sábado, 23 de dezembro de 2017

Calendários Missionários 2018: Ásia Central - Baixe e imprima o seu exemplar


Este foi um ano de muitos trabalhos e publicações, pela misericórdia de Deus. Em virtude disto, achamos que não nos seria possível elaborar o já tradicional Calendário Missionário em tempo hábil (ou seja, antes de Jan 2018). Mas Deus é bom em todo o tempo, e conseguimos sim produzir mais este recurso para a promoção e o engajamento missionários.

O tema deste ano é a Ásia Central. Subdivisão do continente asiático que engloba cinco países que foram membros (Repúblicas) da extinta União Soviética, conhecidos por alguns como os "stãos": Tajiquistão, Turcomenistão, Quirguistão, Cazaquistão e Uzbequistão. Embora, em algumas formas de regionalização (pois existe mais de uma) o Afeganistão nem sempre seja incluído entre os países da Ásia Central, achamos por bem listá-lo aqui entre tais países. Embora apresentem variações, o constante nesta região é a presença do Islã, que responde pela esmagadora maioria quando o assunto é religião. É significativo também, em alguns dos países, o número de indivíduos "sem religião", fruto provavelmente da velha política de combate às religiões do regime soviético.
A presença cristã é exígua ou praticamente nula, como no caso do Afeganistão. E tal presença é representada principalmente pela Igreja Ortodoxa Russa. É grande a perseguição aos cristãos: Dos seis países abarcados, cinco estão na lista da Missão Portas Abertas que anualmente elenca os 50 países onde é maior a perseguição à igreja.


São muitas as necessidades missionárias em tais países. Convidamos você a orar especificamente por cada uma dessas nações, durante todo o ano e não apenas nos meses que lhe cabem no calendário. Ore por abertura política e tolerância religiosa; pelo fortalecimento e crescimento da pequena igreja presente em tais países; pela capacitação, envio e sustento de missionários para toda a região; pela tradução da Bíblia para as línguas que pouco ou nada possuem do Evangelho. E por todo outro motivo que o Senhor depositar em seu coração.
Além de uma paisagem do país que ilustra o calendário, cada folha traz ainda algumas informações sobre o mesmo, tais como população, povos não-alcançados (segundo os dados do Joshua Project*), divisão religiosa, principais cidades, bandeira etc.

O Calendário possui seis páginas, formato A4. Você pode baixar o seu exemplar  (em pdf) CLICANDO AQUI.

Baixe, imprima, compartilhe. Mobilize sua igreja, grupo de estudo e família para intercederem. Informe-se e busque apoiar em amizade, orações e recursos a missionários que atuam na região. E mais: A ordem já nos foi dada; VÁ! 

Se você gostaria de obter um outro recurso que pode lhe ajudar no aprendizado e na mobilização missionária em relação a esta região, publicamos há algum tempo uma edição da revista Passatempos Missionários (número 5) dedicada à Asia Central. Para baixar a revista, CLIQUE QUI.

Você pode ainda salvar as imagens individuais do Calendário. Pode compartilhá-las onde desejar, e ainda utilizar como fundo de tela de seu computador ou notebook. Abaixo estão as imagens. Clique com o botão direito de seu mouse, e salve a imagem em seu dispositivo.








* Existem diversos parâmetros para contabilizar-se os povos não-alcançados, e até mesmo para conceituar este termo. Aqui, como mencionado, utilizamos os parâmetros do Joshua Project (Projeto Josué).

domingo, 10 de dezembro de 2017

Antologia de Poesia Missionária Volume 3: Uma seleção de Poemas e Frases para inspirar a Igreja em sua Missão

       
      “A poesia é o idioma mais destilado e mais poderoso”, asseverou a poeta americana Rita Dove, ciente de que a poesia é a melhor maneira de comunicar, e comunicar com grandeza, a verdade. E isto é o que uma heterogênea coletividade de poetas cristãos faz, com rara felicidade, nas linhas aqui coligidas: empregam sua lírica para versejar sobre a mais sublime das tarefas dada a um homem – comunicar a tempo e fora de tempo a Verdade, a Boa-nova de Cristo, e Seu poema escrito em sangue naquele rude madeiro. Sim, trabalhar em Deus e por Deus para a obra de salvação dos demais: sobre tal tarefa e sobre aqueles que a executam se desenvolvem estes versos.
        A produção de grandes poetas de saudosa memória como Mário Barreto França, Mirthes Matias, Jonathas Braga e Celso Diniz une-se à de poetas de agora, colaboradores que gentilmente enviaram seus textos para esta seleta. Além de autores pátrios, contamos com textos de autores de todo o mundo, alguns traduzidos especialmente para esta obra, caso, dentre outros, dos poemas do exemplar missionário e verdadeiro herói da fé dos tempos modernos, Charles Studd; de Sarah Judson, segunda esposa do insigne Adoniran Judson, e do pastor e grande promotor missionário porto-riquenho Luis M. Ortiz. E ainda coligimos textos anônimos, alguns cujo conteúdo adaptamos para vestir-lhes de conotação missionária.
        Mas esta é também uma seleta de frases. Sim, muitas: são 48 páginas de frases sobre a missão da igreja, colhidas em livros, revistas, artigos e ainda por nós traduzidas diretamente do inglês e do espanhol. E ao lado dessas frases escritas ou proferidas eminentemente em contexto eclesiástico/missiológico, por aqueles que promovem, sustentam, pensam e fazem a Missão, reunimos também frases motivacionais de origem diversa, tudo isso com o objetivo de ferramentar a igreja para o cumprimento de sua razão de ser terrena, a qual seja, proclamar a cada povo, língua e nação a boa nova de Cristo.
        Assim, após diligente esforço apresentamos aos leitores esta seleta, neste algo inusitado formato de almanaque literário, já consagrado no primeiro e no segundo volumes desta iniciativa, e cujo motivo de ser e conteúdos visam acima de tudo a despertar e avivar o ímpeto missionário de cada cristão e igreja ao seu alcance.
        Compartilhe esta obra e seus textos das formas que lhe parecerem oportunas, pois os campos branquejam e os segadores permanecem ainda poucos em face da gigantesca seara, cujos meandros de mais difícil e inseguro acesso esperam a manifestação dos filhos de Deus.

      Não temos opção outra senão avançar, até que Ele venha! Maranata!
Sammis Reachers, editor

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quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

9 coisas que a IGREJA LOCAL pode fazer por um missionário


Maycon Barroco

1. Oração (É a coisa mais importante);
2. Sustento financeiro (É uma das mais necessárias. Sua igreja local talvez não possa contribuir com valores altos, mas R$ 100,00 mensal para um missionário pode ser muita coisa);
3. Encorajamento (Todo missionário ama ser encorajado e desafiado, uma palavra de encorajamento pode mudar nossa semana); Manter uma comunicação semanal aberta entre os membros da igreja local e os missionários (envio de cartas ou e-mails);
4. Enviar seus membros de tempos em tempos para auxílio na missão (Profissionais ou não, todos podem cooperar de alguma forma no campo missionário);
5. Enviar materiais didáticos para adultos e crianças (Missionários sempre precisam de materiais e geralmente eles não conseguem comprar onde estão);
6. Plano de saúde ou seguro viagem para família (é importante também, principalmente para aqueles que estão em lugares inóspitos);
7. Pastoreio (mesmo à distância é importante essa aproximação e socorro);
8. Verificar se o mesmo tem transporte para suas ações e viagens (às vezes o missionário deixa de alcançar muitas pessoas porque falta um carro, moto ou barco. Uma campanha missionária na igreja, consegue levantar o valor em um mês, sendo que o missionário gastaria em média o ano para fazer o mesmo). 
9. Conceder períodos de descanso ou férias (o missionário necessita de tempo de descanso, ele fica à disposição da comunidade onde trabalha em média 16 horas por dia e isso demanda muita disposição. Se puder tirar ele do campo nesse período, seria melhor ainda. Isso fará bem para sua saúde mental, para sua família, para gerar proximidade com a igreja local e para o mantimento da missão).


quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Pesquisa revela: Brasil possui 15 mil missionários transculturais


Por Felipe Fulanetto*
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Louvado seja o Senhor, sim, exaltamos a Deus por tudo que Ele tem feito no Brasil e através dos missionários brasileiros! Depois de dois anos de dedicação na atualização da pesquisa da Força Missionária Brasileira, a Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB) lançou o resultado final no VIII Congresso Brasileiro de Missões (CBM), realizado nos dias 23 a 27 de outubro em Águas de Lindoia (SP).
Hoje somos 15 mil missionários transculturais espalhados no Brasil e no mundo, desde os povos minoritários brasileiros até nas nações de mais difícil acesso. Somos um movimento missionário mais dinâmico e multifacetado do que podemos imaginar.
Alguns motivos de celebração:
  • A pesquisa aponta para um movimento missionário crescente, principalmente no início dos anos 2000 e um novo impulso por volta de 2010, crescendo 8.2% ao ano;
  • Há um grande foco no ministério evangelístico (41,2%) e de plantação de igreja (37,7%), seguindo a tendência notória da igreja brasileira;
  • 23% dos missionários são envolvidos com mais de uma organização missionária nos seus ministérios, demonstrando que o movimento missionário é interdependente;
  • Há um equilíbrio entre as faixas etárias, trazendo uma boa perspectiva de transição de geração.
  • Equilíbrio entre o sexo dos missionários: homens (52%) e mulheres (48%);
  • O bom entendimento das organizações dos pré-requisitos para ser missionário: possuir formação missiológica (59,2%), possuir formação bíblica (65,7%), filiação à uma igreja local (88,1%), possuir recomendação de um(a) pastor(a) ou líder (90,7%), ter caráter cristão (96%);
Alguns motivos de atenção:
  • 11,8% das organizações não oferecem nenhum tipo de preparo missionário;
  • Alto índice de missionários com nível escolaridade até o ensino médio: 30,2%;
  • Baixo índice em treinamentos linguístico (27,6%) e antropológico (39,4%) oferecidos pelas organizações;
  • Baixo índice de cuidado missionário quando ele regressa ao seu país ou cidade (26,3%);
  • 79% e 71% das organizações, respectivamente, não se envolvem com os custos do plano de saúde e previdência social dos seus missionários;
  • 50% das organizações não tem nenhum tipo de plano de evacuação em caso de risco eminente para os missionários;
  • Baixo envolvimento nos ministérios de: cuidado missionário (1,3%), entre os surdos (1,7%), pescadores (1,7%), ciganos (2,2%), hindus (4.8%), budistas (5,4%) e pesquisas (5,9%);
  • 65,8% das organizações relataram dificuldades na área financeira;
  • A cada 3.953 cristãos evangélicos, um missionário é enviado. Precisamos de 13 igrejas para enviar apenas um missionário;
  • Em base nas respostas das organizações que responderam o questionário, a média de oferta para missões dos brasileiros é menos de 2 reais ao mês;
Olhando para estes e outros pontos a serem considerados, devemos responder a seguinte pergunta: estamos preparados para receber e enviar essa força missionária de forma competente e cuidadora?
Acreditamos que o rápido crescimento numérico de missionários transculturais nos últimos anos nos leva a celebrar a bondade do Senhor, mas deve também nos fazer refletir. Por isso fazemos pesquisas, pois acreditamos que a pesquisa missionária é um processo de observação debaixo da dependência de Deus, pois seu alvo é compreender o que Deus fez, está fazendo e como ele direciona a sua igreja no espalhar do evangelho entre todos os povos. Contudo, tendo um olhar crítico, humilde e sincero diante dos êxitos e dos fracassos que cometemos, não acreditamos que são apenas números e estatísticas, mas são vidas sendo representadas.
Que o Cordeiro que tira o pecado do mundo possa nos encher de sabedoria e poder para prosseguirmos na obra que nos foi confiada!
Para acessar o relatório completo da pesquisa, confira no site.
* Felipe Fulanetto é pastor e missionário da Igreja do Nazareno, membro do departamento de pesquisa da AMTB e coordenador da pesquisa Força Missionária Brasileira.

sábado, 25 de novembro de 2017

A oração do missionário Allen F. Gardner


“Oh Deus, o mais santo e misericordioso Senhor, imploro-Te que prepares meu coração agora para uma solene oração. Faze-me sentir humilhado perante Ti por todos os meus pecados e provocações contra Ti. Não olharei mais para mim como pertencendo-me, mas como comprado por preço. E que preço! Senhor, faze que deixe tudo com gozo e Te siga.
Tu, Senhor, puseste em meu coração que me dedique ao serviço entre os pagãos. Se esta é a Tua vontade, que eu seja um humilde instrumento em Tuas mãos para o bem de suas almas. Mas eu sou tão insuficiente quanto indigno de fazer tal serviço. Eu sei, Senhor, que sem Ti nada posso fazer que seja agradável aos Teus olhos, mas ao mesmo tempo creio que contigo todas as coisas são possíveis. Como um menino pequeno venho a Ti. Toma-me, prepara-me o caminho, inclina os corações do Teu povo para prosseguir com minha mensagem.
Mostra-me claramente o caminho do dever. Senhor, se não for a Tua vontade que eu vá aos pagãos, não me deixes desanimar, mas, se for, sê Tu minha luz, meu caminho e meu refúgio. Dirige-me, Senhor, quanto ao que deva fazer, a quem me deva aproximar e aonde deva ir. Se não for por Ti, não desejo dar um único passo. Ajuda-me e apresentarei Tua maravilhosa promessa: ‘Vinde a Mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei.’
Senhor, estou carregado de orgulho e de suficiência própria. Este é o pecado que, Tu sabes disto, mais facilmente me domina. É minha carga. Salva-me de seu pesado jugo e leva-me a submeter-me completa e prazerosamente ao Teu jogo, que certamente é fácil. Senhor, que tendo posto a mão no arado, não volte atrás! Que Teu poder seja aperfeiçoado na minha fraqueza!


