sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Participando de projetos sociais apoiados pela igreja – Alguns exemplos de sucesso

 


Em seu livro Missões Para Pequenos Grupos Multiplicadores (JMN, 2017), o pastor Djalma Albuquerque dá alguns exemplos de ações sociais evangelísticas realizadas por sua igreja.


Nossa igreja (1ª PIB de Campo Grande) apoia muitos projetos sociais aqui em Campo Grande (MS), alguns dos quais precisam de voluntários para funcionar. Imagino que em sua cidade haja projetos assim também, quem sabe até organizados por sua igreja. Se for assim, o líder de missões pode incentivar os membros ou os participantes de grupos como células ou PGMs (Pequenos Grupos Multiplicadores, metodologia adotada por algumas igrejas) e segmentos como a Secretaria de Missões a marcar um dia para servir e abençoar vidas. Certamente será uma experiência inesquecível.

O grupo pode começar um trabalho em um hospital, e se já tiver alguém atuando em um, ele pode se unir e somar forças. Podemos visitar os enfermos, orar com eles, entregar presentes ou cartões escritos pelos membros da igreja, cantar músicas cristãs, entre muitas outras atividades. Para isso, podemos inclusive aproveitar as datas comemorativas do ano, como o Natal. Ações como essas farão toda a diferença na vida de quem as recebe e de quem as pratica. Às vezes não precisamos dizer nada, nem fazer nada demais, porém somente nossa presença já "fala alto" por si só. Mas esse contato precisa ser constante o ano todo.

O trabalho em nossa igreja tem o nome de Equipe da Esperança. Essa equipe visita duas mil pessoas por mês, vinte e quatro mil por ano. É muito bom quando temos alguém que ama esse ministério e se dedica a ensinar os membros de seu grupo a fazer visitas e ajudar no que for preciso. O grupo pode, por exemplo, pintar uma parede do hospital, levantar doações de cadeiras de rodas, muletas, chinelos, fraldas para adultos e produtos de higiene pessoal. No dia da entrega, o líder de missões do grupo deve estar preparado para fotografar, filmar, organizar um momento de culto com a direção do hospital para que vejam que a igreja se importa e participa.

Lembro-me de uma vez que o Projeto IDE (Instituto de Desenvolvimento Evangélico) precisava pintar as paredes de seu prédio mais antigo. Voluntários da nossa igreja se prontificaram e, em um fim de semana, conseguiram pintar prédio inteiro por dentro e por fora. Glória a Deus! Em outra oportunidade, num Natal a igreja coletou e encapou caixas de sapato e colocou dentro um brinquedo simples, além de um minipanetone, balas e pirulitos. Marcamos o dia para levar os presentes a uma comunidade carente. Foi algo maravilhoso que marcou a todos. Esse projeto atende hoje mais de cem mil pessoas por ano e, por se dedicar a crianças em risco, já recebeu recursos do Criança Esperança e da Petrobras. Hoje as crianças têm uma história linda para contar. Elas aprendem a montar instrumentos musicais e recebem aulas de robótica. Várias delas tocam na orquestra do projeto. Melhoraram seu comportamento em casa, na escola e na sociedade. Isso tudo é fruto da integração do projeto com uma igreja que ora e participa.

Há também o Projeto Nova, que resgata mulheres "profissionais" do sexo e as abriga em uma casa. No começo não sabíamos como fazer. Havia muito preconceito, muito medo. Como preservar o anonimato e ao mesmo tempo trabalhar e colher frutos? Deus levantou uma irmã abençoada, que junto com seu marido iniciaram o projeto. Depois de alguns anos a igreja começou a aprender a interagir além de orar nos grupos e células. O próximo passo foi perguntar o que podíamos fazer para ajudar. Em certa ocasião os grupos se organizaram e, em um sábado, pegaram caixas de madeira, envernizaram, cortaram e montaram suportes de flores e hortas, que embelezaram a sede do projeto. Foi um dia em que aquelas mulheres perceberam que a igreja ama longe e perto. Foi inesquecível! Eu também estava lá e perguntei a uma irmã, Elza:

- Você já conhecia o projeto?

A reposta foi negativa.

- O que está achando do trabalho? - quis saber.

- Maravilhoso! - ela disse. - Não imaginava que eu poderia ser tão útil fazendo tão pouco e me divertindo tanto na obra de Deus!

Hoje Elza é voluntária do projeto e contagia outros voluntários.

Temos outro projeto chamado Nova Criatura, que há mais de vinte anos trabalha com resgate, restauração e ressocialização de egressos do sistema prisional. São pessoas que aceitaram Jesus dentro do presídio e que, quando saem, vão para uma casa abrigo, onde tiram documentos, aprendem uma profissão e recomeçam a vida. O projeto começou pequeno, foi ganhando experiência e hoje tem uma associação que cuida dessas pessoas. No início alguns irmãos da igreja tinham dificuldades de oferecer uma nova oportunidade para alguém com aquele perfil, mas aos poucos Deus foi permitindo que o coração desses irmãos fosse tocado com testemunhos vitoriosos, e as portas foram se abrindo.

Alex é um bom exemplo. Começou sozinho a fazer tapeçaria, e deu tão certo que hoje é empresário e faz sofás, pufes, cadeiras e é líder de um PGM abençoado. Outro exemplo é Oscar. Preso por assaltar bancos, conheceu Jesus dentro do presídio e, depois de cumprir sua pena, foi para a casa abrigo. Começou lavando carros usados e aos poucos foi crescendo. Hoje é gerente da Michelin Pneus na cidade de Três Lagoas-MS. Há muitos outros testemunhos como esses. Tudo começa quando pedimos direção de Deus para fazer a sua vontade e nos dispomos a obedecer.

Outro projeto que a nossa igreja apoia é o Impacto Aventuras, que surgiu com Fernando Campos, um dos ex-presidiários. Ele abriu uma empresa de dedetização e é apaixonado por esportes radicais e de aventura. Lidera uma equipe de voluntários que vão a escolas, praças, retiros e igrejas para levar alegria e ensino de vida. Eles usam cama elástica, futebol de sabão, torre para fazer escalada, piscina de bolinhas, malha de escalada, tirolesa, giroscópio, floorball e rapel. A criançada fica louca de ver tanta coisa boa e dá atenção a uma palavra que impacta por meio do amor e da dedicação de cada um. Os PGMs da igreja abençoam o Projeto orando e se envolvendo para conhecer como é na prática o seu cotidiano. Os voluntários ajudam a montar e desmontar o equipamento, organizar filas e colocar os equipamentos, preencher fichas, cuidar da segurança, preparar lanches, limpar as áreas, conversar com os pais e ainda participam ativamente das brincadeiras.

Garanto que, quando envolvemos os membros dos PGMs em projetos sociais e eles começam a ver os milagres de Deus por meio das orações chegando ao campo missionário, eles não permanecem os mesmos.

