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terça-feira, 27 de maio de 2025

MESSIANISMO INDÍGENA NO CONTEXTO MISSIOLÓGICO - Onésimo Martins de Castro

 


Este artigo propõe resumir os fatos narrados no livro “Esperando a volta do Criador – Expectativa messiânica de um povo indígena ‘isolado’ na Amazônia, publicado em 2008 pela Transcultural Editora e Livraria e republicado neste ano com o mesmo título pela UICLAP Editora e Distribuidora Ltda.[1] Título inspirado na fala de um senhor indígena de aproximadamente 65 anos na época, perguntando ao missionário se ele havia visto o Porapohat (criador dos seus antepassados), que eles esperam um dia voltar para curar os doentes e ressuscitar os mortos.

Trata-se de relato fidedigno sobre os primeiros contatos com um povo indígena isolado na época, efetivado em 1987 e assistidos por uma missão Evangélica por um período de 04 anos, livrando-os do processo de extinção a que já estavam fadados. Aborda também os fatos relacionados à perseguição religiosa, que afetou drasticamente a vida dessa população, em nome de uma suposta preservação física e cultural. Porém negando-lhes o direito de conhecerem a mensagem do Criador, expectativa messiânica inerente à sua cosmovisão.

 

RELATO HISTÓRICO

 

No final da década de 1970 e início de 1980, uma equipe de assistência aos povos indígenas localizou-se na cidade de Santarém, na confluência dos rios Amazonas e Tapajós, no Oeste do Pará. Tinham como objetivo definido o mapeamento da região quanto à existência de etnias carentes de atendimento físico, social e espiritual. Eram filiados a uma Instituição Evangélica, que a cerca de 40 anos prestava relevantes serviços aos povos indígenas no Brasil em parceira com o antigo SPI – Serviço de Proteção aos Índios e posteriormente com a FUNAI- Fundação Nacional dos Povos Indígenas.

Estando devidamente preparados e qualificados para essa tarefa e firmados no princípio de amor a Deus e ao próximo, empreenderam viagens aéreas, por estradas, rios e matas à procura dessas etnias. Vários grupos indígenas ainda necessitados desse atendimento foram localizados e passaram a ser assistidos in loco por membros dessa instituição conveniada com a Funai.

         Nesse tempo, tomaram conhecimento de um povo ainda isolado da sociedade envolvente, nas imediações do rio Cuminapanema[2] ao norte do rio Amazonas. Região explorada apenas por castanheiros, balateiros (extratores de borracha) e caçadores, que singravam suas águas. No final dos anos 1970, trabalhadores de uma companhia de exploração mineral (IDESP)[3], acamparam-se em uma savana conhecida como Campos Gerais[4], bem próximo das cabeceiras desse rio. Certo dia, enquanto sobrevoavam o local, depararam com uma aldeia encravada na mata, distando apenas 08 km de seu acampamento.

A Funai que, até então desconhecia a existência desse grupo, foi até a região para averiguação e possível aproximação com essa população. Mas abandonaram o projeto, alegando falta de recurso e com o argumento de que a tribo não sofria ameaça que justificasse a realização do contato. No entanto, ignoraram o fato de que a presença desses exploradores da floresta poderia ter contaminado essa gente com malária ou outras doenças e colocando suas vidas em risco.

         De posse desses dados e levando a sério seu objetivo assistencial a todos os povos necessitados de socorro externo, esses obreiros foram até às cidades vizinhas em busca de mais informações a respeito. Nessa pesquisa, foi confirmada a existência dos indígenas isolados naquela região, inclusive, com relatos de que alguns caçadores haviam se aproximado das aldeias e até encontrado alguns deles na mata. Diante disso, entenderam ser urgente a efetivação do contato para prestar-lhes socorro em tempo ainda oportuno.

Tão logo possível, empreenderam viagem rio acima e posteriormente pela mata até próximo dessas aldeias. E, como estratégia de segurança e com anuência da Funai, construíram uma pista de pouso e uma base de apoio assistencial, que recebeu o nome de Base Esperança.

