terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

A questão do sustento missionário: Um guia de ações



Trecho do (pequeno e excelente) livro Manual do Viajante – Um Guia Para Viagens de Curto Prazo (Editora Horizontes América Latina)

Aqueles que estão se preparando para uma missão de curto prazo vão encontrar vários obstáculos pelo caminho. Alguns, entretanto, não são tão desafiadores (e potencialmente desencorajantes) como o levantamento de sustento. De fato, para muitas missões de curto prazo, o levantamento de sustento coloca-se como a razão mais significativa para ficar em casa. Essa apreensão está normalmente baseada numa ansiedade sem qualquer fundamento ou simplesmente numa falta de compreensão do processo. Levantar o sustento necessário pode ser uma experiência bastante excitante. O levantamento de sustento baseado na Bíblia pode servir como uma introdução divina na aventura de fé que envolve uma missão de curto prazo.

1. Base Bíblica. Os mais experientes para levantar recursos para uma missão de curto prazo começam por depositar seus fundamentos na Bíblia. Sem serem exaustivas, estas passagens são facilmente reduzidas a um princípio básico que é a chave para qualquer esforço de levantamento de fundos monetários. Por toda a Bíblia, Deus ordenou que aqueles que tivessem um ministério de tempo integral, fossem sustentados pelo povo de Deus. Isto está demonstrado nas orientações dadas aos sacerdotes e levitas (Números 1 8), nas instruções de Jesus aos discípulos (Mt. 10:9,10) e pelas suas palavras quando diz que "digno é o obreiro de seu salário" (Lc. 10:7). Paulo também escreve, "Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o Evangelho, que vivam do Evangelho" (I Co. 9:14). Uma exposição mais profunda pode ser encontrada com clareza nos seguintes textos: I Crônicas 29:14-17; Neemias 1-2; Êxodo 35:4-9.

2. Porque é que as pessoas dão? Muitos estudos têm considerado esta questão com resultados positivos. Para alguns pode parecer que responder a uma pergunta destas com o propósito de levantar recursos é um passo em direção à manipulação. O fato é que ao examinarmos esta questão, aqueles que estão no ministério são capazes de conhecer as verdadeiras necessidades e desejos dos seus mantenedores. As quatro razões básicas das pessoas contribuírem estão fundadas em verdades bíblicas.

a. As pessoas contribuem porque estão informadas. Aqueles que estão prestes a viajar numa missão de curto prazo deverão informar, de qualquer forma, o seguinte para os seus mantenedores:

1. Quem é você?
2. Para onde você vai?
3. Porque é que você está indo?
4. Com quem você está indo? (organização)
5. O que você está esperando dar a outros através dessa missão?
6. O que você espera receber dessa experiência?
7. Qual a duração da missão?
8. Quanto vai custar?
9. Quanto dinheiro é ainda necessário?
10. Como é que o dinheiro vai ser usado?
11. Como é que outros podem se envolver?

b. As pessoas contribuem porque creem que as suas ofertas vão mudar vidas. Além disso, eles devem crer que:

1. A sua vida vai ser mudada.
2. Os não-salvos vão ser alcançados com o Evangelho.
3. A Igreja vai ser fortalecida, edificada e encorajada.
4. A vontade e a obra de Deus vai ser realizada.

c. As pessoas contribuem porque são valorizadas e sentem-se participantes da missão. Os mantenedores têm que sentir-se parte da viagem missionária tal como a pessoa que vai viajar. Eles têm que sentir uma gratidão especial por parte da pessoa a quem estão sustentando. Por isso, sugerem-se algumas ideias a seguir.

1. Tenha um interesse genuíno por eles (além do envolvimento deles).
2. Comunique-se com eles antes, durante e depois da viagem.
3. Comunique a sua dependência neles e a importância que eles têm. Lembre-se das datas de aniversário, cartões de Natal, telefonemas, etc.
4. Ore por eles e com eles.

d. As pessoas contribuem porque você está completamente rendido ao projeto. As pessoas não ajudarão ninguém que esteja com dúvidas em relação ao seu compromisso com um projeto. Se você não está convencido, porque é que eles estariam? Por outro lado, se você está convencido, mas não o expressa externamente, que diferença faz? Por isso, quando estiver comunicando sua missão, lembre-se:

1. Seja entusiasta, confiante e animado!
2. Compartilhe sobre o porquê de você crer no projeto.
3. Esteja preparado para comunicar claramente o propósito e valor do ministério.
4. Compartilhe como a viagem missionária se encaixa com os seus objetivos e alvos pessoais.