Djalma Albuquerque


quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Os três princípios missiológicos adotados pela maior agência missionária brasileira

 


João Marcos Barreto Soares é Diretor Executivo da Junta de Missões Mundiais da Convenção Batista Brasileira. Em seu livro O Chamado Inadiável Para Completar a Missão (Convicção Editora, 2025), ele esclarece os princípios missiológicos que atualmente regem o trabalho da JMM, uma das maiores agências missionárias do mundo:

 

Quero ressaltar nossos três princípios missiológicos, que são a nossa atual base em Missões Mundiais:

 

TODOS ENVIANDO PARA TODOS

Missões Mundiais foi pensada e estruturada por muitos anos para enviar brasileiros para o campo missionário. Entretanto, hoje entendemos que precisamos enviar todos os povos para todos os lugares onde há povos não alcançados.

 

PROTAGONISMO DO NACIONAL

No passado, nossas ações missionárias eram focadas nos brasileiros. Os brasileiros eram as pessoas-chave das intervenções missionárias. Hoje, nós acreditamos e defendemos que esse protagonismo deve pertencer à igreja local.

 

OS QUATRO AUTOS DAS COMUNIDADES DO REINO

O padrão de medida que usamos para a Plantação de igrejas em Missões Mundiais são os três princípios de autonomia, já consagrados. O princípio de autonomia das igrejas batistas afirma que cada igreja local é autônoma e independente, o que significa que cada igreja tem a liberdade de tomar suas próprias decisões, tanto no âmbito de sua própria gestão, administração e estrutura organizacional, quanto na sua teologia.

Por isso, Missões Mundiais propõe mais um princípio, além dos três princípios consagrados na perspectiva denominacional batista, Vejamos estes princípios:

 

AUTOSSUSTENTO – A igreja local precisa levantar seus próprios recursos para que o trabalho aconteça. Temos histórias de igrejas, principalmente na América do Sul, que dependeram de nós por mais de 40 anos. Mas, a crise financeira chegou ao Brasil. Como continuar mantendo aquela igreja com recursos financeiros limitados? Como aquela igreja conseguiria dar um sustento digno para seu pastor local, se sempre teve um missionário brasileiro, sustentado pelas igrejas batistas brasileiras in loco?

A igreja acabava não colocando em seu orçamento o sustento do pastor, porque eles sabiam que Missões Mundiais mandaria uma família missionária para ocupar aquela posição. Então, é extremamente importante que a Igreja local entenda seu papel em gerar e cuidar dos seus próprios recursos financeiros.

 

AUTOGOVERNO – A igreja local precisa ter líderes maduros com condições suficientes para cuidar de todo o trabalho. Por que muitas vezes uma igreja não cresce? Um dos motivos é a falta de preparo de novos líderes. Um dos indicadores monitorados por Missões Mundiais é a "capacitação de líderes".

Nós queremos que nossos missionários de plantação de igreja foquem sua atuação no preparo de novos líderes, porque entendemos que serão esses líderes que darão continuidade ao trabalho.

Uma igreja precisa ter uma liderança forte e competente para que o trabalho continue sem depender de outros.

 

AUTOPROPAGAÇÃO – A igreja local precisa ter crentes com disposição em anunciar Jesus Cristo a todos. Precisa crescer por si mesma, sem depender de ninguém.

O crescimento da igreja precisa ser orgânico. Há igrejas que entendem que a função de evangelizar é exclusiva dos pastores, dos missionários ou do Departamento de Evangelismo e Missões, mas a evangelização deve ser responsabilidade de todos.

 

AUTOTEOLOGIZAÇÃO – Missões Mundiais incluiu mais um princípio que é a autoteologização, que significa que a igreja local, por ela própria, precisa conhecer a Bíblia e interpretar a mensagem bíblica em sua própria cultura.

Isso não significa que a verdade bíblica muda de um contexto para o outro, mas que igrejas, em diferentes contextos culturais, devem expressar os temas centrais da doutrina bíblica em seu próprio idioma, enquanto tratam também de questões específicas do seu próprio contexto com base nas Escrituras Sagradas.

Nós devemos ir e fazer discípulos de todas as nações respeitando a cultura local. Eu, como missionário, não posso impor.

Isso me faz lembrar do livro da Analzira Nascimento, nossa missionária em Angola durante a guerra civil – “Evangelização ou colonização? O risco de fazer missão sem se importar com o outro”. Este modelo missionário reproduz uma prática missionária colonialista, em que os "superiores" são aqueles que sabem o que é melhor para "eles".

Precisamos de um modelo missionário que trabalha e vive com o outro, e não pelo outro. Nós, igreja brasileira, devemos respeitar a cultura local, viabilizando para que eles possam conhecer a Bíblia e interpretar a mensagem bíblica em sua própria realidade.


sábado, 15 de novembro de 2025

Palavras de Encorajamento Para Aqueles que Serviram em Missões

 


Palavras de Encorajamento Para Aqueles que Serviram

 George Verwer (Fundador da Operação Mobilização)


Vida Após

Estou sentado em um trem, de volta para minha casa em Londres depois de uma reunião de igreja em Bristol. Tenho clamado ao Senhor pelas palavras corretas para este artigo, pois desejo ser capaz de ajudar e encorajar aqueles que têm estado fora, no campo missionário, e agora estão de volta em casa, ou preparando-se para isso.

A reentrada, como algumas vezes é nomeada, pode ser um desafio maior do que ir para um campo missionário pela primeira vez! Sete palavras bíblicas desafiadoras vêm à minha mente. Eu gostaria que você pensasse sobre estas palavras e permitisse que elas o lembrassem de grandes temas da Palavra de Deus.

 

Integridade

Uma das maiores palavras no nosso vocabulário é integridade. Ela requer de nós abertura, pureza e realidade, isso significa que não iremos exagerar a respeito do que fizemos ou vimos no campo missionário, isso significa que tomaremos cuidado extra sobre os pecados da língua, bem como em sermos absolutamente honestos e transparentes em relação às finanças.

 

Disciplina

Já foi provado milhares de vezes que graça sem disciplina é igual a desgraça.

Depois de um duro período de experiência missionária que demanda trabalho duro e disciplina é fácil baixarmos nossa guarda nesta área. Fora de uma situação de equipe e estrutura de liderança teremos que mudar a marcha para uma autodisciplina ainda maior. Na busca por fazer isso será fácil cair em falhas na comunicação e fracassar no ajuste de equilíbrio. Você pode namorar alguém que se diz cristão e ainda assim tentar ir pra cama no primeiro encontro ou antes do casamento. Algumas pessoas deixam certas situações missionárias onde há muitas restrições quanto à conduta sexual e quando voltam pra casa onde há um ambiente mais liberal e promíscuo eles facilmente deixam baixar a guarda moral e acabam em uma grande bagunça.

Algumas pessoas rejeitam rapidamente os missionários e não querem manter contato, riscando-os de seus contatos por serem superespirituais ou devotos. Esforços para provar o contrário nem sempre funcionam e sentimentos de rejeição podem vir facilmente. Satanás fará tudo o que pode para nos desencorajar, e quando estamos desencorajados isso abre a porta para outras tentações. Diariamente devemos segurar alto o escudo da fé (Efésios 6), ou parar aqueles dardos inflamados do desânimo.