Allen F. Gardner (1794 – 1851), foi um missionário e marinheiro inglês. Esta oração foi escrita quando prestes a desembarcar do navio que o deixaria na África do Sul, onde desenvolveu parte de seu ministério missionário. Mais de uma década depois, Gardner e seus companheiros perderam suas vidas numa viagem missionária à Patagônia. Seu exemplo de fé e sacrifício serviu de inspiração para gerações de missionários.

Do livro Vocação Suprema (histórias da conversão de grandes missionários), de Arnoldo Canclini (Edições Cristãs Editora).


segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Robert Jermain Thomas, missionário e mártir na Coréia



Missionário presbiteriano na China e distribuidor de Bíblias na Coréia hostil, morreu com 27 anos a bordo de um navio que foi invadido por Coreanos. Enquanto os prisioneiros eram levados para a morte, Robert Jermain Thomas (1839 - 1866) distribuiu bíblias aos coreanos, inclusive ao próprio soldado que o executou. Ele se chamava Choon Kwon Park e converteu-se a Cristo ao ver uma paz gloriosa na face do missionário na hora de sua morte e pela impressionante fé dele, que ao invés de tentar fugir de seus perseguidores, nadou até eles para levar uma bíblia. 
Robert Jermain Thomas tornou-se uma lenda, tanto no Norte como no Sul da Coréia: na região Norte, é considerado inimigo do império - aquele que tentou trazer o imperialismo americano - e no sul do país, ele é considerado o primeiro missionário protestante mártir que perdeu sua vida evangelizando a Coréia.
Thomas começou a pregar aos 15 anos. Ele se formou na Universidade de Londres e em 1863 foi ordenado. Casou e partiu para a China no mesmo ano. Dentro de três meses, sua esposa, Caroline (Godfrey), morreu. Um ano mais tarde, ele se demitiu do LMS (London Missionary Society), sentindo que devia ser dada prioridade aos campos não alcançados e  pediu para  ser enviado para a Mongólia.
Enquanto ele estava esperando por reintegração, um encontro casual com dois comerciantes coreanos, católicos secretos, levou-o a negociar uma viagem a esse país onde era proibido distribuir Bíblias. Ele passou dois meses e meio lá em 1865 e aprendeu um pouco da língua. Contra o conselho voltou para a Coréia, em 1866, como intérprete em um navio mercante americano armado e também levando bíblias. Ele chegou em um momento em que o comércio exterior era proibido e uma perseguição feroz aos fiéis católicos estava acontecendo, o que resultou na execução de milhares de pessoas. O navio foi atacado perto de Pyongyang e ninguém sobreviveu. Esse mesmo coreano que o executou, guardou secretamente a bíblia que recebeu de Robert Thomas e se tornou depois um seguidor de Cristo.
Em 1866, apesar das advertências de morte ou a prisão, o assassinato de dez mil católicos coreanos, as ameaças do avanço francês e russo, o não convencional e ousado Robert estava determinado a embarcar em outra jornada para o Reino Eremita da Coréia.

O Legado de Thomas

O trabalho deste galês foi depreciado mesmo algum tempo após sua morte, mas com o passar dos anos, muitos, tanto Galeses  como os crentes coreanos, se tornaram gratos por este indômito  missionário, que deu as sua vida pela causa de Cristo, pois quando embarcou naquele navio ele sabia os riscos que corria; Ir levar bíblias a um país que recentemente  havia executado milhares de cristãos era um negócio de altíssimo risco. Mas essa realidade não trouxe medo a alma deste fiel servo de Cristo.


No País de Gales, ele é relativamente desconhecido, com exceção de alguns lugares. Um deles é a pequena capela em Llanover. Aqui, centenas de coreanos visitam para dar graças a Deus por ter enviado um homem, Robert Jermain Thomas, para a Coréia. Sua vida foi colhida com a idade de vinte e sete anos, mas ainda hoje, sua memória ainda vive nos corações do povo coreano.

Aproximadamente, 50 anos depois um grande avivamento eclodiu em Pyongyang, o local do ataque ao navio. Em 1904, 10.000 coreanos se batizaram, em 1906, 30.000…Em 1907, 50,000. Finalmente, em 1931 uma igreja foi erguida em memória de Robert Jermain Thomas, no mesmo lugar onde foi morto o primeiro mártir cristão da Coréia que tentava distribuir bíblias, mesmo em seu último suspiro.


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Quanto tempo leva para discipular uma nação?


Pera lá. Quantos anos de vida possuímos? Nos meus quarentinha (e um!) vejo que já 18 anos se passaram desde que saí do Brasil para a Ásia Central. Os melhores da minha vida. O cara sai de uma equipe de evangelismo do Rio para um sonho de ver um Afeganistão transformado. Mas como assim? O que isso significa? Transformado? Naquela época eu só conhecia a palavra “impactado”. A ideia de um reino moldado na terra por valores que se traduzem em realidade, de maneira incorruptível e eternamente duradouro, não me alcançava ainda.
É interessante uma comparação que penso, há anos, no que diz respeito ao entendimento do meu entendimento enquanto brasileiro sobre a missão transformacional. Uma vez me vi numa sala de aula estudando com outros alunos de países sem a tradição protestante que outros como muitos da América do Norte e Europa têm. Estávamos cursando um mestrado da Universidade das Nações e debatendo o último livro do Vishal Mangalwadi, “O Livro que Fez o seu Mundo: Como a Bíblia criou a Alma da Civilização Ocidental”. O material contém muitos exemplos de como nações a partir da época de Lutero, que possuíram a Bíblia traduzida para a língua do seu povo, começaram a aplicar e transformar suas instituições gerando incrível desenvolvimento humano. Debatíamos e apreciávamos a história, até que nos surpreendemos pelo fato de que nenhum de nós tinha visto até hoje, nos nossos próprios países, a realidade do que significava uma nação transformada.
Muitos ali tinham saído das ilhas do Pacífico e América Latina, onde apesar de terem passado por incrível avivamento missionário, continuavam com seus países infestados de pobreza e iniquidade. Ainda assim, ali todos éramos missionários chamados por Deus e comprometidos a construir o reino de Deus em nações não alcançadas, que apesar de invisível se expressa visível, mas que nós mesmos não entendíamos como trazer à realidade, sem possuir o exemplo de nossos próprios países.
Não é verdade que os países desenvolvidos do mundo sejam a mais pura evidência do que é o Reino de Deus. Porém, é verdade que os países de origem protestante, e isso é fato, criaram sistemas diferentes valorizando a vida humana de tal forma que hoje todos possuem altos índices de desenvolvimento humano. E que esses países possuem uma tradição missionária de séculos, onde pessoas como William Carey saíam com ardor e entendiam que valorizar o indivíduo num sistema de vida e cultura pagão significava montar uma fábrica nova na sociedade geradora de ondas transformacionais que seriam capazes de refletir então o próprio céu na terra. E para onde iam começavam projetos com uma longevidade tal que lhes era necessário entregar todos os anos de suas vidas. Visões como a implantação de universidades, construção de hospitais, fundação de meios de mídia, tradução das Escrituras e o desenvolvimento de outros setores diversos da sociedade que vinham a modificar comportamento e alterar cultura.
Quando cheguei na Ásia Central no final dos anos ’90 pela primeira vez, uma sensação interessante de me sentir em casa tomava conta de mim. Eu havia ido morar no Uzbequistão para aprender a língua e me mudar então para o norte do Afeganistão, onde moravam cerca de 2 milhões de uzbeques que jamais haviam ouvido da Bíblia.
O Uzbequistão, como o Tadjiquistão e a maioria dos países da nossa região, é uma nação fechada, pós-soviética onde suas milhões de pessoas haviam recentemente se libertado do regime totalitário implantado por Lênin e Stalin há mais de 70 anos. Seu povo é relacional, tradicionalmente religioso e pacífico. O seu presidente é até hoje respeitado como alguém que foi contra a ditadura soviética, bradando independência e liderando a transição da criação de sua nova nação. Me lembrava do PT e de outros partidos do qual participei dos comícios desde a minha infância, ouvindo de todos que lutaram contra a ditadura militar e que trouxeram ao país o movimento das Diretas Já.
Eu vejo hoje que o meu país, assim como outros sul-americanos, é muito semelhante aos países da Ásia Central. Os altíssimos impostos, o controle da economia, a manipulação da política, o populismo de nossos líderes, a decadência da saúde e educação e o enorme estado que facilita tanto a imensa corrupção. Me parece que se tivesse que me referir ao meu país, como os colegas americanos e ingleses e alemães fazem, como exemplo do que o deles deveria se parecer, não teria a mínima chance. Na Ásia Central eles ganham de mil ainda de nós no setor segurança, onde não há sequer crime nas ruas. Hoje, alguns de nós brasileiros nos encontramos ameaçados de não voltar ao país se formos ao Brasil, porque eles pensam que irão contrair zika se nos permitirem em seus países.
A que posso me referir para trazer transformação aos setores da sociedade de outros países? Que presunção é a minha de achar que posso sonhar em consertar o país dos outros enquanto o meu anda tão desconstituído? Seria eu impossibilitado de discipular as nações?
É verdade que não possuímos uma matriz a que nos referir. Afinal, nosso país tem sido sempre e é até hoje uma colônia de exploração de commodities, onde hoje nós brasileiros somos os colonos. Isso porque nunca paramos para fundar uma nação com os valores do reino, de maneira totalmente atruísta. A igreja ainda não gerou líderes governamentais com chamado para construir um legado de nação política que reflita o céu na terra. Temos feito isso de maneira indireta, à medida que a igreja se multiplica. E muitas vezes nos contentamos com isso. Porém, salvo em alguns poucos quesitos, o Brasil não é modelo para replicarmos fora. Mas será que isso importa?
“E ele disse-lhes: Por isso, todo escriba instruído [discipulado] acerca do Reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.” Mateus 13:52
Digamos que, como é o caso de muitos, como foi o meu, nós tenhamos que começar uma família sem entender muito o que família significa. Nós geralmente buscamos alguém que respeitamos como pai/mãe de família e fazemos várias perguntas, nos aconselhamos e damos início na prática à nossa própria família. A graça de Deus manifesta o poder do evangelho na nossa história nos fazendo completamente livres. Em Tito 2:11, vemos que a graça tem poder soteriológico (de salvação) mas também pedagógico (de educação). Por isso, possuímos, nesse processo de sermos discípulos, instrução que nos dá o poder de constituir novas gerações com uma cosmovisão completamente diferente da de quando éramos do mundo. Então agora nos encontramos como pais de família. Assim como um dia aconteceu com Abraão.
Abraão se tornou o pai de uma nação através da qual todas as famílias da terra seriam abençoadas. Famílias. Eu posso analisar as atuais diferenças do Brasil com o mundo o quanto eu quiser, e sempre me sentir incapaz de montar uma nação transformada baseado naquilo que eu sei de desenvolvimento. Mas de uma coisa fomos todos feitos capazes. Gerar família. Eu posso sonhar o quanto eu quiser com a transformação do Afeganistão, mas enquanto eu não formar uma família, me casando com a terra e gerando nela filhos, eu não conseguirei perpetuar a vida do Reino naquele lugar.
Para se discipular nações é necessário ir em busca de filhos e filhas em quem você irá entregar todos os seus anos, trazendo à vida, alimentando, vigiando, pagando, dispostos a tudo para buscar o melhor, compartilhando com eles o nosso tesouro, as pérolas que obtemos do Senhor, antigas e novas. Mesmo quando eles andarem em busca da herança que o Pai celestial tem para eles. Sempre os promovendo, acolhendo, buscando, e ensinando a fazer o mesmo, entregando os nossos anos no altar do Senhor como oferta agradável para vê-los fazer coisas maiores que nós. Sei que valerá a pena, e será a chave para ver a história alterada. Essa micro-nação chamada família será a matriz na qual iremos nos basear para buscar a transformação do lugar para onde formos e de todo o mundo. E quanto mais filhos que geram filhos, mais rapidamente veremos que “o reino deste mundo se tornou no reino do Senhor e do Seu Cristo, e Ele reinará pelos séculos dos séculos.” (Ap. 11:15)
E quanto tempo isso levará? Pergunta pro seu pai e sua mãe!
A.P.P.*
*Missionário e mobilizador para Missões na Ásia Central