3. Cartas de Pedido de Sustento.
a. Orientações. O levantamento de sustento é a maior parte da preparo de uma viagem missionária. Inclui o aspecto financeiro e também o apoio espiritual através dos intercessores. Muitos recursos excelentes estão disponíveis para o guiar no processo. Estes recursos dão um entendimento bíblico de levantamento de sustento, na direção a tomar ao solicitar sustento, comunicar de forma eficaz a sua visão, relatório, construir unia base de intercessão, etc. Na lista abaixo estão alguns passos básicos para começar o processo de levantamento de sustento.

ORACÃO: Faça da oração uma prioridade. Invista tempo em oração buscando a direção de Deus para levantar sustento. Peça-lhe para que prepare os corações daqueles de quem você vai se aproximar para sustentarem o projeto. Peça ao Senhor para que levante intercessores por você e sua equipe. Embora o sustento financeiro seja necessário para chegar ao campo, o seu suporte em oração vai sustentá-lo enquanto você serve como missionário.

POSSÍVEIS MANTENEDORES: Faça uma lista de possíveis mantenedores (por exemplo, família, vizinhos, amigos, igrejas, amigos dos pais e colegas, clubes, fundos escolares, etc.). Inclua também indivíduos que não possam sustentar você. Algumas vezes essas pessoas podem sustentá-lo mais do que aquelas que você espera. Use essa lista como um guia. Você poderá não utilizar todos os nomes, mas tente fazer uma lista exaustiva.

VISITAS PESSOAIS: Ainda que as cartas pessoais de levantamento de sustento sejam essenciais, as visitas pessoais são a forma mais eficaz de levantar mantenedores. Se o tempo e a viagem o permitirem, as visitas pessoais devem preceder as cartas. Marque com antecedência um encontro. Prepare uma apresentação perfeita de sua oportunidade missionária. Esteja sempre disponível para ministrar às pessoas e procure saber as suas necessidades e pedidos de oração. Isto permite-lhes ver que você está realmente preocupado com eles e não simplesmente com aquilo que eles podem fazer por você. Leve com você todas as informações relacionadas a sua viagem missionária (folhetos, itinerário, cartões de oração, etc.).
Aproxime-se dos seus possíveis mantenedores com a atitude de que eles têm a oportunidade de fazer parte do seu grupo de mantenedores se assim eles desejarem. Você é responsável por apresentar a sua visão. Depois Deus vai providenciar as pessoas que vão sustentá-lo em oração e financeiramente.

CONTATO TELEFÔNICO: Faça contato telefônico com os possíveis mantenedores com os quais você se sente mais à vontade de se aproximar dessa forma. Informe-os da sua oportunidade de participar num projeto missionário de curto prazo e faça-os saber de que você vai estar mandando uma carta para que eles possam se envolver no projeto. Lembre-se sempre de estar disposto a orar pelas necessidades específicas deles.

CARTAS DE PEDIDO DE SUSTENTO: Uma ferramenta fundamental em direção ao sucesso no processo de levantamento de recursos é a carta de pedido de sustento. Ainda que não seja eficaz em si mesma, se tiver um seguimento apropriado, pode produzir grandes resultados! As estatísticas mostram que a carta de pedido de sustento, seguida por uma visita pessoal, produz uma resposta favorável de 60% das pessoas contatadas! Uma carta de pedido de sustento seguida por um contato telefônico tem um índice de eficácia de 40% Estudos revelam que, embora uma carta de pedido de sustento seja vital para o processo geral de levantamento de recursos, se não houver uma visita ou um telefonema em seguida, produz somente uma resposta de 2%.
Escrever uma carta de pedido de sustento com qualidade é um processo que exige entrega e deve ser esmerado. A carta deverá ser a primeira indicação aos seus mantenedores sobre a sua missão e a sua atitude em relação a ela. Por isso, a sua carta deverá refletir a qualidade e o compromisso da viagem missionária e da sua caminhada cristã.
Comece por fazer um rascunho da sua carta. Dependendo dos leitores, poderá ser uma carta sua ou da equipe. Faça algo pessoal, que trate das suas intenções para o ministério. Não tente incluir tudo. Escolha simplesmente alguns pontos principais e seja conciso. Isto significa, reescrever a carta várias vezes até você ficar satisfeito com o resultado.
Inclua informações sobre a sua agência/ organização missionária — pode ser incluído um folheto. Torne as coisas mais fáceis para o seu possível mantenedor — inclua um cartão de resposta e um envelope. Lembre-se de indicar a quantia exata de dinheiro necessário e providencie um lugar no cartão de resposta para indicar o montante específico da oferta. Coloque um espaço para indicar o apoio em oração. É bom incluir um cartão de oração com o seu nome, as datas da sua viagem, a organização, o lugar de destino e qualquer outra informação relevante. Se os recursos forem limitados, considere a possibilidade de imprimir cartões de visita (comerciais) numa gráfica local. Isso é barato e também eficaz.
Desenvolver uma carta com qualidade, embora seja preponderante para a apresentação da sua viagem missionária, não é um fim em si mesmo. Se for escrita apropriadamente, pode servir de base para todos os outros esforços que se seguem. Por exemplo, a carta de pedido de sustento pode servir como base para as suas apresentações de relatório.