 

Realidade

Eu vejo que algumas pessoas voltam de certos programas de treinamento e eventos missionários de verão tendo uma visão fantasiosa da vida cristã (isso também pode acontecer em algumas igrejas e ao ler certos tipos de livros). Devemos nos dar conta de que não importa o quão cheios possamos estar com o Espírito Santo, ainda assim somos bem humanos. Se formos realistas reconheceremos que pessoas muito boas — até mesmo cristãos comprometidos — podem e irão falar e fazer coisas muito más e cometerem pecado. Coisas terríveis também acontecem com pessoas boas. Nós amamos Salmos e algumas vezes lemos Provérbios, mas temos a tendência de esquecer que estes dois grandes livros são precedidos pelo livro de Jó.

 

Visão

Devemos lutar duramente para manter a visão que Deus nos deu. Devemos ser enviadores e mobilizadores de missões — missionários lutando por missões — fazendo todo o esforço possível para passar a outros com veracidade e humildade o que Deus nos ensinou no campo. Isso não será fácil e haverá muitos confrontos e desencorajamento pelo caminho.

Algumas vezes seremos capazes de amar, influenciar e ajudar somente uma pessoa de cada vez ao longo da estrada em que nos tornamos cristãos mundiais. Tente fazer bom uso das ferramentas como livros, CDs e DVDs e vídeos que ajudam as pessoas a compreender do que se trata tudo isso.

Precisamos manter contato com as pessoas no campo, especialmente aqueles que ajudamos a chegarem a Cristo. Tente não quebrar promessas — se você falou a alguém que iria orar por ele ou ela, então você deve orar. Tente ter comunhão, até mesmo por telefone se for necessário, com pessoas que pensam como você. Mantenha este fogo por missões ardendo em seu coração.

 

Graça

Eu rogo a você que leia o livro de Charles Swindoll chamado O Despertar da Graça. Este livro, juntamente com o livro de Peter Jordan chamado Re-entry podem ser fundamentais para lhe ajudar a enfrentar — no poder do Espírito Santo — os desafios e dificuldades que você sabe com certeza que irá enfrentar em casa. Estes livros lhe ajudarão a ter um coração generoso quando as pessoas lhe fizerem perguntas tolas — ou pior, absolutamente nenhuma pergunta.

Esta revolução de graça nos ajuda a aceitar e perdoar pessoas que parecem ser egoístas ou sem visão. Precisamos aprender a graciosamente concordar em discordar. Precisamos aprender a como nos darmos conta das formas mais sutis de orgulho, até mesmo de orgulho missionário. Isso também nos ajudará a continuar perdoando-nos quando falhamos ou pecamos. A graça irá nos manter no centro do caminho de Deus para a santidade. Também rogo a você que leia o livro do Philip Yancey chamado O que há de tão maravilho na graça?

 

Perdão

Você realmente já perdoou aqueles que o feriram no campo missionário? E sobre você mesmo? Você já se perdoou pelas mancadas, falhas e pecados que você cometeu? Se já o fez, então está no caminho certo, pois agora você pode perdoar aqueles que o feriram de volta ao lar. Esteja atento quanto as expectativas irreais, principalmente aquelas conectadas à sua agência missionária e sua igreja local.

Se você foi saudado no aeroporto e foi recebido com uma recepção real, então glorifique a Deus. Se não, ainda assim glorifique a Deus. Que sua primeira fonte de alegria e satisfação seja o próprio Senhor. Que o amor humano e a ajuda sejam a água que derrama no topo do copo — a cobertura do bolo.

Por favor, esteja atento às expectativas irreais — geralmente bíblicas. Você deve aprender a amar e aceitar pessoas ao retornar para sua cultura, da mesma forma como aceitou aquelas pessoas novas numa terra estrangeira, dentro de suas culturas. Creio que precisamos de uma abordagem contextualizada para voltarmos pra casa, tanto quanto precisamos ao sair dela. Precisamos ser mais do que gratos àqueles que estiveram orando por nós e nos apoiando. Devemos estimar os enviadores e reconhecer que eles têm igual importância nesta grande tarefa missionária.

 

Pró-atividade

Como é fácil, debaixo de pressão, nos tornarmos reacionários. Reações geralmente são negativas — os golpes mais duros da vida e das pessoas parecem atingir-nos abaixo da cintura. Estes golpes não são justos! Lembremo-nos de 1 Coríntios 15.58 — "Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nado os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não serei inútil."

Que nos mantenhamos seguindo em frente, tentando não ser críticos e negativos sobre a igreja local, especialmente se eles não ajudaram ou apoiaram você tão bem. Por favor, tente ouvir e discernir a situação deles e algumas das lutas que eles experimentaram enquanto você esteve fora.

Lembre-se de Filipenses 2.3 — "(...) mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos." É fácil ver problemas em sua própria nação, cidade ou igreja, embora possa ser intimidador. Precisamos da mesma coragem que tínhamos quando colocamos o pé fora do avião na Turquia, Índia ou qualquer outro lugar.

Precisamos nos manter ativos em oração e evangelização, buscando encontrar as pessoas dos países onde servimos e que agora são imigrantes ou estudantes em nossas cidades. Precisamos reforçar que o campo missionário está em todo lugar, mantendo uma visão fundamentada em missões.

Bem, meu trem está quase chegando em Londres e escrevi tudo isso à mão em uma mesa de trem chacoalhando. Espero que minha secretária consiga ler isso. Uau! Espero que você também tenha lido isso!

Deus te abençoe!

 

No livro Gotas de Uma Torneira Quebrada.


segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Como devo ofertar para missões? - Edison Queiróz

 


Edison Queiróz


A oferta missionária de fé

A oferta missionária de fé é um método usado por diversas igrejas ao redor do mundo, e tem sido um grande instrumento de Deus para levantar muitos recursos financeiros para o sustento e ampliação da obra missionária.

O Dr. A.B. Simpson, fundador da Aliança Cristã e Missionária, foi quem primeiro usou este tipo de oferta, na sua igreja, a partir das últimas duas décadas do século 19. Para implementar este tipo de oferta, ele realizava anualmente uma conferência missionária, onde o povo era desafiado pela Palavra de Deus e por testemunhos de missionários a dar ofertas para sustentar a obra missionária. Sua denominação sempre teve como característica, pelo menos na sua época, dar mais para o trabalho missionário do que para o trabalho local. Ela começou como um centro evangelístico em Nova York e hoje tem 1.250 missionários em cinquenta países, tendo já mais membros fora dos Estados Unidos do que ali onde começou. E mesmo nos Estados Unidos a denominação tem muitas igrejas entre minorias vietnamitas, cambojanas etc.

O Dr. Oswald Smith, fundador da Igreja dos Povos em Toronto, no Canadá, aperfeiçoou o sistema, e sua igreja o está usando há mais de 50 anos. Somente no ano de 1992 ela levantou mais de US$ 3.500.000,00 para o sustento do trabalho missionário.

O que é a oferta missionária de fé? Aqui está uma definição bem simples:

A oferta missionária de fé é um compromisso pessoal que o crente faz com Deus, de dar uma quantia, mensalmente, durante um ano, para a obra missionária da sua igreja local. 

