I CENA
Preparo do palco — Colocar um
cartaz com o nome do programa: providenciar um cartaz para o exame de vista,
com as palavras: MUNDO, CRISTO, DAI, LUZ — cujo tamanho diminui de palavra para
palavra. Providenciar alguns instrumentos que podem simular os verdadeiros: lapiseira
ou caneta de metal servirá de termômetro; colher de sobremesa servirá de
abaixador de língua, alicates de cutícula, lixa de metal para unhas etc. que
serão colocados numa marmita de metal. No centro, haverá uma mesa, com um bloco
de folhas brancas e uma caneta, para as receitas (estas já deverão estar
prontas antecipadamente – datilografadas).
Personagens: Pastor (ou
mobilizador), enfermeira, Dra. Fé, quatro pacientes, uma leitora e um trio para
a música especial.
Pastor (entra muito preocupado) – Não sei o que fazer,
estou muito preocupado. Meu Mestre colocou sob minha responsabilidade um grupo
de cristãos, e todos foram atacados agora de uma terrível enfermidade: a
epidemia do não posso. Semana após semana, não ouço outra coisa, além dos seus
lamentos – não posso isso, não posso aquilo...
A
doença se apresenta de diversas formas! Venho consultar a Dra. Fé e espero que
esta não tarde em chegar, pois eu não sei qual o medicamento que devo
aplicar-lhes. E se eles não melhorarem imediatamente, nossa igreja irá à ruína.
Enfermeira (entrando) – Que deseja o senhor (ou a senhora)?
Pastor – Trago alguns pacientes à Dra. Fé. Poderá ela
atender-nos agora? Trata-se de um caso muitíssimo urgente.
Enfermeira – Pois não. Sente-se, por favor. A Dra. Fé chegará
dentro de poucos minutos.
(Entra
a Dra. Fé com sua maleta, trajando uniforme branco.)
Dra. Fé – Pronto, meu senhor. O que a traz aqui?
Pastor – Estou muito aflito, Dra. Os membros da minha igreja foram
atacados de uma terrível epidemia do não posso.
Dra. Fé – E quantos casos já
foram constatados em seu grupo?
Pastor – São vários. Alguns, porém, estão seriamente atacados
e carecem de uma atenção imediata. Estou aguardando as suas ordens para
traze-los à sua presença.
Dra. Fé (diz para a
enfermeira) – Faça entrar o primeiro.
Primeiro Paciente – Estou
doente, doutora. Até pesquisei na internet. Vi que pode ser anemia, doença do
sono, muitas coisas! A questão é que não consigo orar. E, se oro, é só pelos
meus problemas, minha família, e quando vou tentar orar pela situação do mundo,
pelos missionários, pelo avanço do evangelho, eu durmo!
Dra. Fé (colocando o
termômetro, toma-lhe o pulso e escuta-lhe o coração) – Bem, primeiramente
devo lhe dizer que essa coisa de consultar o “Dr. Google” pode ser perigosa. O
melhor é sempre procurar um médico. O seu coração está bastante fraco, pulso
lento e temperatura baixa. Há uma fraqueza espiritual geral! (Escreve a
receita) Vou dar-lhe uma receita que prontamente o recuperará, estou certa
(entrega a receita). Antes de retirar-se, queira, por favor, ler
esta receita para maiores esclarecimentos, no caso de qualquer dúvida.
Primeiro Paciente (lê a receita e depois se retira) – A um grama
de poder, acrescenta-se meia hora de estudo e uma pitada de interesse pelo trabalho
de Deus entre as nações, misturando-se tudo isso a uma quantidade crescente de
oração, dia após dia, doe onde doer. Toma-se esta infusão tão logo acordar, e
outra antes de dormir. Ao longo do dia, fracionar a dose em diversas porções
menores, e tomar sempre que se lembrar. Não tema, não há contraindicações. E
para não se esquecer da posologia diária, utilizar lembretes: alarme no relógio
ou celular, papeizinhos com anotações na agenda, na porta da geladeira ou do
armário. Uma outra recomendação de eficácia comprovada é: inicie as orações
orando pelo próximo e pela obra, descendo depois para as questões particulares.
Dra. Fé (manda entrar o
segundo paciente) – E você, o que tem?
Segundo Paciente – Não posso
me lembrar que devo fazer as leituras diárias da Bíblia, no decorrer da semana.
