terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Reflexão: O Brasil missionário e a “cultura do evento”


A pandemia de Covid-19 descontruiu preconceitos, demoliu expectativa$ e, como a perseguição na Jerusalém do primeiro século, apressou o passo duma igreja sonolenta até o quase pecado.

Mas não adiantou de todo: Tiramos um pé do atoleiro, mas seguimos presos no que eu chamo de a “cultura do evento”. Encontros presenciais, capacitações, cursos de fim-de-semana ou que se estendem por três longos anos estão sendo retomados na modalidade presencial, para alegria de meia-dúzia que ainda não entendeu, e para azar de um país de colossais 8.510.000 quilômetros quadrados, 5.558 municípios e em torno de 60 milhões de crentes. SESSENTA MILHÕES DE CRENTES, que certamente não cabem na sua sede missionária, seminário, sítio, estádio ou o que você conseguir.

SESSENTA MILHÕES DE CRENTES.

Grandes igrejas, missões, denominações, agências e colegiados de agências nacionais parecem firmemente presos ao presencial, ao evento. O tempo que seria gasto em proporcionar RECURSOS GRATUITOS E DEMOCRATIZADOS (via web) é gasto em passagens de avião, hospedagens, alimentação, gasolina. Tudo com uma naturalidade, um “tem que ser assim, só pode mesmo ser assim” de causar arrepios em quem sabe dar valor (pois não o tem ou já não o teve um dia) ao DINHEIRO. Principalmente o dinheiro que compete ser alocado na obra de Deus.

Vamos a um teste, vamos ao que nos possa dar discernimento efetivo. Entre em sites de missões e colegiados (associações) de missão ou sites de igrejas genéricas/denominacionais (evangélicas/reformadas) e procure pela aba “Recursos”. Nos EUA, fonte nossa e de todos estes, é comum a cada site haver os recursos para capacitação de quem quiser se capacitar, em sua maioria gratuitos – e-books, podcasts, séries de vídeos auto instrutivos e etc. Mas faça o teste aqui em Pindorama, em nosso Brasil continental. Fez?

Pois bem, deve ter chegado a alguma conclusão. Sem querer desgastar ainda mais seu tempo, lhe proponho que faça agora outro teste. Procure pela aba “Eventos” ou “Agenda”.

Fez? Se fez, não preciso me estender, os festivos fatos são a melhor pedagogia.

Mas, E DAÍ?

Faça a sua parte. Empreenda esforços para trocar (no seu coração e na sua instituição) a “cultura do evento” pela “cultura dos recursos”. Ou a cultura do “venha” pela cultura do “tome aqui”. Não se questiona aqui a necessidade e riqueza maior proporcionada pelo tête-à-tête, o cara-a-cara; sou professor, como o faria? O questionável é a manutenção deste sistema monocórdio, pouco produtivo, elitista (sim, elitista!), num momento em que já adentramos até as canelas do século XXI, talvez o último.

Talvez o último. Será? Ou agimos no atacado sobre uma igreja de 60 milhões de almas dispersas por 5.558 municípios que se estendem por 8.510.000 km², ou pingamos gotas no varejo dos eventos - lá naquela estância hidromineral no Centro-Oeste, no indobrável eixo-de-aço RJ-SP, ou mesmo naquela base ensolarada no Nordeste...

No mais, celebro e reafirmo a importância de tais eventos, e ser um dos seus maiores divulgadores (vide a vida do blog/canais Veredas Missionárias) o comprova. Mas torço para que eles tenham cada vez menos importância, pelo simples e monolítico fato de sermos sessenta milhões de crentes. 

Sammis Reachers

- www.veredasmissionarias.blogspot.com

(Este texto pode ser livremente reproduzido, por quaisquer meios, sem necessidade de prévia autorização. Mamon já nos impõe pedidos de autorização demais, concorda?).


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