[...]


Como devo ofertar para missões?

O salário do missionário é mensal e o nosso também, portanto a contribuição deve ser mensal, dentro de um compromisso de um ano, a ser renovado na próxima conferência missionária anual.

Temos visto denominações dirigindo suas igrejas a fazerem uma contribuição anual para a obra missionária. Este tipo de oferta está sendo usado há muito tempo e tem sido um instrumento de Deus para enviar muitos missionários, mas eu estou vendo que, com ele, não estamos usando todo o potencial de nossas igrejas.

Certa vez eu preguei numa igreja no domingo que eles dedicavam para missões mundiais. Eles tinham como alvo levantar 2.500.000,00 de cruzados, que era a moeda da época, como oferta daquele ano para missões. No meio do sermão eu disse que esta importância era muito pequena para aquela igreja, e que eu iria provar que eles poderiam dar aquele valor mensalmente. Voltei-me para o pastor e lhe perguntei:

— Pastor, quantas pessoas há aqui no auditório nesta manhã?

Ele olhou e respondeu:

— Mais ou menos 800 pessoas.

A seguir eu disse à igreja que, se cada pessoa ali desse mil cruzados por domingo (que na época era o equivalente a uma passagem de ônibus urbano), teríamos 800.000,00 por domingo que, multiplicados por quatro, acumulariam 3.200.000,00 mensalmente para missões. Depois pedi que eles dividissem os 2.500.000,00 do seu alvo por 12, para saber quanto estariam dando mensalmente para missões, comparado com aquele valor. O resultado foi dezesseis vezes menos!

Louvado seja Deus que aquela igreja ficou convencida e hoje está usando a oferta missionária de fé e levantando muito mais recursos para o sustento missionário.

Há pessoas que têm resistência a este tipo de oferta, por ser mensal, achando que os membros da igreja desviarão todas as outras ofertas, inclusive o dízimo, para missões. A experiência tem demonstrado que não é assim.

O Dr. Paul Smith, pastor da Igreja dos Povos em Toronto, no Canadá, disse: “Minha experiência usando a oferta missionária de fé durante 50 anos para o sustento de missões tem demonstrado que, quanto mais nosso orçamento missionário aumenta, mais aumentam as entradas da igreja.”

Esta realidade tenho visto em diversas igrejas no Brasil e América Latina. Quanto mais levantamos ofertas para missões, mais os dízimos aumentam.

A oferta missionária de fé é um instrumento de Deus para que as igrejas levantem muitos recursos para o sustento de missionários. Eu o incentivo a experimentá-la em sua igreja.


Trechos do livro A Administração das Finanças na Obra Missionária (Ed. Descoberta)


quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Experimentando a Aventura de Ofertar pela Fé - Bill Bright

 


Bill Bright, o fundador da Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo, nos traz um relato emocionante sobre sua vida com Deus e a aventura de ofertar pela fé para a expansão do Reino:

Vonette [minha esposa] e eu estamos muito mais entusiasmados com o nosso Senhor e o privilégio de servi-Lo agora, do que 45 anos atrás quando assumimos um compromisso muito especial de colocá-lo em primeiro lugar em nossas vidas. Na primavera de 1951, quando eu estava em meu último ano no Seminário Teológico Fuller, era um diácono da Primeira Igreja Presbiteriana de Hollywood e dirigia meus negócios, ficamos cada vez mais convictos de que viver para Cristo e servi-Lo era nosso maior objetivo na vida. Assim, decidimos assinar um contrato com o Senhor Jesus Cristo, a quem entregamos nossas vidas e todos nossos bens materiais, inclusive as ofertas de nossas finanças.

Como resultado, hoje, Vonette e eu possuímos muito pouco dos bens deste mundo. Somos missionários de nosso Senhor, e, como qualquer outro obreiro da Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo, confiamos em Deus para suprir nossas necessidades financeiras a cada dia, através de pessoas dedicadas que Ele determina para investir em nós e em nosso ministério para Ele. Embora raramente tenhamos mais que o suficiente para suprir nossas necessidades por alguns dias ou semanas, sempre desfrutamos das bênçãos que Ele prometeu a todos que confiam e obedecem a Ele. Preferimos confiar nele para suprir todas nossas necessidades do que em todas as instituições financeiras do mundo combinadas.

Vonette e eu experimentamos uma das aventuras mais emocionantes de nossas vidas com respeito a contribuir. Tudo começou em 1946, quando ouvi Dr. Oswald Smith desafiar aproximadamente mil universitários e jovens no Congresso Estudantil de Forrest Home a dedicarem suas vidas ao cumprimento da Grande Comissão. Ele pediu a cada um de nós que colocasse o nome sobre um país, reivindicando-o para o Senhor mediante oração e contribuição, conforme orientado por Deus e, se necessário, até dar nossas vidas para alcançar esse país para Cristo. Coloquei meu nome sobre a União Soviética e comecei a orar para Deus fazer uma grande e poderosa obra naquele país.

Quando Vonette e eu nos casamos, ela se uniu a mim em oração pela União Soviética. Na década de 90, nós e nossos obreiros ministramos ao povo soviético com resultados fantásticos, ajudando a treinar milhares de pastores e leigos em várias repúblicas da União Soviética.

Uma vez, um líder cristão da União Soviética visitou nosso escritório e nos pediu para iniciarmos um Centro de Treinamento Vida Nova em Moscou. O custo para iniciar um centro de treinamento de discipulado seria de U$ 50,000 para o primeiro ano. Mais tarde, um pensamento passou pela minha mente: Poderia Deus operar, através de mim, usando minha aposentadoria para ajudar a estabelecer tal Centro de Treinamento? Meus anos de oração pelo povo soviético e as diversas visitas ao seu país, tinham me dado um amor e fardo especiais por eles. Iniciando um Centro de Treinamento Vida Nova com os rendimentos de minha aposentadoria, eu poderia ter uma rara oportunidade de ajudar a alcançar muitos milhares para nosso querido Senhor Jesus Cristo! Eu não tinha a mínima ideia do total da minha aposentadoria. Alegremente, considerei o projeto.

Primeiro, entretanto, eu tinha de discutir minha ideia com Vonette. Depois de ouvir atentamente o que eu pensava que Deus queria que fizéssemos e de fazer algumas perguntas pertinentes expressando suas preocupações, ela aprovou entusiasmada. Oramos e concordamos em confiar no Senhor para os anos vindouros.

Verifiquei quanto de dinheiro havia acumulado em meu fundo de pensão. Para nosso espanto, tínhamos quase a quantia necessária para empregar no Centro de Treinamento no primeiro ano. Alegria e emoção enchem meu coração ainda hoje quando compartilho essa história com você. A simples ideia de que Deus poderia usar minha aposentadoria para ajudar a apresentar milhares de pessoas a Cristo me deixa maravilhado. Não tenho como agradecer a Deus o suficiente pelo privilégio de fazer essa contribuição de meu tempo, talentos e tesouro para ajudar a cumprir a Grande Comissão.