Dra. Fé (tirando de sua
maleta um grande frasco) – Aqui tenho um medicamento já preparado, pois
trato de muitos outros casos como o seu. Este sintoma provém da ignorância
acerca das necessidades da alma. Você está sofrendo de inanição espiritual. A
mesma coisa aconteceria ao seu corpo, se você não tomasse alimentação à hora certa
e na quantidade suficiente. Este tônico despertará em você o desejo de ler a Bíblia,
o amor a Deus e, sobretudo, um grande desejo de ser um imitador de Jesus e de fazer
o que Deus deseja. Tome uma dose diariamente.
Segundo Paciente (Pega o frasco e sai)
Dra. Fé (pedindo para o
terceiro paciente entrar) – Você também está doente?
Terceiro Paciente – Sim, doutora. A igreja deseja que eu envie meu casal
de filhos para o treinamento missionário. Olha, orar por missões, tudo bem, e
contribuir quando posso com uma oferta no culto missionário, vá lá. Mas eu não
quero isso para meus dois tesouros. Tenho medo de que sofram, e tenho planos
para a vida deles. Sabe quanto pago de colégio particular?!
Dra. Fé – Hum... Pode
não parecer, mas esta é uma enfermidade severa, silenciosa, cuja raiz pode
crescer e alcançar a metástase, envenenando toda a sua vida cristã. É urgente
alcançar sua cura! Passe um momento, todos os dias, observando em profundidade a
cruz. Observando e refletindo no que ela representa, o sacrifício ali
oferecido, oferecido por todos os homens que crerem. Encerre sua meditação
diária considerando que os anjos gostariam de pregar a mensagem da cruz por
toda a terra, mas isso lhes foi negado, pois contar a boa nova é missão de
outros. Advinha de quem? Após isso, tome uma dose de chá de Ponha-se-no-seu-lugar.
E tome duas vezes ao dia, após as refeições, uma cápsula do Remédio do
Peregrino, para lembrar-se de que estamos aqui de passagem, e nossa pátria, bem
como nossa única fortuna e conquistas possíveis, deveriam estar, estão ou só
podem estar no céu.
Dra. Fé (dirigindo-se ao
quarto paciente depois de fazê-lo entrar) – E a você, o que está
acontecendo?
Quarto Paciente – Não posso contribuir financeiramente para minha
igreja.
Dra. Fé (enquanto examina
os olhos do paciente) – Oh! Tenho tido muitos casos com este mesmo sintoma.
Vamos examinar o alcance de sua visão (leva o paciente para a frente do
cartaz e começa a apontar as palavras, da maior para a menor).
Quarto Paciente – Estou vendo
um pouco.... Quase não estou vendo... Está muito longe... Não estou vendo.
Dra. Fé – Trata-se de uma
total miopia espiritual. Há várias coisas que dão origem a esta enfermidade: o
egoísmo, a indiferença, ou ainda a ignorância das necessidades do mundo sem Cristo
e sem o conforto de sua salvação. Esta receita irá ajudá-lo. Leia-a em voz
alta, por favor.
Quarto Paciente (lê a receita e sai em seguida) – Toma-se com
regularidade um comprimido do mandamento de Deus: o de dar, no mínimo, a décima
parte do que se ganha, para o sustento da obra de Deus, acompanhado de uma dose
de oração fervorosa, para que possa estar disponível para fazer a vontade de
Deus. Acrescenta-se ainda uma boa quantidade de visão das necessidades do
mundo. A esta dose de visão misturam-se algumas pitadas de disposição para
renunciar ao comodismo, às conveniências e interesses pessoais, a fim de poder
colocar a vida, talentos e bens ao serviço de Deus.
Quinto Paciente (entrando,
tímido) – Bom dia doutora. Posso me sentar? (senta-se, encolhido de
vergonha). Não sei se meu problema é grave. Mas ele tem me incomodado há
muitos anos. Eu tenho vergonha de evangelizar. Muita vergonha. E é mais que
isso, é que também não me sinto digno... Aí junta tudo, sabe? E meu negócio é
música, doutora, estou sempre tocando nos cultos e ensaios. É minha parte para
Deus. Mas sou muito tímido, e a igreja vive criando ideias como evangelismo na
praça, no terminal rodoviário; sopão na Cracolândia... Agora começaram com
visitas em hospitais, e o irmão Santino quer levantar um grupo de varões para
evangelizar em presídios! Deus me livre, já pensou o perigo? Não dá não, eu já
ajudo no departamento de música, e na cantina.
