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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Entrevista com Carlos Paiva, diretor da Missão Evangélica Betânia

UM FUTURO CHEIO DE DESAFIOS

Carlos Paiva, presidente da missão, fala sobre a atuação da Betânia hoje e os planos para o futuro.

http://www.betania.com.br/

Qual é a visão da Missão Betânia?

Para definir, de uma forma bastante concisa, a visão da Missão Evangélica Betânia, estabelecemos uma figura geométrica - o triângulo. Cada um de seus lados representa um aspecto da visão da Missão Betânia no Brasil. Um dos lados é a produção de literatura, por intermédio da Editora Betânia: O outro é ,o treinamento de líderes, que inclui pastores, missionários e líderes em geral. Hoje, mantemos três programas de treinamento no pais. 0 terceiro lado são as missões. A Missão Betânia mantém uma junta de missões que assessora a igreja brasileira no envio de missionários. Portanto, a visão da Missão, representada, por esse triângulo, é: produzir literatura, treinar líderes e fazer missões.

Qual é a atuação da Missão Betânia dentro e fora do Brasil?

Hoje, a Missão Evangélica Betânia atua primeiramente na área de literatura. Estamos trabalhando em nossa estrutura interna para fazer com que a literatura se torne cada vez mais acessível para o crente brasileiro.
Em Curitiba, temos um programa de treinamento adequado às condições de vida urbana. Capacitamos pessoas que gostariam de se engajar de uma forma mais efetiva no ministério através da sua profissão, mas que não possuem base teológica suficiente. Já em Altônia, também no estado do Paraná, o programa de treinamento se dá em regime de internato. Enquadram-se nele pessoas dispostas a dar uma atenção especial à vida devocional, ao estudo da Bíblia e ao discipulado.
Além desses, temos um terceiro programa de treinamento que se encontra no Nordeste. 0 sertão nordestino é uma região onde há um grande vazio em termos de evangelização, além de grandes necessidades humanas. Sendo assim, ali nos concentramos no recrutamento e no treinamento do cidadão do Nordeste para o Nordeste.
Para concluir, temos um projeto de missões que visa ao recrutamento, treinamento e envio de brasileiros para ações missionárias transculturais. Para isso, fizemos uma parceria com várias denominações do Brasil. Temos atualmente missionários no Paraguai, no Senegal e na Bolívia.

Quais são os projetos da Missão Betânia para o futuro?

Queremos, nos próximos dez anos, ampliar a nossa presença na América do Sul. Nós temos uma preocupação muito específica nesse ponto. Fala-se muito de missões em outras partes do mundo, e não negamos de forma alguma a grande necessidade da chamada "janela 10x40". Contudo, temos o cuidado de não projetar a nossa visão para longe, ignorando os problemas que estão bem perto de nós.
Portanto, nosso objetivo para o futuro é avançar para dentro desses países do nosso continente, começando com nossos vizinhos, por meio da "Ação Integral". Não, podemos deixar de levar em consideração no processo de evangelização questões como a fome, a educação, a saúde e outros.

Fale um pouco da sua trajetória na Missão Betânia.

O meu primeiro contato com a Missão Evangélica Betânia foi em 1977, através da revista Mensagem da Cruz. Dentro dela havia uma coluna que me chamou a atenção. Ali dizia o seguinte: "Se você tem um negócio sério com Deus, então nós temos um negócio sério com você". Eu li aquilo e fiquei interessado.
Depois de alguns meses, fui a uma igreja de jovens que havia em São Paulo, onde um conjunto musical da Betânia, chamado Vida Abundante, estava se apresentando. Esse segundo contato com a Betânia foi mais pessoal. Acabei conversando com os integrantes do grupo, que me deram mais informações a respeito da Missão.
Em 1978, fui estudar no Seminário Betânia de Coronel Fabriciano, em Minas Gerais. Eu me formei em 1981 e, no ano seguinte, segui com uma equipe para o Rio Grande do Sul. Ali iniciamos uma escola bíblica para a Betânia. Fiquei lá por 13 anos, dirigindo esse centro e lecionando no seminário. Em 1995, fui eleito presidente da Betânia no Brasil e me mudei para Belo Horizonte.
Em 1999, eu e minha família fomos para os Estados Unidos, passar um ano na sede da Missão em Minneapolis. Nessa mesma época, fui indicado coordenador regional da Betânia para a América do Sul, cargo que assumi em 2000. Portanto, atualmente sou o presidente da Missão no Brasil, membro da diretoria da Editora Betânia e coordenador regional da Betânia para a América do Sul.

O senhor já falou um pouco do seu relacionamento com a revista Mensagem da Cruz (http://www.betania.com.br/volta.htm). Agora nos fale um pouco sobre a importância dessa revista no Brasil:

Eu tenho um relacionamento muito especial com a revista, principalmente porque ela foi o meu primeiro contato com a Betânia. É interessante ressaltar que a Mensagem da Cruz foi a primeira iniciativa da Betânia em termos de literatura aqui no Brasil. Nos primeiros anos, ela veio ao encontro das necessidades espirituais e da realidade financeira dos crentes brasileiros, Ela não era vendida, e sim doada. Por ser uma iniciativa com esse caráter, recebia subsídios dos Estados Unidos para a sua produção e, chegou à alcançar a marca de 150 mil assinantes.
No entanto, há alguns anos, a visão da Missão nos Estados Unidos em relação ao Brasil mudou. Eles perceberam que a igreja brasileira já não era mais tão sem recursos como na década de 60, e que a realidade econômica do crente brasileiro havia mudado. Sendo assim, a Mensagem da Cruz deixou de receber esse subsídio e a sua publicação foi suspensa por falta de recursos, ficando cerca de quatro anos sem ser editada. Depois de uma reestruturação na organização no Brasil nos encontramos em condições de retomar sua publicação. 0 leitor agora participa no custeio da revista, medida que ajudou muito na retomada da sua publicação.
Nessa retomada, pudemos constatar alguns fatos muito interessantes. Primeiro, que a Mensagem da Cruz marcou época na igreja brasileira. Ela participou de um momento decisivo na vida da igreja do nosso país. Ela ajudou a balizar o movimento de renovação carismática.
Outra constatação que fizemos foi que o espaço da revista não havia sido ocupado por nenhuma outra durante os anos em que ela esteve fora de circulação. Surgiram várias revistas de qualidade no Brasil nesse período, mas nenhuma possuía o perfil da Mensagem da Cruz, seu formato quase que "de bolso" e sua forte ênfase devocional, presente na revista desde o seu lançamento.
Quando voltamos a publicá-la, recebemos muitas cartas de pastores e de vários crentes dizendo o quanto eles estavam sentindo a falta de uma revista que trouxesse esse tipo de material. Foi muito agradável perceber que a Mensagem da Cruz é um ministério relevante dentro do contexto da igreja brasileira.