Isso depois de longos oito anos de árduo trabalho preparatório, envolvendo viagens por um rio caudaloso e tomado de cachoeiras. Depois abriram caminho pela mata até onde construíram uma pista de pouso de 600 metros de comprimento em plena selva amazônica. Trabalho feito com apenas machados, enxadas, enxadões e um motosserra para atorarem os troncos mais grossos. Porém movidos pelo amor de Deus pelos indígenas, se deram de corpo e alma, deixando esposas e filhos na cidade, para que um dia essas pessoas pudessem conhecer o Evangelho.

Suas esposas, verdadeiras heroínas nesse empreendimento, ficavam na cidade com seus filhos ainda pequenos. Para elas, além da saudade e do peso das situações envolventes, havia a falta de comunicação direta com eles. Desde quando tomavam uma embarcação no porto de Santarém para uma cidade vizinha e de lá seguiam por rios e matas em direção ao objetivo proposto, a ausência de notícias era torturante. E, por se tratar de contato com um povo isolado, não sabiam o que poderia estar lhes acontecendo. Porém na dependência do Senhor, cumpriram fielmente sua parte no sublime propósito de Deus para com essa gente.

O primeiro encontro com esses indígenas se deu quando ambos caminhavam pela selva. Momento de muita tensão, emoção e grande realização, vendo o resultado de todos esses anos de luta e ações de Deus. Graças à intervenção divina e o fato de que nos encontros anteriores não houve atrito dos indígenas com os exploradores da região, esse contato foi pacífico. Embora tenso e sem nenhum entendimento na comunicação verbal, essas indígenas foram bem amistosas e cordatas com os visitantes, sendo o contato efetivado no final de 1987.

Até porque, nos encontros relâmpagos que ocorreram anteriormente, os caboclos da região fugiram deixando para trás machados, facões e rede de dormir, que eles pegaram, usaram e estavam ansiosos para novamente adquiri-los. Encontrando-se de novo com quem possuía esses objetos, seu desejo pelos bens de consumo tão essenciais às suas atividades cotidianas foi aflorado. Por isso, logo vieram à base missionária em busca desses utensílios, que tanto desejavam possuir.

Após virem com suas famílias e os obreiros levarem também suas esposas e filhos até o local, o relacionamento mútuo foi solidificado. Mas, quando visitaram as aldeias perceberam que essa população já havia entrado em sério processo de extinção. Isso devido à malária, possivelmente contraída das pessoas que transitavam até próximo de seu habitat.

Graças à ação de Deus e determinação desses obreiros, indo de aldeia em aldeia tratando os doentes, essa moléstia foi sendo aos poucos erradica. Resultando no crescimento dessa população de 119 pessoas no primeiro censo para 136 no final dos 04 anos de permanência da equipe missionária entre eles.

Ao contrário do que se propaga nos meios de comunicação, o contato efetivado com esse povo, conhecido posteriormente como Zo’é (gente legítima), foi preponderante para a preservação da vida e da saúde dessas pessoas. Caso contrário, talvez nem mais existissem, como aconteceu com tantos grupos isolados no Brasil e no mundo.

No entanto, depois de dois anos do contato efetivado, desencadeou-se uma forte perseguição contra a Missão e seus membros. Um dos sertanistas da Funai, declaradamente contrário ao trabalho missionário entre os indígenas, criou o Departamento de Índios Isolados (DII) dessa Fundação, e se fez diretor. E, a partir de 1989, juntamente com outros sertanistas de mesma ideologia, fizeram uma primeira expedição oficial a essa localidade, já com propósito de intervenção no trabalho em andamento.