Você já fez o seu compromisso de ajudar a cumprir a Grande Comissão investindo no reino de Cristo? Ele está buscando pessoas que assumam compromissos radicais investindo seus recursos para ajudar a cumprir a Grande Comissão em nossa geração. Ele reserva uma bênção especial àqueles que dão generosamente de seu tempo, talentos e tesouro para Sua obra (João 14.21,23).

Provavelmente, Ele não guiará você a empregar sua aposentadoria na causa de Cristo. Ele quer ser original com cada um de nós. Vonette e eu simplesmente respondemos a esse Seu chamado especial para nossas vidas. Mas para que você alcance ao máximo as bênçãos e muitos frutos para a glória de Deus, você desejará obedecer a Sua vontade e direção enquanto segue Seu Plano para sua vida.

Insisto em que você desenvolva uma estratégia pessoal de investir aquilo que capacitará você a contribuir sábia e significativamente no reino de Deus, aumentando ainda mais seus frutos para Cristo. Reconheça Deus como a fonte e dono dos seus bens, e esteja pronto para prestar contas a Ele da sua mordomia. Ofereça ao Senhor Jesus seus dons como um ato de louvor e adoração. Coloque Deus em primeiro lugar em sua oferta e administre seu tempo, talentos e tesouro para dar o máximo de glória ao Seu nome, armazenando em abundância tesouros no céu. Fazendo assim, você também experimentará a maravilhosa aventura de ofertar pela fé.

Bill Bright, no livro Como Experimentar a Aventura de Ofertar.


terça-feira, 14 de outubro de 2025

Editora Kingdom Words, uma nova casa para livros de missões

 


Há algum tempo a movimentada seara editorial brasileira ganhou uma nova editora, a Kingdom Words. A KW é uma editora dedicada a publicar livros que edifiquem e fortaleçam a fé dos leitores com zelo teológico, ênfase nas Escrituras e compromisso com a igreja e sua missão. Um dos destaques da editora são livros do missionário e missiólogo Ronaldo Lidório, como Igreja Viva e Teologia, Piedade e Missão. Também é possível baixar e-books gratuitos de Lidório, como o Vocacionados e o Aos Que Sofrem

E mais, no último CBM (Congresso Brasileiro de Missões), a editora lançou diversos novos livros, de uma gama de autores nacionais e estrangeiros, e que logo estarão disponíveis em seu site. Confira aqui no Instagram da Kingdom Words: 

https://www.instagram.com/editora.kw/

Acesse o site da editora: https://www.editorakingdomwords.com.br/


segunda-feira, 6 de outubro de 2025

NOTÍCIAS MISSIONÁRIAS - Um clipping de notícias de interesse missionário

 


Apresentamos aqui um mix de notícias de interesse missionário. As fontes principais são as newsletters da Brigada (www.brigada.org) e Justin Long (https://justinlong.org/roundup/ ). A maioria dos sites e links finais está em inglês (se tiver dificuldade, não tenha medo de utilizar o tradutor do Google, que por sinal avança para a perfeição).

 

 

Manual de Missões na Igreja Local (gratuito, em inglês) – David Mays

Este manual antigo, mas ainda excelente, gratuito e disponível para download, é um tesouro para igrejas que navegam pelo cenário em evolução das missões. Ele oferece 86 guias práticos e concisos — desde políticas missionárias de curto prazo até descrições de cargos para pastores missionários. Mays enfatiza a relevância contextual, ajudando as igrejas a irem além de modelos ultrapassados em direção a um engajamento globalmente consciente e localmente enraizado. Encontre-o aqui: https://davidmays.org/Resources/resmays.html

 

 

Lançamentos de livros missionários

A Editora Descoberta lançou recentemente o livro Barbara Burns: Vida e Obra. Escrito por Keila Pecher, a obra narra a vida desta missionária norte-americana de certa forma fundamental para o esforço missionário brasileiro. - https://editoradescoberta.com.br/product/barbara-burns-vida-e-obra/

Confira outros lançamentos da Descoberta aqui: https://editoradescoberta.com.br/product-category/lancamentos/

 

 

Série The Chosen em Árabe

The Chosen ("Os Escolhidos"), a série sobre a vida de Cristo, já está disponível em vários dialetos árabes através do aplicativo Belight FM. Seja assistindo com a família ou compartilhando com amigos, esta poderosa série dá vida ao Evangelho de uma forma profundamente pessoal e culturalmente relevante. Baixe a Belight FM hoje mesmo e comece a assistir ou compartilhar "Os Escolhidos" em árabe!

Google Playstore: https://play.google.com/store/apps/details?id=fm.belight.radioapp&hl=pt

Apple Store: https://apps.apple.com/us/app/belight-fm/id1597094577?l=pt-BR

 

 

Audiolivros cristãos gratuitos

Uau! A Scroll Reader é uma editora de audiolivros totalmente gratuita que produz audiolivros cristãos de alta qualidade com foco em biografias clássicas e recursos relacionados a missões, como "Métodos Missionários ", de Roland Allen, e "Não Temos Direitos?", de Mabel Williamson. Confira www.scrollreader.com .

 

 

China proíbe trabalho de missionários estrangeiros

Novas regras também impactam a importação e a distribuição de Bíblias. Leia em https://portasabertas.org.br/noticias/cristaos-perseguidos/china-proibe-trabalho-de-missionarios-estrangeiros

 

 

Missão em Destaque: International Christian Maritime Association

A Associação Marítima Cristã Internacional (ICMA) é uma associação livre de organizações cristãs sem fins lucrativos que trabalham pelo bem-estar dos marítimos ao redor do mundo.

As organizações membros representam diversas igrejas e comunidades cristãs. Cada organização membro mantém sua independência e autonomia. A ICMA define marítimos como pessoas que trabalham na navegação mercante, na pesca e em navios de passageiros. Por meio de seus membros, a ICMA representa atualmente mais de 400 ministérios de marítimos e 750 capelães e visitantes de navios em aproximadamente 90 países.

Conheça mais em https://icma.as/

 

 

Jogos de carta “missionários”

A empresa Chasm Gaming tem um currículo simples para usar com seus baralhos de cartas (Black Mission Legends, Pray4Unreached Peoples) para ajudar a transformar uma noite de jogos em um "momento de aprendizado" e alguns "inícios de conversa sobre a Grande Comissão". - https://chasmgaming.com/products/play-pray-curriculum-free

 

 

Curso de IA para organizações do terceiro setor

Com apoio do Google.org, IDIS realizará capacitação em IA para OSCs: https://www.idis.org.br/com-apoio-do-google-org-idis-realizara-capacitacao-em-ia-para-oscs/?utm_campaign=newsletter_-_10072025&utm_medium=email&utm_source=RD+Station

 

 

Líderes africanos e suas religiões

Um vídeo mostrando qual é a religião de cada chefe de estado da África: https://youtu.be/AmATBEauQHs?si=VENrb9h3Rz2GxMGz

 

 