O Senhor gostaria de ressaltar algo sobre a trajetória da Missão Betânia?

Acredito que todos os nossos ministérios ao longo desses anos sempre foram estratégicos, ações pensadas com o intuito de mudar a realidade.
Eu poderia destacar a presença da Betânia na área de treinamento. De norte a sul e de leste a oeste do país, o difícil é não encontrar alguém treinado na Betânia. Nesses quarenta anos, ela conseguiu capacitar pessoas de forma que marcassem presença em vários segmentos da sociedade.
No entanto, eu, diria que o grande impacto da Betânia no Brasil se deu através da literatura. Essa é uma marca que ira perdurar ainda por muitos e muitos anos. Nós conseguimos, através da literatura, entrar em todos, os segmentos cristãos do Brasil. Digo cristãos porque esse impacto transcendeu as fronteiras evangélicas.

sábado, 25 de outubro de 2008

Desenvolvendo comunidades missionárias


Como grupos pequenos podem cumprir a grande comissão.

Você já assistiu aos episódios antigos do seriado Cavaleiro Solitário? Que figura idílica do heroísmo americano! Ele era duro, independente e nunca deixou ninguém descobrir sua verdadeira identidade. É provável que não seja um choque ouvir que Deus não quer que sejamos “Cristãos Cavaleiros Solitários”. Ninguém pode, sozinho, falar de toda a vida de Jesus para o mundo. Precisamos criar um círculo de crentes em nossa volta para nos auxiliar nessa missão. Precisamos daquilo que chamo de “comunidade missionária” – um pequeno grupo de crentes que alcancem pessoas específicas e atendam necessidades específicas neste mundo como um meio de compartilhar a graça e a verdade de Cristo. Isso levanta algumas perguntas-chave: Como o Espírito Santo cria diversas comunidades missionárias dentro das igrejas? E, uma vez criadas, como o Espírito usa essas comunidades para alcançar as pessoas para Cristo?

Um modelo bíblico de comunidade missionária
Em João 15 descobrimos que o Espírito Santo cria essas comunidades. Jesus diz que “enviará” o Espírito Santo “da parte do Pai” e que este Espírito “testemunhará” de Jesus ao mundo (v. 26). Isso não apenas implica que o Espírito é Deus, mas também que o Espírito será o representante autorizado de Cristo depois de sua partida. Como o Espírito “testemunhará” sobre Cristo? Jesus, que previamente descreveu a si mesmo como “a verdade” (João 14.6), agora diz que ele enviará “o Espírito da verdade”. Este Espírito da verdade virá aos discípulos de Jesus para que possam “dar testemunho também” (15.27) de Jesus e de sua verdade ao mundo.
Em João 16 descobrimos como este “testemunho” acontecerá. O ministério de Jesus continuará depois de sua ressurreição e ascensão porque o Espírito da verdade “ensinará toda a verdade a vocês” (16.13). É crítico notar que, neste verso, fala-se “vocês”. A implicação é que o Espírito abrirá a verdade das boas-novas para as comunidades de crentes.
Jesus diz ainda que o Espírito “vai ficar sabendo o que tenho para dizer, e dirá a vocês [plural], e assim ele trará glória para mim” (16.14). Isso significa que o Espírito da verdade permitiria aos crentes conhecer Jesus – em particular sua verdade e sua glória – dentro das comunidades. Quer dizer também que o Espírito glorificaria a Cristo no mundo através de tais comunidades guiadas pelo mesmo Espírito.
Você vê o fluxo? Em cada passagem o conhecimento da verdade de Deus se move do Senhor Jesus para o Espírito Santo e para os discípulos. Jesus envia o Espírito ao mundo e o Espírito torna Jesus conhecido dentro de comunidades de crentes (como por exemplo a igreja local). Então, esta comunidade testemunha de Cristo ao mundo.

Comunidades missionárias e a Grande Comissão
Como o Espírito usa as comunidades missionárias para cumprir a Grande Comissão?
Jesus deu a comissão a todos os crentes em Mateus 28.18-19: “Deus me deu todo o poder no céu e na terra. Portanto vão a todos os povos do mundo e façam com que sejam meus seguidores.” Aqui, Jesus, na verdade, estende sua própria autoridade aos crentes para que eles possam cumprir a tarefa que lhes deu: fazer discípulos. Como resultado disso, quando os crentes vão a todos os povos do mundo podem ver a si mesmos como tendo recebido uma comissão pessoal de Jesus.
É importante notar que essa comissão foi dada no contexto da comunidade: a Grande Comissão foi entregue aos discípulos como um grupo, e as palavras de Jesus, “vão” e “façam seguidores”, estão no plural. Combinado a isto está o que aprendemos acima a respeito das comunidades missionárias. Assim, podemos concluir que nossa comissão deve ocorrer dentro do contexto do corpo local de crentes. O Espírito Santo pode, num pequeno grupo do qual Cristo é o centro, torná-lo um ambiente onde os dons e a motivação de cada crente para o ministério podem ser ambos confirmados e ativados. Uma perspectiva de comunidade missionária muitas vezes exige uma transformação no meio da igreja. Muitas igrejas precisam sair de uma mentalidade de “missões” (ou seja, simplesmente mandar missionários para fora da igreja), para uma mentalidade de “missão” (na qual cada crente vem a conhecer sua própria missão de vida e a enxerga como parte da Grande Comissão e a vive dentro da comunidade missionária de crentes).

Idéias práticas para desenvolver uma comunidade missionária
Como fazer essa mudança? Primeiramente, cada um de nós precisa desenvolver um senso claro de missão pessoal. Podemos fazer isso de quatro maneiras:

1. Pedir ao Espírito Santo que nos ajude e olhe de perto nossas vidas, e que nos mostre maneiras específicas com as quais Deus nos equipou para seu ministério;

2. Pedir a outros crentes, particularmente aos do nosso grupo, que nos ajude a identificar nossos dons espirituais e motivações naturais que eles observam em nossas vidas;

3. Tentar pensar sobre nossos talentos principais (ou seja, habilidades como jogar futebol, costurar ou pregar sermões) e paixões (modos como fazemos diferença no mundo, tais como evangelismo ou ajudar os sem-teto);

4. Uma vez que tenhamos identificado nossos dons distintos, motivações, talentos e paixões, precisamos pedir ao Espírito Santo que nos ajude a pôr todas estas partes juntas em uma afirmação clara de missão;

