Nesta entrevista, Bill Jones, João Mordomo e Ken Katayama compartilham suas experiências liderando a
Crossover Global, uma organização que já plantou bem mais de 2.000 igrejas entre grupos não alcançados e espera plantar mais 4.000 até 2024.
Os três discutem a estratégia que têm usado para o plantio de igrejas ao longo dos anos, como um futuro moldado pela COVID-19 afetará a organização, e o que os líderes mais jovens de hoje podem fazer se tiverem grandes sonhos para o reino. A entrevista é uma bela ilustração do porquê Lausanne acredita tão fortemente nos líderes mais jovens e nas conexões intergeracionais, encarnadas em nossa iniciativa
Geração de Líderes Jovens.
O foco da Crossover Global é plantar igrejas entre grupos de pessoas não-alcançadas. Por que vocês escolheram este foco específico quando o plantio de igrejas é necessário em todos os lugares?
João: Ao longo da Bíblia e da história da redenção, o próprio Deus colocou muita ênfase em “todos os povos” – ele quer ser conhecido e adorado por representantes de todos os povos. Essa é a visão gloriosa do livro de Apocalipse que encontramos nos versos 5:9 e 7:9. A razão pela qual devemos fazer discípulos de todas as nações, para declarar sua glória entre todos os povos, não é nada menos que doxológica: porque grande é o Senhor e o mais digno de louvor.
Isso significa que se há algum povo onde o evangelho não está sendo proclamado, onde os discípulos não estão sendo feitos, a igreja deve ir até eles e nós devemos priorizá-los. Hoje existem cerca de 17.000 grupos distintos de pessoas no mundo, e cerca de 7.000 deles não são alcançados. Isso representa mais de 40% dos grupos de pessoas do mundo e mais de 40% da população mundial que não são alcançadas.
Como surgiu a ideia de fundar a Crossover Global?
Bill: Durante meses, Deus estava trabalhando profundamente no meu coração para eu assumir a responsabilidade pessoal pela evangelização do mundo. Foi no Encontro de Jovens Líderes de 1987 em Singapura, no entanto, que assumi o compromisso de lançar a Crossover Global, em um esforço para me juntar aos outros para ajudar a completar a tarefa inacabada de alcançar as nações para Cristo.
Eu conheci o João quando ele tinha 16 anos de idade. Ele participou e eu fui palestrante na mesma conferência por três anos seguidos. Durante esse tempo, construímos um relacionamento. Quando ele tinha 19 anos, logo após eu ter voltado de Singapura em 1987, João ligou perguntando se eu poderia ser seu mentor. Respondi que ele poderia encontrar pessoas muito melhores para orientá-lo, mas se ele quisesse ajudar a começar uma nova organização missionária para alcançar o mundo com o evangelho, então deveríamos conversar. Para minha (e sua) surpresa, ele logo se mudou de Orlando para Atlanta para iniciar a Crossover Global.
19 é muito jovem. Que qualidades você viu no João que o distinguiram como líder? E que qualidades você e João viram no Ken?
Eu rapidamente reconheci que o coração de João era voltado a Deus, seu desejo de crescer, seu caráter piedoso e sua forte motivação para glorificar a Deus entre todos os grupos de pessoas. Ken possui as mesmas qualidades.
Eu acrescentaria a essas qualidades que ambos vivem por prioridades, de forma que nunca sacrificaram suas famílias no altar do ministério; nem vice-versa. Ambos têm corações de servos. Observe-os em uma grande reunião e você notará que eles irão sempre para o fim da fila, e não para frente.
Mas a qualidade pela qual sou mais grato é que nos amamos profundamente um ao outro. Uma de minhas lembranças mais preciosas ocorreu em uma reunião para nossa equipe de liderança global. Durante um momento de oração, Ken começou a orar por mim, mas teve que parar de orar porque tinha ficado muito emocionado. Então, João disse ao grupo que terminaria a oração de Ken. Entretanto, ele não também não conseguiu orar porque também se tornou emotivo. A questão é que nunca oram por mim. Na verdade, não. A questão é que realmente amamos muito uns aos outros.
No início da história da Crossover Global, os objetivos de plantação da igreja estavam nas dezenas e centenas. Em 2011, como vocês deram o salto para ter como objetivo plantar 2.000 novas igrejas até 2020?
João: Quando nossa equipe de liderança global se reuniu em 2011 para considerar em oração o que o Senhor tinha reservado para nós, sabíamos que o Senhor queria que fizéssemos mais e melhor do que tínhamos feito anteriormente. O desafio precisava ser tão grande que só Deus poderia realiza-lo. Ele nos levou ao número 2.000.
Em 2018, parecia que havia uma chance de não alcançarmos a meta. Entretanto, a beleza de plantar igrejas multiplicadoras é que elas se multiplicam! A curva de movimento pela qual estávamos orando e com a qual contávamos começou a fazer efeito, e acabamos plantando todas as 2.000 igrejas até outubro de 2019, mais de um ano antes do previsto.
Isso é incrível! Imagino que plantar tantas igrejas em apenas 8 anos não acontece por acaso. Deve haver uma estratégia que vocês usaram.
