*
“Devíeis, pois, fazer essas sem omitir aquelas” (Mateus 23:23).
Fui grandemente incomodado por algo essa semana. Fui procurado por um amigo, líder eclesiástico, que queria informações acerca de como ajudar o Haiti através de nosso projeto. Queria dados bancários, fatos e fotos para divulgação. De repente, peguei-me desencorajando aquele amigo a compartilhar em sua igreja sobre nosso ministério. Ele não podia falar em Haiti, e por um motivo simples: ele mora em Niterói, Rio de Janeiro, onde ocorreu uma das maiores catástrofes da história do Brasil, e isso há poucos dias.
Meu objetivo foi protegê-lo. Que diria sua igreja, por exemplo, ao notá-lo pleiteando pela causa haitiana, num momento em que sua própria cidade carecia tanto? Quem o conhece sabe que ele já estava bastante envolvido com o socorro local, mas… não haveria como envolver-se ainda mais? – alguém criticaria. Portanto, preferi contar com auxílios de outros líderes, residentes em outras cidades.
Depois do episódio, no entanto, pus-me a pensar. A igreja de Niterói é mais responsável por Niterói do que as outras igrejas do Brasil? E de quem será a responsabilidade pelo Haiti, já que trata-se de uma igreja pobre e sem forças autônomas para recompor-se nesse momento pós-tragédia? Onde a missão da igreja local deve ser prioritariamente executada? Creio que a resposta esteja numa palavra não presente na Bíblia, mas que esboça um conceito totalmente bíblico: SIMULTANEIDADE. Alguns pensamentos se seguem.
1. O caminho da espiritualidade demanda que se atente para vários exercícios simultâneos – Eis o desafio de Jesus aos fariseus que eram supostamente fiéis na contribuição financeira, mas que desprezavam a comunhão, a humildade, entre outros frutos. Na vida com Deus, precisamos buscar equilíbrio nas ações. Como igreja, nossas prioridades precisam envolver simultaneamente as missões transculturais, a evangelização local, a adoração, a edificação, a comunhão, entre outros. Se uma igreja só investir numa dessas áreas, ela será uma igreja sem equilíbrio, e conseqüentemente pouco saudável.
2. A tarefa missionária da igreja demanda simultaneidade geográfica – Atos 1:8 é o fundamento: “Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas TANTO EM Jerusalém, COMO EM toda a Judéia e Samaria, E ATÉ aos confins da Terra”. A idéia não é progressiva ou seqüencial, é simultânea. Jesus não sugere que se termine uma tarefa e que se vá alastrando para um espaço maior. Ele ordena que a missão seja simultaneamente cumprida em todos os lugares.
Já ouvi líderes desafiando suas igrejas a alcançarem seus bairros. É preciso. É imprescindível. Mas os confins da Terra também são de responsabilidade da igreja local. Quando me questionam acerca da veracidade do meu chamado para a China, considerando a inquestionável necessidade do próprio Brasil, costumo referir-me a Ashbel Green Simonton. O fundador da Igreja Presbiteriana do Brasil seguiu o chamado de Deus, por entender a simultaneidade da missão da igreja. Em sua época, muito havia a ser feito em seu próprio país.
3. Deus tem dado à igreja brasileira condições de trabalhar simultaneamente em várias frentes – É fascinante observar o mover missionário entre as tantas igrejas do Brasil. Por um tempo, missionários tiveram de “mendigar” o apoio de suas igrejas para cumprir sua missão no mundo. Fui um desses. Mas creio que, embora ainda estejamos muito distantes do ideal, a igreja brasileira tenha progredido em sua visão missionária. Definitivamente, isso inclui o investimento financeiro. Não tenho acesso aos dados estatísticos, mas imagino que muito mais seja investido nos dias de hoje do que dez anos atrás.
Ainda assim, noto que somos levados por ondas. Ou ventos. Percebo que estamos onde a mídia alarma, uns intencionando algum marketing pessoal ou eclesiástico, outros com sinceridade inquestionável. Mas somos ainda emocionais e um tanto adolescentes em nossa forma de fazer missões. Nossos esforços já são muito menores no Haiti, quase nulos no Chile, e em poucos dias devem estar minimizados no Rio de Janeiro. E de catástrofe em catástrofe, de moda em moda, de onda em onda, vamos cumprindo o que cremos ser a Grande Comissão.
A verdade é que, com grande omissão, vamos abandonando os postos onde a missão ainda deveria ser focada. Conforme o comissionamento de Jesus aos setenta discípulos, não andemos a mudar de casa em casa (Lucas 10:8). Que o Deus da missão tenha misericórdia de nós!
Mário Freitas é pastor, missiólogo e doido varrido. Atua no Haiti com pequenos projetos missionários. Muito pequenos. Casado com Giovana e pai de Pietra.
Fonte: Blog da Missão MAIS
Um comentário:
Gostei do blog e tornei-me seguidor. Espero que possa visitar o meu também: WWW.JAILTONDEPAIVA.BLOGSPOT.COM
Se puder, comente e torne-se seguidora, divulgue, etc.
Até logo!
Postar um comentário