (Gl 5:1-7)
Agora, é preciso considerar que Paulo escreveu a uma igreja, que se deixava levar pela doutrina dos judaizantes que confinava a salvação à observância da lei e não à fé em Cristo Jesus. E aqueles que nunca ouviram do evangelho e se convertem através da “anti-missão” da teologia da prosperidade?
O apóstolo Pedro escrevendo sobre os falsos mestres definiu o prejuízo que os mesmos causam aos incrédulos que estão se aproximando da fé, prejuízos esses semelhantes aos causados pela “anti-missão” da teologia da prosperidade: “Esses tais são como fonte sem água, como névoas impelidas pelo temporal. Para eles está reservada a negridão das trevas; porquanto, proferindo palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixões carnais, por suas libertinagens, aqueles que estavam prestes a fugir dos que andam no erro, prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois aquele que é vencido fica escravo do vencedor.” (2 Pe 2:17-19)
Os resultados da “anti-missão” da teologia da prosperidade implicam numa rota de colisão com a missão de Jesus: “Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más.” (Jo 3:18,19)
Esta colisão se deve ao fato de que a “anti-missão” não tem como aplicar a luz à real condição do mundo sem Cristo, uma vez que se isto ocorrer as pessoas poderão enxergar seus pecados e a única possibilidade de serem livres deles, mediante a missão de Cristo na cruz.
Tais pessoas continuam em trevas, sem saber que poderiam ser salvas do que realmente as aprisiona: “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com a sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo; porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade. Também, nele, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade. Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos. E a vós, outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz.” (Cl 2:8-15)
Sem saber, estão cada vez mais expostas ao julgamento que as tirará do corredor da morte para lança-las definitivamente na morte eterna.
Portanto, é preciso resgatar a missão de Jesus através da sua proclamação dentro e fora das igrejas, mediante a denúncia e rejeição da “anti-missão”, através do ensino das Escrituras Sagradas.
Para tanto, devemos cultivar ministérios alicerçados numa integridade pessoal e ministerial advindas das Escrituras Sagradas, ao invés de nos fascinarmos com as promessas de crescimento e fama, pois, já sabemos que o crescimento vem Dele.
Conclusão
Como em outros momentos da história, a Igreja custa perceber as portas do inferno, salvo alguns do seu escalão. Foi assim com o nazismo na Alemanha e com as ditaduras militares que assolam até hoje, principalmente, os países da América Latina e a África.
Guardadas as devidas proporções, o mesmo fenômeno se repete com a teologia da prosperidade que desembarcou e fincou raízes no Brasil, aproveitando-se não apenas do subdesenvolvimento social e econômico, como também do relativismo bíblico que assola os rincões ministeriais da nação.
Muitos ainda custam acreditar que é impossível alinhar uma missiologia que promova a missão de Cristo, a partir de uma teologia orientada pelos ventos da teologia da prosperidade.
Neste cenário, os que professam a fé reformada que resulta numa missiologia transformadora, devem estar conscientes que não apenas militamos contra uma mentira assumida, como também, contra uma mentira camuflada.
O nosso consolo e esperança está na soberania de Deus que, a despeito de tudo isso, “vela em cumprir a sua palavra”.
Que Deus nos abençoe e guarde.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Periódico missiológico Análise Global de Lausanne agora disponível em português



Uma notícia não menos que magnífica acaba de nos chegar. Agora a revista missiológica Análise Global de Lausanne passa a ser publicada em português. 
Para os que não sabem, o Movimento Lausanne reuniu e reúne diversas lideranças da igreja global e representou, desde seu primeiro encontro, um divisor de águas na ação e reflexão missionária mundiais.
Como já lamentamos aqui e alhures algumas vezes, é imensa a lacuna de publicações missiológicas periódicas em nossa língua. E agora o Senhor nos presenteia com este significativo recurso de reflexão e capacitação. Louvemos ao Senhor!

Acesse AQUI o site, e inscreva seu e-mail para poder receber as futuras edições.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Imagens e logotipos de temas missionários para você usar e inspirar-se

Amigos, mantemos na página do Veredas Missionárias no Facebook uma pasta de imagens reunindo dezenas de imagens que criamos ao longo dos anos, relacionadas à temática missionária. São imagens de uso livre, ou seja, você pode utilizá-las em seu projeto, trabalho, publicação gratuitamente, sem necessidade de autorização etc. Além disso, tais imagens têm também caráter inspirativo: assim, se alguma ideia lhe agradar, você pode contratar um profissional para retrabalhá-la de uma melhor forma, em termos de design. 