domingo, 5 de novembro de 2017

Semana Nacional de Oração pelos Quilombolas


Semana Nacional de Oração pelos Quilombolas - 20 a 26 de novembro 

 Os Quilombolas estão entre os grupos menos alcançados do Brasil. Estima-se que 2 mil comunidades não contam com nenhuma igreja ou crente entre elas para lhes anunciar as Boas Novas do Evangelho. A Semana Nacional de Oração pelos Quilombolas tem por objetivo mobilizar através da oração crentes e igrejas locais em favor dos quilombolas. É uma iniciativa da Aliança Evangélica Pró-Quilombolas do Brasil com o apoio de diversas organizações. 

 Faca o cadastro e receba o guia de oração individual ou para a sua igreja, via email.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Conheça os infográficos sobre a obra missionária de MissioGraphics



O ministério Missiographics é um ministério norte-americano que utiliza as artes gráficas para promover a causa de Cristo. São especializados na produção de infográficos de grande qualidade e que retratam a realidade e os números dos assuntos relativos ao cristianismo e à obra missionária, no objetivo de informar e facilitar a tomada de decisões de ação por parte da Igreja.

Os gráficos estão em sua grande maioria em inglês, mas há já gráficos em português, espanhol e em outras línguas. O site permite que se faça o download gratuito dos gráficos, em formato PDF ou JPG, em grande definição.

Eles mesmos explicam os motivos da utilização da infografia:

"Por que Infografia?

É mais difícil do que nunca romper a confusão de informações. Precisamos de novas ferramentas para se comunicar efetivamente. A infografia é uma dessas ferramentas. Você sabia que uma infografia tem 30 vezes mais chances de interagir com um artigo? Ao apresentar os dados visualmente, você permite que mais dados sejam apresentados com mais rapidez com maior impacto!

Como você pode usar Infografia

Infografia é uma ferramenta incrível para envolver seus vários públicos sobre informações importantes que estão afetando seu ministério. Infografias estão sendo usadas ​​para conscientização, angariação de fundos e planejamento estratégico."

Acompanhe o trabalho de Missiographics:

Novo site: https://missionexus.org/missiographics
Facebook: https://www.facebook.com/missiographics
Instagram: https://www.instagram.com/missiographics


quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Fé, Amor e Esperança: Um livro gratuito para sua edificação


      Amor (ou caridade), Esperança e Fé: As três principais virtudes cristãs, conforme arroladas pelo apóstolo Paulo no décimo terceiro capítulo da Primeira Carta aos Coríntios, um dos ou talvez mesmo o mais belo capítulo de todo o Novo Testamento. Os católicos chamam-nas de virtudes teologais, que seriam infundidas por Deus no homem, e cuja ação é complementada pelas virtudes cardinais (prudência, justiça, fortaleza e temperança).
      Este pequeno e-book surge por ocasião das comemorações dos 500 anos da Reforma Protestante, deflagrada pelo monge agostiniano Martinho Lutero. Nesta breve seleta, reunimos nada menos que setecentas e cinquenta citações, duzentas e cinquenta abarcando cada uma das virtudes. São textos notadamente de autores cristãos (reformados e de outras vertentes), mas não somente; autores de outras confissões religiosas aqui comparecem, e mesmo agnósticos e livres pensadores os mais diversos, contribuindo para o entendimento e a reflexão plurais sobre tais temas de infindável profundidade. Assim, mesmo focado na seara cristã, esta pequena antologia é de valia para todo tipo de leitor, todo aquele que tem sua atenção capturada pelo mundo das ideias.
      “Mas, as virtudes teologais: o que tem isso a ver com a Reforma?”, perguntará o leitor mais desatento. E que foi a Reforma, senão um retorno ou esforço de retorno aos fundamentos da fé cristã uma vez perdidos ou obnubilados? Anseio desesperado de tornar às bases e raízes que foram amortecidas ou banidas em troca de conceitos débeis e prostituídos? Se assim entendermos, percebemos que nada há de mais basilar em nossa crença do que o consórcio destas três virtudes capitais. São elas que garantem a simplicidade revolucionária da mensagem dAquele que se ofereceu na cruz.
      Como editor e antologista, esta é minha singela forma de celebrar o reempoderamento da verdade manifesta no entendimento do suficiente poder salvífico da fé, herança maior da Reforma. E também um presente aos leitores.
      Entendo a fé como certeza alicerçante, base de todas as bases, chão do ente feito à imagem de Deus. A esperança é uma rebelião contra um status, revolta primeva e perene contra uma maldição herdada no Éden, que seja, a morte (Gn 3). Esperança é rebelião contra a Queda, contra a sua consequência: Deus puniu e não há recuo, mas ainda assim Deus encontrará em amor uma forma de nos remir. E o elo de tudo, o amor, ah... como escrevi algures, prefaciando o livro de um amigo: Este mistério fundacional da espécie [e do cosmos], a um tempo barco e co-navegante com o Homem sobre o mar do Tempo, esta magna transcendência que desvela o motivo de ser do próprio Universo, o Amor é âmago e imago (imagem) das razões de Deus.  
      Que esta pequena seleta seja de proveitosa e edificante leitura a você, amigo leitor.  Mais que um livro a ser lido, nosso esforço foi para tornar este pequenino volume um livro a ser revisitado.

Sammis Reachers, editor

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Colabore conosco, repassando este e-book para seus amigos e contatos. Você pode ainda disponibilizá-lo para download (sempre gratuitamente) a partir de seu site ou blog. E caso não consiga realizar o download, e queira receber o arquivo por e-mail, escreva para: sreachers@gmail.com

sábado, 21 de outubro de 2017

A Reforma Protestante e a Tradução da Bíblia



Norval Silva

Introdução


A Reforma Protestante do século XVI foi sem sombra de dúvidas um movimento sócio-político. Como tal representou o rompimento com os poderes absolutos de Roma. Porém, mais que um movimento sócio-político, foi um movimento de renovação espiritual, de retorno aos princípios ensinados por Jesus e seus apóstolos.

Os clássicos sola (sola Scriptura, sola gracia, sola fide, etc.), marcaram os pilares do movimento da Reforma. Neste artigo, quero enfocar um destes pilares e afirmar a sua importância para o movimento missionário subseqüente. Trata-se de Sola Scriptura. 

1. A tradução da Bíblia antes da Reforma

Traduzir a Bíblia de suas línguas originais para línguas vernáculas sempre foi uma prática do povo de Deus. Antes mesmo de o Novo Testamento ser escrito, o povo judeu já havia traduzido o Velho Testamento para a língua Grega. Esta tradução ficou conhecida como Septuaginta ou versão dos setenta. Nos primeiros séculos da igreja cristã a Bíblia inteira foi traduzida para línguas como siríaco, armênio, latim, gótico, etíope, etc.
Com o fortalecimento da igreja no ocidente e a adoção do latim como língua da igreja, o processo de tradução ficou esquecido. Anglada, falando sobre o assunto diz: "A Igreja Católica havia se dado por satisfeita com a versão latina de Jerônimo e não estimulava sua tradução para outros idiomas, por considerar a Bíblia um livro obscuro e não apropriado para ser lido por leigos"1

Assim, a Igreja Católica passou a usar quase que exclusivamente o latim. Como o povo comum não falava esta língua nem a entendia, a compreensão do texto bíblico passava totalmente pelas mãos do clero. Os padres liam e interpretavam, à sua maneira, os ensinos sagrados. Nesse período, o que a igreja dizia tinha peso igual ou maior ao que a Bíblia dizia.

2. A Reforma e novas traduções

Lutero, Calvino e outros defendiam as Escrituras Sagradas como única regra de fé e prática para todos os cristãos. Havia porém um problema. Como o povo poderia ler e interpretar as Escrituras se elas estavam acessíveis quase que somente em latim ou em suas línguas originais? Foi então que um esforço enorme pela tradução da Bíblia foi feito. Neste período inúmeras traduções surgiram. Lutero mesmo traduziu as Escrituras para o alemão. A sua tradução foi tão importante para o povo do seu país que estudiosos têm considerado Lutero como o pai da língua alemã. Um primo de Calvino traduziu a Bíblia para o Francês. A famosa versão King James foi produzida na Inglaterra, o sínodo de Dort, na Holanda, promoveu a tradução para o holandês. Meio século mais tarde, mas ainda como fruto da Reforma, João Ferreira de Almeida traduziu a Bíblia para a língua Portuguesa. Desde então, centenas de línguas têm recebido o texto sagrado.

3. A tradução da Bíblia e a expansão do Evangelho

Foi o acesso à Bíblia traduzida e sua comparação com os ensinos da igreja de Roma que provocaram as maiores perdas no rol de membros da Igreja Oficial. À medida em que as pessoas descobriam o verdadeiro ensino bíblico se rebelavam contra todo e qualquer ensino que o contradissesse. Não é à toda que a igreja de Roma tenha feito um esforço enorme para destruir cópias das Escrituras traduzidas. A tradução para línguas de povos considerados não-cristãos, também provocou um grande avanço do evangelho em países como Índia, China, Coréia, etc.

Mais recentemente, as organizações Wycliffe para tradução da Bíblia (fundada por um presbiteriano) e as diversas Sociedades Bíblicas têm produzido traduções em muitas outras línguas do mundo. 
A Reforma mostrou que não pode haver verdadeiro cristianismo sem acesso às Escrituras. Mostrou também que somente as Escrituras devem ser a regra de fé e prática para o cristão.

4. Povos sem a Bíblia

Apesar de todo o esforço por parte dos Reformadores, hoje, em pleno século vinte e um, há ainda mais ou menos 3 mil línguas sem qualquer tradução das Escrituras, nem sequer João 3:162. Creio piamente que é tarefa da nossa igreja traduzir e promover as Escrituras para essas línguas. Aliás, isso está assegurado na nossa Confissão de Fé, que diz:

"O Velho Testamento em Hebraico (língua vulgar do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são por isso autênticos e assim em todas as controvérsias religiosas a igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal; mas, não sendo estas línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras e que deve no temor de Deus lê-las e estudá-las, estes livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde chegarem..." (Art. VIII).

Meu coração se alegrou sobremaneira ao ver a Agencia Presbiteriana de Missões Transculturais reconhecer a importância desse ministério e considerar a tradução da Bíblia como um dos pilares de atuação da nossa igreja. 

5. Projeto Na'iruz

Cumprindo a nossa Confissão de Fé, estamos envolvidos na área de tradução da Bíblia. O nosso projeto chama-se projeto na'iruz (lê-se nairúi). Esta é uma palavra que vem da língua Guajajara, falada pelo povo do mesmo nome, tribo indígena do Maranhão. Ela significa simplesmente "três". Nosso projeto tem esse nome porque queremos promover as Escrituras na língua de três povos indígenas na divisa dos estados Pará e Maranhão. O leitor que desejar uma descrição detalhada do projeto pode nos escrever solicitando uma cópia ( lauenorval@hotmail.com )

6. Plantação de igrejas e a tradução da Bíblia

A ênfase que os Reformadores deram ao uso das Escrituras nas línguas vernáculas pode ser considerada como um dos maiores ganhos para a cristandade, tanto do ponto de vista educacional e cultural, como de uma perspectiva missionária. Quantos não aprenderam a ler porque queriam ler as Escrituras. Quantos não se tornaram crentes ao lerem alguma porção bíblica. Quantas não são as histórias de colportores no Brasil que ganharam centenas de pessoas para o Senhor simplesmente por venderem-lhes a Bíblia.

