O presente artigo foi escrito para o contexto da
igreja dos EUA. No entanto, muitas das percepções são válidas para pastores e
missionários do Brasil, estejam eles atuando aqui mesmo em nossa pátria, ou em
outros contextos/países.
A PREGAÇÃO PARA OUTRAS CULTURAS
Como se conectar em nosso mundo multicultural
Rick Richardson
Todos nós que pregamos estamos envolvidos em pregação transcultural.
Pregamos para a juventude moldada pela cultura pós-moderna. Atravessamos a
ponte para pregar para os mais diversos grupos de estado-unidenses — asiáticos,
afrodescendentes, indígenas e brancos — e também estrangeiros. Atravessamos
divisões de gênero — de homens a mulheres, ou de mulheres a homens. A
diversidade pode ser tão pequena que não a percebemos antes, mas ela é real. Nós
também podemos ter oportunidades de participar de projetos missionários de
curto prazo em que temos de pregar transculturalmente. Habilidades e atitudes
transculturais estão se tornando mais e mais cruciais para a pregação. Aqui
estão sete princípios que me ajudaram a pregar para pessoas de culturas
diferentes.
Honre o que eles honram
Eles honram o tempo ou o evento? Se eles se
importam com pontualidade, não se atrase. Se eles são tranquilos em relação ao
horário, relaxe. A ocasião é o que importa, não o horário em que começa ou o
quanto dura.
Eles são orientados pela tarefa ou pela relação? Para algumas culturas, o processo é, pelo menos, tão importante
quanto a atividade. Em outra, o objetivo é o fator determinante. As culturas
dos afro-descendentes são relacionais, expressivas e orientadas pelo evento, e
isso confere honra. Assim, gaste tempo com as pessoas e expresse seu sentimento
sobre as coisas.
Eles atribuem honra por causa de título e prestígio ou a honra é
alcançada por meio de realização e experiência? A juventude não se importa com títulos, de forma que a
credibilidade é construída compartilhando-se experiências com eles. Culturas
estado-unidenses de afro-descendentes reverenciam o pastor e respeitam
títulos. Isso significa que, quando você começa a falar, se você for um
convidado, deve agradecer e honrar seu pastor e líderes. Reconheça que, como
pregador, será respeitado em virtude de sua posição antes de dizer a primeira
palavra.
O que eles consideram sagrado? Algo que
você normalmente considera secundário ou trivial pode ser de extrema
importância. Você pode até mesmo não estar consciente de que está sendo rude. A
cultura estado-unidense asiática é orientada pela honra e culpa; assim, honrar
os mais velhos é crucial. Por exemplo, em um sermão posso contar como aprendi
uma lição valiosa com os meus avós.
Que comportamento ou vestimenta pode ofendê-los? Vista-se elegantemente para falar em uma cultura casual e criará uma
barreira. Vista-se de maneira simples, e, em muitas culturas estado-unidenses
de afro-descendentes, as pessoas passarão 90% tentando imaginar por que você
está vestido desse jeito.
Como eles pensam com respeito a mulheres no ministério? Isso é pertinente não importa se você é mulher ou não. Não tome por certo
que eles compartilham suas convicções.
Use a linguagem do coração dos ouvintes sempre que puder, mas faça
isso com autenticidade
A linguagem do coração dos estado-unidense indígenas é a linguagem da
experiência espiritual e da harmonia nos relacionamentos e na natureza. A
cultura hispânica é orientada pela família. Falar a respeito de seu histórico,
sua família e seus filhos fala a seus corações. O "coração" é comunicado
na própria linguagem. Não sei muito espanhol, mas uso o que posso quando visito
a igreja do meu amigo Pedro Aviles.
Quando falo com jovens, tento usar um pouco de gíria e me referir a
um artista de hip-hop, mesmo que eu não seja fluente nessa cultura. A
música é a linguagem do coração dos jovens hoje em dia. Referir-se a essa música
mostra que você está tentando entender seu mundo. Você pode ir longe com uma
citação de Eminem ou de 50 Cent, especialmente se você
admitir suas limitações. A genuinidade é o que mais importa. Eu posso dizer:
"Não sou o fã mais conhecedor de hip-hop, mas estas frases chamaram
minha atenção...". As pessoas conseguem perceber quando você fala sua
língua e não é autêntico, mas elas estimam até mesmo uma tentativa vacilante
para construir a ponte.
Comunique sua consciência das questões de confiança entre suas
culturas
Jimmy McGee, um líder estado-unidense afro-descendente no trabalho de
estudantes universitários, contou-me este detalhe a respeito da história de
opressão nos Estados Unidos. Durante trezentos anos, os africanos foram
trazidos para cá em navios para escravos, viagem conhecida como a Passagem do
Meio. Milhões morreram no caminho, um número excessivo de corpos foi jogado, e
tubarões começaram a seguir os navios. Até hoje, tubarões transitam na Passagem
do Meio, porque essa foi sua trajetória de alimentação por tantos anos. Os
cristãos se envolveram na racionalização e manipulação das Escrituras para
favorecer os horrores da escravidão.
Por ser branco, quando eu prego em um contexto negro, a bagagem de
todo esse mal se prolonga. Preciso mostrar que estou consciente disso ou não
poderão acreditar em mim.