Acesse e compartilhe, tal recurso existe para lhe servir. Confira AQUI.

Abaixo algumas imagens presentes na pasta.














quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Um sermão do Conde Zinzendorf, líder dos Irmãos Morávios


Sermão de Nikolaus Ludwig von Zinzendorf und Pottendorf, 
Conde de Zinzendorf[2]


http://no-caminhodejesus.blogspot.com.br/



“Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos.” (Sl 126:6 ARC1995)

Destas palavras me lembrei hoje ao ler a "ordem" do dia: ‘O Senhor deu a palavra; grande era o exército dos que anunciavam as boas-novas.’ (Sl 68:11 ARC1995)

‘Adiante, Mahanaim


Não deixeis nenhuma alma.


Adiante, por Jesus, Nosso Deus, nosso Senhor,


Adiante com ardor, Oh, levai-lhes a luz.’

Não há dúvida de que estas palavras são verdade, mas teremos que dar alguma explicação sobre o método.


Estamos acostumados a ver as pessoas boas, honestas, aos entusiastas servos do Senhor saírem com alegria e voltar com lágrimas, ou sair com ânimo e voltar com dores, irem com o entusiasmo da fé e voltarem desiludidos.

Não é mau que de vez em quando nos escarmentemos, para que reconheçamos a nossa pequenez e nos demos conta de que o nosso testemunho é de maior importância do que aquela que nos afigurávamos. Contudo, é melhor, se for possível, acostumarmo-nos a partir com lágrimas e a voltar com risos.

Depois de uma experiência semelhante até a nossa alegria e o nosso sorriso, assim como ainda o aspecto da ferida lateral de Jesus que se abriu pelo homem que pode provocá-la, serão acompanhadas do sentido de humilhação pela baixeza e pela pequenez do pecador.

Mas o que mais importa é que vamos à passagem do citado salmo 126: "Irá andando e chorando o que leva a preciosa semente; mas voltará a vir com regozijo".

Sem embargo, não importa tanto o regozijo como a boa fama; o certificado, o atestado que trarão para casa têm importância; e serão bem-aventurados os que sejam reconhecidos como filhos de Deus, em cujas frontes se lerá que são servos da Igreja; e bem-aventurados os que, depois de terem feito o seu caminho cantando os louvores de Deus, voltem com as provas de ter completado a sua missão na vinha do Senhor e todo mundo reconhecerá que Deus esteve com eles.

Esta é a bem-aventurança que descreve o salmo, a de voltar com regozijo, a de ter uma carreira digna de elogio, cheia de bênções, de maneira que a gente, onde o crente esteve, deva dizer que um dignitário de Deus morou entre ela.

Sei muito bem, que já que o louvor próprio não é louvável, que geralmente a comunidade se inteira pouco das proezas e da glória dos seus irmãos, porque eles mesmos não as querem apregoar por toda a parte. Mas basta que se saiba algo delas, basta que estejam legitimadas nos corações da gente aqui na pátria e lá no campo de missão.

Não queria recomendar aos irmãos o "ir chorando" como método para serem felizes, apesar de que este ser um método e o Salmo o declare como tal: porque pela graça do nosso Salvador nascemos não completamente metódicos, nem o empreendemos com ambição, mas pela própria causa.

Quando vamos chorando, não pensamos em voltar a regressar, senão unicamente em ir, e choramos porque estamos realmente perplexos, porque levamos a preciosa semente e temos medo de perdê-la e de semeá-la em vão, e não sobre o terreno bom, ou de não obter o fim para o qual o semeador saiu. Hoje em dia, num mundo mais e mais confuso e duro, muitas almas se encontram num verdadeiro apuro, de maneira que há tanta necessidade de nós, que poucos nos podem achar de menos. Entretanto, nunca houve semelhante confusão, iniquidade e instabilidade no nosso ministério como a há agora. Portanto, temos um motivo bem fundado para sairmos com lágrimas e chorando, para dirigirmos os nossos olhos ao Salvador, para que cada um pense, ainda que caminhe com tanta bênção e unção: Quem sou eu? O que tenho de fazer? Qual é o meu ofício? Qual é o meu fim? Que campo encontrarei e que almas? Que ocasiões e que dificuldades? Como poderei magoar o meu Senhor? O que farei para acertar, para não percorrer vertiginosamente toda a criação, à maneira perversa de Satanás, mas andar como um humilde peregrino?

