Páginas

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Igrejas Urbanas: Celeiros para a transformação das cidades




Leandro Silva

Mais de 80% da população brasileira já vive em cidades, de acordo com o Atlas Nacional do Brasil Milton Santos, lançado em 2010 pelo IBGE¹. Esta é praticamente a mesma estatística da América Latina, considerado uma dos continentes mais urbanizados do mundo. Al Mohler, Presidente do Seminário Teológico Batista do Sul nos Estados Unidos, comentando o Relatório Especial de 2010 do Financial Times de título “o futuro das cidades”, fez um enfático desafio:
“Uma coisa é bastante clara: as pessoas estão na cidade. No decorrer de menos de 300 anos, nosso mundo terá mudado de um lugar em que apenas 3% da população vive na cidade para um lugar em que 80% reside em áreas urbanas. Se a igreja cristã não aprender novos moldes de ministério urbano, nós nos encontraremos a margem olhando para dentro. O evangelho de Jesus Cristo tem de convocar uma nova geração de cristãos comprometidos para essas cidades borbulhantes. Como esses números deixam claro, na verdade não há escolha”².
A missão urbana exige um esforço intencional de discernimento. O contexto das cidades apresenta desafios específicos amplificados a cada dia pela crescente complexidade de suas centenas de comunidades, todas permeadas por necessidades e aspectos culturais particulares.
Como se parece uma “Igreja para a Cidade”? Tais igrejas serão marcadas pela robustez teológica, mas também pela sensibilidade e missionalidade. Gostaria de enfatizar alguns indicadores que nos ajudam a responder esta pergunta de modo mais especifico, servindo como um ponto de partida no trabalho de edificar igrejas saudáveis efetivamente capazes de ministrar às cidades para as quais o Senhor tem nos enviado.
  1. A igreja conhece e é sensível as necessidades da comunidade ao seu redor – buscando descobrir as oportunidades que Deus já preparou por ela na comunidade local. Para isso (por meio de pesquisa e relacionamento) ela busca conhecer o contexto social, geográfico e econômico ao redor da igreja. Conhece as pessoas que moram nos arredores do templo (idade, raça, nível socioeconômico, situação familiar), a presença ou ausência de serviços (saúde, educação, polícia, bem-estar social), a condição das moradias, os recursos da comunidade. Assim como Jesus, que percorria as “cidades e povoados” (Mateus 9.35-37), essa igreja busca percorrer sua comunidade e responder com ações práticas as necessidades ao seu redor.

  1. A igreja imita o modelo de missão de Jesus Cristo. Como vemos em Lucas 4.17-19: a missão de Jesus inclui ao mesmo tempo pregar a boa nova e trazer esperança aos pobres e oprimidos. É um compromisso tanto com a proclamação quanto com a demonstração do evangelho, e entende que tanto a Evangelização quanto as Obras de serviço comunitário são partes de seu testemunho integral. A Igreja busca em sua prática ministerial integrar tanto a grande comissão (“ide e fazei discípulos”; “ide e pregai o evangelho”) quanto o grande mandamento (“amai-vos uns aos outros como eu vos amei”).

  2. A igreja tem uma compreensão bíblica e teológica sobre a missão de Deus e tem processos contínuos de aprendizado (Capacitações, leituras, conferencias, fóruns, Etc.) para a mobilização de seus membros para a prática da missão. Por meio destes processos os membros são estimulados a refletirem sobre questões cruciais a respeito da identidade da igreja: Quem somos nós como igreja? Deus está nos preparando e chamando a fazer o que nessa comunidade? E no mundo?

  3. A igreja tem pelo menos uma ação concreta de serviço e envolvimento com sua comunidade. Há dois perigos a serem evitados: a tentação de a igreja sentir-se “dona” das ações (as iniciativas devem ser planejadas e realizadas com as pessoas da comunidade e não “para” elas) e a tentação de a igreja focar-se nas ações mais imediatistas e assistenciais (as iniciativas de maior impacto tem critério de longo prazo e envolvem trabalho comunitário com base na igreja).

  4. Os dons e recursos dados por Deus a Igreja são utilizados na Missão Urbana A estrutura física é utilizada para ações de serviço a cidade. O mesmo se dá com os demais recursos que Deus tem dado a igreja como as finanças e os dons e talentos dos membros. Equipes de ministério interdisciplinares desenvolvem diferentes abordagens para servir e alcançar as famílias da cidade. É uma igreja “outrocentrada” e não “autocentrada”.

  5.  trabalho participativo, e contínuo treinamento de líderes dentro dos princípios da liderança servidora. Os membros são orientados pelos sermões, aulas e nas células, cursos ou na escola dominical sobre a teologia e a prática da missão urbana. O impacto é ainda maior quando este processo é orientado pelo equilíbrio entre teoria (ou teologia) e prática.

  6. Existe compromisso com o discipulado por meio da pratica das disciplinas espirituais (oração, estudo, jejum, meditação, etc.). Esta igreja entende que o discipulado é um processo para toda a vida e busca ser um facilitador para que seus membros tenham as marcas de um caráter transformado por Cristo, tais como integridade, compaixão e generosidade, incluindo o “fruto do espirito” (Gálatas 5.22,23).

  7. A Igreja tem definido um planejamento estratégico que é coerente com a missão urbana – com alvos claros e tarefas definidas para alcançá-las, bem como uma sólida identidade baseada nas escrituras (visão, missão e valores)

  8. A Igreja busca mobilizar seus membros para levantar a voz em favor dos que não podem se defender e a favor da justiça na cidade (Provérbios 31.8,9). Quais são aqueles que “não podem se defender” em sua cidade? Como sua igreja pode cumprir esse chamado de falar em prol destes?

  9. A Igreja busca desenvolver um ministério equilibrado, enfatizando diferentes dimensões da missão no contexto urbano (serviço comunitário, pequenos grupos, pregação expositiva, desenvolvimento de líderes, denúncia de injustiças, evangelismo e plantio de igrejas, etc.).

Tais indicadores podem nos ajudar no diagnóstico de onde estamos em nossa ação missional, bem como na tomada de passos efetivos. Missionários, lideres, pastores e plantadores de igrejas devem cultivar o hábito salutar de refletir sobre suas práticas e abordagens de ministério, uma vez que, por mais parecidas que sejam não existem duas cidades ou comunidades iguais.
_______________________________________________________________
Leandro Silva. 33 anos. Presidente da Missão ALEF

Nenhum comentário:

Postar um comentário