Bill: Sim, nós o chamamos de
Ciclo de Multiplicação do Ministério (MMC) – mas não o vemos como uma técnica ou modelo. Pelo contrário, nós o vemos como a estratégia bíblica com quatro táticas usadas por Jesus e aqueles que ele treinou e aqueles que eles subsequentemente treinaram. Passamos dois anos estudando o ministério de Jesus e aprendemos muito com as Escrituras. Em nosso estudo, descobrimos uma enorme ênfase na multiplicação e mobilização, à medida que Jesus transformava pessoas de fora em novos crentes através da
evangelização, novos crentes se tornavam seguidores comprometidos através do
estabelecimento, seguidores comprometidos em trabalhadores efetivos através do
equipagem, e trabalhadores efetivos se transformavam nos cristãos do mundo através da
extensão.
Outra nota importante sobre nossa estratégia – temos um ditado na Crossover Global que diz que a Grande Comissão não é algo que acontece do Ocidente para o resto do mundo, mas do alcançado para o não-alcançado. Não somos uma organização norte-americana que trabalha internacionalmente. Somos uma organização verdadeiramente global. Em um sentido geográfico, somos policêntricos. De uma perspectiva de liderança, nossos 20 líderes mais sêniores são de pelo menos doze países, principalmente do Oriente Médio e da Ásia.
Dada a pandemia da COVID-19, estes são tempos bastante turbulentos para os líderes. Ken, como novo presidente da Crossover Global, você acha que sua liderança terá que ser diferente?
Acredito que é muito cedo para compreendermos plenamente os efeitos a longo prazo da COVID-19 para os líderes globais. Mas há dois ajustes importantes aos quais, como líderes globais, devemos prestar atenção.
Primeiro, um mundo virtual. Isto não é novidade, mas acredito que a COVID-19 acelerou o processo de digitalização na forma como trabalhamos. Alguns encontros e reuniões globais que costumavam ser feitos pessoalmente antes da COVID-19 provavelmente serão substituídos por reuniões virtuais online, treinamentos virtuais e formação de equipes virtuais. Esta possível substituição fará sentido para a administração de fundos e tempo. Vejo uma grande oportunidade para reorganizar o pessoal global de uma perspectiva virtual, em vez de um aspecto geográfico.
Segundo, um mundo temeroso. Mais uma vez, nada de novo aqui, especialmente considerando o terrorismo global nas últimas duas décadas. A pandemia global trouxe um novo tipo de medo para nossa sociedade global. Novos padrões de distanciamento social, espaço pessoal e viagens internacionais mudarão o nosso modo de funcionamento. Precisaremos adaptar nossas práticas de curto prazo, grandes reuniões globais e esforços de mobilização.
Quando se trata de alcançar os 7.000 grupos etnolinguísticos restantes que ainda não têm ou quase não têm acesso ao evangelho e a meta da Crossover Global de plantar 4.000 novas igrejas até o ano 2024, ainda estou lutando para entender o impacto da COVID-19. Considerando que grupos de pessoas não-alcançadas precisam de pessoas enviadas como trabalhadores pioneiros para pregar o evangelho (Romanos 10), pode-se concluir rapidamente que é impossível fazer um trabalho pioneiro enquanto nos distanciamos socialmente. Mas eu acredito firmemente na promessa de Jesus de construir sua igreja, e nada, nem mesmo a COVID-19, vai detê-la.
Finalmente, que incentivo ou conselho você daria aos líderes mais jovens de hoje que sonham em começar algo grande para Deus?
João: Quando consideramos fazer grandes coisas por Deus, devemos primeiro perguntar: “Senhor, como eu posso ser melhor para sua glória?” Então perguntamos: “Senhor, o que posso fazer que te traga mais glória? E então podemos dialogar com Deus sobre como Ele pode estar nos chamando especificamente para fazer algo grande por Ele. Não podemos colocar o carro à frente dos bois, o que significa que podem surgir problemas sérios se começarmos a agir sem antes considerar a parte do ser e ter esse diálogo com Deus.
Se você acha que Deus está lhe chamando para sonhar e depois fazer algo grande, isso é fantástico. Só não faça isso sozinho/a! Todas as analogias do Novo Testamento que descrevem a igreja são orgânicas e relacionais. Junte uma equipe e então comecem o grande projeto, juntos. No caso de Bill, ele poderia ter começado a Crossover Global sozinho e depois me convidar, protegendo sua posição de fundador único, mas sua compreensão de como o corpo de Cristo funciona o levou a começar de tal forma que nunca seria capaz de dizer que a coisa era dele. Deus é dono da Crossover Global, não uma única pessoa. A maioria dos empresários adota esta abordagem, e com boa razão. Conseguimos ir mais longe e melhor, quando vamos juntos.
Ore Conosco
Por João Mordomo
Senhor Deus, sois grande e glorioso, e digno de ser conhecido e adorado entre todos os povos. Por favor, continuai a suscitar novas gerações de jovens servos comprometidos, altruístas e ousados que estão dispostos a ir onde ninguém mais vai, fazer o que ninguém mais está fazendo e arriscar o que ninguém mais está arriscando, para o bem comum e a glória de seu Rei!
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