sexta-feira, 7 de março de 2014

Missionários e suas fronteiras - Ronaldo Lidório

Um dos alvos determinantes na prática missionária é anunciar a Cristo onde ele permanece desconhecido, o que coincide com a visão de Paulo sobre a finalidade e prioridade da Igreja. Escrevendo aos Romanos ele deixa claro que a finalidade da Igreja é a glória de Deus (Rm 16:25-27) e a sua prioridade é anunciar a Cristo (Rm 15:20).
As fronteiras missionárias representam diferentes realidades como a diversidade linguística e cultural, formatos sociopolíticos, distância geográfica, necessidade de recursos e saudades de casa. Há também aspectos menos objetivos, porém igualmente determinantes, como as lutas emocionais e a batalha espiritual. Para anunciar a Cristo aos que pouco ou nada ouviram é preciso ultrapassar fronteiras.
Tenho tido a oportunidade de caminhar ao lado de homens e mulheres que investem suas vidas para que Jesus se torne conhecido nos lugares menos prováveis. Alguns trabalham em cidades longínquas, desertos áridos e matas fechadas. Outros atuam em escritórios, treinamentos, hospedagem, barcos, aviões e pastoreio dos colegas da equipe. Todos igualmente lidam diariamente com o desafio de ultrapassar fronteiras.
Algum tempo atrás, falando a um grupo de missionários em uma destas fronteiras longínquas e fechadas, procurava uma figura para animá-los e descrevê-los. Veio à minha mente a lembrança dos barcos usados para quebrar o gelo marítimo do Alasca, os conhecidos ice-breakers. São barcos pequenos, com aparência frágil, porém com motores potentes e a proa construída de aço com espessura dobrada, e afiada, que funciona como um machado que bate e quebra a superfície congelada dos mares do norte a medida que o barquinho avança.
Olhando de longe os ice-breakers tem-se a impressão que estão parados por dias em meio àqueles enormes blocos de gelo. Nada acontece. Porém, observando mais de perto se nota que o gelo tem sido quebrado, metro a metro, e os pequenos barcos se movem a frente, vagarosamente, realizando este pesado trabalho.
Após os ice-breakers realizarem seu trabalho, chegam os grandes barcos turísticos que seguem para conhecer a linda e exótica região. Neste momento o clima é de festa e deslumbramento, porém quebrar o gelo não foi tarefa fácil - nem rápida.
Minha intenção neste breve artigo é encorajar os missionários que lutam em suas fronteiras, bem como a Igreja que segura as cordas para que ali permaneçam. As fronteiras missionárias jamais serão fáceis ou rápidas. Para ultrapassá-las é necessário fortalecer-se no Senhor!
Paulo, escrevendo à Igreja em Éfeso encorajou todo crente a se fortalecer no Senhor (Ef 6:10). O termo usado para fortalecimento tem como raiz o dynamis – poder de Deus, portanto “sede fortalecidos” poderia ser também traduzido como “sede dinamizados”. Expressa, assim, que a fonte da força não é homem, mas o Senhor nosso Deus. Apesar de algumas traduções usarem o imperativo “fortalecei-vos”, o verbo grego está na voz passiva cuja melhor tradução seria “sede fortalecidos”, deixando bem claro que é o Senhor quem pratica a ação. Ao longo do texto ele nos trás motivos claros e urgentes para este fortalecimento.
Primeiramente para não cairmos na cilada do diabo (v. 11). Parece-me, portanto, que as ciladas são abundantes e constantes e o nosso livramento não provém do conhecimento a respeito delas, mas do fortalecimento do coração na presença do Senhor. Em segundo lugar ele nos encoraja a sermos fortalecidos para resistirmos no dia mau (v. 13). Bem sabemos que resistir no dia bom não requer grande esforço da nossa parte. Quando as portas se abrem, o povo ouve a Palavra, pessoas se convertem e igrejas nascem, os fatos da vida já se tornam natural encorajamento. Há, porém, o dia mau quando a enfermidade bate à nossa porta, a perseguição se acentua, o sustento não vem, o amigo não ouve e o povo não se converte. Nestes dias a ordem é resistir e Paulo usa a figura de uma estaca bem fincada no chão que não é derrubada pelo vento.
Um terceiro motivo é a proclamação do Evangelho (v. 19). Se fortalecidos falaremos mais de Jesus com nossas palavras e mostraremos mais Jesus em nossas vidas. Fortalecidos no Senhor cruzaremos fronteiras, falaremos do Nome de Jesus e nos envolveremos, com muito amor, com o próximo. Apesar da grave necessidade de abençoada e útil ajuda física, psíquica e emocional mediante os problemas diários – e das fronteiras missionárias – é preciso lembrar que as soluções mais profundas e duradouras para os problemas da alma e da vida se encontram aos pés do trono de Deus. Ali seremos fortalecidos, pois “os que esperam no Senhor renovarão as forças, subirão como águias; correrão e não se cansarão; caminharão e não se fatigarão” (Is 40:31). No Senhor encontramos renovo!
Dentre várias formas de buscarmos fortalecimento em Deus devemos manter em mente (e na prática diária) alguns essenciais: cultivar a vida devocional, estudar e conhecer a Palavra e não caminhar sozinho.
As fronteiras missionárias se desdobram no tempo, portanto não é uma caminhada de um só dia. Gosto da expressão de Lutero, citado no livro Glory to Glory, quando diz que “esta vida, portanto, não é justiça, mas crescimento em justiça. Não é saúde, mas cura. Não é ser, mas se tornar. Não é descansar, mas exercitar. Ainda não somos o que seremos, mas estamos crescendo nesta direção. O processo ainda não está terminado, mas vai prosseguindo. Não é o final, mas é a estrada. Todas as coisas ainda não brilham em glória, mas todas as coisas vão sendo purificadas”.

Que o Senhor encoraje os missionários a enfrentarem suas fronteiras e a Igreja a apoiá-los nesta caminhada. Ainda não é o final, mas é a estrada. Nesta estrada todo missionário precisa de um intercessor que persevere e um amigo que com ele caminhe. Por meio destes também o Senhor nos fortalece.

Encerro com uma oração, para que o Senhor visite a cada missionário em suas fronteiras e cada irmão que lhe segura a corda. Que o Senhor os fortaleça e os livre das ciladas, resistindo quando o dia mau chegar e jamais deixando de proclamar a Palavra. Que o Altíssimo dê a cada um porção extra de discernimento – para o próximo passo – e de perseverança - para não desistir. Para os que estão “andando e chorando” enquanto semeiam, saibam que um dia voltarão trazendo os frutos. Talvez o dia ainda não tenha chegado, mas é a estrada. Se fortalecidos, passaremos pelas fronteiras tendo guardado o coração - para a glória do Nome acima de todo Nome: Jesus.

Missionário Ronaldo Lidório

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