“Povos Não-Alcançados” é um termo que começou a
ser usado com mais intensidade na Missiologia moderna na última parte do século
20. É uma referência para designar povos, nações ou áreas geográficas do mundo
com pouca densidade ou influência cristã e evangélica. Em outras palavras, são
áreas do mundo que compreendem povos, idiomas, culturas e tradições, onde o
Evangelho ainda não chegou e a Igreja não existe. Estes grupos humanos e etnias
são chamados de povos não-alcançados. Portanto, o Natal e a Páscoa não são
celebrados porque discípulos não comunicaram o Evangelho entre eles. Clamam
pelo envio de missionários biblicamente treinados e devidamente
contextualizados, a fim de que a Igreja e a esperança em Cristo se tornem uma
realidade no meio deles. Esse é o plano de Cristo conforme Mateus 24.14 e Atos
1.8.
Povos
não-alcançados – um desafio
Segundo pesquisas apresentadas por especialistas
no Congresso de Lausanne, realizado em 1974, na Suíça, um marco extraordinário
do cristianismo mundial, naquela época, eram cerca de 16 mil povos do mundo
ainda sem nenhum contato com o Evangelho. A evangelização se intensificou a
partir de então e em Lausanne II, em 1989, em Manila, nas Filipinas, o número
de povos não-alcançados caiu para 8 mil. Segundo a Missiologia atual, hoje
existem pouco mais de 2.200 grupos étnicos sem a presença cristã e cerca de 4
mil povos sem uma evangelização forte para alcançar a sua própria etnia. Estes
clamam pela ação missionária do discípulo de Cristo e da Igreja. Jesus mandou
fazer discípulos de todas as nações. As etnias são mosaicos da criação de Deus
e não uma anomalia do plano de Deus.
Oswald Smith, um grande estudioso de missões, no
início do século 20 foi pastor da Igreja dos Povos em Toronto, no Canadá. Sua igreja
sustentou mais de 300 missionários no mundo. Ele conta, em um dos seus livros,
uma história interessante. Suponha, diz ele, que você tenha convidado muitas
pessoas para a sua festa de aniversário. A alegria é intensa entre os
presentes.
Chegou a hora de cortar o bolo. Os pedaços do
bolo são colocados nas bandejas e os garçons começam a distribuí-los. As
pessoas que estão na frente comem o primeiro pedaço e, também, o segundo
pedaço. Alguns até três pedaços. Suponha que o bolo acabe. As pessoas do meio e
de trás nem sequer experimentaram um pedacinho. Ninguém se preocupou em distribuir
para todos primeiramente. Imagine que você é o aniversariante. Estaria
contente? É justo? Assim, da mesma forma, há pessoas que ouvem o evangelho uma,
duas ou mais vezes. Há outras, porém, que nem sequer ouviram uma só vez. É
justo? Existem povos e regiões do mundo assim.
Uma outra expressão muito usada, chamando a
atenção da Igreja para maior mobilização em oração e ação missionária, é a
Janela 10/40. É uma referência ao mundo budista, hinduísta e islâmico com pouca
ou nenhuma presença cristã. São autênticos “cinturões” de resistência. E o
desafio muçulmano naquela região é gigantesco. São cerca de 42 países de
maioria islâmica localizados no Oriente Médio, Norte da África e Sul da Ásia.
Na Europa ocidental existem mais de 15 milhões de muçulmanos e a maioria é
não-alcançada. Sim, eles também precisam da graça do Pai!
Povos
não-alcançados – uma prioridade
O livro de Romanos pode ser considerado um
tratado missionário. É o livro que contém os pressupostos bíblicos e missionários
de Paulo. Ele queria deixar o Oriente e levar o Reino de Deus ao Ocidente (Rm
15.23-24). Sua estratégia para concretizar este objetivo envolvia a igreja em
Roma. Como era a capital do Império à época, portanto, um lugar estratégico,
Roma era o centro do mundo cultural e político. Paulo percebeu que a igreja
poderia ser um centro de apoio muito importante para o avanço do Reino no
Ocidente. Ele fez uma exposição teológica do plano e missão de Deus a fim de
conseguir o envolvimento missionário da igreja. Após essa elaboração, Paulo
fala de suas intenções missionárias. Seu ministério no Oriente terminara (15.17-23)
e o alvo agora era a Península Ibérica (15.24). Tencionava passar pela igreja
em Roma, ter momentos de comunhão e edificação com ela e, também, desafiá-la
para o envolvimento na extensão do Reino de Deus. Naquela altura, a Espanha era
a região mais recôndita do mundo.