Finalmente, promover o acesso do povo à Bíblia em sua língua materna deve ser uma tarefa prioritária em nosso empreendimento missionário. Plantar uma igreja e não promover o acesso dessa igreja às Escrituras na língua materna do povo é correr o risco de ver essa igreja nunca amadurecer, ou ainda pior, enveredar por tradições e costumes que não só não estão contidos no texto bíblico, mas ainda o contradizem. Portanto, para cada programa de plantação de igreja, deve haver um programa simultâneo de tradução das Escrituras. 

"A fé vem pelo ouvir e ouvir a Palavra de Deus". Rom. 10:17. 

domingo, 15 de outubro de 2017

Charles Studd, missionário e herói da fé


O Jovem rico que se fez pobre


Charles T. Studd nasceu no seio de uma aristocrática família inglesa no ano 1860. O seu pai, Edward, era um entusiasta esportista, até que se converteu a Cristo em uma campanha do pregador norte-americano D. L. Moody. Desde então os seus interesses mudaram completamente, e ele se fez uma fervorosa testemunha de Cristo entre os seus amigos e conhecidos. Tentou por todos os meios que os seus três filhos, conhecidos jogadores de críquete, se entregassem a Cristo também, mas eles lhe evitavam.

Conversão e primeiros passos
No entanto, não puderam escapar da mão de Deus, que utilizou um amigo de seu pai para conduzi-los ao Senhor. Foi desta maneira que receberam a Cristo no mesmo dia, embora separadamente, sem que nenhum soubesse da conversão do outro.
Charles o relata assim: "Quando estava por sair para jogar críquete, o Sr. W. me pegou desprevenido e perguntou: "É cristão?", eu respondi: "Não sou o que você chama de cristão, mas creio em Jesus Cristo desde que era pequeno, e é obvio, creio na Igreja também". Pensei que ao responder tão próximo do que perguntava que me livraria dele, mas ele me agarrou como um lacre, e disse: "Olha, Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. Você crê que Jesus Cristo morreu?". "Sim". "Crê que morreu por ti?", "Sim". "Crê na outra metade do versículo: 'mas tenha a vida eterna'?". "Não", disse, "não creio isso". Mas ele acrescentou: "Não vê que a sua afirmação contradiz a Deus? Ou você ou Deus não estão dizendo a verdade, pois se contradizem mutuamente. Qual é a verdade? Você crê que Deus pode mentir?". "Não", disse. "Pois bem, você não está se contradizendo crendo só a metade do versículo e não a outra?". "Suponho que sim". "Bem", acrescentou, "vais ser sempre contraditório?". "Não, suponho que não para sempre". Então perguntou: "Quer ser consistente agora?". Vi que tinha ficado encurralado e comecei a pensar: Se sair desta cena acusado de volúvel, não conservarei muito da minha dignidade, de maneira que disse: "Sim, serei conseqüente". "Bem, não vê que a vida eterna é uma dádiva? Quando alguém te dá um presente de Natal, o que você faz?". "Pego e lhe agradeço". Disse: "Quer dar graças a Deus por este presente?". Então me ajoelhei, dava graças a Deus, e nesse mesmo instante o Seu gozo e paz encheram a minha alma. Soube então o que significava "nascer de novo", e a Bíblia, que me resultara tão árida antes, veio a ser tudo para mim".
Os irmãos Studd obtinham muitos êxitos esportivos, e ao mesmo tempo testificavam com firmeza da sua fé no Senhor Jesus Cristo. A única exceção era Charles. "Em lugar de ir contar aos outros do amor de Cristo, fui egoísta e mantive esse conhecimento para mim mesmo. A conseqüência foi que o meu amor começou a se esfriar e o amor do mundo começou a entrar. Passei seis anos nesse triste estado".
Enquanto ele ganhava fama no mundo do críquete, duas cristãs idosas começaram a orar para que fosse trazido de volta a Deus. A resposta veio repentinamente. Um dos seus irmãos, George, adoeceu gravemente. Charles esteve continuamente na sua cabeceira, e enquanto estava ali, estes pensamentos vieram à sua mente: "Do que valem a fama e os afagos? De que vale possuir todas as riquezas do mundo quando alguém está diante da eternidade?". Uma voz parecia lhe responder: "Vaidade de vaidades, tudo é vaidade".
Logo que teve oportunidade, foi ouvir D. L. Moody, que visitava a Inglaterra outra vez, e ali se reencontrou com o Senhor, voltando-lhe o gozo da sua salvação. Começou a ler a Bíblia, e a evangelizar os seus amigos, levando-os para escutar ao famoso evangelista. Conheceu também o gozo maior, de conduzir a outros aos pés do Senhor.
Logo teve que enfrentar o dilema do que faria com a sua vida. Tentou dedicar-se a estudar Direito, mas as suas inquietações espirituais o impediram. Leu a Bíblia, e procurou com esforço toda bênção espiritual. Assim, recebeu a promessa do Espírito Santo, e da paz que excede todo entendimento. Caiu em suas mãos o livro "O segredo de uma vida cristã feliz", e entregou-se inteiramente ao Senhor, inspirado nos versos do conhecido hino de Francis R. Havergal: "Que a minha vida inteira esteja consagrada a ti, Senhor". Compreendeu que a sua vida tinha que ser uma vida de fé, simples, infantil, e que a sua parte era a de confiar em Deus, não a de fazer. Deus operaria nele para fazer a Sua boa vontade.

Missionário na China
Por este tempo, Charles se sentiu guiado pelo Senhor para ir como missionário para a China. Ao escutar a Mr. McCarthy, da Missão para o Interior da China, em sua despedida para viajar a esse país, o seu coração ardeu de entusiasmo.
Enquanto procurava a vontade de Deus, percebeu que a única coisa que o poderia deter era o amor por sua mãe. Mas leu a passagem: "quem ama pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim", o qual dissipou as suas dúvidas.
No entanto, surgiu uma tenaz oposição de toda a família. Inclusive pediram aos obreiros cristãos que tentassem lhe dissuadir. Uma noite de grandes conflitos, recebeu esta palavra do Senhor: "peça-me, e te darei as nações por herança, e os confins da terra por tua possessão" (Salmo 2:8). Soube que era a voz de Deus. Muitos disseram que estava cometendo um engano muito grande ao ir "enterrar-se" no interior da China. Mas nada pôde afastar o curso que Deus tinha traçado para a sua vida.
Outra noite de grande agonia espiritual estava de pé na plataforma de uma estação, debaixo da luz tremeluzente de uma lâmpada, e, desesperado, pediu a Deus que lhe desse uma mensagem. Tirou o seu Novo Testamento, abriu-o e leu: "Os inimigos do homem serão os da sua casa". Desde esse instante jamais olhou para trás.
Tomando a decisão, Charles teve uma entrevista com Hudson Taylor, Diretor da Missão para o Interior da China, e foi aceito como membro.
As conseqüências foram imprevisíveis. A sua decisão causou um grande alvoroço na sociedade inglesa da época, porque era muito conhecido. Outros seis conhecidos jovens esportistas e militares, entre eles Stanley Smith, uniram-se a ele nesta missão. Chegaram a ser conhecidos como "os sete de Cambridge". Tanta notoriedade alcançou este assunto, que inclusive a Rainha Vitória pediu para ser informada sobre eles.
Charles Studd e Stanley Smith foram convidados para dar o seu testemunho aos estudantes da Universidade de Edimburgo. Na hora marcada, o salão estava abarrotado. Foram recebidos com grandes aplausos. Aos jovens impressionava que a 'religião' não só era assunto de velhos pouco viris, mas também tinha alcançado a esportistas bem-sucedidos. Durante as conversas, uma e outra vez os candidatos a missionários foram aplaudidos. No final da reunião, muitos se aproximaram para ouvir mais de Cristo. Assim começou um grande movimento de fé entre os jovens universitários.
Posteriormente tiveram que voltar outra vez para Cambridge, onde se reuniram com mais de dois mil estudantes para escutar-lhes. Algo similar ocorreu em outras grandes cidades. Os jovens conferencistas estavam tão ansiosos pela responsabilidade que recaía sobre eles, que às vezes passavam toda a noite orando. Certa vez, o seu hospedeiro disse-lhe pela manhã: "OH, não deveriam se incomodar em arrumar as camas!", sem imaginar que essas camas nunca tinham sido desfeitas.
Em Leicester se encontraram com o famoso pregador e escritor F. B. Meyer, o qual foi grandemente impactado pelo testemunho dos jovens. Uma manhã bem cedo, Meyer descobriu que havia luz no dormitório deles, pelo que disse a Studd: "Você madrugou". "Sim", respondeu ele, "levantei às quatro da manhã. Cristo sempre sabe quando dormi bastante e me desperta para desfrutar de um bom tempo com ele". Meyer lhe perguntou: "O que esteve fazendo todo este tempo?". "Você sabe, o Senhor diz: 'Se me amardes, guardareis os meus mandamentos', assim estava lendo todos os mandamentos do Senhor que pude achar e marcando os que guardei, porque na verdade o amo". "Bem", disse, e tornou a perguntar: "Como posso ser semelhante a você?". Studd respondeu: "Você tem se entregue a Cristo, para que Cristo te encha?". "Sim", disse ele, "tenho-o feito de um modo geral, mas não sei se o tenho feito de maneira particular". Studd respondeu: "deve fazê-lo de uma maneira particular também". Nessa mesma noite F. B. Meyer fez uma entrega específica e total a Cristo.
As três grandes reuniões de despedida para os sete jovens missionários foram combinadas pela Missão em Cambridge, Oxford e Londres. Nenhuma descrição pode dar uma idéia adequada do caráter extraordinário destas reuniões. Pela primeira vez a sociedade londrina contemplava um grupo de jovens seletos ofertarem-se incondicionalmente ao Mestre para a sua obra tão distante dali.
Partiram para a China em fevereiro de 1885, quando Charles tinha 25 anos. Três meses mais tarde, as suas próprias mães não lhes teriam reconhecido. De oficiais e universitários se transformaram em chineses, com tranças, vestidos compridos e túnicas de mangas longas, tudo completo, pois de acordo com os princípios da Missão, criam que a única maneira de alcançar os chineses do interior era se fazendo um deles.
Bem humorado, Charles conta a dificuldade que teve quando quis conseguir sapatos para a sua medida, pois os seus pés eram excessivamente grandes. "O primeiro sapateiro que veio disse que nunca tinha feito um par como eu queria e fugiu de casa, recusando categoricamente a empreender uma obra tão grande. Foi conseguido outro; e quando foi trazido, disse que havia feito muitos pares de sapatos durante a sua vida, mas que jamais tinha feito um par como estes. Os meus pés causam muita graça às pessoas; nas ruas, freqüentemente, os chineses os apontam e riem a vontade".
Contrariamente ao do que se podia esperar de um jovem acostumado à comodidade, Charles se adaptou muito bem aos simples costumes do povo chinês. "Onde estão as dificuldades chinesas?" -dizia- "Não podemos achá-las; é um mito. Esta é realmente a melhor vida, sã e boa: bastante para comer e beber, saudáveis camas duras, e belo ar fresco. Que mais pode desejar um homem?". Sobre os seus exercícios espirituais dizia: "O Senhor é muito bom e todas as manhãs me dá uma grande dose de champanha espiritual que me tonifica para o dia e para a noite. Ultimamente tive uns tempos realmente gloriosos - escrevia em fevereiro de 1886 -. Geralmente tenho acordado por volta das 3.30 e me sinto bem despejado; assim, tenho um bom momento de leitura, etc., em seguida, antes de começar as tarefas do dia, torno a dormir por uma hora. Acho que o que leio então fica estampado indestrutívelmente em minha mente durante todo o dia; é a hora mais quieta; nenhum movimento nem ruído se ouve, só Deus. Se perder esta hora me sentiria como Sansão raspado e perdendo assim a sua força. Cada dia enchergo melhor o quanto ainda tenho que aprender do Senhor".

