Ele queria
ser missionário
Quando o missionário chegou para atender
ao chamado, parou antes de entrar. O rancho erguia-se exatamente em frente ao
local onde há anos tombara o pioneiro do trabalho missionário em Brasiléia, o
Pastor Corintho Moreira.
Dentro da casa pobre, na cama mais pobre
ainda, alguém esperava, olhos brilhantes de febre, no rosto magro, e sem cor.
-
Que é isso, amigo? – perguntou o pastor, aproximando-se.
-
Tuberculose, pastor. Acho que estou para morrer.
Certamente que estava. Depois de
trabalhar como dentista prático pelos seringais, José Gomes de Andrade, o
Darito, ficara assim. O violão das alegres serenatas jazia abandonado. Longe
iam as noites de festas. Só os sonhos persistiam. É difícil aceitar a ideia de
morte quando se tem apenas 22 anos, principalmente quando a vida além é o
desconhecido.
Bem que vinha tentando encontrar o
Caminho. Procurara em várias religiões e livros, mas em nenhuma fonte
encontrara a certeza, a paz. E a morte se aproximava. Podia senti-la na
angústia dos pais, dos irmãos, da garota que era o seu amor. Foi por isso que a
Palavra encontrou campo fértil em seu coração.
-
Volte na terça-feira, pastor. Quero dizer publicamente que sou um crente.
E na terça-feira o culto se realizou. A
Igreja de Brasiléia para lá se dirigiu com alto-falante e tudo. Era o trigo que
dava frutos. Porque a música que lembra o ideal único de Corintho Moreira, e
que agora nascia no coração de Darito, espalhava-se pelas ruas, telhados, copas
das árvores: “Direi ao mundo que sou
crente; / não me envergonho de o
dizer...”
Na hora do apelo a mão descarnada,
transparente, ergueu-se com dificuldade: - Eu aceito Cristo como meu Salvador.
Uma senhora enxuga as lágrimas, e
exclama: - Sigo o exemplo de Darito: aceito Cristo como meu Salvador.
Foi assim que Darito começou o seu
ministério. Sua casa tornou-se ponto de pregação, e seu leito pobre, um
púlpito.
Finalmente, depois de muito esperar,
Darito foi trazido para o Rio de Janeiro, que lhe aparecia nos sonhos como a
terra da promissão. Nada pôde ver da cidade, porque do aeroporto foi direto
para o hospital.
Mesmo assim, pediu-lhe um dia:
-
Escreva ao Pastor Paulo, que só voltarei ao Acre como Missionário. Assim mesmo:
“Darito só voltará ao Acre como missionário...”
Foi difícil conter as lágrimas, quem
acabava de ver aquelas horríveis radiografias, onde apenas parte de um dos
pulmões era visível. Ainda bem que Darito ignorava a extensão do seu mal e
podia continuar sonhando: - Quando sarar, vou estudar, fazer odontologia,
depois seminário... voltarei dentista e pastor...
E assim continuou sonhando, mesmo quando
passou a tomar oxigênio dia e noite... mesmo quando Cristo o veio buscar...
Viajara tanto, apenas para anunciar na
enfermaria do São Sebastião: “...sou um crente; não me envergonho de o dizer...”
apenas para distribuir folhetos, para deixar o seu desafio, para fazer aumentar
em meu coração o amor por este imenso Brasil distante da Amazônia.
O campo continua lá. Grande e belo. Mais
necessitado que nunca. Há por lá, muitos Daritos à espera de um pastor, de um
enfermeiro crente, desses que colocam o Reino em primeiro lugar. Se Darito não
tivesse morrido, seria um desses, com os instrumentos de trabalho em uma das
mãos, e a Bíblia na outra. O violão acompanharia hinos de louvor e gratidão.
Deus não quis que fosse assim. E quem somos nós para perguntar-lhe – Por que o
fizeste?
Mas uma coisa, você que é jovem, que tem
talentos e dois fortes pulmões pode fazer – você pode viver o sonho de Darito,
entregando-se nas mãos de Deus para o Acre, o Brasil e o mundo todo, seja ganho
para Cristo.
“Oh! Dize ao mundo que és um crente; não te
envergonhes de o dizer!...”
Do livro Deus Precisa de Você (JUERP)