Em segundo lugar, devemos buscar cumprir nossa missão dentro de uma comunidade missionária específica. Um pequeno grupo pode dar o encorajamento, a resposta, a instrução e a correção que precisamos para ativar este chamado pessoal. Você está numa comunidade pequena de crentes buscando cumprir uma missão – seja individual ou corporativamente? Se a resposta É sim, encoraje cada pessoa a compartilhar sua missão pessoal, e, quando o fizerem, discutam e procurem um senso comum. Então, encoraje o grupo a orar e a identificar um grupo missionário que surgirá de tal discussão.
Finalmente, encoraje seu grupo a ativar o grupo missionário buscando maneiras específicas de servir a comunidade e, assim, apresentar a graça e a verdade de Cristo àqueles que, de outra forma, não teriam tal oportunidade. Talvez seu grupo possa visitar um abrigo, entrar para um time de futebol, fazer reformas em casas ou servir em igrejas de outros países – ou o que naturalmente surgir quando vocês identificarem seu grupo missionário. Cada grupo terá uma missão única, e o sentido da verdadeira comunidade cristã será fortalecido quando a missão do grupo for ativada.
Uma mentalidade de comunidade missionária não apenas ultrapassa a síndrome do Cristão Cavaleiro Solitário, mas, na verdade, transforma as igrejas, ajudando cada crente a alinhar sua missão pessoal com a Grande Comissão dentro do contexto do grupo pequeno.

John A. Studebaker é diretor executivo da Bridge Ministries, um ministério de recurso e treinamento que prepara cristãos para cumprir a Grande Comissão.

Fonte: Portal Cristianismo Hoje - www.cristianismohoje.com.br

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

BRÁULIA RIBEIRO: ENTREVISTA


Portal Cristianismo Hoje - http://www.cristianismohoje.com.br/

Desde 2005, a agência missionária Jovens com Uma Missão, a Jocum, encontra-se no olho do furacão. Naquele ano, dois obreiros ligado à entidade, o casal Edson e Márcia Suzuki, que atuavam havia longo tempo junto à etnia indígena suruwahá, salvaram uma criança condenada à morte pela própria tribo. Nascida com hipotireoidismo, Hakani, a criança, deveria ser sacrificada – o costume do infanticídio ainda é comum entre diversas nações indígenas brasileiras. A atitude, tomada em comum acordo com parentes da criança, fez o mundo desabar sobre a cabeça dos missionários. Acusados pela Fundação Nacional do Índio, a Funai (órgão ligado ao Ministério da Justiça que executa a política indigenista nacional), pelo Ministério Público e por setores acadêmicos de “crime cultural”, os missionários, bem como outros obreiros da Jocum, foram obrigados a deixar as áreas indígenas. Em maio deste ano, outro ataque – um diretor da Funai, Antenor Vaz, divulgou um dossiê contendo pesadas críticas à ação das missões religiosas que trabalham com indígenas em geral e à Jocum em particular.
A missionária Bráulia Ribeiro, presidente da missão entre 2003 e 2007, acompanhou de perto todo o processo contra a entidade. Ela atuou durante quase duas décadas entre os suruwahá, conhecendo como ninguém sua rotina, língua e cultura. Legitimada por tanta experiência, ela fica indignada com a situação. “Existe uma indisposição geral contra as missões indígenas. Trata-se de uma suspeita gratuita, porque há algo de inaceitável para o governo na nossa própria existência”, reclama. Bráulia considera que o relatório da Funai está eivado de erros e preconceitos – “Foi elaborado sem qualquer apuro acadêmico”, denuncia – e que falar em respeito a culturas indígenas diante de ameaças à vida dos próprios índios é um absurdo. “O mito da tolerância cultural absoluta nos tirou a capacidade de perceber os seres humanos por trás da coletividade indígena”. Bráulia é uma das principais vozes na luta contra a prática do infanticídio, que segundo ela, já é combatida pelos próprios índios. “A garantia à vida é direito constitucional”, lembra.
A missionária faz questão de desfazer o que chama de mentiras, como a noção de que a fé cristã descaracteriza o modo de ser do índio. Segundo ela, todas as culturas nativas têm a figura de uma divindade criadora – neste contexto, a noção de um Deus Todo-poderoso seria, em sua opinião, perfeitamente cabível. “Além disso, a moral cristã se parece mais com a vida tribal, que na maioria das vezes tem o núcleo familiar forte e bem apoiado por sanções sociais, do que a amoralidade permissiva que alguns pesquisadores preconizam”, aponta. Bráulia não tem dúvida – o índio cristão é cem por cento índio. Ela conversou com o portal CRISTIANISMO HOJE:

CRISTIANISMO HOJE – Na sua opinião, por que a Funai tem imposto tantas restrições à ação missionária evangélica nas áreas indígenas?

BRÁULIA RIBEIRO – Existe uma indisposição geral contra as missões indígenas.Para mim, trata-se de uma suspeita gratuita, porque há algo de inaceitável para o governo na nossa própria existência. A mentira em que se acredita é que as missões são as únicas instituições que mudam o estilo de vida dos indígenas, ferindo-os diretamente em sua cosmovisão. A sociedade em geral tende a acreditar nisso por desconhecer a realidade sócio-cultural das nações indígenas. Na verdade, todos que têm contato com os povos indígenas mudam sua cosmovisão, porque não existe cultura humana estática. Ora, todos os grupos humanos sofrem constantes mudanças em sua maneira de ver e se relacionar com o mundo. A Funai, entre todos os grupos, é o que mais tem contato permanente com povos indígenas – então, seria a maior causadora de mudança de sua cosmovisão.

Quais foram os desdobramentos das críticas do relatório do sertanista Antenor Vaz?

Até agora, estamos ainda sendo investigados e oficialmente proibidos de manter uma equipe na área suruwahá . A Jocum, na maioria de seus projetos, usa o método missiológico C5. Nesta abordagem missionária, não se prega religião ou se impõe qualquer noção ocidental de organização da revelação de Deus. Deus se manifesta e se revela à cultura, e hábitos culturais e formas religiosas são mantidos – a não ser que os próprios índios os definam como conflitantes com a revelação que receberam. No caso dos suruwahá, a valorização da vida foi o efeito mais sentido diretamente. Teve como conseqüência o próprio confronto dos índios com o governo para salvar seus filhos que anteriormente seriam destinados ao infanticídio. Foi exatamente esta mudança cultural que colocou a Jocum no centro deste conflito que perdura até hoje. Foram os próprios índios, implorando por ajuda para salvar seus filhos, que nos levaram a isto. O dossiê pseudo-acadêmico de Antenor Vaz diz que a Jocum cometeu todos os crimes, pecados e erros e possíveis como missão. Pense em uma acusação qualquer que se faz contra ONGs na Amazônia. Pois esta acusação provavelmente está no dossiê, usada contra nós. É uma tentativa desesperada de nos achar em alguma falta.

Mas a Jocum não cometeu nenhum equívoco que justificasse a pressão que tem recebido da Funai, do governo e de setores acadêmicos?

