sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Meu Lugar em Missões - Myrtes Mathias



Talvez eu não tenha a sorte das estrelas
que belas cintilam, dando inspiração.
Talvez meu campo seja o mais mesquinho;
que me importa, se me tornar caminho
por onde passe a Tua compaixão?

Escreveu D. Malloch: "Para todos há na terra alguma coisa. Há muito trabalho a fazer / e poucos trabalhadores. / E a tarefa a escolher é sempre a mais próxima..." Este deve ser o espírito daquele que se aproxima de Deus e da consciência, para perguntar: Qual será "meu lugar em Missões"? A tarefa mais próxima pode ser ir, pode ser preparar-se, pode ser contribuir, pode ser orar... Cada um deve chegar a uma conclusão por si mesmo. Não adianta que alguém diga, que muitos escrevam, que professores ensinem. Tudo isso pode ajudar. Mas aquele que se encontra no vale da decisão, ou na encruzilhada da escolha, deve tomar a primeira e fazer a segunda, apenas com a orientação de Deus. Encontrar o lugar certo na vontade de Deus é encontrar a Felicidade, a paz verdadeira. Não o Nirvana. Uma felicidade atuante.
A ordem de Jesus é uma mensagem de urgência: "Não dizeis vós: Ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Ora, eu vos digo: Levantai os vossos olhos e vede os campos, que já estão brancos para a ceifa" (João 4:35). A colheita tem data fixa. Na sua época os agricultores convocam trabalhadores extras, fazem mutirão, para que o produto não se perca.
É uma obra de urgência porque não sabemos de quanto tempo dispomos para o trabalho. A juventude é tão efêmera quanto a Flor do Pequeno Príncipe. "...é como a erva, e toda a sua glória como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor" (I Pedro 1:24). David Brainerd morreu aos 30 anos, entre os índios americanos; Dr. Wallace ergueu com uma breve vida e gloriosa morte seu monumento em terras comunistas; Noemi Campêlo recebeu de Deus apenas dois anos para serem gastos entre os craôs, e Corinto Moreira menos que isso para evangelizar o Acre. Por que foi assim com esses e com tantos outros, só Deus sabe.
Cada dia que passa representam 24 horas de sofrimento para milhões. Quem viaja pelo sertão de Goiás, e de outros Estados, contempla nos ranchos à beira das estradas, homens e mulheres precocemente envelhecidos: pele amarela, magros, bócios enormes, deformantes. Crianças seminuas pedem sempre alguma coisa: carona, favor para levar um recado...
Cada dia que passa, a miséria será maior. A doença prosseguirá a marcha. Os vícios virão.
Cada dia que passa, a ausência de Cristo será cada vez mais um anseio, um grito inconsciente. Falta-lhes alguma coisa – falta-lhes o principal.
Será preciso gastar anos e anos preparando-se para responder a essas necessidades tão simples e ao mesmo tempo vitais? para levar lenitivo aos que sofrem? para dar alguma coisa a quem nada tem?
Enquanto você pensa tanto, que estará acontecendo nos lugares que você só conhece de nome, se é que conhece? Quantos estarão morrendo por não haver no local alguém que saiba aplicar uma injeção? Enquanto você pensa, quantas crianças se tornam adultas sem conhecer uma letra, incapazes de ler um folheto, caso até eles chegue o folheto?
Não obstante, Missões exige preparo. Segundo Lucas, as Últimas palavras de Jesus a seus discípulos foram: "...ficai, porém, na cidade, até que do alto selais revestidos de poder." Sair da cidade somente quando preparados para a Obra.
Antes de partir para Labarene e tornar-se o apóstolo dos tempos modernos, Albert Schweitzer, músico de renome, formou-se em medicina. Mas, assim que se formou, foi, real e imediatamente, para a África.
Gandhi fez-se advogado para defender a causa do seu povo. Florence Nightingale aprendeu tudo quanto possível em sua época para melhor servir. Assim muitos outros, contemporâneos conhecidos de todos nós. Lá no Xingu, uma jovem médica aprende a língua ainda não escrita de nossos índios, no ideal de um dia, talvez distante, entregar-lhes a palavra de Delis. Para isso, deixou o consultório em Londres e estudou Linguística, antes de vir para o Brasil. Margarida Gonçalves foi à outra América, estudou, voltou para dirigir o "Ginásio do Sertão". Prepararam-se, exaustivamente até. Mas o belo, o sublime, é não terem pensado que seria um "desperdício" de cultura, no campo que Deus lhes entregara. "Dá-me sabedoria e conhecimento, para que eu saiba dirigir-me... para julgar este grande povo..." pediu Salomão.
Quem poderá realizar as grandes intervenções cirúrgicas, salvando vidas ou evitando a invalidez, que muitas vezes se fazem necessárias nos sertões, nas terras estrangeiras? Quanta criança inutilizada para o resto da vida, vítima da ignorância de uma "curiosa", cuja boa intenção não evita o desastre?
Como responder a esta mocidade exigente e ambiciosa, sedenta de conhecimento, senão com mestres bem preparados?
Estamos certos de que Deus tem lugar certo para cada um. Ele vocaciona alguns que vão "aos lugares baldios da terra, para transformá-los em jardins de Deus". Pessoas capazes de gastarem-se durante toda uma vida, cultivando um terreno aparentemente estéril, até que aconteça o milagre. Vocaciona outros para o trabalho que traz resultados imediatos, grandiosos. Há até essa nova galeria dos "Missionários Anônimos", que ajudam indiretamente aos que se dispõem a descer à mina. "Em grandeza não é que se ganha ou se perde. Se você não puder ser a estrada real, seja um atalho."
Esta é a hora de encontrar o lugar certo. Hora decisiva. Difícil. Somos apenas uma pessoa, com uma única vida para ser gasta, com um número limitado de anos para ser investido. A longo ou curto prazo, não sabemos, mas com um grande medo de perder a oportunidade, com um grande desejo de estar ao mesmo tempo em toda parte... Esta é a hora de ficar a sós com Deus, para ouvi-lo dizer:
"Antes que eu te formasse no ventre materno... te constituí profeta às nações."

Do livro Deus Precisa de Você (JUERP).

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