Dá-me conselho, Tu, Jesus, Filho de Deus, segundo o Teu coração!

É de proveito quando a comunidade, Kyrie eleis!, ajuda, também, aos mensageiros que vão e choram, o pensar que saíram de uma comunidade, que uma comunidade os enviou. Kyrie eleis! O Cordeiro tenha piedade de ti, pela tua comunidade, pela tua mulher, pelo teu ser inteiro! Pai, tem piedade! Pai, abre Tu o caminho! Ajuda Tu a perseverar! Tira Tu os obstáculos do nosso caminho e protege com o exército dos Teus anjos o que é de Teu Filho!

E isto também ajuda: Não penses no nosso afã, mas pensa nas cicatrizes de Jesus, o qual já não pode ser privado da recompensa do Seu suor de sangue.

Confesso, pois, por uma lado, meus irmãos, que é importante que vamos; que as nossas saídas e as nossas diversas excursões são de grande importância; que não é o mesmo ir ou não ir, e que empregamos melhor o nosso tempo se de vez em quando deitamos um olhar sobre o que acontece no mundo, nas almas que foram humilhadas e tocadas. Confesso que isto nos traz mais felicidade do que o estarmos alegremente juntos; temos de aprender a demonstrar que comemos para poder jejuar, que descansamos para poder levar cargas e que aprendemos para conhecermos as nossas lições, e logo que se tenha aceso um fogo de cima, onde o nosso Príncipe esteve sedento, por isso, no tempo das Suas provas.

Repito que confesso a necessidade, porque a metade do mundo está ainda em completa escuridão e grande parte das almas realmente estão agarradas e verdadeiramente impulsionadas em grande dúvida, sob muita pressão e cargas pesadas e têm de ser regadas, molhadas de vez em quando, se não devem sofrer de uma secura de morte, de secura de cultivo, de uma secura nociva, de uma infertilidade; se não devem perecer ou morrer de frio, têm de ser aquecidas e molhadas de vez em quando.

Isto confesso, isto sinto e comigo o sentem todos os nossos colaboradores, e o nosso coração muitas vezes nos leva a dizer: Ai, se tivéssemos um irmão aqui, um irmão acolá! Se pudéssemos dar um relato a este! Se pudéssemos instruir mais profundamente àqueles nos caminhos de Deus, ensiná-los mais! Faltam pessoas em todas as partes: a messe é sempre maior do que o número dos operários.

Mas tal é o mundo atualmente. Que em quase nenhuma igreja estabelecida se sabe no que se crê, que as pessoas se unem só para obrar em comum contra o Salvador e Seus fiéis; e por isso não tem havido tempo mais duro para viver do que o presente e não há caminho mais ditoso do que o caminho da pobreza. O poder que obra na miséria é incomensurável, também na peregrinação. Ser pobre e crer nEle e olhar para Ele será o nosso ganho, se persistirmos e obedecemos continuamente.

E agora, quando sois escoltados por mil anjos, vós que partis, quando fizerdes o vosso caminho connosco na presença imediata do Pai: lembrai-vos que o cuidado mínimo que deveis ter é que Satã e o mundo vos ponham nos seus caminhos, e que o vosso cuidado maior deve ser o de velar sobre o vosso próprio coração. Deveis estar seguros com que corações ides no caminho, para que não erreis e saibais o que dizeis e fazeis. O que então investis, depositai-o sobre terra boa.

Porque nós não somos a gente que deve servir de juízo aos outros, que deve endurecer os corações dos outros; a este ministério nós não somos chamados, graças a Deus. Esse ministério o deixamos aos pastores das Igrejas estabelecidas, aos ministros dedicados. Eles, talvez, terão o dever: Endurecer o coração deste povo. Mas se o Salvador é benigno para conosco, não nos imporá esse ministério. Vamos com gozo quando somos chamados, mas não temos vontade de ir onde não há corações. Dai-nos corações!


A Jesus quero pintar


Morrendo Ele, para pagar


Por nós na cruz.


Levarei o que Ele ganhou


Ao mundo que Ele venceu,


Acendendo-lhe a luz.