Dos setores acadêmicos, não. Não existe nenhum rigor acadêmico no que foi feito. Pelo contrário – se houvesse, teríamos que ser reconhecidos como lingüistas que classificamos, descrevemos, analisamos e apresentamos para o mundo científico a língua suruwahá e a cultura de seu povo. Este trabalho já valeu aos nossos lingüistas publicações nacionais e internacionais, teses de mestrado defendidas na Unicamp e na Unir. Márcia Suzuki, da ONG Atini, recebeu até uma proposta para doutoramento na Universidade Paris X, uma das melhores universidades européias na área. Se cometemos algum erro, foi o de manter a nossa comunicação com o mundo externo cifrada em crentês por muitos anos, não denunciando com mais eficiência os abusos cometidos pela Funai – e o de não militar com eficiência e ardor pelo respeito governamental aos direitos humanos dos povos indígenas.

Setores da Funai acusam a Jocum de agir a serviço de interesses estrangeiros. Tendo sido a agência fundada por um missionário americano, o que existe de verdade e de mentira nesta acusação?

Apesar de termos fundadores americanos, a Jocum é a mais – ou uma das mais – brasileira das missões do país. Está no próprio “DNA” da missão a capacidade de se metamorfosear de acordo com o ambiente onde atua. A Jocum Brasil nasceu popular, povão mesmo, na década de 1970, dando espaço para que os jovens vindos das classes C e D participassem e liderassem nosso movimento de missões. Eram jovens que, até então, não tinham acesso aos cursos missionários mais tradicionais, que geralmente custavam caro. Por sermos um movimento basicamente leigo, tivemos muita liberdade para desenvolver nossa própria missiologia, uma missiologia brasileira. Eu me lembro de quando comecei na Jocum. Nossa equipe não tinha dinheiro para fazer compras na cidade, então ficávamos nas aldeias e vivíamos como índios, caçando, pescando e plantando como eles. Mais tarde, vim a saber que este estilo de fazer missões era chamado de encarnacional pelos especialistas. E descobrimos que isso nos aproximava das pessoas, nos dava uma capacidade de entender melhor a cultura junto à qual atuávamos e de sermos entendidos pelos indivíduos daquela cultura de maneira muito mais intensa do que se vivêssemos isolados em nossa própria estrutura missionária. Em meu livro Chamado radical, publicado pela Editora Ultimato, conto a história do nascimento de nosso trabalho com crianças de rua em Belém, ribeirinhos e do trabalho indígena. Na Jocum, temos espaço para o sonho e a iniciativa individuais. Não temos um pacote pronto institucional de alvos e interesses organizacionais. Não temos dinheiro centralizado, e cada projeto tem que se auto-financiar. Cremos que o jovem romântico de mochila nas costas é quem vai nos mostrar o próximo passo a dar. Acho que é por isso que a Jocum se mantém, com quase 50 anos de existência, como a missão que ainda mais cresce no mundo.

O que a senhora tem a dizer acerca da abordagem antropológica que considera o infanticídio como mera prática ritual?

O mito da tolerância cultural absoluta nos tirou a capacidade de perceber os seres humanos por trás da coletividade, ou da cultura indígena. A Jocum, em 2005, comprou uma briga com o governo ao retirar de uma tribo indígena considerada isolada uma garota para tratamento médico, que nasceu com defeito genético. Para os antropólogos do Ministério Público envolvidos, no caso somos culpados do crime de interferência cultural. Para eles, claramente, a vida da menina não tinha valor singular ou inerente – o costume cultural do infanticídio era o único valor a ser preservado. O que eles queriam, na verdade, não é a preservação da cultura, porque até a pessoa mais ignorante sabe que sem pessoas, sem indivíduos que a vivam, não existe cultura; portanto, a preservação das pessoas tem que vir antes da abstração da cultura. Mas o que eles queriam é a manutenção do darwinismo social mal-disfarçado que permeia o indigenismo brasileiro. Este é hoje o conceito prevalente no meio indigenista. Como erro curioso na cadeia evolucionista, estas culturas “primitivas” devem ser preservadas ao preço até da vida dos indivíduos que as compõem. Não por elas, mas pelo “serviço” que elas prestam à ciência ocidental, como propôs o próprio Napoleon Chagnon, durante sua carreira de antropólogo entre os yanomami.

Quem mais, além da Jocum, levanta a bandeira contra o infanticídio?

Hoje, o movimento contra o infanticídio vai muito além da Jocum ou das missões cristãs – e não se trata de uma questão religiosa, apesar de que, maliciosamente, alguns querem tratá-la assim. Trata-se de direitos constitucionais e fundamentais, que são negados aos povos indígenas por causa da miopia do darwinismo social. Com o nascimento de ONGs importantes como a Atini – Voz pela Vida e o Movimento Indígena contra o Infanticídio, o debate ganhou corpo nacional. Povos indígenas do Oiapoque ao Chuí, falantes diferentes línguas e com diferentes cosmovisões, insistem com o governo pelo direito à assistência médica eficiente para suas crianças. Exames clínicos básicos e obrigatórios para a população brasileira em geral, como o teste do pezinho – que pode diagnosticar doenças precocemente, permitindo seu correto tratamento –, não são feitos até hoje nas nações indígenas. Abandonar essas crianças é condena-las a morrer.

A repercussão do filme Hakani beneficiou de alguma forma a ação da Jocum contra a prática do infanticídio indígena?

Nós ajudamos na produção do filme, mas os povos indígenas representados por várias associações que hoje representam esta voz contra o infanticídio é que são os protagonistas do movimento. E claro – sendo nosso mundo tão audiovisual, o filme deu uma tremenda força à causa, tanto dentro das comunidades indígenas como fora. O filme narra a história real de uma garotinha indígena salva do infanticídio por seu próprio irmão. O documentário-drama foi realizado com a participação voluntária de integrantes de 16 nações indígenas. Hakani de maneira nenhuma difama ou diminui os povos indígenas, mas mostra como, de maneira altruísta e nobre, muitos índios se levantam para acabar com um costume cruel que só subsiste até hoje por causa da indiferença do Estado e das falácias que dão aos indígenas um status não-humano a nosso olhos brasileiros.

Qual é a posição da agência diante da atual política adotada pelo governo em relação aos índios isolados, que é a de impedir qualquer contato com os brancos?

