Oportunidades
Sammis Reachers
PERSONAGENS: Ana (pode
ser representada por jovem dos 18 aos 30 anos); Patrícia (jovem de idade
compatível com Ana); Idoso; Moçambicano (homem negro, de qualquer idade);
Menina (criança de entre 07 e 10 anos); Enfermeira-Chefe; Jesus. Se achar
necessário, alguns figurantes para a cena do ônibus.
CENA 1
Ana está em seu quarto, arruma algumas coisas apressadamente, se deita e
cobre com lençol. De repente se lembra de que tem que orar, sai da cama e se
pões de joelhos, orando.
Ana – Ah Senhor, não aguento mais minha
vida! É uma correria só! Essa coisa de trabalhar, estudar e ainda ter que
ajudar minha mãe em casa não me deixa tempo para nada. Não vejo a hora de poder
viver somente para Ti, meu Deus. Terminei o nível médio de Teologia. Estou
dando tudo de mim na faculdade de Enfermagem e no cursinho de inglês, pois
espero um dia me tornar uma missionária.
Sei que tenho falhado em sua obra. Nunca mais evangelizei ninguém!
Também, com que tempo? Estou sempre ocupada. Até para ir nos cultos está
difícil! Poxa Deus, eu queria tanto ter oportunidades para evangelizar, para
falar de seu amor a outras pessoas... E o meu chamado missionário? Ele parece
um sonho cada vez mais distante, ao invés de estar perto... Me ajude nisso
Senhor. Agora vou dormir. Abençoe meu sono, e que eu tenha bons sonhos. Amém!
CENA 2
Ana entra no ônibus, e senta-se no único lugar vazio. Sem saber, está ao
lado de Patrícia, uma antiga conhecida de escola, que a perseguia e praticava bullying
contra ela.
Patrícia – Eu não te conheço?!
Ana – Oi? Eu? Hum, não sei... Espere...
Patrícia?
Patrícia – Sim, sim. Da escola. Há quantos
anos!
Ana – Ah, sim...
Patrícia – A gente vivia brigando, né? Como
éramos bobas.
Ana – Na verdade é você que brigava
comigo. Bastante, até...
Patrícia – Eu não sabia como a vida era. São
as loucuras da juventude! Mas aproveito para lhe pedir desculpas.
Ana – Que isso, não se preocupe. Como
você disse, são coisas de meninas. Mas... Você está abatida. O que houve?
Brigou com o namorado?
Patrícia – Quem dera fosse isso. Hoje estou
vindo do hospital... Eu sofri um aborto espontâneo, e fiquei alguns dias
internada.
Ana – Poxa, não sabia, sinto muito. E...
e seu marido?
Patrícia – Ah, não tenho marido não. O pai da
criança, quando soube da gravidez, não quis assumir, seguiu a vida dele, já até
tem outra.
Ana – Sinto muito mesmo.
Patrícia – É a vida, colhemos o que
plantamos.
Ana – Meu Deus... Não sei o que dizer,
Patrícia...
(Ambas ficam num longo silêncio, constrangidas. Após um ou dois minutos,
Patrícia se levanta para descer).
Patrícia – Chegou meu ponto. Tenho que
descer. Ah, me lembro de que você era crente, eu fazia piada do seu cabelão, né...
Não sei se você ainda é crente, mas se puder ore por mim, por favor.
Ana – Sim Patrícia, vou orar sim!
(Patrícia desce).
(Um idoso sobe no ônibus, e senta-se ao lado de Ana.)
Idoso – Com licença, minha filha. (Senta-se).
Bom dia.
Ana – Bom dia.
Idoso – Está calor hoje, né?
Ana – (Bocejando) Uaaaahh... Está
sim.
(Ficam em silêncio por quase um minuto)
Idoso – os remédios estão cada vez mais
caros, minha filha. Fui comprar um Captopril que mês passado custava oito
reais, e hoje em toda farmácia estava a quinze!
Ana – É, não é fácil (entediada, olhando
o celular).
(Novo silêncio)
Idoso – Amanhã é dia de São Jorge. Eu não
sou devoto, mas acredito em tudo: São Jorge, espiritismo, benzedeira, cabala, meditação...
Quem vai saber onde está a verdade, não é mesmo?
Ana – Aff...
Idoso – O quê?
Ana – Nada não, senhor.
(novo silêncio).
Idoso – Está chegando meu ponto (levanta-se).
Bom dia minha filha. Me desculpe te aborrecer, é que sou viúvo e não costumo
ter ninguém pra conversar.
(Desce).