Dicas para viajantes sobre aeroportos 

Você usa o www.SleepingInAirports.net — seu guia para lidar com escalas, longas esperas e pernoites em aeroportos do mundo todo? Repleto de avaliações de viajantes, classificações de aeroportos e dicas para encontrar os melhores (e piores) terminais para descansar, este site é uma visita obrigatória para viajantes com orçamento limitado e para quem está em viagem missionária. Seja para planejar com antecedência ou para quem está preso em trânsito, o SleepingInAirports ajuda você a transformar o tempo de inatividade do aeroporto em uma experiência mais confortável. - https://www.sleepinginairports.net/

 

 

Yaba, a “nova” droga que castiga o sudeste asiático:

https://theconversation.com/yabas-grip-how-cheap-methamphetamine-is-fuelling-thailands-addiction-crisis-262765

 

 

Localizando as traduções da Bíblia difíceis de encontrar

Find-A-Bible é um diretório online de Bíblias, recursos e filmes selecionados, catalogando 5.446 versões da Bíblia e 2.1593 recursos das Escrituras em 7.899 idiomas, representando 1.023 agências. Como um projeto conduzido por voluntários, o Find-A-Bible foi criado para garantir que Bíblias e recursos bíblicos valiosos sejam fáceis de encontrar, usar e compartilhar em todos os idiomas. Confira em https://find.bible/

 

 

Como encontrar grupos de povos não alcançados em sua cidade

Descubra como usar o Google Maps para identificar grupos de pessoas não alcançadas em sua cidade, localizando pontos culturais importantes — como supermercados étnicos, restaurantes halal e locais de culto —, marcando-os em um mapa personalizado, visitando com curiosidade e compaixão e interagindo por meio de oração, relacionamento e alcance local. Leia o artigo aqui: https://www.crescentproject.org/blog/how-to-find-unreached-people-groups-in-your-city-with-google-maps

 


sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Fracasso, a Porta dos Fundos para o Sucesso – A história de George Verwer e da Operação Mobilização

 


O oficial da KGB encarregado do meu interrogatório disse que eu era um espião. "Temos um lugar para espiões americanos", ele me disse. "Se chama Sibéria."

As coisas não estavam indo bem. Os soviéticos pegaram nosso veículo. Eles estavam interrogando meu parceiro, Roger, em outra sala. Era simplesmente uma questão de tempo até que descobrissem as Bíblias e o material impresso que havíamos contrabandeado para dentro do mundo comunista.

Isso foi em 1961, quando a Guerra Fria estava em pleno vapor. Meu sonho de levar o evangelho para dentro de países fechados – sem mencionar minha própria vida – poderia chegar ao fim muito rápido. O que fazer?

Qualquer pessoa que me conhecesse não ficaria surpresa do fim que me esperava. As pessoas me chamavam de radical. Desde minha conversão em 1955 numa conferência de Billy Graham, em Nova Iorque, eu mergulhava de cabeça diante de qualquer oportunidade que surgia para compartilhar o evangelho. Pouco depois da minha conversão eu tive a oportunidade de falar para todos os alunos do meu colégio, e usei-a para compartilhar sobre Jesus. Eu compartilhei da minha fé, indo de porta em porta. Organizei conferências – 600 pessoas vieram à frente em uma delas, 125 confessaram sua fé em Jesus Cristo (incluindo meu próprio pai). Em 1957 eu trabalhei para enviar pessoas para uma conferência do Billy Graham, lotando literalmente um ônibus, mas eu mesmo não pude ir para esta cruzada. Todos os assentos estavam ocupados e eu não queria tomar um lugar que poderia ser ocupado por alguém que ainda não era cristão. Então, enquanto Billy Graham compartilhava no Madson Square Garden eu fui para as ruas de Nova Iorque pregar. Mais tarde, junto com dois amigos, viajei para o México.

Isso fazia sentido. Por que não ir para um lugar onde as pessoas ainda não tinham ouvido falar do evangelho?

Naqueles dias o México era um país semi-fechado. Protestantes eram perseguidos. Importar literatura cristã era ilegal. Nosso carro estava carregado com literatura e não tínhamos ideia de como iríamos atravessar a fronteira. Mas nós cruzamos. Oramos muito, empurramos a literatura para baixo dos colchões, cruzamos a fronteira durante a noite e eles acenaram para nós.

Fomos trabalhar entre as pessoas que moravam no lixão. Fiquei chocado com a enorme pobreza que presenciei ali. Conforme eu via moscas caminhando sobre os olhos de pequenos bebês meu coração clamava a Deus: "O que posso fazer para despertar esta nação para o evangelho de Jesus Cristo que transforma vidas?" Decidimos ir para a rádio. Havia apenas um problema, no México eram proibidas rádios cristãs. Eu pensei, deve haver um jeito para resolver isso!

Voltei para os Estados Unidos, fiz a transferência do curso de Artes Livre para o Instituto Bíblico Moody, organizei uma equipe de cinco pessoas e voltei para o México. Antes de partir oramos e quando chegamos no México Deus nos deu um plano. Abrimos uma livraria e fomos para uma estação de rádio local, dizendo: "Representamos uma livraria e queremos fazer uma propaganda. Vendemos Bíblias. A razão pela qual as pessoas não compram Bíblias é porque elas não sabem o que tem nela. Gostaríamos de ler a Bíblia em nossa propaganda." Funcionou. Lemos e explicamos as Escrituras através de uma rádio no México. Este foi o início de um programa semanal de 15 minutos. De volta no Moody eu orei, planejei, organizei e li livros missionários. Eu sonhava em ir para países como o Iraque e Afeganistão. Quase não havia cristãos ali – era a oportunidade perfeita!

Eu não queria que o romance me desviasse, então eu entrei no que chamei de "jejum social" (buscando a escolha de Deus) – não namorar! Isso durou dois anos. Até que um dia eu encontrei Drena, uma funcionária do Moody. Meu jejum social terminou imediatamente. Estava apaixonado!

Eu queria ter certeza de que Drena compartilhava do meu compromisso radical com a evangelização mundial, então, no meu primeiro encontro, eu disse a ela, "Provavelmente não irá acontecer nada entre nós, mas eu vou ser um missionário, e se você se casar comigo irá provavelmente acabar sendo comida por canibais em Nova Guiné."

Definitivamente ela não estava apaixonada por mim, mas eu insisti. Por fim, ficamos noivos. Eu nunca gostava de gastar dinheiro porque queria que até mesmo a menor moeda fosse gasta com o evangelho. "Por que comprar refeições se o Moody as oferecia pra nós" – era o que eu pensava. Um dia, quando havíamos saído pra passear no Lago Michigan (eu geralmente ficava sem comer, mas não achava certo pedir a ela que também não comesse), pedi ao Senhor que de alguma forma suprisse a comida pra ela, sem que tivéssemos que gastar nenhum dinheiro. As pessoas sentadas atrás de nós estavam fazendo um piquenique, pegaram suas coisas e foram embora. Eu fui para a lixeira, puxei um saco de papel marrom que eles haviam jogado fora e descobri um sanduíche que não havia sido desembalado. Eu o dei para minha noiva. Ela teve uma ideia bem real sobre com quem estava se casando!