Nós não somos uma missão integracionista, ou seja, que trabalha com integração cultural das tribos à cultura nacional. Pelo contrário – até representamos uma missiologia ainda muito pouco conhecida e aplicada no Brasil, e que separa claramente a ocidentalização, ou aculturação, da mensagem supracultural de Jesus. Durante nossos vinte e quatro anos de contato com os suruwahá, não introduzimos nenhum hábito material novo. Eles continuam vivendo como sempre viveram, autônomos e independentes da sociedade envolvente. Se compararmos a situação dos suruwahá no contato pela Funai na mesma época, perceberemos uma diferença enorme. Enquanto os suruwahá mantém sua dignidade auto-estima, autonomia e têm o mesmo número de habitantes de 30 anos atrás, os urueu-wauwau de Rondônia, por exemplo, vivem na dependência material das bolsas assistenciais do governo, atormentados pelo alcoolismo e desestruturados socialmente. Esse povo perdeu sessenta por cento de sua população no mesmo período de 30 anos. No entanto, apesar de manter a autonomia sócio-econômica, os povos semi-isolados precisam de um trabalho de educação e de pontes com o mundo externo. Eles têm que se preparar para o confronto inevitável, têm que entender nosso mundo e saber que podem se relacionar de igual para igual com ele. A Amazônia é enorme e a vigilância constante naquela região é muito difícil, ou mesmo impossível. Eles têm que também receber assistência de saúde boa e completa, de preferência que inclua também o treinamento de agentes de saúde indígenas, a fim de que as ações sejam continuadas, e não esporádicas, dependendo apenas da visita de médicos a cada seis meses. Esta história que a medicina tradicional dá conta do recado é puro descaso. Se abandonados à sua própria sorte, estes grupos vão acabar desaparecendo.

Além do trabalho religioso propriamente dito, quais são as outras atividades dos obreiros da Jocum em áreas indígenas?

Entenda que o trabalho considerado “religioso” só acontece em populações aculturadas e a pedido destas mesmas populações. Eu tentei explicar isto numa reportagem de TV e minhas palavras foram mal-compreendidas e distorcidas como se eu tivesse intenção de negar a fé. Um missionário da Jocum em área indígena – e acredito que de outras missões também – se ocupa mais em tarefas diárias relacionadas à sobrevivência destes povos do que com tarefas religiosas. Não existe, pelo menos de nossa parte, uma “catequese” sistemática. Tudo acontece no contexto de relacionamento. A cosmovisão cristã está muito mais próxima da cultura indígena do que a cosmovisão secular liberal, o cientificismo cético que praticam os indigenistas não-cristãos. Enquanto o secularismo nega a existência de um mundo sobrenatural e atribui tudo à mitologia e ao folclore indígena, o cristão crê na sobrenaturalidade que permeia o dia a dia indígena e participa desta realidade com suas orações, amizades e crença no Criador, no “Espírito do Bem”, que é Jesus. Isto é, não forçamos nada aos índios; simplesmente vivemos uma vida de dedicação, amizade e compromisso com o bem-estar social da aldeia.

Mas e a questão da moral cristã? Ela pode ser seguida numa tribo indígena?

Olha, a moral cristã também se parece mais com a vida tribal, que na maioria das vezes tem o núcleo familiar forte e bem apoiado por sanções sociais, do que a amoralidade permissiva que alguns pesquisadores retrataram erradamente. Alguns missionários fazem a tradução do Novo Testamento, sim. Mas fazem também a tradução de lendas e mitos da cultura indígena. A própria tarefa de tradução da Bíblia obriga o missionário a um conhecimento real e um respeito pela língua e cultura indígenas maior do que o de um antropólogo que passa dois ou três meses numa tribo ajudado por tradutores quase sempre ruins. O resultado disso é uma dissertação na maioria das vezes planejada para provar uma tese científica qualquer já pré-estabelecida.

E até onde o conteúdo da Bíblia, escrita no contexto judaico-cristão da Antigüidade, tem algo a ver com a realidade do indígena?

Quando, nas aldeias mais aculturadas, acontece o ensino bíblico sistemático, este ensino é mais um em meio a tantos outros ensinos necessários para a sobrevivência do povo – e, ao invés de diminuir a auto-estima e força cultural daquela comunidade, faz com que eles tenham mais orgulho de quem são, e portanto vontade de manter sua organização social e familiar. A Bíblia é basicamente a história de um povo tribal lutando para sobreviver em meio a nações mais desenvolvidas e que os oprimiam. Conhecer esta história só ajuda aos povos indígenas a saber que não estão sozinhos e que também podem sobreviver. Não posso aceitar a acusação de que trocamos assistência de saúde e educação por conversão, ou de que usamos nossa estrutura de apoio para obrigar os indígenas a se tornarem “prosélitos” do Evangelho. Como muitas afirmei em meu livro Chamado radical, a verdadeira missão cristã não é religiosa. É uma missão de amor. Não somos chamados a nada, a não para amar à custa de nossas próprias vidas.

Quais são os benefícios da presença missionária entre as etnias indígenas brasileiras no que se refere a trabalhos de preservação lingüística e cultural?

São inúmeros os benefícios. Eu poderia falar sobre as reduções jesuítas, que eram os maiores pólos de desenvolvimento do Brasil-Colônia e da contribuição cristã aos direitos humanos e respeito às línguas e culturas indígenas, numa época onde imperava apenas a barbárie, quando o comércio de escravos e o genocídio de povos inteiros eram parte essencial do tecido sócio-econômico. Em 1560, quando os índios eram considerados quase como animais, o padre José de Anchieta publicou a primeira gramática em uma língua brasileira – a Gramática da língua mais falada na Costa Brasileira. Mas, falando apenas no século 20, vamos pensar nas missões indígenas protestantes, ou modernas. O respeitado antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro convidou o Summer Institute of Linguistics (SIL), para se estabelecer no Brasil. Parte dos maiores pesquisadores em lingüística descritiva e antropologia cultural do mundo eram membros e líderes daquela entidade, que no Brasil chama-se Sociedade Internacional de Lingüística. Darcy, como o visionário que era, percebeu o impulso que uma organização como a SIL poderia dar ao estudo dos povos brasileiros. Repare que havia já outras missões agindo entre indígenas, como a missão Caiuá, por exemplo, que focalizava a questão da saúde. Mas foi a entrada da SIL que sistematizou a documentação de dados culturais e lingüísticos dos povos indígenas de todo o Brasil. Ainda hoje, o acervo científico da SIL é maior do que o de qualquer universidade brasileira. Por muitos anos, os únicos a levarem educação chamada bilíngüe e bicultural, que usa como base a língua materna e treina professores indígenas, foram as missões protestantes. Apesar da Lei de Diretrizes e Bases da Educação prever a obrigatoriadade do uso da língua tribal na educação indígena, os municípios não têm pessoal técnico para fazer isso. Já as missões não só têm recursos humanos, mas possuem documentação lingüística, experiência e a confiança das populações indígenas para possibilitar a aplicação da lei. Mas, infelizmente, o preconceito e a discriminação contra as missões hoje fazem com que a educação indígena seja descaracterizada e aleijada.

Se missões como a Jocum alcançaram tanta excelência nos estudos lingüísticos e culturais, porque as organizações não-governamentais leigas são mais prestigiadas pelo governo e a opinião pública em geral?