A seção anterior "Porque é que as pessoas dão?" também deverá influenciar fortemente o conteúdo básico da carta. Ao combater estas questões enquanto escreve a sua carta, você também vai abrir mais a sua visão para a viagem.

INFORMATIVO/CARTÃO POSTAL: Se você vai ficar no campo por muito tempo, publique um boletim informativo que contenha necessidades, oportunidades, vitórias alcançadas, etc., para informar os mantenedores durante o tempo de preparo e ministério. Se você ficar fora do país por algumas semanas ou um mês, envie um cartão postal a cada mantenedor. Não esqueça de levar uma lista de endereços.

RECEPÇÃO: Seja o anfitrião de uma recepção para apresentar os alvos e objetivos da sua viagem de curto prazo. Use este tempo como um tempo de comunhão e de oração pelo projeto como um todo. Isto facilita no contato um a um com os seus amigos mais íntimos, membros da igreja, família, vizinhos e outros. A sua igreja ou a sua família poderão querer ser os anfitriões dessa recepção para levantar sustento para você. Tenha disponíveis cartões de resposta, cartões de oração, folhetos e outros materiais.

RELATÓRIO: Os mantenedores deverão receber uma carta com o relatório da viagem depois de duas a quatro semanas do seu retorno. Inclua um panorama geral de toda a viagem. Destaque alguns tópicos, mas seja conciso. Não se esqueça de incluir outro agradecimento aos seus mantenedores para que eles saibam o quanto as suas orações e finanças beneficiaram o projeto. Se for possível, traga algumas lembranças ao menos para os seus maiores mantenedores. Isto deverá ser tão simples quanto um autêntico marcador de páginas. Se o seu presente for de dimensões reduzidas, você poderá inclui-lo na sua carta de relatório como um toque adicional de apreço.
Não deixe que o seu relatório acabe aqui. Continue a cultivar relacionamento com aqueles que sustentaram ativamente você e sua equipe. Envie boletins informativos periodicamente para que as pessoas saibam aquilo que você está fazendo e corno é que o Senhor está trabalhando em sua vida. O Natal e um período ótimo para você enviar uma carta com últimas informações.

b. Pontos práticos para escrever uma carta de levantamento de sustento com qualidade.

