Leandro Silva
Mais de 80% da população brasileira já vive em cidades, de acordo com o Atlas Nacional do Brasil Milton Santos, lançado em 2010 pelo IBGE¹. Esta é praticamente a mesma estatística da América Latina, considerado uma dos continentes mais urbanizados do mundo. Al Mohler, Presidente do Seminário Teológico Batista do Sul nos Estados Unidos, comentando o Relatório Especial de 2010 do Financial Times de título “o futuro das cidades”, fez um enfático desafio:
“Uma coisa é bastante clara: as pessoas estão na cidade. No decorrer de menos de 300 anos, nosso mundo terá mudado de um lugar em que apenas 3% da população vive na cidade para um lugar em que 80% reside em áreas urbanas. Se a igreja cristã não aprender novos moldes de ministério urbano, nós nos encontraremos a margem olhando para dentro. O evangelho de Jesus Cristo tem de convocar uma nova geração de cristãos comprometidos para essas cidades borbulhantes. Como esses números deixam claro, na verdade não há escolha”².
A missão urbana exige um esforço intencional de discernimento. O contexto das cidades apresenta desafios específicos amplificados a cada dia pela crescente complexidade de suas centenas de comunidades, todas permeadas por necessidades e aspectos culturais particulares.
Como se parece uma “Igreja para a Cidade”? Tais igrejas serão marcadas pela robustez teológica, mas também pela sensibilidade e missionalidade. Gostaria de enfatizar alguns indicadores que nos ajudam a responder esta pergunta de modo mais especifico, servindo como um ponto de partida no trabalho de edificar igrejas saudáveis efetivamente capazes de ministrar às cidades para as quais o Senhor tem nos enviado.
- A igreja conhece e é sensível as necessidades da comunidade ao seu redor – buscando descobrir as oportunidades que Deus já preparou por ela na comunidade local. Para isso (por meio de pesquisa e relacionamento) ela busca conhecer o contexto social, geográfico e econômico ao redor da igreja. Conhece as pessoas que moram nos arredores do templo (idade, raça, nível socioeconômico, situação familiar), a presença ou ausência de serviços (saúde, educação, polícia, bem-estar social), a condição das moradias, os recursos da comunidade. Assim como Jesus, que percorria as “cidades e povoados” (Mateus 9.35-37), essa igreja busca percorrer sua comunidade e responder com ações práticas as necessidades ao seu redor.
- A igreja imita o modelo de missão de Jesus Cristo. Como vemos em Lucas 4.17-19: a missão de Jesus inclui ao mesmo tempo pregar a boa nova e trazer esperança aos pobres e oprimidos. É um compromisso tanto com a proclamação quanto com a demonstração do evangelho, e entende que tanto a Evangelização quanto as Obras de serviço comunitário são partes de seu testemunho integral. A Igreja busca em sua prática ministerial integrar tanto a grande comissão (“ide e fazei discípulos”; “ide e pregai o evangelho”) quanto o grande mandamento (“amai-vos uns aos outros como eu vos amei”).
- A igreja tem uma compreensão bíblica e teológica sobre a missão de Deus e tem processos contínuos de aprendizado (Capacitações, leituras, conferencias, fóruns, Etc.) para a mobilização de seus membros para a prática da missão. Por meio destes processos os membros são estimulados a refletirem sobre questões cruciais a respeito da identidade da igreja: Quem somos nós como igreja? Deus está nos preparando e chamando a fazer o que nessa comunidade? E no mundo?
- A igreja tem pelo menos uma ação concreta de serviço e envolvimento com sua comunidade. Há dois perigos a serem evitados: a tentação de a igreja sentir-se “dona” das ações (as iniciativas devem ser planejadas e realizadas com as pessoas da comunidade e não “para” elas) e a tentação de a igreja focar-se nas ações mais imediatistas e assistenciais (as iniciativas de maior impacto tem critério de longo prazo e envolvem trabalho comunitário com base na igreja).
- Os dons e recursos dados por Deus a Igreja são utilizados na Missão Urbana A estrutura física é utilizada para ações de serviço a cidade. O mesmo se dá com os demais recursos que Deus tem dado a igreja como as finanças e os dons e talentos dos membros. Equipes de ministério interdisciplinares desenvolvem diferentes abordagens para servir e alcançar as famílias da cidade. É uma igreja “outrocentrada” e não “autocentrada”.
- Há trabalho participativo, e contínuo treinamento de líderes dentro dos princípios da liderança servidora. Os membros são orientados pelos sermões, aulas e nas células, cursos ou na escola dominical sobre a teologia e a prática da missão urbana. O impacto é ainda maior quando este processo é orientado pelo equilíbrio entre teoria (ou teologia) e prática.
- Existe compromisso com o discipulado por meio da pratica das disciplinas espirituais (oração, estudo, jejum, meditação, etc.). Esta igreja entende que o discipulado é um processo para toda a vida e busca ser um facilitador para que seus membros tenham as marcas de um caráter transformado por Cristo, tais como integridade, compaixão e generosidade, incluindo o “fruto do espirito” (Gálatas 5.22,23).
- A Igreja tem definido um planejamento estratégico que é coerente com a missão urbana – com alvos claros e tarefas definidas para alcançá-las, bem como uma sólida identidade baseada nas escrituras (visão, missão e valores)
- A Igreja busca mobilizar seus membros para levantar a voz em favor dos que não podem se defender e a favor da justiça na cidade (Provérbios 31.8,9). Quais são aqueles que “não podem se defender” em sua cidade? Como sua igreja pode cumprir esse chamado de falar em prol destes?
- A Igreja busca desenvolver um ministério equilibrado, enfatizando diferentes dimensões da missão no contexto urbano (serviço comunitário, pequenos grupos, pregação expositiva, desenvolvimento de líderes, denúncia de injustiças, evangelismo e plantio de igrejas, etc.).
Tais indicadores podem nos ajudar no diagnóstico de onde estamos em nossa ação missional, bem como na tomada de passos efetivos. Missionários, lideres, pastores e plantadores de igrejas devem cultivar o hábito salutar de refletir sobre suas práticas e abordagens de ministério, uma vez que, por mais parecidas que sejam não existem duas cidades ou comunidades iguais.
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Leandro Silva. 33 anos. Presidente da Missão ALEF
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