As ONGs indigenistas militam sempre para poder manter seu controle, e contra as missões. O domínio da questão indígena por concepções tacanhas e estranhas ao interesse real dos povos indígenas tem que acabar. Nosso pessoal, que é brasileiro, tem sido retirado das áreas indígenas e impedido de atuar como tradutores, apesar de mais de duas décadas de experiência com as línguas nativas. Contudo, temos informação de que um alemão entrou em nosso lugar. Não sabemos o que ele faz lá, mas vai ter que começar do zero. Estranho, não?

Muito se fala numa suposta interferência do Evangelho sobre o ethos tribal. Afinal, a pregação da fé cristã pode representar um risco ao modo de ser do indígena?

Narro em meu livro a história de um índio suruwahá, pajé, que teve uma visão de Jesus no caminho. Ele viu Jesus numa das trilhas da mata, totalmente caracterizado de índio suruwahá, nu, pintado de vermelho usando cordão peniano. Ninguém contou pra ele como Jesus se vestia ou que jeito tinha. O Evangelho traz aos homens uma revelação supracultural. De acordo com o antropólogo Don Richardson, 100% das culturas do mundo têm o conceito de um Deus Criador como parte de sua cosmovisão. Para as culturas brasileiras, em geral, dizer que existe um Deus Criador não é introduzir um conceito novo, mas é afirmar uma parte essencial da religião tribal. Todas elas têm o nome para o Criador e algumas até para seu filho, que muitas vezes é o principal herói mítico. O que o Evangelho traz de novo é a participação de um espírito bom (Jesus) e que tem poder sobre os maus, a salvação individual e as conseqüências desta salvação – ou seja, a revelação geral já está presente. O que levamos são apenas detalhes; não existe rompimento com o núcleo cosmológico. O secularismo, no entanto, que chega através de tantos outros meios, inclusive a própria escola, confronta diretamente o universo tribal, relegando todas suas crenças fundamentais à categoria de mitologia.


Leia também a entrevista sobre esse mesmo assunto com Edward Gomes da Luz da Missão Novas Tribos do Brasil: http://www.cristianismohoje.com.br/artigo.php?artigoid

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Suas milhas podem levar missionários mais longe


Programas de Milhas são uma grande vantagem pra quem viaja muito. Geralmente são utilizadas para trechos de viagens gratuitas ou mesmo para upgrades de uma classe para outra como a executiva ou primeira classe. A maioria das companhias aéreas tem este tipo de programas que fazem o maior sucesso entres os usuários.

Estas milhas também podem ser doadas a terceiros. O programa é claro, tem suas restrições. Em linhas gerais, as milhas só podem ser doadas de um única vez, por exemplo: duas pessoas não podem unir suas milhas para doá-las a uma terceira pessoa. Para que isto aconteça é necessário uma parceria direta entre o recebedor e a companhia aérea, e isto já vem sendo promovido por algumas destas como a Varig, que a cada seis meses escolhe uma entidade beneficente que receberá doações de milhas. Salvo estas exeções, as doações de milhas devem cobrir o valor integral da passagem.

Mas suas milhas também podem ajudar nossos missionários a chegar aos seus destinos pelo mundo. Apesar de não possuirmos ainda um programa ou parceria direta com nehuma empresa aérea, sua doação voluntária pode ser resposta de oração a um de nossos missionários, indo para o Oriente Médio, África, Asia ou mesmo dentro do Brasil.

Se você deseja ajudar missões desta maneira, escreva pra nós. Teremos prazer em lhe dar maiores informações.Quem sabe, esta não é a maneira simples e prática de investir em missões que você estava procurando?

Para maiores informações, escreva para: info@jocum.org.br

FONTE:
JOCUM -
http://www.jocum.org.br


Nota: Esta é uma interessante idéia que pode ser adotada por outras Missões e Agências Missionárias. E se você, leitor, possui milhas acumuladas, entre em contato com a JOCUM ou outra Missão ou Agência e ajude o Reino de Deus a avançar nesta terra!

CURSO DE LINGÜÍSTICA E MISSIOLOGIA


Amados, a Missão ALEM (Associação Lingüística Evangélica Missionária) está com vagas abertas para 2009 em seu curso de Lingüística e Missiologia. Trata-se de um dos mais respeitados (se não o mais respeitado) curso do gênero no Brasil. Leia abaixo mais sobre este curso:

"Em 1983, a ALEM começou a dirigir o Curso de Lingüística e Missiologia (CLM), antigo Curso de Metodologia Lingüística (CML) organizado oficialmente pela SIL em 1973. Missionários e candidatos a missões de diversas organizações missionárias estudaram no CLM. Entre essas instituições encontram-se: Missão Antioquia; Missão Kairós; Junta Administrativa de Missões (JAMI), da Convenção Batista Nacional (CBN); Junta de Missões, da Convenção Batista Brasileira (CBB); Agência Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT), da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB); Missão AMEM; Projeto Amanajé; AMIDE; Missão Horizontes; União das Igrejas Evangélicas da América do Sul (UNIEDAS); Missão Evangélica da Amazônia (MEVA); Missão Evangélica Índios do Brasil (MEIB) e SIL. O total de alunos chega quase a sete centenas.

O Curso de Lingüística e Missiologia (CLM) tem como objetivo fornecer ferramentas básicas para o trabalho de tradução para povos minoritários e capacitar pessoas para desenvolverem trabalhos nas áreas de lingüística, antropologia e educação para esses povos.

O CLM é um treinamento específico que dá ao aluno a habilidade de aprender uma nova língua para a qual ainda não existe escrita e a identificar-se com uma nova cultura, a fim de comunicar o Evangelho de Jesus Cristo para esses povos. O Curso é dividido em 4 Módulos, sendo que os Módulos de Campo e Avançado, são opcionais.

O aluno pode escolher o curso que mais se adequa a suas habilidades:

Análise Lingüística e Tradução
– Destinado a pessoas que se sentem chamadas para trabalhar com análise de línguas e a tradução da Bíblia.

Habilitação em Educação
- Destinado a pessoas que desejam trabalhar com educação bilíngüe em contextos multiculturais."


PARA MAIORES INFORMAÇÕES, VISITE: http://www.missaoalem.org.br/

sábado, 11 de outubro de 2008

O que é Missão?


O que é Missão?

É o plano de Deus:
Antes mesmo do mundo ser criado, Deus sabia que o homem iria pecar. Sendo assim, Ele preparou, de antemão, um plano de salvação. Neste plano divino estava o conteúdo da obra missionária, que é o anúncio do Evangelho de salvação ao mundo perdido. ( Gn 3:15; Ap 13:8; Ef 1:4; 1 Tm 1:9; 1Pe 1:19 e 20).