1. A carta deve ser sempre bem organizada e de uma só página.
2. A carta deve ser escrita, se possível, em computador ou então numa máquina de escrever com uma fita de qualidade.
3. A carta deve ser impressa, ou copiada numa fotocopiadora de boa qualidade.
4. A carta deve ser impressa num papel com uma textura de boa qualidade. A cor do papel deve ser suave, neutra (branco, cor de camurça, amarelo claro, etc.). Não coloque cores fortes nem brilhantes que tornam a carta muito difícil de ser lida.
5. O envelope deve sempre coincidir com a cor e textura do papel. O seu endereço de resposta deverá estar no envelope.
6. O endereço e o nome completo do seu ministério deverá ser incluído na carta como um pós-escrito ou então no envelope de resposta.
7. Use se possível uma saudação pessoal (Querido Sr. e Sra. Souza) ou se for mais geral use uma saudação no singular (Querido amigo, nunca Queridos amigos).
8. A carta deve ser pessoal, informativa (sinta como se estivesse escrevendo para uma só pessoa). Deve expressar calor e apreciação (use palavras como compartilhar, convidar e por favor).
9. Não se esqueça de incluir respostas a questões básicas (veja "Porque é que as pessoas dão?").
10. Esteja sempre encorajando as pessoas para estarem sustentando você em oração.
11. Facilito as coisas aos seus mantenedores incluindo um cartão de resposta ou um envelope com o endereço de seu ministério.
12.Comece as frases com palavras ativas ou palavras de conexão (como preposições ou palavras no gerúndio).
13. A carta deve ter uma boa apresentação visual de maneira que seja convidativa à leitura. Não coloque desenhos ou ilustrações (peixinho, smile, etc.).
14. A primeira carta deve ser excepcional. Ela estabelecerá sua credibilidade para os contatos futuros. Tenha duas ou mais pessoas para lerem a carta e verificar gramática, ortografia e o conteúdo. Prepare-se para reescrevê-la várias vezes.
15.Invista algum dinheiro extra para a impressão e para a papelaria. Tudo vai se pagar no final. Uma carta mal impressa pode causar má impressão.

c. Fonte de recursos. As três principais fontes de recursos financeiros usadas para sustentar viagens missionárias de curto prazo são pessoais, fundos externos e projetos especiais de levantamento de recursos.

FUNDOS PESSOAIS: O uso de finanças pessoais (por exemplo, salários, economias) deve ser desencorajado ou limitado para um fundo de emergência, gastos pessoais em viagem e na compra de itens pessoais para a viagem. Os fundos pessoais devem ser usados para trazer pequenas lembranças para os mantenedores.

FUNDOS EXTERNOS: Dinheiro doado por amigos, família, igreja e outro fundo escolar, clubes e organizações (por exemplo, Rotary Internacional) providenciam um sustento mais amplo. Ao obter sustento financeiro a partir de fundos externos isso vai gerar fé no doador bem como no receptor. Os membros da equipe podem organizar pequenos jantares de confraternização (10 a 12 pessoas) para apresentar a visão da viagem missionária de curto prazo de forma mais pessoal.

PROJETOS: Alguns esforços especiais de levantamento de fundos como lavagem de carros, rodízio de pizzas, venda de churrascos e outros eventos animam o trabalho da equipe e também gera publicidade para a viagem. Estes são bons projetos para grupos de jovens organizarem.
Enquanto você está empenhado no levantamento de sustento pessoal, lembre-se sempre de que Deus é a fonte. Ele prepara e responsabiliza os indivíduos para contribuírem financeiramente e espiritualmente para sustentarem a obra de missões. Como o grande missionário Hudson Taylor disse, "A obra de Deus feita no tempo de Deus nunca terá falta do sustento de Deus".


terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Pacto Sumaré - A igreja brasileira unida pela causa missionária


No dia 1° de Dezembro de 2019, em Sumaré (SP), irmãos de vários lugares do Brasil, movidos por um desejo genuíno de ver a década de 20 marcada como a década missionária da igreja brasileira, se comprometeram em um pacto,que envolve quatro grandes compromissos. São eles:
*1° - Orar*
Interceder e envolver a minha igreja local com práticas de intercessão por missões.

*2° - Mobilizar*
Servir na mobilização da minha igreja local e demais igrejas da minha região.
*3° - Conectar*
Ser uma ponte entre as agências missionárias e as igrejas locais da minha região.
*4° - Apoiar*
Conhecer e apoiar os pastores da minha região que adotaram povos não engajados no Call2All. Hoje lançamos a página Pacto Sumaré, que foi criada para auxiliar todos os que firmaram esse pacto.
Clicando em cada um dos ícones dos quatro compromissos você terá acesso aos sites e contatos dos parceiros que lhe ajudarão na execução do Pacto.
No item *Orar* estão alguns dos movimentos intercessão por missões em nosso país, no item *Mobilizar* você terá acesso a sete ferramentas de mobilização que poderá levar para sua região, no item *Conectar* estão os links das agências que estiveram conosco para que você e sua igreja local sejam conectadas a elas, e no item *Apoiar* você será direcionado para a página do Call2All onde terá informações sobre quais são as igrejas locais da sua região que adotaram povos não engajados.
Para os que não estiveram em Sumaré, mas, querem firmar essa pacto, orientamos que leia os quatro pontos, se dedique em oração por cada um deles e preencha o formulário no final da página, em seguida você receberá um e-mail de confirmação.
*Link da página do pacto*: http://pactosumare.com.br/
*Juntos seguimos,*
Pela mobilização da igreja.
Para a glorificação de Deus entre todos os povos.