Nos casamos em Milwaukee em 1960, logo após minha formatura. Naquela época eu não me importava muito com cerimônias de casamento, então o nosso foi depois de um culto de domingo pela manhã, assim o pastor pôde pregar o evangelho para os não convertidos que estavam presentes. Durante a recepção, meu melhor amigo, Dale Rothon, se colocou de pé e disse, "A coisa principal que vocês podem dar a George e Drena é oração, porque eles estão vendendo tudo por  evangelho."

Nós abrimos mão da lua-de-mel e fomos para o México. No caminho decidimos não gastar nenhum dinheiro. Na primeira noite eu levei nosso bolo de casamento para um posto de gasolina em Wheaton, oferecendo-o em troca de gasolina. Eles encheram o tanque e me deixaram ficar com o bolo. Na manhã seguinte, um outro dono de posto – um cristão – também me deixou ficar com o bolo. A pessoa seguinte não foi tão generosa, ele gostou do bolo e o trocamos por gasolina. Fizemos todo o percurso até o México sem gastar nenhum centavo.

Nos seis meses seguintes abrimos livrarias e evangelizamos. Então nos mudamos para outro país fechado, a Espanha. Lá, debaixo do domínio de Franco, havia pouca tolerância para o evangelho. Então fizemos de lá nossa base enquanto eu estudava russo e me preparava para partir em direção à União Soviética.

O plano para a União Soviética era simples. Roger Malstead e eu contrabandeamos porções das Escrituras e uma imprensa para dentro do país. Então planejamos enviar os evangelhos pelo correio para endereços tirados de uma lista telefônica. As coisas estavam indo bem até que, acidentalmente, eu espirrei manteiga derretida em um dos evangelhos e concluí que ele estava estragado.

"Jogue-o no vaso sanitário e dê descarga," sugeriu Roger.

Mas eu odiava a ideia de desperdiçar as Escrituras. "Eu sei o que fazer," pensei, "Vou achar uma área isolada na parte rural, onde ninguém pode nos ver, e vou jogá-lo pela janela. Então alguém pode pegá-lo e lê-lo!"

Isso foi um grande erro. Alguém nos viu. Uns quinze quilômetros adiante fomos parados por um grande bloqueio e presos como espiões. Eles nos interrogaram por dois dias. Eu decidi contar-lhes a verdade. Quando eles encontraram a imprensa e todo o restante de nossa literatura escondida no nosso carro, ficaram apavorados.

Fomos manchete nos noticiários da Rússia Soviética. Pravda gostou tanto da história que eles a publicaram novamente dez anos depois.

Durante o período de nosso interrogatório os russos haviam acabado de enviar o primeiro russo para o espaço. O interrogador me disse, "Olhe, nós temos nosso astronauta lá fora, procurando ao redor, e não encontramos o seu Deus." Depois de dois dias eles se convenceram de que éramos fanáticos religiosos, e não funcionários da CIA. Com guardas armados com metralhadoras fomos escoltados até a fronteira com a Áustria.

Meu alvo, objetivo e desejo era levar o evangelho para dentro de países fechados. Havíamos acabado de entrar em um dos países mais fechados do mundo e rapidamente fomos expulsos. "O que Deus está fazendo?", eu me perguntava. Decidi que era hora de orar. Eu subi no alto de uma árvore numa montanha na Áustria para ficar sozinho, e assim conseguir orar. Gastei aquele dia em oração.

Aquele dia revolucionou minha vida e meu ministério. Deus me mostrou que minha visão era muito pequena. Ele me mostrou que meu trabalho era mobilizar a igreja, e ele queria que eu começasse com a igreja na Europa. Isso fazia sentido, europeus podiam dirigir para os países fechados. Os americanos, pelo contrário, precisavam cruzar o Atlântico antes de conseguirem chegar na maioria dos países que queríamos alcançar. A quantidade de dinheiro necessário para enviar um americano para um país fechado poderia levar dois ou três europeus para o mesmo lugar. Até mesmo depois de chegarem lá os europeus normalmente eram melhor recebidos do que os americanos.

Eu mal sabia que isso se tornaria o modelo precursor de uma mudança radical na mentalidade missionária. Este conceito explodiu da Europa para a Ásia, África e depois para a América Latina. Pessoas de vários países diferentes tornaram-se parceiros igualitários no trabalho missionário.

Deus me deu um nome - o nome que permaneceu: Operação Mobilização - OM.

Deus também me mostrou como mobilizar a igreja juntando pessoas para um verão, por dois anos, e enviando-as para campanhas. Depois, enviando-as de volta para suas igrejas ou para outra agência missionária para energizar, revitalizar a igreja e espalhar a visão.

Isso foi em 1961. Quase não se ouvia falar em viagens missionárias de curto-período. Isso foi um conceito revolucionário, mas funcionou.

No verão seguinte recrutamos 200 voluntários. No segundo verão, em 1963, nosso grupo cresceu para 2.000, alcançando 25 milhões de pessoas. Nos mudamos para Londres onde montamos uma frota de 120 caminhões velhos. Cruzamos o Canal Inglês, nos dividimos em equipes e dirigimos para alcançar os não-alcançados. Um ano após minha prisão na União Soviética enviamos europeus para a URSS que falavam fluentemente o russo e podiam fazer mais do que eu jamais poderia.

Focamos em ir para dentro de países fechados. Esta foi a razão pela qual eu enviei Dale Rhoton para avaliar o Afeganistão. "Enquanto você estiver na região", eu disse, "você também deve checar o Paquistão e a Índia." Sinceramente eu não tinha grandes expectativas daquela viagem. Eu sabia que havia missionários trabalhando na parte oeste do Paquistão e já havia me encontrado com cristãos vibrantes na Índia. Pelo fato das igrejas mais fortes estarem alcançando a índia imaginei que o país não precisava de nós. Mas Dale me disse o contrário. "A Índia precisa de nós," ele disse.

Então enviamos duas equipes para a Índia e eles dirigiram rumo a este país em caminhões velhos, encarando todo tipo de problemas para chegarem lá. Me sentia responsável, pois mesmo havia recrutado muitos membros daquelas equipes. Então, no final de 1963 eu voei para a Índia para ver como as coisas estavam indo.

A Índia me chocou. Viajei ao redor de trem, evangelizando e distribuindo folhetos. Fiquei pasmo com as necessidades das pessoas nas vilas e cidades. Eu disse para minha esposa, "Estamos nos mudando para a Índia."

Moramos em Bombaim. As pessoas eram atraídas por nossa mensagem radical sobre discipulado, renúncia completa, missões mundiais e oração. Ao invés de sentir que precisávamos importar missionários estrangeiros todas as vezes que desejávamos que algo fosse feito, fizemos parcerias com a igreja na Índia e apoiamos o ministério dos nacionais.

Nosso trabalho explodiu e então fui expulso do país. Desta forma nos mudamos para Katmandu, pois os indianos podiam ir nos visitar sem precisarem de visto. Nos especializamos em treinamento de liderança e também iniciamos o trabalho no Nepal.