Ana – (pensando alto)
Misericórdia, que chatice. É minha pior inimiga da escola, depois um velhinho à
toa... E ainda estou atrasada pro trabalho! Me perdoe Deus, mas hoje não está
fácil.
(Levanta e desce do ônibus).
Cena 3
Ana vem andando pela rua, para em uma barraquinha de cachorro-quente.
Ana – Que fome! E preciso chegar logo no
trabalho! Moço, moço, me vê um cachorro-quente!
Vendedor (com sotaque moçambicano) –
Opa, é pra já minha jovem.
Ana – O senhor é angolano?
Vendedor – Não, não, sou de Moçambique. (Pausa)
Em Moçambique ficou muita miséria e muito ódio depois da guerra. Vim para o
Brasil tentar a vida.
Ana – Que legal, moço. Eu sonho um dia
em ir para a África. Ah, não vejo a hora! Mas se apresse aí que tenho que comer
rapidinho antes de entrar no trabalho.
Vendedor – Você trabalha em quê, minha jovem?
Ana – Sou técnica de enfermagem ali
naquele hospital no final da avenida (aponta para adiante).
Vendedor – Enfermeira, que bonita profissão.
Sabe, eu tenho um problema de estômago há muitos anos, e não sei o que fazer. Já
fui em três hospitais. Os remédios que os médicos me passaram não fizeram muito
efeito. Em Moçambique tinha mfiti, o feiticeiro, mas no Brasil acho que
não existe isso. Hoje mesmo meu estômago está dolorido...
Ana – Feiticeiro? Aff, deixa disso... Mas
sentir dor não deve ser fácil. O senhor precisa fazer mais exames.
Vendedor – Você disse que sonha em conhecer a
África. Quer conhecer as atrações turísticas?
Ana – Não é isso não moço, ou melhor, posso
até conhecer, mas eu sonho ir para falar de Jesus para as pessoas.
Vendedor – Jesus?
Ana – Sim, mas me dá logo o cachorro-quente que hoje estou toda enrolada
(estende a mão e o pega). Tome aqui o dinheiro (sai comendo e andando
rápido).
Cena 4
Sala de hospital
Enfermeira-chefe – (Entrando na sala em que Ana
está, e trazendo uma menininha) Ana, esta criança veio acompanhando a mãe,
que se acidentou de bicicleta. A menininha não se machucou, mas a mãe sofreu
uma concussão na cabeça e está em observação. Você pode ficar tomando conta
dessa menina enquanto alguém da família não chega?
Ana – Claro, chefe. Sem problemas.
(Chefe sai)
Ana (para a menininha) – Vamos
sentar aqui no sofá.
(Sentam-se. Ana pega o celular e começa a mexer)
Menina – Tia, qual é seu nome?
Ana – É Ana, e o seu?
Menininha – É Sofia.
Ana – Que nome bonito, Sofia.
(Ana fica mexendo no celular, concentrada. Ri do que vê na tela)
Menininha – Tia, tô com medo...
Ana – Não tenha medo, sua mãe está bem.
Logo ela vai estar com você.
Menininha – Tenho medo de minha mãe morrer...
Ana – Não, não, ela está bem meu tesouro,
só está esperando o remedinho fazer efeito.
(Ana volta a mexer no celular)
Menininha – Tia, quando as pessoas morrem,
elas vão pra onde?
Ana – (Meio enfezada, por ter que
parar de mexer no celular) – Que isso meu amor, você é muito nova pra
pensar nisso. Tome aqui, leia essa revista (entrega uma revista que estava
no sofá à menina, e volta a mexer no celular).
(Após algum tempo, a enfermeira-chefe entra).
Enfermeira – Prontinho, sua tia chegou e vai
ficar com você lá na recepção, meu docinho. E sua mamãe logo logo estará boa,
tá?
(Apanha a menina e sai).
Ana (Falando alto) Ufa.
Finalmente um descanso. Deixa eu ver aqui essa fofoca da final do Big Brother,
o parquinho está pegando fogo!
Cena 5
Ana dormindo. Jesus aparece em seu quarto.
Jesus – Ana.
Ana (Despertando sonolenta, depois assustada)
– Oi... quem me chamou? (Vendo agora Jesus) Meu Deus!
Jesus – Ana, Ana... Até quando você
correrá para lá e para cá, e não cumprirá o seu chamado?
Ana – Senhor! Senhor! Meu chamado? Mas
estou estudando e me preparando para cumpri-lo! Estou na faculdade de
enfermagem, e faço inglês, tudo para poder ser uma boa missionária um dia! O
Senhor sabe que não aguento mais esperar!