_____________________________________

Orar

Conheça e se envolva com alguns dos movimentos de intercessão por missões do nosso país.

Mobilizar

Servir na mobilização da minha igreja local e demais igrejas da minha região.
Conheça sete ferramentas de mobilização apresentadas no pacto.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Steve Saint: Sobre nossa Grande Omissão Missionária


Steve Saint e Mincaye

Steve Saint

Cristo nos deu, como Sua igreja, a comissão de distribuir Sua oferta de remédio contra a doença mortal do pecado que infectou o mundo inteiro. A igreja cristã vem trabalhando nisso a vinte séculos. Fizemos melhores com uns do que com outros. No século XX nós cometemos um erro crucial que enfraqueceu o que antes era um esforço sólido. Deixamos quase todos os combatentes fora do conflito; essa grande omissão nos atingiu em cheio.
Qual a solução? O que podemos fazer para incluir estrategicamente a maioria das tropas que deixamos de fora desta grande batalha espiritual? Primeiro, não deve mais haver dúvidas se o cristão comum, aqui ou acolá, que apoia o ministério, leciona na Escola Dominical, cria uma família aos pés de Deus ou utiliza seus dons espirituais para servir, exortar, liderar ou mostrar misericórdia (Romanos 12:6-8) é essencial ou não para a propagação do Evangelho de Cristo. Nós não podemos ter a expectativa de cumprir nossa Grande Comissão a menos que reconheçamos nossa grande omissão. Nem todos os crentes podem ser ou deveriam ser missionários, mas todos os crentes, independentemente de sua capacidade financeira ou educacional ou seu talento natural ou espiritual tem seu lugar em missões.
Paulo disse a mesma coisa de maneira bem sucinta em sua carta aos crentes de Roma. Ele escreveu: "Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?" (Romanos 10:13-15a). Os "enviadores são tão importantes quanto os "enviados". Não devíamos chamar os pilotos na linha de fronte de heróis sem também chamar de heroínas as pessoas nos bastidores desta guerra, as quais tornam possível o importante papel daqueles!
Segundo, não serão necessários centenas ou milhares de crentes, mas sim milhões de crentes para mudar a maré neste novo século e levar a mensagem do Evangelho para os três bilhões de pessoas que ainda não ouviram falar dEle. Isso parece impossível? Pois não é. Muitos desses cristãos já estão a postos, falam a língua e conhecem a cultura. Então, quem são essas pessoas? Elas são os milhares de crentes nativos ao redor do mundo. Como os Waodani, muitos deles foram convencidos de que não são capazes de ajudar a vencer a batalha espiritual. Em comparação a missionários altamente tecnológicos e estudados, muitos se sentem "primitivos" mesmo. No entanto, em florestas, favelas e interiores rurais deste mundo, o uniforme engomado e as tecnologias sofisticadas não são de grande valia pois facilmente estragam com a alta humidade.
Se somos crentes trabalhando na nossa igreja local ou missionários dedicados a um povo não alcançado, se somos estrangeiros na Europa ou na Amazônia, nossa participação na Grande Comissão tem grandes consequências. A comissão da igreja é bem específica. Temos de ir "pelo mundo todo" e pregar "o evangelho a todas as pessoas. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado" (Marcos 16:15-16). Essa é uma responsabilidade maravilhosa e com sérias consequências, caso falhemos. Ezequiel 33 sugere que somos os guardas-noturnos a quem foi confiado avisar o povo que o inimigo está chegando. Se advertirmos as pessoas, duas coisas podem acontecer: ou elas escutarão nosso aviso e serão salvas, ou elas irão ignorar o aviso e morrer. Independentemente do que elas fizerem, se nós as avisarmos então não seremos mais responsáveis. Mas e se não as advertirmos? A Bíblia simplesmente diz que se "é certo que ele [o ímpio] morrerá, e você não falar para dissuadi-lo de seus caminhos aquele ímpio morrerá por sua iniquidade, mas eu considerarei você' responsável pela morte dele" (Ezequiel 33:8).
É uma tarefa gigantesca advertir todas as pessoas no mundo inteiro que o pecado vai matá-las e então tentar explicar como conseguir o remédio para isso. Metade das pessoas que vivem hoje nunca foram avisadas disso. Elas falam milhares de línguas diferentes, é difícil chegar até onde muitas delas estão e a maioria vive por trás de barreiras políticas e religiosas que ampliam a dificuldade da entrega desse diagnóstico e desse remédio. Mas esta é a nossa comissão. Tenho certeza de que podemos realizar esta tarefa aparentemente impossível. Creio que Jesus nos deu uma fórmula para o sucesso junto com Sua Comissão, e que os discípulos de Jesus nos mostraram como colocar os planos dEle em ação.