É a ordem de Jesus:
Um dos maiores mandamentos de Jesus registrado nas Escrituras é a ordem de fazer missões (Mc 16:15; Mt 28:19 e 20). Antes da ascensão, sua última ordem foi: “Ide por todo o mundo”. (Mc 16:15)

É a obra do Espírito Santo:
O propósito pelo qual o Espírito Santo foi enviado é capacitar e dirigir a igreja no avanço da obra missionária (Lc 24:47-49).

Todo movimento espiritual que se denomine avivamento e não vise a conquista de almas para Cristo é pura emoção e não unção (At 1:8; 2:1-5, 14; 4:5-12,31; 13:1-4).

É dever da Igreja:
Jesus não deixou a responsabilidade da Grande Comissão a nenhum instituição humana. Antes, privatizou esta importante tarefa à sua amada Igreja (Mt 28:20; Jô 15:16; 17:18-20). Portanto, façamos missões.

É responsabilidade de cada cristão:
Cada cristão tem a responsabilidade de apoiar a obra missionária com oração. (Rm 15:30; Ef 6:18-20; Cl 4:2-4); com contribuição (Fl 4:10-20; 2Co 9:6-14); e evangelização (1 Co9:16; Ez 33:6-8).


O que não é Missão

Opção doutrinária:
A ordem do “Ide” (Mc 16:15) não ficou como uma opção, mas, sim, como uma ordem a ser obedecida.

Fator secundário:
Missões não é algo para segundo plano, mas é o principal de todos os projetos da Igreja e deve ser valorizado (2 Rs 7:9).

Projeto:
Devemos deixar de apenas fazer cálculos e organizar comissões e realizar reuniões e entrar logo em ação! Enquanto estamos falando e pensando, o mundo está perecendo (1 Cr 28:10; 1Co 15:58; Rm 12:11).

Privilégio de algumas Igrejas:
Missões somente é realizada por quem tem fé nas promessas de Deus e amor pelas almas perdidas (1Ts 1:3). Missões não se faz com milhões, mas dando passos de fé e de obediência (Fp 4:19).

Pessoas com chamados especiais:
A Grande Comissão não foi dada a um grupo específico com chamado especial, mas cada cristão pode ir, contribuir e orar. (Jo 15:16; At 13:1-4; 1 Co 12:12-23).


FONTE: CEMINI - http://www.cemini.org.br/

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

GRAMÁTICA MISSIONÁRIA

Só há dois tipos de reação quando alguém se depara com a palavra Missões.

Há os que preferem conjugar os verbos adiar, esquecer, calar, desfrutar, estagnar-se.
Há os que escolhem os advérbios depois, amanhã, talvez, futuramente, nunca.
Para esses a vida é definida pelos substantivos tristeza, decepção, vergonha, descompromisso, deslealdade.

Há os que preferem conjugar os verbos falar, amar, orar, sustentar, enviar, comprometer-se, crescer.
E escolhem os advérbios hoje, agora, diariamente, já.
Para esses, a vida é definida pelos substantivos alegria, realização, compromisso, lealdade, crescimento.

E você, que verbos prefere conjugar? Que advérbios escolhe? Que substantivos definem sua vida?


Elian Martins

domingo, 5 de outubro de 2008

Sobre Missões Urbanas


A cidade Urbana X A igreja Urbana

Rubens Muzio

Introdução

Cada vez mais precisamos admitir que existe uma estreita relação entre o contexto urbano e as igrejas urbanas. Eu gostaria de destacar neste texto que nós, cristãos precisamos reconhecer as fortes e dramáticas relações que existem entre o contexto urbano onde estamos e as igrejas que pastoreamos na cidade. Minha impressão, porém, é que a maioria das igrejas enfatiza muito mais seus sonhos pessoais e projetos ministeriais do que seu contexto urbano. As igrejas em geral, investem seus recursos e melhores líderes na resolução de seus próprios problemas, ensimesmadas em seus prédios e instituições, dando pouquíssima atenção ao contexto social e cultural onde se encontram inseridas. É necessário que pesquisemos melhor os temas ligados ao urbanismo do Brasil (macro) e das cidades brasileiras (micro) especialmente com a explosão urbana. A igreja brasileira necessita de uma hermenêutica de vida mais bíblica e urbana!

Em sua relação com as cidades e a urbanização, em conversa com muios pastores e observando muitas igrejas tenho percebido alguns conceitos errôneos por trás do discurso dos pastores e prática das igrejas brasileiras:

O primeiro conceito errôneo que igrejas e pastores demonstram com relação à cidade onde moram, sem dúvida, é a afirmação de que a cidade, em si mesma, define-se como má e pecadora. Como não podemos escapar dela, devemos agüentá-la e suportá-la, sempre buscando nos isolar de sua maldade e escaparmos de sua contaminação moral.

Bem, precisamos notar que nem todos os problemas urbanos presentes são produzidos pelas cidades. A cidade é a arena para onde se transferem os grandes confrontos da sociedade. A cidade brasileira reflete as contradições e crises de origem local, estadual, regional, nacional e internacional. Não se trata simplesmente de crise da cidade, mas crise na cidade. Como compostos químicos, problemas, medos e hostilidades são atraídos à cidade e se misturam gerando novos conflitos e combinações mais venenosas ainda. Um amigo meu de Londrina José Barrera, professor da UEL por muitos anos, aplica este conceito da seguinte maneira:

A cidade acaba por ser o lugar das hostilidades dissimuladas e ostensivas, das violências abertas, das desordens de todo tipo, das inseguranças e dos medos. Há medos urbanos de toda natureza: objetivos e subjetivos; individuais e coletivos; passageiros e duradouros; fundados e infundados. Esses medos habitam o cotidiano dos “cidadãos” numa espécie de drama criando novos medos. O grande dilema: há um medo maior das vítimas da pobreza (os pobres e os miseráveis) que das suas causas.

Neste contexto, a igreja deve enxergar a cidade como objeto do amor de Deus e enxergar a si mesma como sinal e instrumento de redenção, paz (shalom), esperança e justiça para a cidade. Romanos 8:18-22 fala sobre a criação estar frustrada, gemendo com as dores de parto, esperando a manifestação da glória dos filhos de Deus. Muitos crêem que esta manifestação apenas refere-se à volta do filho de Deus. Mas da mesma forma que o Reino de Deus já chegou e está presente em nós, cada cristão tem a responsabilidade de manifestar o Reino aquí-e-agora e cada igreja tem o papel de ser instrumento do Reino na cidade. Somos cooperadores e co-criadores do Reino de Deus em nosso emprego, comunidade local, bairro, cidade, país, até os confins da terra!