Dai-nos corações! Trazei-nos gente que necessite de um Salvador, que precise de salvação, a quem lhe doa o pecado, a incredulidade, que anele algo em que crer, a quem poder ater-se, que logo se lançaria nos braços do Pastor se só soubesse quem é o seu Pastor. Nós sabemos como Ele Se chama, sabemos instrui-los, temos lugar para eles, e se eles forem frios como o gelo, aquecer-se-ão, e se forem pedras, far-se-ão vivos e serão postos nos braços do Pastor.

Isto podemo-lo esperar certamente, se nos dirigirmos às pessoas adequadas, se podermos deixar descansar o nosso afã inoportuno. Com todo o ardor da nossa misericórdia temos de esperar até que se juntem as pessoas, o tempo e os lugares propícios. E tenhamos em conta que o que fazemos não importa, porque tudo o que fazemos, Ele no-lo dá. O que importa é que vamos fiel e pontualmente segundo a ordem que nos foi dada em geral ou em particular.

Temos uma função necessária: Levamos o Cordeiro aos corações das pessoas; ao Cordeiro cordial, ao Cordeiro ensanguentado, pintamo-Lo ante os seus olhos até que Se pegue, até que a vista O capte, até que um coração depois de outro esteja cativo, que não possa nem queira sair dos vínculos do Salvador. Este é o nosso ministério.

Porque informar às pessoas das Igrejas estabelecidas, repartir-lhes conhecimentos, corrigi-las nos seus princípios, não é, propriamente, a nossa tarefa. Antes o que queremos é levar de novo às pessoas e refrescá-las com a semelhança conhecida de Jesus, a imagem mártir de Deus, reconhecida por todas as Igrejas cristãs como digna de adoração, como se tivéssemos visto a Sua crucificação com os nossos olhos; como se O tivéssemos absorvido e quase retratado na hora em que Ele deu o Seu último suspiro moribundo. Escutando o Seu último suspiro de agonia deveríamos tê-Lo tão presente, para que O pudéssemos apresentar tão vivamente, para que se dissesse na vida comum: Tenho uma impressão tal desta Pessoa, que se soubesse fundir, pintar ou esculpir, A representaria segundo a vida.

Quem anda entre a gente sem uma impressão semelhante, assim viva e presente da parte do corpo que será o sinal do Filho, não é mandado por nós, este enganou-se a si mesmo e a nós. Se disser que é dos nossos, mente, pelo menos nisto. Não pode ser nosso mensageiro, porque nenhum dos nossos mensageiros tem mais que a compreensão da Cruz, e esta deve tê-la, em todo caso. O suor da hora do arrependimento deve ter banhado o irmão no corpo e na alma, deve ter enchido e tomado tão verdadeiramente todo o seu coração que o possamos perder entre outras pessoas, sejam mortas ou preguiçosas, complacentes, inteligentes ou cultos confessores do Salvador. Ele deve ser um daqueles que meditam tão intimamente, que hão sido levados pela mão pelo Espírito Santo às Feridas de tal modo, que tenham mamado, comido e bebido muito de verdade. Devem ter sido de tal maneira mesclados com o corpo e o sangue de Jesus que se apresentem salpicados, parecendo-se com o corpo do Cordeiro mártir à vista dos homens. O nosso rosto deve resplandecer de feridas e das gretas dos espinhos, e as nossas mãos devem parecer ensanguentadas, devem ter sinais das chagas dos cravos.


Isto, todavia, não deve consistir somente na imaginação ou num modelo de escultura, numa figura exterior e humana. Mas que a gente que se relaciona connosco deveria ter a impressão de ver semelhanças entre o corpo martirizado de Jesus e nós, de ter diante de si representações do Senhor Jesus, para glorificar a morte do Senhor Jesus nas nossas pessoas. Então se diria: Levam no seu corpo a toda hora a morte do Senhor Jesus; em qualquer lugar em que estejam nota-se-lhes que são homens mortos; são homens mortos; são membros de Jesus; são membros do Cordeiro, gente degolada vê-se nos seus olhos que têm o olhar quebrado.

Em tal espírito e em tal mente caminhamos com poder e jorrando sangue: O que se aproxima de nós, toma o aspecto das Feridas, e o que não se transforma desta maneira, foge diante de nós em todo mundo e não correremos atrás dele, mas deixá-lo-emos de lado. Mas, não obstante, toda a força, a graça e a semelhança das Feridas e à figura do Deus crucificado, devemos conservar uma mente pobre, humilde, que dúvida de si mesmo, da sua inteligência e da importância do seu posto, humilhada e apurada, que se interroga: Obterei algo? Acertarei no alvo? Serei exato? Ou ter-me-ei equivocado em algo?

