O momento é agora
Dentre muitos acontecimentos no meio evangélico,
a década de 90 foi marcada por um despertar missionário que até então não tinha
acontecido no Brasil. Inúmeras igrejas e líderes acordaram para a realidade de
que a Igreja Brasileira tinha crescido em tamanho e maturidade o suficiente
para migrar de um país recebedor de gente e de recursos para um enviador de
missionários para o plantio de igrejas em outras nações.
Com esse despertar, muitos, especialmente os de
fora, começaram a enxergar o Brasil como “celeiro de missionários”: um país que
iria inundar as nações com seus evangelistas de Bíblia na mão e samba no pé. A
vibração com essa possibilidade foi grande. Muitos missionários foram enviados
por se sentirem chamados às nações, ainda que alguns não estivessem com o
preparo adequado.
Mesmo sendo um tempo precioso e marcante para o
movimento missionário, as expectativas de muitos geraram certa frustração
quando as projeções entraram em conflito com a realidade. Em uma frente, o
missionário enviado sem o preparo suficiente encontrou no campo um contexto bem
mais complicado do que o que ele tinha em mente. A língua era difícil de
aprender, as culturas estavam lapidadas em séculos de resistência ao Evangelho,
a solidão incomodava de um lado e os conflitos com equipes multiculturais, de
outro.
Para muitos, o romantismo foi atropelado pelas
dificuldades, gerando feridas que comprometeram a jornada. Na retaguarda,
muitos imaginaram que a plantação de igrejas em locais fechados ao Evangelho
seria simples e rápida como suas experiências em território brasileiro.
Assim, com pouco tempo dedicado pelo
missionário, já se aguardava notícia de dezenas de convertidos e uma igreja
sólida plantada. O romantismo se transformou em desânimo e abandono de projetos
que estavam apenas começando.
Diante da descrição desse quadro, poderíamos
imaginar que o projeto missionário transcultural da Igreja Brasileira estava
caminhando rumo ao fracasso. Nada mais errado para se pensar. Ele caminhava,
sim, em direção à maturidade. A Igreja Brasileira está em condições de avançar
com muito mais maturidade rumo à plantação de igrejas no campo transcultural. É
como num namoro que começa com uma paixão adolescente para ir se transformando
em um relacionamento duradouro e um casamento sólido. Aprendemos e continuamos
a aprender muito. Algumas particularidades dessa caminhada só podem nos dar
mais ânimo para avançar.
A Experiência
Existem igrejas, agências
missionárias e missionários com ótima experiência no preparo, no envio e no
pastoreio de missionários no campo. Ninguém precisa “começar do zero” ao se
envolver com missões. Pesquise, conheça os desafios para a sua igreja e se
prepare melhor para orientar seu vocacionado. Converse com outros pastores,
líderes de agências missionárias e missionários, tanto brasileiros que estão
por longos anos no campo quanto estrangeiros que dedicaram suas vidas à
evangelização no Brasil. A troca de experiências é uma das melhores formas para
aprender de maneira rápida e eficaz.
O Preparo
Um dos maiores aprendizados dos últimos anos foi
que não podemos enviar missionários ao campo sem um bom e adequado preparo. Os
desafios são inúmeros, e eles precisam estar com a Teologia afiada, o
conhecimento da língua, estabilidade emocional para enfrentar as lutas do campo
e um preparo transcultural para fazer frente ao que vão experimentar “fora do
ninho”. Muitos missionários retornaram prematuramente porque não estavam
devidamente preparados para o que os aguardava, mesmo que estivessem
suficientemente “espirituais”.
O Pastoreio
Envolver-se com missões é estender o pastoreio
aos quatro cantos da Terra. Ao afastar-se da família, da igreja local e da
própria cultura, o missionário naturalmente perde fontes importantes de
alimento emocional e espiritual e precisa de um apoio extra e constante de sua
liderança. Quando enviamos missionários ao campo, devemos intensificar o
cuidado com eles em vez de diminuir. E estamos vivendo tempos em que a
tecnologia nos favorece como nunca aconteceu. Com um simples clique, trocamos
mensagens, fotos e vídeos com eles em tempo real. Com certeza, poderíamos
discorrer muito mais sobre o quanto as missões da Igreja no Brasil
amadureceram.
Mas uma coisa é certa: ainda há muito a ser
feito. Deus nos tem preparado para grandes obras e já é tempo de deixarmos de
ser “celeiro” de missões para sermos uma plataforma ativa de lançamento de
missionários transculturais às centenas para os quatro cantos da Terra.
O tempo de se envolver é agora! O Senhor está
despertando como nunca os obreiros para a Sua seara. Que possamos todos fazer
parte desse despertar.
Por Luís Fernando Nacif Rocha.
Pastor de missões
da Oitava Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte – MG.
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