A logística estava se tornando um desafio. Dirigir caminhões velhos que iam e voltavam por toda a Europa e Ásia não estava funcionando muito bem. Enquanto orava por isso e olhava para o globo, fiquei impressionado com quanta água existe na superfície da terra.

Então senti que precisávamos de um navio!

Quando compartilhei a ideia com igrejas na Europa alguns riram. Para outros, possuir um navio era uma extravagância. Mas quanto mais eu orava sobre isso, mais eu me convencia de que Deus queria que comprássemos um navio, e eu queria isso o mais rápido possível. Impaciência, eu admito, é uma de minhas fraquezas, e Deus lidou com isso me fazendo esperar. Esperamos por seis longos anos antes de que nosso primeiro navio, Logos, pesando 2.319 toneladas, fizesse sua primeira viagem em 1971 da Inglaterra para a Índia.

Naqueles dias não acreditávamos em captação de recursos. Pensávamos que tínhamos que seguir o exemplo de Hudson Taylor e George Muller – de nunca tornar público nossas necessidades, orando secretamente e confiando na provisão de Deus. Quando assinamos o contrato de compra do Umanak (o qual se tornou o Logos 1), tínhamos dinheiro suficiente para fazer um depósito, mas não o suficiente para completar a compra. Oramos, Deus proveu, e no vencimento do prazo conseguimos a quantia exata para concluir a aquisição e rebocar o navio para o dique seco para ser revisado e pintado.

Embora fosse empolgante ter finalmente o nosso navio, agora que o tínhamos estávamos tendo uma visão completa do que isso significava. Na verdade quase tivemos um choque de medo quando nos conscientizamos dos riscos deste projeto – um navio antigo, sem seguro, com todos aqueles jovens a bordo com seus pais aguardando ansiosos nos "bastidores". Eu costumava ter pesadelos com o navio afundando e acordava pensando, "Vamos mantê-lo em regiões de clima mais quente, porque se ele afundar pelo menos estes jovens terão uma chance. Se você afundar em mares gelados a esperança é bem menor."

Apesar de nossas ansiedades o ministério do navio tornou-se muito maior do que jamais poderíamos esperar. Nós adquirimos um segundo navio, maior (o Doulos) e ambos tornaram-se livrarias flutuantes e centros literários, bem como pontos de partida para missões de curto-período. Tripulados por 400 voluntários de 40 a 50 nações diferentes, nossos navios visitaram portos por todo o mundo, da Índia à Jamaica e do Egito à China comunista.

A Operação Mobilização cresceu para 4.000 trabalhadores de período integral, além de outras 3.000 a 4.000 pessoas que se unem durante o ano para curto-período. 130.000 pessoas já foram treinadas na OM, representando muitas denominações. Mais de 100 agências missionárias foram constituídas por fundadores ou líderes que estiveram na OM. Nosso ministério de literatura, Send The Light (STL), no Reino Unido, agora é um ministério separado com 600 empregados e 40 livrarias. Estamos em mais de 100 países, incluindo algumas nações de acesso difícil e limitado ao redor do mundo. E nos tornamos um ministério muito mais holístico. Nos últimos dez anos temos colocado carne e osso na compaixão de Jesus ao alcançar vítimas de terremotos, enchentes, guerra e pobreza – suprindo necessidades tanto físicas quanto espirituais.

Este crescimento é uma resposta direta e entusiasmante de oração. Ninguém realiza nada sem Deus. Nós também, com certeza, não entraríamos em países fechados sem muita oração. Também temos visto respostas pessoais à oração. O pai da minha esposa foi morto na Segunda Guerra Mundial. Seu padrasto pediu para que ela saísse de casa, pois ele era anti-cristãos. Ainda assim, depois de 25 anos de oração, ele se tornou um cristão.

No Moody éramos conhecidos como o grupo que estava sempre orando. Isso foi no final dos anos 50 quando não se ouvia falar sobre oração em grupos pequenos. Na mesma época tenho certeza de que outras pessoas estavam iniciando esta prática de orar em grupos pequenos, uma abordagem que se espalhou como um fenômeno por todo o mundo. Agora é parte de nossa cultura. Em 1958 começamos a nos encontrar para passarmos metade da noite em oração – uma prática que tem continuado por quarenta e três anos.

Eu creio na prática da oração. Eu creio que Deus responde orações. Mesmo as orações não respondidas, ou aparentemente não respondidas, tornam-se o meio pelo qual Deus forma verdadeiros homens e mulheres. Minha vida é cheia de orações não respondidas. Nem 50 por cento de minhas orações foram respondidas, pelo menos não ainda.

Eu miro alto, pois creio em um Deus grande e poderoso. Quando minhas esperanças, sonhos e orações não são realizados, fico desanimado. Na verdade, por toda minha vida lutei contra o desânimo. Mas eu me firmo nas promessas de Deus. Eu determinei que não vou permitir com que o sol se ponha sobre o meu desanimo. Isso pode ser um desafio.

Certamente nós enfrentamos tempos difíceis. Um pouco antes da meia-noite do dia 4 de Janeiro de 1988, o Logos bateu em uma pedra no Canal de Beagle, na parte mais sul da América do Sul. Todas as 159 pessoas a bordo (incluindo um bebê de seis meses de idade), foram resgatados, e o navio naufragou.

Na noite de 10 de Agosto de 1991, dois jovens missionários da OM foram assassinados quando um terrorista lançou uma granada durante uma reunião. Estávamos ancorados em Zambanga, nas Filipinas. Uni missionário da OM foi sequestrado por afegãos e nunca mais ouvimos falar dele. Uma outra pessoa foi baleada na Turquia. Eu não sei porque estas coisas acontecem. Há um ministério no sofrimento que nunca iremos compreender completamente.

Eu não sou a mesma pessoa de 1960. Sim, eu ainda sou entusiasmado para compartilhar o evangelho, mas Deus teve que mudar a mim e minhas ideias. Muitos de nós que recebemos ensinos bíblicos nos anos 50 temos uma tendência de fariseus – uma tendência de assassinar a graça. Nossas ideias sobre dinheiro, oração e evangelismo, e nossas regras feitas por homens tornaram-se o modo de medir o quão espiritual nós somos. Éramos julgadores, mesmo quando tentávamos não ser, nossa linguagem corporal nos denunciava.

Eu era tão focado, tão zeloso, tão determinado que costumava passar pelas pessoas sem perceber que elas estavam ali. Muitas verses eu fui duro demais com minha esposa. Deus me confrontou a respeito destas coisas, logo no primeiro mês de nosso casamento quando feri minha esposa e a vi chorando. Deus usou o ministério de homens como Oswald J. Smith e Roy Henssion para me trazer de volta, chorando, para a cruz.

Deus me mostrou que I Coríntios (o capítulo do Amor) era o capítulo mais importante da Bíblia pra nós. Embora eu creia em missões mundiais e compromissos radicais, estas coisas não significam nada se não tivermos o amor de Cristo.

Precisamos de grandes corações. Precisamos do que Charles Swindoll chama de "despertar da graça". Precisamos de um cristianismo consistente e equilibrado.

 

George Verwer, no livro Gotas de Uma Torneira Quebrada


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