Pr. Sidney Siqueira
Dentre os muitos privilégios que o Senhor tem dado à sua Igreja está o de se envolver com missões transculturais. Privilégios, naturalmente, envolvem responsabilidades. Enviar missionários requer compromisso e seriedade daqueles que se propõem a fazê-lo.
A igreja deve, em primeiro lugar, ter discernimento espiritual para reconhecer se o candidato tem o chamado para ser um missionário. Em seu relato em Atos 13, Lucas deixa claro o discernimento que a igreja em Antioquia recebeu do Espírito Santo antes de enviar Paulo e Barnabé. Atos 13.1-3. Liderança afinada com o Senhor estará em sintonia também com aqueles que Ele mesmo escolheu para um trabalho específico. Essa convicção do chamado, tanto no coração do candidato quanto no da liderança, servirá de forte alento nos momentos de provas futuras.
O desenvolvimento de um ministério efetivo exige preparo. Os exemplos bíblicos se multiplicam: Moisés, 40 anos no palácio, 40 anos no deserto; José, 13 anos em terra estranha; Paulo, 14 anos no deserto. Deus ainda não mudou seu método. Por isso é uma grande bênção quando uma igreja local, após o reconhecimento de um vocacionado, se envolve no seu preparo. Há situações em que um candidato pode arcar com suas despesas; outras, não. Tomando como exemplo o curso preparatório que a Missão Novas Tribos do Brasil oferece aos futuros missionários, percebemos a inviabilidade do sucesso se alguém não se responsabilizar pelo suprimento financeiro. Em regime de tempo integral são oferecidos cursos teológico, missionário e linguístico. É bom lembrar que a necessidade não é apenas financeira. Esse candidato já começa a sofrer as investidas do inimigo. Até chegar ao campo missionário ele dependerá também do pastoreio eficaz de sua igreja: orações, palavras de ânimo, puxão de orelha quando necessário.
Após seu preparo a igreja deve enviá-lo, em parceria com uma missão, para um campo missionário. A igreja que teve o cuidado de se envolver no preparo do candidato continuará alegremente apoiando-o no ministério a ser desenvolvido. O sentimento que deve dominar uma igreja é que ela é missionária onde seu missionário está. O sucesso dele é também o dela; o fracasso dele é também o dela. Por isso o cuidado vai além do suprimento financeiro. As lutas espirituais são partilhadas por ambos. Num campo isolado, longe de familiares, amigos, convívio com os irmãos, as carências emocionais são grandes. A igreja deve entender essa situação para estender seu apoio de forma integral ao seu enviado. Quando a igreja se propõe a cumprir fielmente seu papel, o missionário terá mais tranquilidade para cumprir seu ministério com eficiência.
A certeza da presença maravilhosa do nosso Mestre, conforme promessa em Mateus 28.20, anima o missionário. Ele sabe que não está sozinho, a pessoa mais importante está com ele. Essa convicção o ajuda a aprender a língua nativa para comunicar ao povo tribal o amor de Deus e a perseverar nos momentos difíceis. Mas não nos esqueçamos de que Igreja, Missionário e Agência Missionária precisam andar juntos. Se um elo da corrente se quebrar, todo o trabalho será prejudicado.
O compromisso de uma igreja com seu missionário é, antes de tudo, um compromisso com o Senhor. Obra missionária não é para ser feita quando sobra dinheiro. Construções e outros projetos não devem ser priorizados em detrimento do missionário no campo. Há igrejas que enviam e abandonam seus obreiros em todos os aspectos. A obra missionária não ocupa a mente da igreja. Consequentemente, o sustento financeiro vai de vez em quando, se vai. As orações são escassas, mas o missionário fiel continua apesar da falta de apoio. Cuidado Igreja! O Senhor pedirá contas. Não percamos o grande privilégio de apoiar e zelar pelos que dão suas vidas.
Hoje estou do lado de cá, segurando a corda, mas já fui enviado para o treinamento missionário e para o campo sem apoio financeiro. Meu pastor me disse “Vai, porém sustento financeiro você não receberá da igreja.” Nunca vi uma pessoa tão fiel à sua palavra! Eu fui e, por doze anos, Deus usou os mais diversos meios para suprir minhas necessidades. Estou há trinta e quatro anos no ministério e Deus nunca falhou. Ele me deu esposa, dois filhos, uma nora e uma netinha. Quão precioso é ser servo do Deus Altíssimo!
Preparar, enviar, sustentar obreiros na obra do Mestre são algumas das responsabilidades de uma igreja local. Há mais uma não menos importante para a igreja que, de fato, se considera parceira do missionário: acompanhar o desenvolvimento do trabalho na linha de frente. Para isso a igreja deve ter boa comunhão e boa comunicação com a agência missionária à qual seu obreiro está afiliado, pois ela tem a estrutura adequada para fazer esse acompanhamento. Cobrança em cima do missionário? Não. Cobrança não é uma boa palavra. Zelo, essa é a palavra ideal. Se a igreja é fiel em investir tempo em oração, dispensar cuidado espiritual e emocional, ofertar mensalmente, é justo que ela deseje ver fidelidade em seu enviado. O trabalho transcultural nunca foi e nunca será fácil. Diligência e perseverança são duas palavras-chave para quem pretende aprender língua e cultura tão diferentes da sua, e nós sabemos que sem esse aprendizado não haverá comunicação efetiva do evangelho. Portanto a igreja está sendo apenas uma parceira zelosa quando verifica o progresso dos seus missionários nessas áreas. O sucesso do missionário é o sucesso da igreja. Lembra?
Deus nos deu o privilégio de estar na linha de frente e agora na retaguarda. Como um dos pastores da I Igreja Batista Bíblica em Vitória da Conquista, é com alegria que vejo o povo de Deus empenhado no apoio a quase sessenta missionários. A liderança da igreja, contudo, precisa estar atenta para que a igreja cumpra fielmente seu ministério: discernir espiritualmente o vocacionado, preparar, enviar e zelar pelo bom andamento do trabalho; estas são alegrias e responsabilidades que o Senhor deixou a todas as igrejas locais.
A chama por missões continua e continuará até que a última tribo seja alcançada para glória do Senhor.
Pr. Sidney Siqueira – Pastor de Missões da Igreja Batista Bíblica em Vitória da Conquista-BA e Missionário Cooperador da MNTB