Steve Saint
A
dependência não é somente um estado de bem-estar. Ela se torna um estado mental
traiçoeiro que pode adoecer geração após geração uma vez que ganha uma posição
segura. Em igrejas novas e inexperientes, pode ser uma doença debilitadora e
até fatal.
O
objetivo de missões é plantar entre grupos nativos a igreja de Cristo com cara
nativa. O propósito não é transplantar a cara da nossa igreja de Cristo para
os povos indígenas e eles se acostumarem com ela. As verdadeiras igrejas
nativas são enviadoras, autônomas e autossustentáveis. A igreja não é realmente
nativa até que ela possa funcionar por si só ao realizar a comissão de Cristo,
sem contribuição externa. Mas o objetivo de desenvolver igrejas independentes
não é só para que sejam independentes. A razão para fazermos igrejas capazes de
se autogovernar é que cada igreja tem uma missão a cumprir. As barreiras
políticas nos diferentes países vão e vem. Quando as barreiras se levantam, os
estrangeiros geralmente tem de sair do país. Se a igreja é dependente dos
estrangeiros que estão saindo, ela não pode mais cumprir sua missão.
Outra
razão pela qual todas as igrejas locais devem ser capazes de funcionar
independentemente é que esta é a maneira mais eficiente de cumprir a Grande
Comissão de Cristo para a Sua igreja. E esta é a forma que Cristo nos ensinou a
construir Sua igreja. O objetivo de fazer igrejas independentes das missões que
as plantam não é de se livrar dos missionários. É para que os crentes locais
assumam as responsabilidades dos missionários fundadores e assim estes possam
se mudar para outras localidades onde são mais desesperadamente esperados.
Ainda há milhares de grupos de pessoas que não tem testemunhas para contar o
que Cristo fez para salvá-los. Ao liberar um missionário para seguir adiante
também os crentes locais são liberados para fazer o que Deus os comissionou a
fazer. Além disso, o quanto antes uma igreja nativa funcionar bem sozinha, mais
cedo ela será capaz de enviar seus próprios missionários para ajudar a alcançar
grupos semelhantes.
A
dependência tem duas características muito perigosas. A primeira: pode
espalhar-se com boas intenções e com malícia; é um veneno mortal se
administrada por engano. A segunda: é muito mais difícil parar que começar; o
melhor remédio para a dependência é a prevenção.
Dar
aos crentes de uma nova igreja os meios para sustentar a igreja por conta
própria e as ferramentas para governá-la é tão importante quanto ensiná-los a
compartilhar sua fé. Tornar-se enviadora é natural para a maioria das novas
congregações. Qualquer pessoa pode dizer a outra pessoa como sua vida foi
mudada e é natural para um novo crente querer contar o que aconteceu com ele ou
ela.
Aprender
a ser autogovernável é mais difícil e aprender a ser financeiramente
autossustentável é quase sempre o mais desafiador de tudo. Prestamos aos
missionários um grande desserviço quando medimos sua eficácia primariamente
pelo número de pessoas nas igrejas que eles plantam. A coisa mais espiritual
que eles podem fazer por uma igreja enviadora que também pode se autogovernar é
ajudar as pessoas a encontrar empregos, de forma que estes apoiem o ministério.
Hoje há uma necessidade maior em muitas regiões por missionários com
treinamentos em negócios/administração do que com diplomas de teologia
avançada.
É
bem mais fácil dar alguma coisa a alguém do que ensiná-lo a fazer essa mesma
coisa, assim como é mais fácil dar um peixe do que ensiná-lo a pescar. Se você
dá um peixe a uma pessoa, você a alimentou por um dia e provavelmente gerou o
princípio da dependência. Se você a alimentar por muitos dias e então parar,
ela vai ressentir-se por causa disso. No entanto, se ensinar essa pessoa a
pescar, você a terá alimentado para o resto da vida e desenvolvido nela a
habilidade de alimentar outros.
Trecho do livro A Grande Omissão (Horizontes América Latina).
Excelente reflexão 🙏
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