E isto temos de pensar com tanta cordialidade, com tanta elasticidade, e com tanta intensidade mental até que os nossos olhos estejam cheios de verdadeiras lágrimas. Que de cada uma de nossas ações transcenda esse aspecto colorido e mísero que transforma em ancião ou sacerdote a todo o mensageiro da comunidade. Então as pessoas pensarão: Este, pois, é um homem que vai porque deve ir, é um homem com vocação, um que não se pôs a si mesmo, mas que tem sido ordenado para o ministério.

Se formos com semelhante mentalidade, para nós muito natural, produzida pelas circunstâncias da nossa vida numa igreja e num mundo corrompido e embrulhado, não podemos voltar de outra maneira senão com honra, com a glória da Cruz, segundo as máximas e o plano principal e a lei fundamental que foi feita na eternidade para as testemunhas. Nossos irmãos nos receberão como a pessoas que caminharam na graça do Senhor, cujo andar derramou bênçãos, e de quem o mundo foi indigno. E estas são as bênçãos, são a graça e o testemunho que nos dão crédito na comunidade.

E isto é o que queria dizer aos irmãos, tanto a mim como a eles, em ocasião da sua saída iminente. Queira o Salvador, na Sua fidelidade, demonstrar de novo, que os irmãos vêm de um lugar bom, que estiveram perto da Sua ferida lateral, numa meditação profunda e bendita das Suas Feridas, que vos foi doce o sangue coagulado dos Seus pés transpassados. Ele vos conceda que vades com corações fiéis e compartilhai de graça o que de graça recebestes.

Cheio do Teu Deus
Vai-te após Ele.


Ora, pensa, chora.


Na Sua cruz demora-te,


Onde, pela Sua morte,


Ele mudou a tua sorte.


Cristo, meu Senhor,


Faz por Teu suor


E por Tuas feridas,


Por mim sofridas.


Faz-me companhia
Nesta vilania. 

Fonte:
http://www.escriturayverdad.cl/EXHORTACION/Lagrimas%20Y%20Regocijo.pdf



[1] Sermão pregado pelo Conde de Zinzendorf, em Marienborn, em 31 de janeiro de 1745, na ocasião da despedida a um grupo de missionários aos pagãos e a outros mensageiros. Publicação obtida da revista “El Predicador Evangélico”, Volumen XIII, Nº 50, 1955.

[2] Nikolaus Ludwig von Zinzendorf und Pottendorf, Conde de Zinzendorf, nasceu em Dresden, em 26 de maio de 1700. Foi criado sob influências pietistas, e já na sua adolescência a sua religiosidade se caracterizava por dois traços principais: apaixonada devoção a Cristo e a convicção de que só se conhece Deus como Cristo, pelo menos no cristianismo. Em 1722 deu albergue nas suas terras de Berthelsdorf a uma comunidade de moravos de fala alemã, que fugiam da perseguição na Boémia. A nova comunidade chamou-se Herrnhut e sob a supervisão do Conde de Zinzendorf, chegou a organizar-se segundo regras muito estritas, sujeitando toda a vida comunal ao interesse eclesiástico, como um grupo afastado do mundo, mas disposto a ir a qualquer parte no serviço de Cristo. Ali nasceu o movimento que assinala o começo das missões cristãs modernas. "Não é coisa fácil, achar entre a enorme quantidade de discursos e sermões do Conde de Zinzendorf, —diz o arquivista da comunidade morava de Herrnhut, em resposta ao pedido que lhe formulou o nosso colaborador, o pastor R. Obermüller— um exemplo clássico de sermão missionário. Os sermões (que na sua maior parte não foram impressos) têm um texto, mas muitas vezes só têm um epígrafe ou um tema. Além disso, o sermão missionário, tal como hoje o entendemos, é um produto do século XIX. Nos tempos de Zinzendorf não era conhecido nessa forma. Às vezes, será difícil para um leitor moderno entender o pensamento e o vocabulário de Zinzendorf, que são muito particulares. Ele usa de uma maneira abundante latinismos e galicismos, e expressões holandesas.
O sermão que devemos à gentileza do mencionado arquivista, e cuja tradução agradecemos à senhora Aia V. de Soggin (para o castelhano), está reproduzido na impressão original editada pelo próprio Conde de Zinzendorf, sob o Nº 10, nas "Trinta e duas conversas homiléticas ou para a comunidade nos anos de 1744-46".

Tradução de