Entregando tudo
Quando Charles cumpriu os 25 anos de idade recebeu em herança do seu pai mais de 29.000 libras esterlinas. Na ocasião ele se encontrava na China. Decidiu ser fiel à Palavra, e dar esse dinheiro ao Senhor. Quando foi para o Cônsul inglês para validar o poder que lhe permitiria fazê-lo, este se negou, por considerar desatinada a sua decisão. Pediu-lhe que esperasse 15 dias para pensar. Ao cabo desse tempo, Charles voltou para assinar os documentos respectivos.
Despachou 4 cheques de 5.000 libras cada um, e cinco de 1.000, deixando uma reserva de 4.000 para cobrir possíveis erros. Os beneficiados com as 5.000 libras foram D. L. Moody e seu Instituto Bíblico em Chicago, George Müller, com os seus Lares para Órfãos, de Bristol, Jorge Holland, que tinha um ministério entre os pobres em Londres, e o Comissionado Booth Tucker, do Exército da Salvação na Índia. Outras cinco pessoas receberam os cheques de 1.000 libras cada um, entre eles o general William Booth, do Exército da Salvação. Pouco depois, quando foi informado que a herança era ainda maior, acrescentou doações à Missão para o Interior da China.
Pouco antes do seu casamento, entregou o dinheiro restante para a sua noiva. Mas ela, para não ficar em falta, disse-lhe: "Charles, o que disse o Senhor ao jovem rico?". "Vende tudo". "Bom, então começaremos bem com o Senhor em nosso matrimônio". E em seguida escreveram ao general Booth para lhe doar as últimas 3.400 libras esterlinas que restaram.
Somente a eternidade revelará quantos foram despertados para seguir o verdadeiro caminho do discipulado pelo exemplo deste "jovem rico" do século XIX que deixou tudo e lhe seguiu. Na biografia de Studd, publicada por seu genro Norman P. Grubb, há um testemunho muito eloqüente: uma foto da "Tedworth House", o lar de Studd em sua juventude, que era uma grandiosa mansão no meio da campina inglesa, e em um quadro da mesma, aparece um esboço da miserável choupana de Studd na África no final de sua vida. Bem poderia titular-se: "Do palácio à choupana". Um enorme testemunho sem palavras!

Uma ajuda idônea
Priscilla Livingstone Stewart chegou a China em 1887, como parte de uma equipe de obreiros novos do Exército da Salvação. Era irlandesa, de belos olhos azuis e cabelo loiro. Fazia só um ano e meio que tinha se convertido, de forma milagrosa. Uma noite em que tinha estado em uma festa até a madrugada, teve um sonho que iria tirar a sua tranqüilidade durante três meses. Sonhou que estava jogando tênis, quando subitamente se viu rodeada de uma multidão de pessoas.
De repente, levantou-se entre essa multidão uma Pessoa. Ela exclamou: "Mas se és o Filho de Deus!". Então ele, apontando para ela, disse: "aparte-te de mim, pois nunca te conheci". A multidão se dissolveu, e ela ficou sozinha com os seus amigos, que a olhavam horrorizados. Depois de resistir ao Senhor por três meses, rendeu-se, quando viu o Senhor lhe dizer: "Por minhas chagas foste curada".
Desde esse dia decidiu que Jesus seria o seu Senhor e o seu Deus. Pouco depois, enquanto procurava direção para a sua vida, abriu a Bíblia e viu, à margem do livro, escrito em letras brilhantes: "China, Índia, África". Estas palavras proféticas teriam que cumprir-se literalmente.
Priscilla e Charles se conheceram em Shangai, enquanto este fazia reuniões para os marinheiros ingleses. Junto a outros missionários, Priscilla colaborava ali com muito ardor. As reuniões eram bastante informais, mas cheias de gozo. Um episódio dessas reuniões reflete muito bem o caráter de Charles. Tinham recebido alguns testemunhos, e queriam expressar o seu gozo através de cânticos. Charles pediu à platéia que cantassem de pé o hino "Estejam por Cristo firmes", mas ao dar-se conta que já estavam de pé, disse: "Vamos, isto não é suficiente, devemos fazer algo mais para Jesus: Suba nos vossos assentos para Jesus!". Os marinheiros saltaram com agilidade sobre os seus assentos e, com um amplo sorriso desenhado em seus rostos, cantaram como ninguém tinha cantado jamais esse hino.
Apesar de terem que separar-se por algum tempo por causa da obra, Charles e Priscilla se correspondiam, e lhe propôs casamento depois de procurar o Senhor intensamente. "Não te ofereço uma vida fácil e cômoda -lhe escrevia-, senão uma vida de trabalho e dureza; realmente, se não te conhecesse como uma mulher de Deus, nem sonharia em te pedir em casamento. Faço para que seja companheiro em Seu exército, para viver uma vida de fé em Deus, recordando que aqui não temos cidade permanente, só um lar eterno na casa do Pai. Esta é a vida que te ofereço. Que o Senhor te dirija". Em outra carta abre o seu coração para ela de maneira muito linda: "Te amo por seu amor a Jesus, te amo por seu zelo para com ele, te amo por sua fé nele, te amo por seu amor às almas, te amo por seu amor a mim, te amo por ti mesma, te amo para todo o sempre. Te amo porque Jesus te usou para me abençoar e incendiar a minha alma. Te amo porque sempre será um atiçador em brasas que me fará correr mais ligeiro. Senhor Jesus, como poderei te agradecer por uma dádiva semelhante?".
Houve um duplo casamento: o religioso foi oficializado pelo conhecido evangelista chinês Shi, e o civil, diante do cônsul britânico. No final da cerimônia, ambos se ajoelharam e fizeram uma solene promessa diante de Deus: "Jamais nos importunaremos um ao outro de te servir a Ti". Foi uma "boda de peregrinos", sem trajes de festa, com roupa comum da China, de algodão.

Comprovando a fidelidade de Deus
O jovem casal foi diretamente das suas bodas para iniciar uma obra no interior da China, na cidade de Lungang-Fu. Certa vez Studd pregou sobre o versículo "Pode salvar até o extremo" (Heb. 7:25, Versão Moderna). Depois que a reunião terminou, um chinês ficou sozinho no fundo do salão. Quando Studd se aproximou dele, o chinês lhe disse que o sermão tinha sido uma série de disparates, e acrescentou: "Sou um assassino, um adultero, quebrei todas as leis de Deus e do homem muitas vezes. Também sou um perdido fumante de ópio. Ele não pode me salvar". Studd expôs as maravilhas de Jesus, o seu evangelho e o seu poder. O homem era sincero e foi convertido.
Então o homem disse: "Devo ir para a cidade onde cometi toda esta iniqüidade e pecado, e nesse mesmo lugar contar as boas novas". O fez. Reuniu as multidões. Foi levado diante do mandarim e o sentenciaram a dois mil golpes de bambu, até que as suas costas se tornaram uma massa de carne vermelha e creram que estava morto. Foi trazido de volta por alguns amigos, levado para o hospital e cuidado por mãos cristãs, até que, no final, pôde sentar-se.
Então disse: "Devo voltar outra vez para a minha cidade e pregar o evangelho". Os seus amigos cristãos trataram de dissuadir-lhe, mas escapou e começou a pregar no mesmo lugar. Foi levado de novo diante do tribunal. Tiveram vergonha de lhe aplicar outra vez o bambu, então o enviaram para a prisão. Mas a prisão tinha pequenas janelas e buracos na parede. Reuniu a multidão e pregou através das janelas e aberturas, até que, percebendo as autoridades que pregava mais do cárcere que fora, puseram-no em liberdade, desesperançosos por não poder dobrar a alguém tão porfiado e fiel.
Grande parte do tempo, Studd esteve ocupado no Refúgio para Fumantes de Ópio, que abriu para atender às vítimas desta droga. Durante os sete anos seguintes, uns oitocentos homens e mulheres passaram por ali, e alguns deles foram, além de curados, salvos.
A chegada dos filhos significou para o casal uma dura prova: não era possível contar com a assistência de nenhum médico. Procurar um seria estarem cinco meses longe da sua casa e abandonar a sua obra. "Por que não chamar ao Dr. Jesus?", perguntou Priscilla, e assim o fez. Nasceram cinco filhos, e não houve problemas.
Na China nesse tempo acostumavam sacrificar às meninas recém-nascidas, porque -pensavam- que dava muito trabalho para criá-las, e o seu dote quando se casam não alcançava para cobrir os gastos. Deus deu ao casal quatro filhas, para que dessem exemplo de cuidado e amor para elas, como se fossem homens. O nome chinês que eles deram ás suas filhas dava testemunho disto: Graça, Louvor, Oração e Gozo.
Deus proveu milagrosamente às necessidades financeiras da família. Certa vez quando suas quatro filhas estavam ainda pequenininhas- ficaram sem provisões nem dinheiro. Não havia esperança aparente de que chegassem fornecimentos de nenhuma fonte humana. O correio chegava uma vez a cada quinze dias. O carteiro tinha recém saído essa tarde e em quinze dias traria o correio de volta. As cinco pequenas filhas já tinham se deitado essa noite, assim decidiram ter uma noite de oração. Ficaram de joelhos com esse propósito. Mas depois de uns vinte minutos, levantaram-se novamente. Nesses vinte minutos haviam dito a Deus tudo o que tinham que dizer. Os seus corações estavam aliviados; não lhes parecia nem reverente nem de senso comum continuar clamando.

O correio voltou no tempo estabelecido. Não demoraram em abrir a valise. Deram uma olhada para as cartas; não havia nada. Olharam-se um para o outro. Studd foi para a valise outra vez, puxou o fundo e a sacudiu de barriga para baixo. Saiu outra carta, mas a letra era-lhes completamente desconhecida. Outro desengano. Abriu-a e começou a ler. 
Studd e Priscilla ficaram totalmente diferentes depois da leitura dessa carta, e ainda toda a sua vida se tornou diferente desde então. A assinatura era totalmente desconhecida para eles. Eis aqui o conteúdo da carta: "Recebi, por alguma razão ou outra, o mandamento de Deus de lhe enviar um cheque de 100 libras esterlinas. Nunca o vi, somente ouvi falar de você, e isso não faz muito tempo, mas Deus me deu um sonho esta noite com este mandamento. Por que me ordenou que lhe enviasse isto, não sei. Você saberá melhor do que eu. De qualquer modo, aqui vai e espero que lhe seja de proveito".

O nome desse homem era Francisco Crossley. Nunca tinham se visto nem escrito.