Estado-unidense indígenas sofreram o genocídio nas mãos dos brancos.
Como resultado, apenas 6% dos estado-unidenses indígenas contemporâneos são
cristãos. As questões de confiança são imensas, e só mesmo as pessoas que estão
dispostas a reconhecer os males do passado serão ouvidas.
Os pós-modernos desconfiam de qualquer pessoa que acha que conhece a verdade
e que todos os outros estão enganados. Isso torna a pregação uma experiência transcultural.
Recentemente, em Einstein Bagels, que eu freqüento, um atendente me
perguntou: "Rick, você não é um daqueles que acreditam que Jesus é o único
caminho, ou é?". Pela maneira como ele disse isso, sabia que ele via
aqueles que proclamavam Jesus como o único caminho como pessoas tão radicais
quanto os terroristas do 11 de setembro. Assim, disse-lhe: "Sam, parece
que você foi ferido por pessoas que excluíram e rejeitaram você pelo que você
acreditava". Ele respondeu: "Você está certo!". E eu
complementei: "Sinto muito que isso aconteceu com você. Eu detesto quando
pessoas me excluem e rejeitam pelo que eu acredito. E por isso que fiquei tão
surpreso quando me senti atraído para alguns dos elementos singulares do
cristianismo".
Similarmente, em um sermão, reconheço o local onde a ponte está
quebrada antes de tentar cruzá-la. Identifico-me com os medos das pessoas. Falo
a respeito de quanto fico incomodado com pessoas que rejeitam outras. Depois,
falo a respeito da esperança e do amor que Cristo concede.
Torne-se um grande contador de histórias e um teólogo narrativo
Proposições podem não transitar entre culturas, mas histórias sobre a
vida, família e conflitos quase sempre o fazem. As narrativas fazem com que
sintamos que podemos nos relacionar um com o outro. Ao contar histórias,
compartilhamos dor, aplicamos a verdade e construímos confiança. Precisamos nos
tornar fluentes na linguagem universal da história se queremos pregar
transculturalmente. Comece com histórias de experiências com pessoas da cultura
anfitriã. Compartilhe histórias de suas tentativas de aprender sua cultura,
assim como histórias que reconhecem as questões de confiança.
Transforme seus princípios e afirmações de ideias proposicionais em
ilustrações e histórias. Conte as histórias que Jesus contou. Quando puder,
escolha passagens narrativas das Escrituras.
Termine com histórias que desafiam as pessoas a se apropriar das
verdades que você está comunicando.
Faça o que você veio fazer
Depois de construir respeito e harmonia, não se retraia. Cumpra seu
chamado e fale a verdade. O fato de que você é de uma cultura diferente frequentemente
lhe dá muitas oportunidades para desafiar as pessoas de modos extraordinários.
Construa a ponte e, depois, atravesse-a! Billy Graham é formidável em
construir confiança, mas ele também sabe por que está ali e o que ele veio
dizer, e ele sempre o diz. Já que você se identificou e construiu confiança,
agora pode oferecer o presente de suas práticas e percepções culturais que traz
com você. Se sua cultura faz apelos, faça-os. Se sua cultura desafia as pessoas
à reflexão e pensamento, faça isso. As pessoas provavelmente reconhecerão o
estilo de sua cultura e o afirmarão.
Evite julgar as respostas de sua audiência por meio de suas próprias
pistas culturais
Um grupo pode estar com você e não mostrá-lo das formas que você
conseguiria identificar. Quando prego para presbiterianos asiáticos, que tendem
a ser respeitosos e quietos, às vezes me pergunto se qualquer coisa que eu
disse fez alguma conexão. Preciso ouvir cuidadosamente os comentários
posteriores e procurar afirmações que vão além da cortesia para saber o que
aconteceu. Quando falo em contextos estado-unidenses de afro-descendentes,
preciso estar pronto para amplificar minha voz quando eles respondem. Existe um
processo de chamamento e resposta que é parte do ritmo daquela cultura. É
divertido e preciso aprender a trabalhar com isso, e não ignorá-lo.
Além disso, tendências culturais são apenas tendências culturais.
Sempre encontraremos pessoas que não se encaixam nessas tendências de forma
alguma. Não podemos fazer suposições sobre indivíduos baseados em
características culturais mais amplas.
Seja um aprendiz e observador perene e cultive "informantes"
culturais
Minha amiga Brenda Salter McNeil é uma pregadora transcultural
excelente e compartilhou sua habilidade comigo generosamente. Quando ela prega
em contextos negros, ela honra cada pessoa que teve alguma coisa a ver com o
convite para ela estar ali ou que é um líder daquela comunidade. Brenda me ajudou
a entender aquela dinâmica e a reagir adequadamente.
Encontre mulheres para ajudá-lo a entender se você está se conectando
com mulheres. Encontre informantes entre os jovens que podem ajudá-lo a saber
se está se conectando com jovens.
Seja imensamente curioso sobre os grupos de outras pessoas. Se você
quer pregar transculturalmente, está se comprometendo com uma aventura de longo
prazo que o tornará humilde e também o enriquecerá. Vá em frente!
Artigo extraído do livro “A Arte e o Ofício da Pregação Bíblica”, organizado por Haddon Robinson e Craig Brian
Larson (Shedd Publicações).
Nenhum comentário:
Postar um comentário