Morris Chalfant
Numa manhã, bem cedinho, A.B.Simpson foi
surpreendido no seu devocional, com seus braços abraçando um globo terrestre, e
sobre ele derramando as suas lágrimas enquanto orava por um mundo perdido.
Milhares e milhares de almas diariamente,
Passam à eternidade, uma a uma,
Imersos em culpa e trevas sem Cristo.
O que é que tu vais dizer, ó Igreja de Cristo,
Quando chegar o terrível dia do juízo,
E fores acusada da sua condenação?
Parte indispensável de um evangelismo eficaz é
aquele impulso espiritual que chamamos “peso” ou “encargo”. É uma sensibilidade
da alma para com os perdidos, uma atitude de quebrantamento, um coração
despedaçado pelo destino dos impenitentes.
Há uma grande necessidade na Igreja por um
avivamento de lágrimas. Quando sentirmos um encargo pelos homens e mulheres
perdidos profundo suficiente para nos fazer chorar por seu estado, começaremos
a vê-los chegar a Jesus. Jeremias expressou um sentimento semelhante nesta
passagem conhecida: “Ah, se a minha cabeça fosse uma fonte de água e os meus
olhos um manancial de lágrimas, eu choraria noite e dia pelos mortos do meu
povo!” (Jr 9.1).
À luz da alegria que há em Jesus, essas
afirmações podem parecer surpreendentes. A Bíblia nos diz que: “A alegria do Senhor
é a nossa força” (Ne 8.10). A canção dos anjos foi: “Eis que vos trago novas de
grande alegria” (Lc 2.10). “E houve grande alegria naquela cidade” é o registro
das emoções que resultaram do grande avivamento em Samaria (At 8.8).
Por que, então, a igreja precisa de um
“avivamento de lágrimas”? Por que motivo a oração patética de Jeremias? É
porque as lágrimas sempre precedem e são pré-requisito para a alegria. O peso
vem antes da bênção. As lágrimas antecipam o triunfo. Os gemidos vão adiante da
glória. “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5).
Ministério Sem Lágrimas
Uma dos principais causas de termos igrejas
estéreis e congregações sem alegria é o fato de termos ministério sem lágrimas.
(Pode até haver contentamento e frivolidade quando não há a verdadeira alegria
celestial.) Quando Sião sofreu as dores do trabalho de parto, logo deu à luz
seus filhos (Is 66.8). Paulo serviu a Deus com muitas lágrimas a fim de que
Cristo fosse formado em multidões de vidas humanas. Enquanto não
experimentarmos um surto de tristeza santa pelas almas, nosso esforço para
trazer o verdadeiro avivamento será em vão. Já tentamos muitas coisas boas;
temos nos desgastado para melhorar nossa organização e para produzir zelo
sacrifical; mas ainda não vimos o derramar do Espírito Santo pelo qual tanto
esperamos. Precisamos de lágrimas!
Quando Neemias recebeu a ordem de Deus para
reconstruir os muros da cidade santa, ele testificou: “Tendo eu ouvido estas
palavras… assentei-me e chorei” (Ne 1.4). Por que ele chorou? Será que foi
porque captou uma visão das ruas da cidade arruinada, cheias de cadáveres? Será
que foi porque temia pela sua própria vida, constantemente ameaçada pelos
inimigos? Não! Ele viu a terrível apostasia do povo de Deus – e nos deu a chave
para o avivamento: “Assentei-me e chorei”.
Quando Alexander Maclaren foi convidado para
ocupar o púlpito de uma grande igreja batista em Manchester, Inglaterra, ele se
reuniu com os seus diáconos e disse: “Cavalheiros, precisamos acertar uma coisa
antes de eu assumir essa posição. Vocês querem a minha cabeça ou os meus pés?
Vocês podem ter ou uma ou os outros, mas não podem ter os dois. Eu posso ir por
aí fazendo isto ou aquilo e tomando chá, se é o que vocês querem; mas não
esperem que eu lhes traga algo que possa sacudir esta cidade”.
Deus não chama homens para o púlpito a fim de
serem pau para toda obra, entregando recadinhos. Ele os chama para se
prostrarem rosto em terra diante de sua presença. Os diáconos do Dr.Maclaren
entenderam a mensagem; mas quem é que se prostra rosto em terra diante de Deus
hoje em dia?
Paulo afirma que “noite e dia não cessei de
admoestar, com lágrimas, a cada um!” (At 20.31). Ele declara em outro lugar que
procurava preencher o que restava das aflições de Cristo (Cl 1.24). Admitiu até
que aceitaria o inferno, se dessa maneira pudesse ganhar a sua nação de Israel
para Deus. Moisés preferia antes ser riscado do livro de Deus do que ver Israel
castigado e condenado.
Aquele que, com coração partido, chora com
freqüência, não apostatará. Aquele que derrama as suas lágrimas em oração e
estudo bíblico nunca se tornará fanático. Aquele que sai, com coração
sangrando, para semear a preciosa semente do evangelho, tem a certeza de que
colherá almas para Deus. Aquele que geme com agonia de alma pelas almas dos
outros dará à luz filhos espirituais.
Quem Está Chorando Hoje?
Hudson Taylor, fundador da China Inland Mission
(Missão Interna da China), conta que quando era estudante universitário, ficou
encarregado de cuidar de um homem com um pé gangrenado. Era sua obrigação fazer
o curativo no pé do homem todos os dias. Logo ficou sabendo que o seu paciente
não era cristão, e que não entrava numa igreja há mais de quarenta anos. Era
tão grande o seu ódio pela religião que se recusou a entrar na igreja por
ocasião do enterro da sua esposa.
O jovem Hudson decidiu falar a esse homem a
respeito da sua alma cada vez que o visitasse. O homem o xingava e não permitia
que ele orasse. O estudante persistiu em lhe apresentar Cristo até um dia em
que disse para si mesmo: “É inútil”, e levantou-se para sair do quarto.
Quando chegou à porta, Hudson se voltou e viu o
homem olhando para ele como se dissesse: “Como assim, você vai embora hoje sem
me falar a respeito de Cristo?” Nisso, o jovem prorrompeu em lágrimas e,
voltando para perto da cama, disse: “Quer o senhor queira, quer não, eu preciso
liberar a minha alma. Permite que eu ore com o senhor?” O homem assentiu,
começou a chorar e se converteu.
O testemunho de Hudson Taylor sobre essa
experiência foi: “Deus quebrou o meu coração a fim de poder, por meu
intermédio, quebrar o coração daquele homem ímpio”.
Peça agora ao Espírito Santo que lhe dê um
coração sensível, e que faça dos seus olhos uma fonte de lágrimas, a fim de que
possa, com a compaixão de Cristo, buscar os que estão perdidos e próximos à
morte.
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