De retorno para a Inglaterra
Depois de 10 anos na China, a família retornou para a Inglaterra, em 1894. Embora Studd tenha estado afligido por várias enfermidades que o deixaram a beira da morte, não se atreveu a mover-se da China senão por clara direção de Deus. A despedida dos seus irmãos e criados foi muito dolorosa. A longa travessia através da China com a sua esposa e as suas quatro pequenas foi difícil, porque havia uma grande hostilidade para com os estrangeiros. O povo chinês, pouco instruído, pensava que todos os estrangeiros eram aliados do Japão, que nessa época estava em guerra com a China.
Parte da travessia fizeram pelo rio, em uma barcaça. Em todo lugar que a embarcação tocava a margem, uma multidão se reunia para ver os "diabos estrangeiros".
Certa vez o ambiente se mostrava especialmente ameaçador para eles, mas Deus preparou a sua libertação de uma maneira estranha. A mais velha das meninas falava chinês. Quando as pessoas começavam a lhe fazer perguntas: "Qual é seu nome? Que idade tem? Tem algo que comer?", etc., para surpresa deles, a menina lhes respondia em seu próprio idioma. O resultado foi que a multidão ameaçadora se tornou em admiradora. Então fizeram acordos para que grupos sucessivos de chineses se aproximassem para comprovar a maravilha: uma menina estrangeira falava o seu próprio idioma! Cada vez que o faziam, os chineses explicavam o assunto da seguinte maneira: "Estão vendo? Esta menina fala o nosso idioma, porque come a nossa comida".
Em Shangai, eles embarcaram em um vapor do Lloyd Alemão. Os garçons eram todos músicos, e formavam uma banda que todas as tardes tocava no salão. As quatro meninas se sentavam então extasiadas para escutar a música. No terceiro dia, logo depois da sessão diária, as meninas entraram no camarote dos seus pais, muito excitadas, dizendo: "Não podemos compreender estes missionários de maneira nenhuma, pois nada fazem além de tocar música e nunca cantam hinos nem oram". Em sua vida no interior da China nunca tinham visto um homem ou uma mulher brancos que não fossem missionários!
Chegando a Inglaterra, com dificuldade estiveram quietos por algum tempo, para recuperar-se da sua deteriorada saúde, pois logo chegaram os convites para compartilhar as suas experiências. Certa vez, Studd foi convidado para dar uma palestra em um colégio teológico de Gales. Numa parte do discurso ele disse: "A verdadeira religião é como a varíola: se um se contagiar, dá em outros e se estende". A sua prima e hóspede nessa ocasião, Dorotea de Thomas, se escandalizou pela comparação, e quando retornava para casa o apresentou. Isso conduziu a uma larga conversa, mas Dorotea permanecia fechada para a fé.
De acordo com a promessa que Dorotea tinha feito a seu primo, assistiu de novo à palestra na noite seguinte. Quando chegaram de volta em casa, lhe preparou uma taça de cacau, e o deu. Studd estava sentado no sofá e continuou falando enquanto ela tinha a mão estendida. Falou-lhe, mas ele não deu atenção. Então, como é lógico, ela se impacientou. Só então lhe disse: "Bem, é exatamente assim como você está tratando a Deus, que está te oferecendo a vida eterna". A flecha acertou no alvo.
Dois dias depois, quando ele esteve de retorno em Londres, recebeu o seguinte telegrama: "Tive um forte ataque de varíola. Dorotea".
Dois anos depois, Studd foi convidado para ir aos Estados Unidos, onde ficou 18 meses. O seu tempo estava completamente cheio de reuniões, às vezes até seis no dia. O seu pouco tempo livre foi tomado por uma sucessão de entrevistas com estudantes. Às vezes lançava mão de recursos pouco ortodoxos para ensinar verdades espirituais. Certa vez conduzira um jovem para receber o Espírito Santo por fé. Disse-lhe que tinha que deixar que o Espírito Santo operasse nele e através dele. O jovem parecia compreender, mas o seu rosto ainda estava sombrio. Então lhe disse: "Se um homem tiver um cachorro, ele o guarda todo o tempo e ele mesmo lati?". Então o jovem riu, o seu rosto mudou em um instante, e irrompeu em louvores a Deus. "OH, vejo tudo agora, vejo tudo agora". E ria, louvava e orava, tudo ao mesmo tempo.
Entre as suas cartas enviadas a Inglaterra, enviou um recorte de jornal em que o elogiavam. Na margem do artigo ele escreveu: "Este é o tipo de disparate que publicam os jornais".
Em certa oportunidade em que foi convidado para uma palestra, pouco antes de passar Charles T. Studd para a tribuna, um dos anfitriões deu alguns detalhes elogiosos da sua vida. Então Studd começou dizendo: "Se eu tivesse sabido que isto iria ser dito, teria vindo uns quinze minutos mais tarde". E em seguida acrescentou: "Vamos apagá-lo com um pouco de oração". E se pôs a orar.

Seis anos na Índia
Desde a sua conversão, Studd havia sentido a responsabilidade que tinha a família de levar o evangelho para a Índia. Tinha sido o último desejo do seu pai. O seu irmão lhe tinha contado como as pessoas conheciam o sobrenome Studd, pois o seu pai tinha feito ali a sua fortuna. Ele propôs que o sobrenome Studd fosse também conhecido como "embaixador de Jesus Cristo". Viajou a Tirhhot, onde esteve seis meses promovendo reuniões, e foi lhe oferecido o cargo de pastor da igreja independente de Octacamund.
Como sempre, Studd se dedicou a ganhar almas, e rapidamente diziam dessa igreja: "Essa igreja é um lugar que deve ser evitado se as pessoas não querem se converter". A sua esposa dizia dele neste tempo: "Creio que não passa uma semana sem que Charles tenha de uma a três conversões". Não perdia ocasião de usar métodos heterodoxos para compartilhar o evangelho. Certa vez tomou parte em uma excursão de críquete a fim de ter oportunidade de compartilhar aos soldados que jogavam!
Mas toda esta obra foi realizada penosamente, pois há muitos anos sofria de asma. Por muito tempo, só dormia duas horas na noite, sentado em uma cadeira lutando para respirar. No entanto, em seguida vinham temporadas de melhoras.
Suas filhas cresciam, e desfrutavam da vida na Índia. As quatro se entregaram a Cristo durante a sua estada ali. Ele mesmo as batizou em uma piscina que mandou construir em seu próprio jardim.
Em 1906 voltou para a Inglaterra. A sua chegada em casa deu a oportunidade a pastores e obreiros, que começaram a convidá-lo com muita freqüência. Nos dois anos seguintes deve ter falado a dezenas de milhares de homens, muitos dos quais nunca assistiam a um culto, mas foram atraídos por sua fama esportiva. A sua maneira franca de falar, sem rodeios, empregando a linguagem comum do povo, junto com o seu humor, agradava muito aos homens.

O desafio maior
Certo dia do ano de 1908, enquanto se achava em Liverpool, viu um aviso muito curioso que chamou em seguida a sua atenção: "Canibais querem missionários". Studd entrou no lugar para ver do que se tratava.
Assim iria começar o maior desafio da sua vida.

O maior desafio
Certo dia do ano 1908, enquanto se achava em Liverpool, Studd viu um aviso muito curioso que chamou em seguida a sua atenção: "Canibais querem missionários". Studd entrou no lugar para ver do que se tratava.
Era um estrangeiro, Kart Kumm, quem dissertava sobre a África. Dizia que no centro do continente tinham ido exploradores, caçadores, árabes e mercadores, mas que nenhum cristão jamais tinha entrado para falar de Jesus. "A vergonha penetrou profundamente em minha alma", diria Studd mais tarde. Ouviu uma voz que lhe disse: "por que você não vai?". "Os médicos não o permitiram", respondeu. Veio a resposta: "Não sou eu o Bom Médico? Não posso te levar ali? Não posso te manter ali?".
Como não havia desculpas, Studd sentiu que tinha que ir.

Preparativos para a grande missão
De alguma maneira, Studd sentiu que até esse momento a vida tinha sido uma preparação para os próximos anos. Studd realizou uma viagem exploratória de vários meses, no lombo de mula e a pé, por regiões infestadas de paludismo e outras enfermidades, onde pôde comprovar a extrema necessidade dos povos pagãos da África. Soube que além das fronteiras do Sudão, no Congo Belga, existiam pessoas tão depravadas e desamparadas que nunca tinham ouvido falar de Cristo.
Retornou inflamado de amor pela África, e lançou um desafio para todo o povo de Deus da Inglaterra. Escreveu uma série de folhetos, com os quais acendeu um fogo santo em muitos corações. Ele sentia que era uma nova Cruzada. "Devemos ir a uma Cruzada por Cristo. Temos os homens, os meios e as comunicações, o vapor, a eletricidade e o ferro tem nivelado as terras e atravessado os mares. As portas do mundo nos foram abertas por nosso Deus... Em junho passado mil mineradores, negociantes, comerciantes e garimpeiros de ouro esperavam na desembocadura do Congo para lançar-se nessas regiões, pois segundo rumores existia ali abundância de ouro. Se tais homens ouviram tão fortemente o chamado do ouro e o obedecem, será que os ouvidos dos soldados de Cristo estejam surdos ao chamado de Deus e ao clamor das almas moribundas? São tantos os que arriscam a vida pelo ouro e tão poucos se arriscam por Deus?".
No entanto, a sua partida não foi fácil, pois até a última hora não havia recursos, e Priscilla, a sua esposa, não conseguia obter forças para apoiar a empreitada - além disso, estava com a saúde delicada. Ao deixar Liverpool, sentiu que Deus falou-lhe de uma maneira muito estranha: "Esta viagem não é somente para o Sudão, é para todo o mundo não evangelizado". Nesse momento parecia verdadeiramente muito estranho, mas o tempo demonstraria que era verdadeiro.
Na véspera da separação, um jovem perguntou a Charles: "É certo que você na idade de cinqüenta e dois anos, proponha-se a deixar o seu país, o seu lar, a sua esposa, e as suas filhas?". "O que?", disse Studd. "Você não esteve falando esta noite do sacrifício do Senhor Jesus Cristo? Se Jesus Cristo for Deus e morreu por mim, então nenhum sacrifício poderá ser muito grande para que eu o faça por ele". Quando estava sobre a plataforma, para tomar o trem, escreveu em um papel duas linhas de poesia improvisada, e o deu a um amigo: "Que minha vida inteira seja / uma cruz oculta que a Ti revela".
Pouco antes da partida de Studd, Priscilla teve uma experiência que trouxe alívio ao seu coração. O Senhor lhe falou uma noite através do Salmo 34, e de Daniel 3:29. "Senti que todo temor se desvaneceu, todas as minhas preocupações, tudo o que "deixava só" ia ter um significado, todo o temor de paludismo e flechas envenenadas dos selvagens, e fui à cama me regozijando. Essa noite eu ri com o "riso de fé". Nesta mesma noite escreveu a sua experiência ao seu marido.

A viagem e os movimentos estratégicos
O único acompanhante que teve Studd nesta empreitada foi o jovem Alfred B. Buxton, filho de um velho amigo dos dias de Cambridge. Acabava-se de graduar na Universidade, mas renunciou a completar o seu curso de medicina para ir com ele. "Muitas foram as dificuldades e os obstáculos em nosso caminho: não tínhamos passado por ali antes, não conhecíamos o idioma dos indígenas, enquanto que o francês -o idioma dos funcionários belgas- eu não sabia, apenas um pouco de francês "de cão", e Buxton um pouco de francês "de gato" - o pouco que recordávamos do colégio. Mas sempre perguntávamos aos funcionários juntos, e era notável quão freqüentemente se o cão não começasse a latir, o gato podia emitir um miado".
Na viagem, Buxton adoeceu gravemente, sofreram um incêndio de uma tenda de campanha, e os familiares do jovem tentaram dissuadir-lhe por carta de seguir avançando. Uma vez se perderam na selva, ficaram impedidos de avançar por meses. Caíram nas mãos de canibais, mas "como os dois eram magros e duros, não foram tentado mais do que puderam suportar".
Um dia Studd adoeceu gravemente. De repente veio em sua mente a palavra: "Está alguém doente entre vós? Chame os anciões da igreja, e orem por ele, ungindo-o com óleo no nome do Senhor" (Tg. 5:14). O problema é que não havia nenhum ancião -o que havia não passava de vinte- também não havia óleo, a única coisa que havia era querosene. Pois, não podia ser estreito de mente em tal severa ocasião. Assim Buxton molhou o dedo em querosene, ungiu a testa e em seguida se ajoelhou e orou. "Como Deus fez, não sei, nem me importa, mas isto sei, que na manhã seguinte, tendo estado doente à beira da morte, despertei são. Podemos confiar pouco nele, mas não podemos confiar muito em Deus".
Depois de nove meses, chegaram a Niangara, no coração da África, em outubro de 1913. Depois de duas tentativas falidas, o Senhor os guiou até Nala, onde estabeleceram o seu centro de operações. As tribos das imediações, recentemente hostis, agora eram amáveis e colaboravam com os missionários. De Nala se estenderam até Poko e Bambioi, com o qual tiveram quatro centros estratégicos cobrindo centenas de quilômetros e alcançando umas oito tribos. Agora tinha chegado o momento de ocupar os centros e evangelizar.

