Wilton Dias Silva
“Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes.” Sl 126.5-6.
Todos nós sabemos que estamos vivendo na era da informática, da tecnologia ou por que não dizer na era do capitalismo e consumismo sem fronteiras? Em todas as áreas têm sido feitas pesquisas para se descobrir como facilitar e agilizar nosso dia a dia.
Até mesmo dentro de nossas igrejas têm sido usados métodos que buscam resultados fáceis visando encher os bancos, aumentar o número de pessoas e arrecadação financeira; mesmo que para isto tenham que esquecer certos princípios bíblicos determinados não pelo homem, mas sim pelo próprio Deus, a quem dizem estar ‘servindo’! Todos, ou quase todos, buscam resultados rápidos. Queremos ver frutos nos trabalhos. Quantas conversões já houve? Quantos batismos? Quantos estão na classe de catecúmenos? E assim por diante. Acredito que, como filhos de Deus queremos que “…ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2.10-11).
Porém, mesmo na era da tecnologia, algumas coisas continuam sendo feitas como há muito tempo atrás, sem a ajuda da informática ou de máquinas. Há ainda muitas coisas sendo feitas que têm que esperar o tempo determinado por Deus!
Quando cheguei ao trabalho entre os Tapirapés, em outubro de 2003, percebi que alguns índios tinham roça. Logo, meu colega Edson Rocha e eu começamos a trabalhar junto com os homens em suas roças. Este tipo de roça é conhecido como roça de toco, pelo fato de ser feita manualmente, sem ajuda de trator ou animais, onde as árvores são cortadas aproximadamente entre 70 cm a 1 m do chão, ficando assim o toco da árvore de pé por muito tempo no local.
Todos nós gostamos de comer os frutos da roça. Mas nem todos sabem como se dá todo o trabalhoso processo para que isso aconteça. Quero então comparar a roça com a Obra Missionária. Normalmente, o trabalho na roça é dividido da seguinte forma: 1ª etapa - a escolha de um local na mata; 2ª etapa a demarcação do local; 3ª etapa início da brocagem (usando facão ou foice): corte dos arbustos, cipós e da vegetação mais fina; 4ª etapa - derrubada das árvores com machado, dois dias depois da brocagem e com as energias recuperadas; 5ª etapa - queima de tudo depois de aproximadamente trinta dias, quando tudo já está seco; 6ª etapa - segunda queima para os galhos mais grossos e algumas árvores que não queimaram direito (são colocados juntos e queimados); 7ª etapa - início do plantio das sementes; 8ª etapa limpeza da roça porque depois das primeiras chuvas vêm as ervas daninhas e é preciso tirá-las, senão acabam sufocando o que foi plantado; 9ª etapa colocação de uma cerca para proteção contra os invasores: veado, anta, cavalo, etc.
Depois de todo este trabalho é que as plantas irão crescer e dar frutos. Só que durante todo este processo acontecem ataques de formigas (de fogo, tucandeiras, etc.), marimbondos, abelhas, mosquitos, muriçocas, piuns, e ainda há o risco de picadas de cobras e escorpiões!
Todos nós missionários, liderança da missão, pastores, igrejas, queremos ver os frutos do nosso trabalho. Daí surgem as perguntas: Quantas conversões já houve? Quantos batismos? Quantos cultos têm por semana? Vocês já têm a Bíblia traduzida na língua indígena? Há quanto tempo estão no trabalho? E assim por diante!
Querido leitor, talvez você esteja enfrentando algumas dificuldades no processo de “construção da sua roça” (ministério), mas é preciso perguntar: em que etapa deste processo estou? Os frutos não surgem na época em que fazemos a broca ou a derrubada. Tanto na Obra Missionária Indígena como em outros ministérios somos atacados por vários insetos (desânimo, problemas de saúde ou emocionais, financeiros, frustrações, perdas, provações, etc), além do risco de sermos “picados” pelas tentações e armadilhas do diabo. Mas é preciso trabalhar! Quero desafiá-lo a juntar-se a nós para plantarmos uma roça para o Senhor, tendo almas como frutos eternos. Como diz a letra de uma música: “Mas quem observa o vento não plantará! Quem olha pras nuvens nunca colherá! E semear parece em vão, e vem do coração a voz: deixa pra lá!”
É Deus que opera o germinar nas vidas e as torna frutíferas, embora muitas vezes tenhamos que semear tendo nossas lágrimas, suor e/ou até mesmo sangue como adubo. Junte-se a nós missionários! Pegue suas ferramentas: facão, machado, enxada, foice (Palavra de Deus, oração, ânimo, coragem, etc.). Preparemos uma roça para o Senhor!
Wilton Dias Silva
Missinário junto a Tribo Tapirapé-MT
Nenhum comentário:
Postar um comentário