O segundo conceito errôneo que os pastores demonstram com relação à cidade onde moram é aquele que afirma que a igreja é impotente e está derrotada diante da magnitude dos problemas que confrontam a sociedade brasileira. Não se pode fazer absolutamente nada diante dos problemas sociais da cidade e ninguém dispõe dos recursos necessários para isso. Sendo assim, em sua maioria, embaraçosa e vergonhosamente, as comunidades cristãs es esqueceram de falar e enfrentar os problemas nacionais e internacionais.

Em resposta a isso é importante lembrarmos que Deus mesmo está urbanizando o mundo. Não é necessário provar isso numericamente. Em todos os cantos do planeta, em todos os continentes, isso está acontecendo sob o domínio do nosso Deus soberano. Quer aceitemos ou não, a cidade urbana é uma marca destaque do século XXI. Este século será o século das cidades. Este mundo será um mundo das cidades. Mais de 80% da população brasileira já vive nas cidades. Esta explosão urbana é uma realidade presente e parece que marcará o futuro imediato do mundo de forma determinante. O mesmo Deus que preparou e formou a sua igreja para evangelismo urbano em contextos de exílio e diáspora em cidades do Oriente Médio é o mesmo Deus que está formando imensas cidades urbanas, policulturais e cosmopolitanas e inserindo sua igreja nelas. Sua relação com a cidade é de unidade. A igreja se faz una com a cidade, a igreja está em mix com a cidade. A paz da cidade é sua paz. A justiça da cidade é sua justiça.

A igreja é chamada a preservar, transformar e criar novas possibilidades para a cidade, numa autêntica missão diaconal. Esta ação diaconal tem também a ver com a reconciliação a nível social. Nas palavras de Costa, a ação sócio-diaconal busca participar da vida, conflitos, temores e esperanças da sociedade de tal maneira que estas expressões concretas do amor de Deus contribuam eficazmente para o alívio da dor humana e ao “quebrantamento das condicões sociais que mantem as pessoas na pobreza, impotência e opressão."

O terceiro conceito errôneo que igrejas e pastores demonstram com relação à cidade onde moram é a tendência ao isolamento e ausência de cooperação e unidade com outros grupos evangélicos. Com o crescente medo de perder membros neste competitivo mercado evangélico, muitos têm se fechado e levantado as cercas para “protegerem” suas ovelhas. Lá no fundo do coração, a impressão que tenho é que cremos que, para manter nossa identidade e pureza, devemos nos manter isolados dos outros grupos evangélicos. Sinto que utilizar-se do discurso da unidade entre os pastores é como falar de dieta para quem está obeso. O indivíduo sabe que precisa emagrecer mas ninguém venha com o dedo em riste, apontando para os seus quilos a mais. Sabemos que a unidade é importante e quão bom e agradável é viverem unidos os irmãos. Sabemos que precisamos de companheiros, amigos e não podemos caminhar sozinhos no ministério, correndo diversos riscos desde o esgotamento até queda.

As complexidades sociais, políticas, econômicas, raciais, geográficas presentes em uma nação sempre irão exigir um trabalho abrangente da Igreja como um todo. Para cumprirmos a Grande Comissão, é necessário o desenvolvimento orgânico do corpo de Cristo com todas as suas cores e bandeiras, com todos os seus dons e habilidades. Nenhuma igreja ou pastor, por mais poderosa ou influente que seja, será capaz de alcançar todos os brasileiros e influenciar todo o Brasil.

O fator unificador da igreja brasileira é sua missão integral na cidade. A igreja não atua com responsabilidade amorosa pela cidade quando revela a intenção de retirar-se, construindo seus próprios reinados ou se beneficiar-se dela, aproveitando-se de seus necessitados e sofredores para crescer numericamente.

Em cooperação e parceria, a igreja deve ser impulsionada com o desejo de sacrificar-se por ela. Com toda sua diversidade e multiplicidade de doutrinas, estilos e ministérios a igreja deve doar-se à cidade como sinal da paz de Deus em todos os níveis: indivíduos, famílias, comunidades, bairros, organizações, enfim, em todas as esferas sociais e culturais. Sua motivação é o amor de Cristo e não o sucesso ministerial. Sua ação é o serviço e não o gerencimento empresarial. Sua metolodogia é a encarnação é não meramente marketing e tecnologia.

O quarto conceito errôneo que igrejas e pastores demonstram com relação à cidade onde moram é a visão de sua vocação e ministério como sendo estritamente espiritual. Qualquer esforço dirigido a solucionar os problemas sociais poderia impedir o ministério de evangelização e crescimento numérico da igreja. A cidade é vista como um aglomerado humano a ser evangelizado. A ênfase está na conversão individual, na busca do crescimento numérico através de novas técnicas e métodos e no estabelecimento de novas igrejas da denominação.

A missao de Deus não é apenas espiritual mas tem caráter integral, abarca a totalidade de todas as experiências do ser humano, em seu contexto e história. A finalidade da missão de Deus é a reconciliação de todas as pessoas e a regeneração de toda a criação. Deus é criador e criou o ser humano à sua semelhança (Gn. 1.29). Não no mesmo nível de Deus, obviamente, mas somos co-criadores com Ele. Deus capacitou homens e mulheres com o dom da criação. Deus espera que utilizemos este dom de maneira responsável em nosso esforço de melhorar este mundo imperfeito agredido e ferido pelo pecado. Quando nos doamos pela cidade, procurando transformar as suas situações imperfeitas, ministrando às suas feridas sociais e restaurando as suas dores culturais. Quando promovemos a reconciliação e a paz – desde o indivíduo e suas necessidades pessoas, até a família e as cidades a nível social e cultural em direção a todo a criação no qual vive a humanidade - estamos exercendo e manifestando este dom, num verdadeiro processo de co-criação com o Deus do Universo e podemos orar dizendo: Pai Nosso, venha o Teu Reino, seja feita a Tua vontade assim na terra como é feita nos céus.

Concluindo, nosso ponto de referência para começarmos a entender a pesquisa na cidade urbana é teológico e não sociológico. A pergunta que precisa ser feita tem a ver com a relação entre a urbanização presente nos textos bíblicos e a urbanização das cidades brasileiras. As mais de 1200 referências à cidades na Bíblia são apenas um ponto de lançamento para a descoberta da agenda de Deus para a urbanização do mundo. Precisamos, portanto, estudar a Palabra de Deus a partir de sua perspectiva da realidade urbana, enfocando os tópicos da igreja e sua missão na cidade. Eu creio que a cidade é um aglomerado humano que necessita desesperadamente ser pastoreada por nós, cristãos. A missão de Deus na cidade implica na presença de igrejas saudáveis e pastores cheios de vitalidade espiritual que renovem e dinamizem a comunidade local e, desta forma, influenciem positivamente o Brasil.

E-mail para contato: rubens@sepal.org.br

FONTE: www.sepal.org.br