Os Carteiros Infiéis e
a Igreja de Cristo
Em certa agência dos
Correios, situada no sertão baiano, uma velha equipe de funcionários se debatia
em realizar suas auto eleitas funções.
Dois deles, sobre um
balcão, manuscreviam uma carta, cada qual se arrogando possuir a melhor caligrafia,
enquanto outro, o chefe de seção, a ditava; noutra mesa, três outros estavam
ocupados recortando papéis para fazer envelopes – papel branco, kraft pardo ou
laranja eram usados por cada qual, ciosos de suas preferências. Um grupinho, ao
fundo, entre um gole de café e outro, discutia qual a melhor cola para utilizar
no selamento dos envelopes. Na porta do banheiro, enquanto aguardavam a sua vez
de utilizar o trono, o mais antigo funcionário da agência rememorava ao mais
jovem como eram bons os tempos antigos, quando a filatelia (o amor e
colecionismo de selos) era uma paixão mundial, e como os atuais selos padronizados
e as máquinas franqueadoras ajudaram a acabar com o encanto de antanho. Dois
outros veteranos, no pátio da pequena agência, discutiam sobre as bicicletas
usadas para a entrega. Qual marca antiga era a melhor: Caloi ou Monark?
Do lado de fora da
agência, o silêncio era ensurdecedor. Ocupados em preparar cartas e discutir sobre mil temas paralelos, nenhum daqueles funcionários dos Correios, nenhum daqueles CARTEIROS,
entregava cartas.
Aquela agência é como
muitas igrejas: Ao invés de apenas entregarem a mensagem – somos mensageiros! –
se ocupam em escrever eles próprios a mensagem, discuti-la, floreá-la, preparar
sua embalagem, debater os métodos de entrega...
Nossa missão é
simplesmente entregar a mensagem, que veio pronta das mãos do próprio Autor.
Enquanto nos enfadamos em
departamentos e eventos, o mundo aguarda uma carta remetida há incríveis dois
mil anos!
Sammis Reachers
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