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quarta-feira, 24 de junho de 2015

Ele Queria Ser Missionário, crônica de Myrtes Mathias


Ele queria ser missionário

      Quando o missionário chegou para atender ao chamado, parou antes de entrar. O rancho erguia-se exatamente em frente ao local onde há anos tombara o pioneiro do trabalho missionário em Brasiléia, o Pastor Corintho Moreira.
      Dentro da casa pobre, na cama mais pobre ainda, alguém esperava, olhos brilhantes de febre, no rosto magro, e sem cor.
- Que é isso, amigo? – perguntou o pastor, aproximando-se.
- Tuberculose, pastor. Acho que estou para morrer.
      Certamente que estava. Depois de trabalhar como dentista prático pelos seringais, José Gomes de Andrade, o Darito, ficara assim. O violão das alegres serenatas jazia abandonado. Longe iam as noites de festas. Só os sonhos persistiam. É difícil aceitar a ideia de morte quando se tem apenas 22 anos, principalmente quando a vida além é o desconhecido.
      Bem que vinha tentando encontrar o Caminho. Procurara em várias religiões e livros, mas em nenhuma fonte encontrara a certeza, a paz. E a morte se aproximava. Podia senti-la na angústia dos pais, dos irmãos, da garota que era o seu amor. Foi por isso que a Palavra encontrou campo fértil em seu coração.
- Volte na terça-feira, pastor. Quero dizer publicamente que sou um crente.
      E na terça-feira o culto se realizou. A Igreja de Brasiléia para lá se dirigiu com alto-falante e tudo. Era o trigo que dava frutos. Porque a música que lembra o ideal único de Corintho Moreira, e que agora nascia no coração de Darito, espalhava-se pelas ruas, telhados, copas das árvores: “Direi ao mundo que sou crente; / não me envergonho de o dizer...
      Na hora do apelo a mão descarnada, transparente, ergueu-se com dificuldade: - Eu aceito Cristo como meu Salvador.
      Uma senhora enxuga as lágrimas, e exclama: - Sigo o exemplo de Darito: aceito Cristo como meu Salvador.
      Foi assim que Darito começou o seu ministério. Sua casa tornou-se ponto de pregação, e seu leito pobre, um púlpito.
      Finalmente, depois de muito esperar, Darito foi trazido para o Rio de Janeiro, que lhe aparecia nos sonhos como a terra da promissão. Nada pôde ver da cidade, porque do aeroporto foi direto para o hospital.
      Mesmo assim, pediu-lhe um dia:
- Escreva ao Pastor Paulo, que só voltarei ao Acre como Missionário. Assim mesmo: “Darito só voltará ao Acre como missionário...”
      Foi difícil conter as lágrimas, quem acabava de ver aquelas horríveis radiografias, onde apenas parte de um dos pulmões era visível. Ainda bem que Darito ignorava a extensão do seu mal e podia continuar sonhando: - Quando sarar, vou estudar, fazer odontologia, depois seminário... voltarei dentista e pastor...
      E assim continuou sonhando, mesmo quando passou a tomar oxigênio dia e noite... mesmo quando Cristo o veio buscar...
      Viajara tanto, apenas para anunciar na enfermaria do São Sebastião: “...sou um crente; não me envergonho de o dizer...” apenas para distribuir folhetos, para deixar o seu desafio, para fazer aumentar em meu coração o amor por este imenso Brasil distante da Amazônia.
      O campo continua lá. Grande e belo. Mais necessitado que nunca. Há por lá, muitos Daritos à espera de um pastor, de um enfermeiro crente, desses que colocam o Reino em primeiro lugar. Se Darito não tivesse morrido, seria um desses, com os instrumentos de trabalho em uma das mãos, e a Bíblia na outra. O violão acompanharia hinos de louvor e gratidão. Deus não quis que fosse assim. E quem somos nós para perguntar-lhe – Por que o fizeste?
      Mas uma coisa, você que é jovem, que tem talentos e dois fortes pulmões pode fazer – você pode viver o sonho de Darito, entregando-se nas mãos de Deus para o Acre, o Brasil e o mundo todo, seja ganho para Cristo.

Oh! Dize ao mundo que és um crente; não te envergonhes de o dizer!...

Do livro Deus Precisa de Você (JUERP)


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