Os primeiros frutos. Retorno à Inglaterra
Uns dois anos depois, tiveram os primeiros batismos em Niangara e em Nala. Alfred Buxton escrevia: "Cada um dos batismos de Nala daria um título atraente para o "Grito de Guerra": "ex-canibais, bêbados, ladrões, assassinos, adúlteros e blasfemos entram no Reino de Deus". Nas reuniões para confissão de pecados, houve alguns testemunhos notáveis: "Não há lugar em meu peito para todos os pecados que cometi", "Meu pai matou a um homem, e eu ajudei a comê-lo", "Quando eu tinha três anos, lembro que meu pai matou um homem porque ele tinha matado o meu irmão, eu também comi do guisado". Certa vez, um recém convertido amedrontou a uns aborígines hostis com estas palavras: "Recordem que em meu tempo comi homens melhores que vocês!".
No final de 1914, Studd viajou para a Inglaterra para recrutar novos obreiros. Nesse tempo, a sua esposa, que tinha estado muito mal de saúde, se dedicava totalmente a apoiar a obra do seu marido na África. Ainda com a saúde muito frágil, formou círculos de oração, editou folhetos mensais aos milhares, escreveu vinte ou trinta cartas por dia, e editou os primeiros números da "Revista da H.A.M." ("Missão do coração da África", seu nome em inglês). Assim a encontrou Studd quando chegou na Inglaterra. Assim, em dois anos o coração da África tinha sido explorado por um velho fisicamente arruinado, enquanto que a sede da Inglaterra tinha sido estabelecida por uma inválida a partir do seu divã.
Pela última vez em sua vida, Studd percorreu a Inglaterra, insistindo e rogando ao povo de Deus para que se levantasse e se sacrificasse pela África. Poucas vezes alguém advogou na causa dos pagãos como ele advogou. Na revista publicou mensagens eletrizantes: "Há mais do que o dobro de oficiais cristãos uniformizados aqui, entre os quarenta milhões de habitantes pacíficos e evangelizados da Grã-Bretanha, que o total das forças de Cristo lutando à frente entre mil e duzentos milhões de pagãos. E, no entanto, os tais se chamam soldados de Cristo! ... O chamado de Cristo é dar de comer ao faminto, não ao que está satisfeito; a salvar os perdidos, não aos de dura cerviz; não a edificar cômodas capelas, templos e catedrais na Inglaterra, nos quais adormecem os cristãos professantes com hábeis ensaios, orações formais e programas artísticos, mas a levantar igrejas vivas entre os desamparados... Mas isto só pode ser realizado por uma religião do Espírito Santo incandescente, não convencional e sem travas, onde não se rende culto nem à Igreja, nem ao estado, nem ao homem, nem às tradições, mas somente a Cristo e a ele crucificado".
Em julho de 1916 tudo estava preparado para a sua volta para a África. Um grupo de oito foi preparado. Incluíam a sua filha Edith, que ia se casar com Alfred Buxton. Nem ele nem Priscilla tiveram a mais remota idéia de que esta seria a sua despedida da Inglaterra para sempre, e quase a sua despedida dela sobre a terra, pois nos treze anos seguintes se veriam somente por uma escassa quinzena.
Os primeiros missionários nativos
Em Nala, a recepção foi maravilhosa. O que Studd deixou em sua partida para a Inglaterra era uma concessão não ocupada, mas agora havia ali dezenas de nativos cristãos, atentos nas reuniões, e dando graças a Deus. Studd distribuiu a sua equipe de obreiros em cada um dos pontos estratégicos, ocupando dessa maneira um território de mais ou menos a metade da Inglaterra. Em abril de 1917 havia ao redor de cem convertidos batizados. Muitos caciques levantaram escolas e casas para centros de instrução e evangelização. Um deles deu testemunho de que uma vez tinha perdido por completo o conhecimento e tinha morrido. Os seus amigos cavaram um túmulo e estavam colocando-o ali, quando se levantou e disse que tinha visto o próprio Deus, que lhe disse que não passaria muito tempo antes que viessem os ingleses e lhes ensinariam sobre o Deus verdadeiro. O cacique contou essa historia a muitos, e por essa razão costumavam referir-se a Deus com o nome de 'inglês'.
No mês de janeiro, uns quinze ou vinte convertidos saíram voluntariamente para pregar por três meses nas regiões "ao derredor e mais adiante". Em seu regresso, mais de cinqüenta queriam ir. Studd explicava assim a vantagem de usar missionários nativos para evangelizar os aborígines, em vez de missionários forasteiros: "Nós, os evangelistas brancos, temos cinco carregadores cada um para levar os nossos pertences. Eles levavam cada qual os seus. Cada homem ou mulher levava uma cama, mas esta consiste somente em uma esteira de palha; por toda a roupa de cama leva uma manta fina, se é que leva uma. A única caixa com mantimentos que possui está sempre fora da vista e atrás do cinturão, do qual pendura uma faca e um caneca esmaltada; um chapéu de palha, fabricado por eles mesmos e uma sunga, e assim está completo o missionário do coração da África".
Quando se despediu do seu novo contingente de missionários, discursou com estas palavras, muito à "maneira Studd":
"Se não quiserem encontrar-se com o diabo durante o dia, encontrem-se com Jesus antes do amanhecer.
"Se não quiserem que o diabo lhes dê um golpe, golpeiem-no primeiro, e golpeiem-no com todas as suas forças, de maneira que esteja muito estropiado para responder. "Preguem a Palavra" é a vara que o diabo teme e odeia.
"Se não quiserem cair, caminhem: e caminhem direito e ligeiro!"
"Três dos cães com os quais o diabo nos caça são: orgulho, preguiça e cobiça". Depois da oração de despedida, foram-se cantando. A sua volta, um deles disse: "Não houve nada fora que poderia tirar o gozo de dentro".
Como conseqüência da evangelização, muitos convertidos se agregavam e tinham batismos quase semanalmente. Com gozo louvavam a Deus, com hinos muito simples, mas diretos. Um dia, depois de uma reunião, um cacique parou e disse: "Eu e a minha gente e meu irmão cacique e sua gente queremos lhe dizer que cremos estas coisas a respeito de Deus e Jesus, e todos queremos seguir o mesmo caminho que você, o caminho para o céu".
Outro convertido foi o grande cacique de Abiengama, que foi um canibal que recentemente tinha capturado e comido quatorze indígenas. Mas quando a sua principal esposa ouviu pela primeira vez do Deus grande e amoroso, exclamou: "Sempre pensei que deveria haver um Deus assim".
Studd chegou a ser um homem muito humilde. Quando precisou separar-se do seu genro Baxter, por causa da obra, este lhe pediu publicamente para lhe impor as mãos. No entanto, Studd pediu-lhe que subisse em uma cadeira e ungiu os seus pés!. Ao abaixar-se, Baxter lhe disse: "Bwana ("Cacique Branco", como lhe chamavam os indígenas), você me fez uma artimanha hoje, mas foi uma artimanha de amor". Studd falou-lhe palavras muito elogiosas: "Ninguém, a não ser Deus jamais poderá saber a profunda fraternidade, gozo e afeto da nossa cotidiana comunhão social e espiritual, pois não há palavras que a possam descrever".

Reversos e satisfações
Nos anos seguintes, a obra teria que experimentar duros reversos, porque muitos dos cristãos mais destacados caíram em pecado. Isso submergiu Studd em uma grande enfermidade. Mas isso não era tudo: "Parece-me que as desilusões constituem o maior sofrimento", dizia. Diante disto, só cabia redobrar as orações. Todas as manhãs, antes que saísse o sol, agrupava-se uma multidão de convertidos para cantar e orar. "OH, as orações que fazem! Nada fútil, mas disparos ardentes dos seus próprios corações". Muitas vezes intercediam por ele de maneira muito graciosa: "Senhor, aí está Bwana. É um homem muito velho (tinha sessenta anos), a sua força não vale nada. Dá-lhe a tua, Senhor, e o Espírito Santo também". Outro orou uma vez: "OH, na verdade o Senhor tem sido bom ao fazer que Bwana viva dez anos sobre a terra, agora faça que viva mais dois anos".
A ajuda chegou na primavera de 1920. Primeiro foi um grupo, em seguida dois e três, de homens desmobilizados da guerra, e a partir disso, houve uma fluência contínua de recrutas, de modo que em três anos os obreiros aumentaram de seis até quase quarenta.
Enquanto isso, as regiões mais à frente estavam chamando urgentemente. Em 1921, quando Alfred Buxton voltou para encarregar-se da obra em Nala, Studd pôde chegar até Ituri, quatro dias ao sul. No ano seguinte moveu o seu quartel geral para Ibambi.
A partir daí, era famoso em muitos quilômetros ao derredor: a figura magra com a barba espessa, nariz aquilino, palavras ardentes, mas riso alegre. Chamavam-no simplesmente "Bwana Mukubwa" (Grande Cacique Branco). Muitos eram chamados Bwana (Cacique Branco), mas ninguém e somente ele era Bwana Mukubwa.
Em Ibambi chegaram às centenas para serem ensinados e batizados. Vinham de distâncias longínquas, de oito e dez horas, para ouvir a Palavra de Deus. "Achei uns mil e quinhentos negros, todos apinhados como sardinhas, de cócoras no chão nos raios abrasadores do sol africano do meio-dia. Não tinham nenhum templo, nem sequer um tablado. Estão cantando hinos a Deus com o coração e língua e voz; é um grande coro sem treino e sem exibição, produzindo melhores melodias para Deus e para nós que um coro de mil Carusos. Podemos observar os seus rostos ofegantes enquanto estão ali absorvendo cada palavra do pregador. Estão ávidos pelo Evangelho".
Certa vez um dos colaboradores de Studd mostrou uma moeda para explicar o dom da salvação, e disse: "O primeiro que vier, a receberá". A resposta que recebeu, causou-lhe a maior surpresa da sua vida: "Mas senhor, não viemos por dinheiro, mas para ouvir as palavras de Deus". Outro pregador tinha já falado bastante, e disse que ia terminar. Veio a voz de um velho no meio da multidão negra: "Não se cale, senhor, não se cale! Alguns de nós são muito velhos e nunca ouvimos estas palavras antes, e temos pouco tempo para ouvir no futuro".
Em muitos outros lugares era o mesmo. Muitas vezes foi dito a Studd que voltasse para a Inglaterra, mas tinha começado a segar uma colheita amadurecida e não quis ser persuadido, nem neste tempo nem depois. Sempre deu a mesma resposta: Deus lhe havia dito que viesse quando todos lhe opuseram, e apenas Deus podia lhe dizer quando devia retornar. "Se tivesse aceitado os comentários das pessoas, nunca teria sido missionário e nunca teria havido uma H.A.M.".

A obra se estende
Enquanto isso, na Inglaterra, Priscilla, a esposa de Studd se convertia em um ciclone, servindo à causa de seu marido na África. Deus a levou aos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelandia, Tasmania e África do Sul, estimulando os cristãos a comprometer-se com a causa. Não havia melhor conferencista missionária no país. Falava como se ela mesma tivesse vivido todas as experiências de seu marido na África. Ninguém conheceu a cruz cotidiana que levava, a distância que os separava, a impossibilidade de estar com ele e cuidar dele. Studd e sua esposa tinham colocado desde cedo a sua carreira e sua sorte no altar; agora, a saúde, o lar e a vida familiar seguiram também. Studd disse certa vez: "Tenho buscado em minha vida e não sei de algo mais que possa ter ficado para sacrificar para o Senhor Jesus".
A chegada de Gilbert Barclay, o marido de uma das filhas, em 1919, para ocupar-se da obra na Inglaterra, deu início a uma nova era na Cruzada, pois deu a esta um alcance mundial, com o propósito de que avançasse para outras terras à medida que Deus guiasse e capacitasse. Adotou-se o título de "Cruzada de Evangelização Mundial" (W.E.C. seu nome em inglês), tendo cada diferente campo o seu próprio subtítulo.
Por meio de publicações em revistas e reuniões de propaganda chamou a atenção para as necessidades de outras terras, com o resultado de que em 1922 três jovens empreenderam o segundo avanço da Cruzada, a Missão ao Interior do Amazonas. Um terceiro avanço foi para a Ásia Central, um quarto para a Arábia, um quinto, para a África ocidental, e posteriormente, entrou-se no Uruguai e Venezuela.
Quanto aos recursos, Deus tinha sido fiel. A Cruzada não tinha contraído dívidas. Até a data do falecimento de Studd, Deus tinha enviado nada menos que a soma de 146.746 libras esterlinas. Apenas em vinte anos Deus devolveu a Studd quase cinco vezes a quantidade que lhe deu na China. Contudo, nem Studd nem a sua esposa tocaram em um centésimo do dinheiro da missão para uso pessoal. Deus tocou o coração de amigos anônimos para lhe enviar uma e outra vez doações para o seu uso pessoal no campo missionário.