Nesse mesmo ano, uma antropóloga belga e seu orientando de mestrado iniciaram incursões naquela terra indígena. Juntando-se a esses opositores, produziram falsos relatórios, na tentativa de tornar verdadeiras as calúnias contra os servos de Deus que ali atuavam. Sem conhecimento suficiente da língua, levaram os indígenas a rememorarem as mortes ocorridas a longo do tempo e atribuíram a maioria delas ao período de atuação da Missão entre eles. No entanto, quando esses dados foram analisados por um perito no assunto, veio à tona os graves erros cometidos por esses elementos, tais como:

 

pessoas que foram mortas duas ou três vezes; elemento do sexo masculino que morrera por problema de geração de filho; dor de dente alistada como causa mortis; muitas pessoas que, se estivessem vivos naquela época, teria mais de cem anos, quando a expectativa de vida entre eles era de apenas 56 anos.[5]

 

A mídia anticristã, com jornalistas e diretores tendenciosos, passaram a publicar matérias recheadas de acusações infundadas contra pessoas que estavam gastando suas vidas no socorro àquela população. Não foram poucas as vezes que a Missão teve que ir a público contestar documentalmente tais declarações, para que o povo brasileiro não ficasse ludibriado por tamanhas aberrações.

Em abril de 1991, os antropólogos acima citados, enviaram ao ex-diretor do Departamento de Indígenas Isolados, recém nomeado presidente da Funai, um projeto financiado por “instituições internacionais”, com “levantamento cartorial e requerimentos minerais” e com “monitoramento via satélite”. E, como inimigos da cruz de Cristo, estabeleceram que a condição para implantação de sua proposta seria a retirada da Missão.[6] Isso caiu como uma luva nas mãos desse sertanista e de outros que, juntos articulavam o fechamento do trabalho missionário nessa etnia.

Coincidentemente, em outubro desse mesmo ano, a Missão foi surpreendida com a ordem de que sua equipe deveria deixar a Base Esperança dentro de três a quatro dias. Isso, em um fim de semana, quando as repartições públicas estavam fechadas e sem nenhum processo legal que justificasse tal atitude. E sem ao menos ouvirem a comunidade indígena, como prescreve a legislação indigenista.

Todavia, os Zo’é, mesmo desconhecendo que o Art. 231 da CF preceitua que “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre suas terras que tradicionalmente ocupam...” (grifo nosso), apelavam insistentemente para que seus amigos de quatro anos de convivência não saíssem. E, como legítimos donos daquela terra, propuseram que os representantes da Funai poderiam se estabelecer em outra aldeia, contanto que os missionários permanecessem entre eles, sendo isso registrado no relatório do líder daquela expedição.

 

[...] os Índio em número bastante elevado, mostrando-se exaltados, colocaram o Coordenador em um círculo (...) mandando que voltássemos imediatamente, porque aquele lugar não foi a Funai que construiu, e sim os missionários junto com eles (...) que as pessoas seus conhecidos, puderiam (sic) ficar (...) indo morar na aldeia Keiñã contanto que a Missão continuasse onde estava... [7]

 

Assim, em 23 de outubro de 1991, com os corações partidos, mas esperançosos de um dia voltarem, tiveram que deixar a Base Esperança, não obstante ao apelo constante dos indígenas, que em prantos diziam:

 

—Não vão embora! Vocês foram os primeiros a chegar aqui e, quando estávamos doentes e morrendo de malária, foram vocês que nos deram remédio e saramos; se vocês forem embora nós voltaremos a morrer.[8]

 

No entanto, mesmo saindo com a promessa de que dentro de pouco tempo a equipe poderia retornar, não puderam nem mesmo ir buscar seus pertences que lá ficaram. Consequentemente, a expectativa messiânica dos Zo’é foi retardada, visto que aqueles que possuíam a mensagem do Criador e haviam prometido lhes anunciar e desenhá-la em sua língua, foram afastados do seu convívio.

 

 

REFLEXÃO

 

Infelizmente, essa situação tem perdurado por longos anos e, até o momento, nenhum missionário evangélico tem acesso a essa etnia. Até mesmo os líderes de igrejas indígenas dessa região têm sido impedidos de visitar os seus patrícios.

Uma constante batalha tem sido travada junto às autoridades constituídas para que os direitos constitucionais desse povo sejam contemplados, dentre eles a oportunidade de ouvir a mensagem do Porapohat (o Criador), que tanto esperam.