Jesus – Ana, na noite passada você orou
por oportunidades de cumprir sua missão, não foi?
Ana – Sim, Senhor! Chegou o momento? O
Senhor veio me dizer para onde vou?
Jesus – Ah, Ana... Mais importante do que
onde você está, é quem você é. Você cumpre a missão sendo a missão. A missão
estará sempre onde você estiver. Dos caminhos e encontros cuido eu.
Veja o caso de sua antiga adversária, Patrícia. Ela se arrasta há anos
com uma depressão profunda. Há três dias, sofreu um aborto. Há duas horas, Ana,
enquanto você dormia, eu a livrei de cometer suicídio. No entanto, ela acordará
daqui a cinco horas e não saberá o que fazer, pois você não lhe falou de meu
amor.
Ana – Oh Senhor, me perdoe! Eu até
pensei nisso, deve ter sido o toque do Espírito, mas endureci o coração com as
lembranças do tanto que sofri na escola...
Jesus – Logo a seguir levei a você aquele
senhor, está lembrada? O nome dele é José. Aquele homem tem buscado a verdade
em diversas religiões, sem encontrar. Conhece meu nome de ouvir falar, mas
nunca ouviu uma explicação simples e satisfatória do evangelho. Ele morrerá em
um mês, Ana. Por que você não lhe falou sobre mim?
Ana – Senhor... Não sei, acho que eu
estava distraída ou aborrecida!
Jesus – Você sonha em ir para a África...
Tem se preparado, e eu tenho te capacitado. O curso de inglês te será muito
útil. Mas há países na África onde a sua língua é a língua de boa parte do
povo. Moçambique é um desses países, onde se fala português. Como tem sido
travada a batalha espiritual ali! E hoje, enquanto você não vai, eu te enviei
um moçambicano, um fugitivo de uma área do país onde predomina o islã. Um homem
ao mesmo tempo esperançoso e desiludido, que abandonou as práticas muçulmanas e
animistas que carregava, e agora está ainda mais confuso, sem perspectiva. Uma
alma, mesmo sem saber, sedenta e pronta para a chegada do evangelho. Lembre-se
disso amanhã, quando passar por ele, Ana.
Ana – Sim, Senhor! Meu Deus, a
oportunidade estava na minha cara, e eu na minha pressa nem me dei conta!
Jesus – Lembra-se da menininha no
hospital? Aquela pergunta que ela lhe fez não foi fruto do momento de incerteza
naquela sala fria. A questão de para onde as pessoas vão após a morte realmente
a angustia, a perturba. Ela não me conhece, Ana. Daqui a seis meses ela ouvirá,
durante um evento literário na escola, uma explicação sobre o destino eterno de
quem morre, a partir de uma perspectiva animista, falsa como qualquer doutrina
de demônios. E tal perspectiva errônea a acompanhará por duas décadas, e
contribuirá para afastá-la de mim por um longo tempo. Mas eu a salvarei.
Ana – Mas Senhor! É muita culpa sobre
minhas costas! E isso em apenas um dia! Tenha misericórdia de mim, e deles!
Jesus – Calma, Ana; isso sempre é assim.
Eu tenho outros servos. Se um não cumpre sua missão, outro pode fazê-lo. Não
sou um Deus misericordioso, que renovo minhas misericórdias a cada manhã? Mas
há realmente missões que nenhum de meus servos cumpre. Pois isentam-se. Protelam.
Lavam as mãos. E aquele momento em que um de meus servos fraqueja pode ser a
última falha de uma sequência de abstenções, de bocas que não se abriram e
joelhos que não se dobraram... E pode ser a última chance de uma alma.
Continue sua preparação, minha serva. Sua perspectiva está em parte certa:
Há lugares esperando pela chegada da verdade com muito mais necessidade do que
aqui. E ainda são tantos... Ah, se você pudesse vê-los como vejo, Ana... No
entanto, viva a missão, pois ela não está aqui ou acolá, mas em todo canto,
manifesta em múltiplas formas e necessidades, como num fluxo. A partir hoje, Ana,
olhe para as pessoas com olhos de eternidade.
Ana – Amém, Senhor Jesus! A primeira
coisa que vou fazer é procurar nas redes sociais pelo perfil da Patrícia. Vou
conversar com ela, vou falar de seu amor! Vou oferecer meu ombro e meu ouvido.
E vou ter uma boa conversa com aquele vendedor, o primeiro africano a quem
pregarei, e isso sem nem sair do Brasil! Obrigado por ter misericórdia de mim,
Senhor Jesus! Desperta a tua igreja!!!
FIM
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