A rotina de um missionário na África
Studd vivia em uma palhoça circular, com paredes feitas de bambus partidos, teto de palha e piso de barro gretado e remendado. Em um canto havia uma cama indígena, dada de presente por um cacique. De um lado havia uma mesa simples de cabeceira e do outro, uma prateleira com Bíblias muito usadas. Gostava de ter uma Bíblia nova a cada ano para nunca empregar uma nota e comentários velhos, mas ir diretamente às Escrituras. Este era o lar de Studd, dormitório, cozinha e sala de estar, tudo em um.
Próximo ao pé da cama havia um fogão aberto sobre o piso de barro. Ali se deitava sobre uma cama nativa, o seu 'moço', que lhe servia como criado. O seu dia começava por volta das quatro da manhã, quando o moço lhe servia uma xícara de chá, e começava a sua hora devocional. Ali ele recebia a palavra que em seguida compartilharia nas reuniões públicas. Não necessitava mais preparação. Certa vez disse: "Não vá para a sala de estudo para preparar um sermão. Isso é pura tolice. Entra em sua sala de estudo para ir para Deus e voltar tão ardente que a sua língua seja como um carvão aceso que te obrigue a falar".
Durante o dia realizava muitas tarefas, desde atender as construções até escrever as suas várias correspondências um sábado a cada quinze dias. Começava pela manhã e terminava ao anoitecer. Em seguida, empacotava as suas coisas e saía, acompanhado dos seus fiéis colaboradores indígenas, rumo a algum posto avançado para compartilhar no dia de domingo. Viajava quase toda a noite, e ao amanhecer já estava em seu destino. As pessoas, convocadas pelos tambores através da selva, ia desde todos os arredores, preparados com um pouco de comida e esteiras, para estarem vários dias, se fosse necessário.
Pela manhã, reunia-se com os missionários, e pela tarde com todos os fiéis. Quase sempre se reuniam entre mil e duas mil pessoas. A reunião começava com uma hora inteira de canto, que eles amavam, sendo acompanhados por Bwana ao banjo. Quase todos os hinos tinham sido escritos por ele próprio. Quando o canto chegava ao seu clímax, Studd ficava em pé para dirigir um coro vigoroso com vozes de aleluia final.
Seguia um tempo de oração, possivelmente por quarenta minutos. Um após o outro se levantava para orar, levantando a mão para o céu ao fazê-lo. Enquanto alguém orava, outro ficava de pé, preparado para começar quando o outro acabasse (se não existisse esta regra, quatro ou cinco estariam orando de uma vez). No final de cada oração diziam: "Ku jina ya Yesu" (no nome de Jesus), que é repetido por toda a congregação. Logo depois de outros cantos, Bwana compartilhava a palavra. Primeiro faz uma leitura das Escrituras, e em seguida falava. Aprazivelmente no princípio, adaptando a linguagem das Escrituras na sua linguagem. Em seguida põe todo o seu coração ao expor-lhes o próprio e as conseqüências do pecado; fala do amor de Jesus, e insiste a arrependerem-se e crer, o seguirem e lutarem por ele. Falava talvez uma hora ou mais. Um hino para terminar, um tempo de oração quando se faz o chamado aos novos convertidos para que se adiantem a tomar a sua decisão. Finalmente se cumprimentam para despedir-se, dizendo: "Deus é. Jesus vem rápido. Aleluia!".
De noite, passa umas duas horas meditando na palavra e em oração com os brancos, ou uma segunda reunião com os indígenas ao redor de um fogueira. Às vezes o 'final de semana' se estendia até na segunda-feira e na terça-feira com algumas reuniões com cristãos consagrados.

Uma maior necessidade do Espírito
Uma necessidade muito profunda se fez notória à medida que avançava a obra na África: a consolidação de uma vida reta e santa por parte dos novos convertidos. Anos atrás, estando na China, Booth Tucker tinha escrito a Studd: "Lembre que a mera salvação de almas é trabalho relativamente fácil e longe de quão importante é fazer dos santos salvos, Soldados e Salvadores". Studd agora se encontrava com este desafio no coração da África. No seu parecer, esta carência acontecia porque não tinha havido um derramamento do Espírito Santo. Por isso se propôs não dar trégua a Deus nem ao povo até que o Espírito Santo fosse derramado sobre eles. "Cristo veio para nos salvar por seu Sangue e por seu Espírito: Sangue para lavar os nossos pecados passados, Espírito para mudar os nossos corações e nos capacitar para viver retamente".
Com este critério Studd mediu os milhares de cristãos nas missões na África: "Todos nós estamos gloriosamente descontentes com a condição da igreja nativa. É bom cantar hinos e ir aos cultos, mas o que temos que ver são os frutos do Espírito e uma vida e um coração realmente trocado, um ódio ao pecado e uma paixão pela justiça". Diversos pecados se manifestaram com toda a sua força entre os crentes: a murmuração, a preguiça, o desamor.
A isto se somou ao descontentamento nas próprias fileiras missionárias. Muitos resistiam ao alto sacrifício que impunha o regime de Studd: viver em casas simples, com comidas à base de frutas, nada de férias e completa dedicação à obra. Tamanha foi a oposição, que Studd teve que despedir dois obreiros, pelo qual outros vários renunciaram. Studd julgava que o problema no fundo era o desconhecimento da obra da cruz e o desejo de agradar-se a si mesmo.
Ainda da Inglaterra surgiram vozes contrárias. Atribuíam esta postura de Studd como conseqüência da febre e do cansaço. Na verdade, estes foram os anos de crise da missão. "Às vezes sinto que minha cruz é pesada, mais do que posso suportar, e temo que freqüentemente me sinta como se fosse desmaiar debaixo dela, mas espero seguir. O meu coração parece gasto e moído sem remédio, e em minha profunda solidão freqüentemente desejo ir-me, mas Deus sabe o que é o melhor, e quero fazer até o último pouquinho de trabalho que ele deseja que faça".
A mudança veio em 1925. Uma noite Bwana veio para o culto familiar em Ibambi. O seu coração estava muito pesado e tenso. Reuniram-se uns oito missionários com ele. Leram juntos o seu capítulo favorito de Hebreus capítulo 11, sobre os heróis da fé. "Será possível que pessoas como nós marchem pela rua de Ouro com estes? Será para os que são achados dignos! Qual foi o Espírito que fez com que estes mortais triunfassem e morressem desta maneira? O Espírito Santo de Deus, a qual uma das suas características principais é ousadia, um valor, um anseio de sacrifício para Deus e um gozo nele que crucifica toda fraqueza humana e os desejos naturais da carne. Esta é nossa necessidade esta noite! Deus dará a nós como deu a eles? Sim! Quais são as condições? São sempre as mesmas: 'Vende tudo'! O preço de Deus é um. Não tem desconto. Ele dá tudo aos que dão tudo. Tudo! Tudo! Morte a todo o mundo, toda a carne, ao diabo e ao que possivelmente é o pior inimigo de todos: vocês mesmos.
Alguns missionários, ex-combatentes da Guerra, compararam o serviço ao Senhor com a entrega dos soldados para a sua causa. "Ao 'Tommy' britânico não lhe importa nada o que possa lhe acontecer, contanto que cumpra o seu dever para com o seu rei, a sua pátria, o seu regimento e para consigo mesmo". Estas palavras foram justamente a faísca que necessitava para acender o pavio. Studd se pôs em pé, levantou o braço e disse: "Isto é o que necessitamos e isto é o que eu quero! OH Senhor, a partir de agora não me importa o que possa me acontecer, vida ou morte, sim, ou o inferno, contanto que o meu Senhor Jesus Cristo seja glorificado". Um após o outro dos presentes se puseram em pé e fizeram o mesmo voto.
Essa noite foi uma nova companhia de obreiros que saiu da palhoça. Havia risos em seus rostos e brilho em seus olhos, gozo e amor inefáveis. Uma nova resolução. A bênção se estendeu até a estação mais remota. Desde então, o amor, o gozo no sacrifício, o zelo pelas almas das pessoas, foi a tônica da obra. Incríveis páginas de heroísmo e vitória foram escritos desde então na missão.
O temor de Deus se apossou das pessoas. Foi evidenciado um novo resplendor em seus rostos, nova vida nas orações, um ódio ao pecado, ao engano e a impureza. "Finalmente a obra está alcançando um fundamento sólido", escrevia Studd. Começou-se a ver, como ele desejava, uma igreja santa e cheia do Espírito.

Priscilla na África
Só uma vez Priscilla, a sua esposa, foi para a África para estar com o seu marido, e isto, só por quinze dias. Foi no ano de 1929, dois anos antes da morte de Studd. Uns mil cristãos indígenas se reuniram para vê-la. Sempre lhes havia dito que a esposa do seu Bwana não podia vir, porque estava na Inglaterra, ocupada em conseguir homens e mulheres brancos que viessem para lhes falar de Jesus. Quando a viram, deram-se conta que realmente existia tal pessoa como "Mama Bwana", e quão grande era o preço que eles tinham pago para trazer-lhes a salvação. Ela parecia muito jovem ao lado dele, que alguns pensavam que era uma filha. Falou-lhes várias vezes através de um intérprete, e assim cumpriu a visão profética que tinha tido depois da sua conversão: "China, Índia e África".
A separação foi terrivelmente dura. Priscilla não queria ir, mas a estação do calor estava para começar e a obra a necessitava urgentemente na Inglaterra. Despediram-se em sua casa de bambu, sabendo que era a última vez que se veriam na terra. Saíram juntos da casa e desceram o caminho até o automóvel que lhes esperavam. Não disseram uma palavra mais. Ela parecia ignorar completamente o grupo de missionários parados ao redor do automóvel para despedir-se. Entrou com o rosto rígido e a vista fixa diretamente diante dela, e se foi.

Declínio e partida
Os últimos dois anos de Studd foram muito difíceis por causa do seu estado de saúde, sua extrema fraqueza, as náuseas, os ataques do coração, mas sobretudo, pelos terríveis ataques de afogo e violentos calafrios, quando ficava de uma cor escura e o seu coração quase deixava de pulsar. A causa disto não foi descoberta até que esteve no leito de morte, quando um médico diagnosticou-lhe pedras na vesícula. Contudo, o gozo sobrepujou em muito os sofrimentos, pois Deus lhe permitiu ver cumpridos os dois grandes desejos do seu coração: unidade entre os missionários e evidentes manifestações do Espírito Santo operando entre os indígenas.
Uma companhia de uns quarenta missionários rodeava-lhe e eram-lhe como filhos e filhas. Eles lhe atendiam com tanta devoção como se fora o seu próprio sangue e carne. É impossível descrever o laço de afeto entre Bwana e os missionários, a recepção que lhe davam quando visitava uma estação, a afluência constante de cartas, a lealdade em tempos de crise, o espírito fraternal quando se reuniam todos nos dias de Conferência em Ibambi.
Um dos missionários presentes nestas conferências para obreiros, Norman P. Grubb, genro de Studd, escreve: "A maior de todas as lições que aprendemos ali foi que se obreiros cristãos que quiserem contínuo poder e bênção, têm que separar um tempo para reunirem-se juntos diariamente, não para uma reunião curta e formal, mas o bastante para que Deus possa falar através da sua Palavra, para confrontar juntos os desafios da obra, para tratar algo que estorve a unidade, e em seguida irem a Deus em oração e fé. Apenas isto é o segredo de luta vitoriosa e espiritual. Nenhuma quantidade de trabalho tenaz ou pregação fervorosa pode tomar o seu lugar".
De todos os indígenas cristãos, não havia nenhum a quem Studd amasse mais que ao canibal convertido, Adzangwe, e seu amor era retribuído plenamente. Uma das últimas visitas de Studd foi à igreja de Adzangwe. Ele estava morrendo, mas quando soube que o seu amado Bwana tinha vindo, nada pôde lhe deter. Pediu ajuda e foi levado à casa dos missionários, onde Bwana estava sentado. Bwana saiu para recebê-lo, e o convidou para sentar-se à sua frente. Mas antes de sentar-se ele próprio, tomou os almofadões da sua cadeira e os arrumou ao redor do corpo do canibal convertido. Era um quadro em miniatura daquele que, embora fosse rico, se fez pobre por nós, e que não veio para ser servido, mas sim para servir. Esta foi a última vez que se viram.
Em 1930 Charles T. Studd foi feito "Cavaleiro da Real Ordem do Leão" pelo rei dos belgas, por seus serviços no Congo.
Na quinta-feira 16 de julho de 1931, C. T. Studd foi chamado pelo Senhor. A sua última palavra, tanto escrita como dita em seu leito de morte, foi: "Aleluia!". Em seu sepultamento estiveram presentes indígenas e brancos. Eles o levaram para a sepultura, e o baixaram à cova.
Nessa sexta-feira os indígenas não quiseram partir. Houve uma esplêndida reunião, com orações que nunca antes tinham ouvido. Todos pareciam ter o mesmo pensamento em suas mentes, o de consagrar-se de novo a Deus, e de dizer que, embora Bwana tivesse sido levado deles, seguiriam mais ardentes que nunca para Jesus.
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