Paulo declara aos crentes de Roma, então, que sua
presença não era mais necessária (Rm 15.23). Porém, o pano de fundo dessa
afirmação era o objetivo que ele tinha em mente: evangelizar grupos étnicos sem
a presença cristã (Rm 15.20-21). Apesar de ainda haver necessidade da pregação
do Evangelho para alcançar mais pessoas, de organizar mais igrejas e de
preparar mais discípulos em Roma, Paulo prioriza missões em áreas não-alcançadas,
isto é, anunciar as Boas-novas onde Cristo não houvera sido anunciado.
Em Romanos 1.16-17 Paulo apresenta a definição
do Evangelho, sua natureza e universalidade. A mensagem é para todos: judeus,
gregos, bárbaros, sábios e ignorantes, e a salvação é para “todo aquele que
crê”. No capítulo 10.14-15, ele é mais enfático quando pergunta: “Como crerão
naquele de quem não ouviram falar?”. Em Romanos 3.21-31 afirma que apenas a fé
em Cristo pode salvar o homem do pecado. Deus revelou a sua justiça “pela fé em
Jesus Cristo para todos os que creem” (3.22). Note-se que a justiça vem de Deus
e é para “os que creem”. Entende-se “justiça” aqui não como a natureza de Deus,
nem a qualidade moral do ser humano, mas o meio divino para a salvação do homem
(3.25).
Já que a consciência, a natureza (gentios) e a
lei (judeus) se tornaram impotentes para salvar o homem, o único meio possível
no plano divino é pela fé em Cristo. Como o ser humano pode responder sem
ouvir? Não há nenhuma possibilidade de salvação sem o Evangelho. O caminho de
Deus para a salvação chegou até nós pela revelação e precisa ser anunciada (Rm
10.8-17, 16.25-26).
O que isso
tem a ver com você e sua igreja?
O livro de Romanos demonstra como teologia e
missão, fé e vida, convicção e missão andavam juntas em Paulo. Por isso, a
Espanha precisava ser evangelizada (Rm 16.25-27). O apóstolo tinha uma
consciência clara e profunda de história e de seu tempo, acerca da hora e do
lugar onde começar, fronteiras a conquistar e filosofia a nortear o ministério.
O capítulo 15.19 fala sobre a hora, o lugar e as fronteiras a conquistar. Em
Romanos 15.20-21, Paulo testifica da filosofia que norteava o seu ministério e
sua vida. Tinha prazos para sair (vs. 23 e 24). As expressões “Passa a
Macedônia e ajuda-nos” e “confins da terra” dão-nos várias implicações
missionárias para a Igreja no século 21. Quais as áreas não evangelizadas e não
alcançadas hoje? O que a sua igreja pode fazer por elas?
O slogan usado por William Carey, o Pai das
Missões Modernas, “Espere grandes coisas de Deus; faça grandes coisas para
Deus”, ainda é tão relevante e desafiador hoje como foi há 250 anos. Portanto,
seja um instrumento para viabilizar o plano do Deus na Janela 10/40, no mundo islâmico
etc. Sim, os muçulmanos e os não-alcançados precisam da graça do Pai. O Senhor
nos chama para ser Seus instrumentos da criação e redenção em Cristo. Jesus
disse: “E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a
todas as nações, e então virá o fim” (Mateus 24.14). Deixar os não-alcançados
sem o Evangelho do Reino, como é o caso das tribos indígenas, os sertões do
Nordeste brasileiro, o mundo budista, hinduísta e islâmico, é uma agressão ao plano
mundial de Deus e uma violência à nossa vocação e missão. Mais de 2000 anos já
se passaram. Até quando?
Fonte: Revista do Promotor de Missões (2011). Junta de Missões Mundiais da Igreja Batista Brasileira.
Ótima informação
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