Assim sendo, conclamo aos amados leitores e a todo o povo de Deus a um movimento de intercessão por essa etnia e tantas outras ainda não alcançadas. Para que o Todo-Poderoso, que tem o coração dos reis em Suas mãos”, derrube as barreiras existentes e levante novos trabalhadores para a Sua Seara.

E com o mesmo empenho, ouvindo atentamente o desafio do Senhor, por meio do profeta Isaias: “A quem enviarei e quem há de ir por nós?” Oxalá possamos também dizer: “Eis-me aqui, envia-me a mim!” - Isaias 6:8 – preenchendo assim as vagas ainda existentes nos campos brancos para ceifa. E dessa forma, participando da colheita final, quando “todas as nações, tribos, povos e línguas” estarão representadas diante do trono do Cordeiro.  Apocalipse 7:9

 

 

Onésimo Martins de Castro

Agência Presbiteriana de Missões Transculturais - APMT

 


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NOTAS

[1] 📖 Formato físico - https://loja.uiclap.com/titulo/ua87956; 📖 Formato e-book - https://a.co/d/5iwyndg

[2] Principal afluente do rio Curuá, que por sua vez lança suas águas em um dos muitos lagos à esquerda do rio Amazonas, nas imediações da cidade de Alenquer.

[3] Dominique T. Gallois e Luís Donizete 13. Grupioni, Aconteceu Especial 18, Povos Indígenas no Brasil 1987/88/89/90. São Paulo: CEDI, 1991, p.210

[4] . Lugar de vegetação baixa semelhante ao serrado de Goiás.

[6] Carta de Dominique Gallois a Sidney Possuelo em 17/04/91

[7] Relatório do sertanista João Evangelista de Carvalho, em 23/11/91

[8] Dados contidos em gravações em fita cassete em outubro de 1991

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Mobilizadores em Ação: Um chamado para transformar vidas (E-book gratuito)


 Maurício Bastos é Líder de Mobilização Missionária e Promotor de Missões Mundiais da JMM. Ele utilizou seu conhecimento e experiência para escrever o e-book Mobilizadores em Ação: Um chamado para transformar vidas

Confira um trecho da apresentação do e-book:

Você já sentiu no coração o desejo de fazer mais pelo Reino de Deus? Ser um missionário mobilizador é mais do que uma função; é um privilégio concedido por Deus para ser um instrumento de transformação.

A mobilização missionária é a arte de conectar a visão de Deus à ação humana, capacitando igrejas, líderes e indivíduos a se envolverem na obra missionária de forma prática e poderosa.

Ao longo deste e-book, vamos explorar os fundamentos, a importância e as ferramentas necessárias para que você possa ser um mobilizador preparado para atender ao chamado de Deus.


O e-book é GRATUITO, e para baixar o seu é preciso se inscrever neste link AQUI.


segunda-feira, 5 de maio de 2025

Viagens missionárias, cursos e eventos de missões acontecendo pelo Brasil (mai/jun/jul 2025)

 


Como já é tradicional, publicamos a nossa listagem de eventos (viagens, congressos, cursos etc.) de missões acontecendo no Brasil, na janela de meio de ano. Caso conheça algum evento no gênero que não conste na listagem, por favor nos envie a informação, para que o mesmo possa ser acrescentado.


Inscrições AQUI.


Acampamento Missionário CTAM. Informações e inscrições AQUI.





Inscrições pelo número: (83) 99680-9031



Informações e inscrições: https://www.mef.org.br/emef












Igreja O Brasil Para Cristo. De 17 a 20 de out em SP. Informações AQUI.


Acampamento Batista Fluminense - Rio Bonito/RJ. Informações e inscrições AQUI.



Voc Day (Vocare/AMTB) Eventos já confirmados em Macaé/RJ e Porto Alegre/RS. Informações AQUI.








Missão Amipa (RJ). Viagem à tribo xavante no MT.