Dra. Fé – Seu problema é mais
comum do que você imagina. Segundo pesquisas, afeta quase oito em cada dez
cristãos. A cura é simples, e envolve alguns procedimentos que já são
empregados com sucesso há séculos. Um médico grego muito renomado, o Dr. Lucas,
escreveu há dois mil anos, em seu evangelho, palavras curativas. Você deverá mastigá-las
todos os dias, ao acordar e antes de dormir, pois são a parte central do
tratamento. Você as conhece, mas deixe-me refrescar sua memória: “Se alguém se
envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do homem, igualmente, se
envergonhará dele, quando voltar em sua glória e sob as honrarias do Pai e dos
santos anjos.” Durante a mastigação, a realização de jejum, mesmo parcial,
ajudará na recuperação, junto com o remédio universal, a oração. E, para ajudar
a manter o foco no principal, mastigue mais um trecho do livro do Dr. Lucas, em
seu capítulo 10, versículos 38 a 42. Seja menos Marta, e mais Maria. Nunca
falha!
Pastor – Dra. Fé, estou muito agradecido por suas receitas e estou certo de que esta terrível epidemia do não posso será debelada muito em breve de nossa igreja.
II CENA
(Cena como de um culto normal. Chega primeiro o pastor (ou mobilizador), depois entram os
membros que estiveram enfermos, trazendo um cartaz onde se lê: EU POSSO, que deverá
substituir o primeiro. Enquanto isso acontece, uma leitora apresentará em oculto:)
Leitura: Tudo posso:
Ainda
que seja odiado – poderei amar.
E
se o meu inimigo tiver fome, dar-lhe-ei de comer; se tiver sede, dar-lhe-ei de
beber.
Ainda
que esteja triste – poderei sorrir.
Ainda
que as dúvidas me assaltem – poderei confiar em Deus.
Ainda
que as lutas sejam duras e difíceis – poderei vencer.
Ainda
que seja pobre – poderei repartir.
Ainda
que tudo ao redor seja dificuldade, poderei perseverar até o fim, porque tudo posso
em Cristo que me fortalece.
Primeiro Paciente: Querido pastor,
temos tomado os medicamentos que nos foram receitados pela Dra. Fé, e estamos completamente
restabelecidos. Nunca mais voltaremos a dizer: Não posso.
Segundo Paciente: Quando
formos solicitados a fazer alguma coisa para o Mestre, vamos repetir: Sim, eu
posso fazer!
Terceiro Paciente: Decidimos
organizar o grupo do Eu Posso e queremos que também você faça parte
desse grupo.
Quarto Paciente: O lema de
nosso grupo será: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece”.
Quinto Paciente: Temos um
lindo corinho. Vamos cantá-lo?
Todos: Sim, vamos.
(Toda
a igreja é convidada a cantar junto um corinho adequado à temática da peça.)
Pastor: E para finalizar,
ouçamos a poesia: O PRAZER DE SERVIR, de Gabriela Mistral.
O Prazer de Servir
Gabriela Mistral
Toda
a natureza é um desejo de serviço.
Serve
a nuvem, serve o vento, servem os vales.
Onde
haja uma árvore que plantar, planta-a tu;
Onde
haja um erro que emendar, emenda-o tu;
Onde
haja um esforço que todos evitam, aceita-o tu.
Sê
aquele que afasta a pedra do caminho, o ódio dos corações e as dificuldades de
um problema.
Existe
a alegria de ser são e a alegria de ser justo; mas existe, sobretudo, a
formosa, a imensa alegria de servir.
Como
seria triste o mundo se tudo já estivesse feito.
Se
não houvesse um roseiral que plantar, uma empresa que iniciar!
Que
não te atraiam somente os trabalhos fáceis.
É
tão belo fazer a tarefa a que outros se esquivam!
Mas
não caia no erro, de que só se conquistam méritos com os grandes trabalhos; há
pequenos serviços que são imensos serviços; adornar a mesa, arrumar os bancos,
espanar o pó.
Aquele
é o que critica, este é o que destrói; sê tu o que serve.
O
serviço não é tarefa só de seres inferiores. Deus que dá o fruto e a luz, serve.
Poder-se-ia chamá-lo assim:
Aquele
que serve.
E
ele, que tem os olhos em nossas mãos, nos pergunta todo dia:
Serviste
hoje? A quem? À árvore? a teu amigo, a tua mãe?
Esta peça foi publicada originalmente na revista Visão Missionária, 1T81,
Seção SFM, e adaptada para a União de Treinamento. Publicada posteriormente no
livro Coletânea Arco-Íris (JUERP, 1994), de Ursula Regina da Gama Leite, e por
fim adaptada por Veredas Missionárias, aumentando seu enfoque missionário.
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