A Bíblia com um toque de floresta

Deus tinha me levado para um pequena e solitária clareira na floresta amazônica, onde eu tentava ajudar numa tarefa que parecia sem solução. Havia chegado num ponto de tanto desespero por uma resposta que literalmente comecei a vê-la. Naquela época eu tinha levado minha família para morar com os Waodani a pedido deles. Eu amo muitos deles; somos como uma família. Acredito que Deus nos enviou para ajudá-los assim como Ele havia enviado meu pai e seus quatro amigos. No entanto, muitas pessoas, mais capacitadas que eu, já vinham tentando ajudar os Waodani a mais de trinta e cinco anos. Havia muito pouco resultado de todos esses esforços despendidos em benefício deles. Não conseguia imaginar o que mais eu poderia fazer pelos Waodani, além do que todas essas outras pessoas e organizações não fossem igualmente desejosas e capazes de fazer por eles.
Tudo ia bem para mim enquanto ainda estávamos preocupados em ajudar os Waodani a construir uma pista de pouso e começando algumas roças e construindo nossas casinhas. Estava tudo bem enquanto Ginny, nossos quatro filhos e eu ainda saboreávamos a aventura de aprender como viver no meio da floresta tropical, sem estradas, lojas, eletricidade, encanamento nem telefones. Quando, porém, a novidade e o desafio da sobrevivência perderam o brilho, eu senti urna grande necessidade de entender porque Deus me queria ali no meio do nada. Passei anos estudando Direito e Finanças. Tinha investido uma boa quantidade de tempo e energia aprendendo a criar e administrar negócios que fossem rentáveis. Agora, eu havia levado minha família para o meio do nada para tentar algo quase impossível só porque eu tinha certeza que Deus queria isso. Felizmente minha esposa Ginny e meus quatro filhos concordavam.
Comecei a procurar nas Escrituras respostas que tratassem do propósito de missões. É quase uma vergonha admitir que algo tão óbvio hoje parecesse, àquela época, quase uma revelação para mim. Nas Escrituras que eu lia há anos, encontrei as respostas de que precisava. Eu estava sentado à uma mesinha na nossa cabana rústica, lendo a Bíblia à luz de velas com os morcegos me sobrevoavam quando, de repente, Coríntios 3 fez todo sentido para mim. Paulo dizia aos poucos crentes de Corinto que eles eram, espiritualmente, apenas bebês. Não podiam sequer tolerar comida espiritual sólida; ainda necessitavam de leite. Nada daquilo era novidade para mim. O que era novo foi o fato de Paulo estar escrevendo isso para crentes bebês. Ele havia ido embora e os deixado para funcionar como uma igreja e serem membros produtivos da família de Cristo, mas eles não tinham sequer sido desmamados ainda.
Igualmente, nos versos da clássica Grande Comissão em Mateus 28:18-20, eu encontrei outra peça do quebra-cabeça. Jesus disse que havia recebido toda a autoridade nos céus e na terra para evangelizar o mundo. Naquele momento, Ele fez algo inesperado. Depois de dizer que tinha a autoridade, Ele disse ao Seu punhado de seguidores que eles deveriam fazer discípulos em todas as nações. Eu sabia que onze homens comuns, simples, ignorantes e despreparados (Atos 4:13) não poderiam obedecer àquele comando sem proteção sobrenatural e um bom plano de ação. E então eu "descobri a pólvora"! Muitas pessoas estiveram ali antes de mim mas eu nunca tinha pensado muito sobre o versículo vinte. No verso dezoito, Jesus disse que Ele tinha a autoridade para evangelizar o mundo. No dezenove, Ele diz aos discípulos que fizessem por Ele. E no versículo vinte Ele diz como fazer; aqui está a peça que faltava: o "como". Jesus termina Sua comissão dizendo para "ensinarmos" as pessoas que alcançarmos a "obedecer a tudo" que Ele nos ordenou!
Acredite ou não, depois de ter me tornado cristão ainda menino, depois de crescer no campo missionário, depois de ter sido missionário com anos de experiência na América do Sul, no Caribe e na África, estas novas ideias me ocorreram:
1. O propósito de missões não é evangelizar o mundo. Cristo deu aquela comissão a onze homens simples, porém, dedicados que representavam a igreja A comissão à igreja é de evangelizar o mundo. O propósito de missões é plantar a igreja onde ela ainda não existe para que ela mesma possa evangelizar o seu mundo.
2. Missões são como andaimes usados para erigir um edifício. E apenas temporário, para dar sustentação até que a estrutura possa manter-se por conta própria. Então são retirados e levados para outro lugar onde são necessários.
3. Evangelizar o mundo é como uma corrida de revezamento. Onde não existem igrejas, os missionários dão a primeira volta. Em seguida, devemos passar o bastão aos crentes locais para que eles terminem a corrida. Assim como Paulo, e também como nós, eles não precisam ser superestrelas, somente obedientes; eles não criam as sementes, nem as fazem crescer; eles apenas plantam e regam. Como os Coríntios, se eles puderem segurar suas próprias mamadeiras, o Espírito Santo pode assumir a partir daí.

Algumas casas a mais não acabarão com a falta de moradia

"O custo da madeira serrada para cada casa que queremos construir este verão nas viagens missionárias subiu de 400 dólares para mais de 600 dólares. Nós teremos de conseguir mais dinheiro ou construir menos casas para estes necessitados."
Eu estava prestes a falar para uma grande igreja que era muito focada em missões e um dos presbíteros estava dando os avisos. "Nós temos de vender quarenta dúzias de tamales (*) para cada casa agora. Primeiro, compre um freezer maior e depois faça seu pedido." Ele estava brincando, claro — sobre o freezer, pelo menos. Queria que ele estivesse brincando sobre os tamales e a missão de construir casas também.
Por quê? Porque não importa quantos tamales essa igreja faça ou venda, e não importa quantas casas eles construam para as pessoas pobres do México, eles não vão conseguir realizar a missão deles — a menos que a missão seja construir "algumas casas" no México. Se o propósito deles for erradicar a falta de moradia para os necessitados mexicanos, existe um outro jeito muito melhor de fazer isso. Seus esforços atuais são uma gota no oceano da pobreza e da falta de moradia. Se o objetivo dessa igreja é fazer construção evangelística, creio que eles estão prestes a, inconscientemente, fazer mais mal do que bem à causa. Todas as igrejas na América do Norte juntas não conseguiriam erradicar a falta de moradia no México, muito menos do resto do mundo. Simplesmente não há cristãos ou dinheiro suficientes para ser direcionado a isso. Provavelmente poderíamos reformar as cidades na fronteira e deixar uma ótima impressão. Mas assim que os milhões de pobres que moram mais ao sul soubessem das casas gratuitas na fronteira, aconteceria uma migração de sem-teto rumo ao norte. O que aconteceria, por outro lado, se nós aplicássemos o equivalente a Mateus 28:20 à necessidade de moradia acessível no México? E se treinássemos e equipássemos os mexicanos pobres para construírem suas próprias casas? E se negociássemos material acessível e inventássemos novas técnicas de construção que usassem materiais (como adobe estabilizado com um pouco de cimento) para substituir blocos de concreto e madeira? Poderíamos fazer da tão sonhada casa própria um objetivo alcançável a todas as pessoas nesse belo país que e o México.
Existem muito poucos missionários disponíveis para evangelizar. Existem muito poucos missionários para, até mesmo, plantar a igreja junto a cada um dos milhares de povos que ainda não tem testemunhas de Cristo. Mas se plantarmos a igreja o mais rápido possível onde pudermos e se ensinarmos os novos crentes a treinar outros, assim poderemos alcançar o mundo para Cristo e cumprir nossa comissão.

(*) N. T.: Tamales são iguarias culinárias da América Central que lembram as pamonhas brasileiras, com recheios mais variados.

Capítulo do livro A Grande Omissão (Horizontes América Latina).

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