segunda-feira, 20 de outubro de 2008

BRÁULIA RIBEIRO: ENTREVISTA


Portal Cristianismo Hoje - http://www.cristianismohoje.com.br/

Desde 2005, a agência missionária Jovens com Uma Missão, a Jocum, encontra-se no olho do furacão. Naquele ano, dois obreiros ligado à entidade, o casal Edson e Márcia Suzuki, que atuavam havia longo tempo junto à etnia indígena suruwahá, salvaram uma criança condenada à morte pela própria tribo. Nascida com hipotireoidismo, Hakani, a criança, deveria ser sacrificada – o costume do infanticídio ainda é comum entre diversas nações indígenas brasileiras. A atitude, tomada em comum acordo com parentes da criança, fez o mundo desabar sobre a cabeça dos missionários. Acusados pela Fundação Nacional do Índio, a Funai (órgão ligado ao Ministério da Justiça que executa a política indigenista nacional), pelo Ministério Público e por setores acadêmicos de “crime cultural”, os missionários, bem como outros obreiros da Jocum, foram obrigados a deixar as áreas indígenas. Em maio deste ano, outro ataque – um diretor da Funai, Antenor Vaz, divulgou um dossiê contendo pesadas críticas à ação das missões religiosas que trabalham com indígenas em geral e à Jocum em particular.
A missionária Bráulia Ribeiro, presidente da missão entre 2003 e 2007, acompanhou de perto todo o processo contra a entidade. Ela atuou durante quase duas décadas entre os suruwahá, conhecendo como ninguém sua rotina, língua e cultura. Legitimada por tanta experiência, ela fica indignada com a situação. “Existe uma indisposição geral contra as missões indígenas. Trata-se de uma suspeita gratuita, porque há algo de inaceitável para o governo na nossa própria existência”, reclama. Bráulia considera que o relatório da Funai está eivado de erros e preconceitos – “Foi elaborado sem qualquer apuro acadêmico”, denuncia – e que falar em respeito a culturas indígenas diante de ameaças à vida dos próprios índios é um absurdo. “O mito da tolerância cultural absoluta nos tirou a capacidade de perceber os seres humanos por trás da coletividade indígena”. Bráulia é uma das principais vozes na luta contra a prática do infanticídio, que segundo ela, já é combatida pelos próprios índios. “A garantia à vida é direito constitucional”, lembra.
A missionária faz questão de desfazer o que chama de mentiras, como a noção de que a fé cristã descaracteriza o modo de ser do índio. Segundo ela, todas as culturas nativas têm a figura de uma divindade criadora – neste contexto, a noção de um Deus Todo-poderoso seria, em sua opinião, perfeitamente cabível. “Além disso, a moral cristã se parece mais com a vida tribal, que na maioria das vezes tem o núcleo familiar forte e bem apoiado por sanções sociais, do que a amoralidade permissiva que alguns pesquisadores preconizam”, aponta. Bráulia não tem dúvida – o índio cristão é cem por cento índio. Ela conversou com o portal CRISTIANISMO HOJE:

CRISTIANISMO HOJE – Na sua opinião, por que a Funai tem imposto tantas restrições à ação missionária evangélica nas áreas indígenas?

BRÁULIA RIBEIRO – Existe uma indisposição geral contra as missões indígenas.Para mim, trata-se de uma suspeita gratuita, porque há algo de inaceitável para o governo na nossa própria existência. A mentira em que se acredita é que as missões são as únicas instituições que mudam o estilo de vida dos indígenas, ferindo-os diretamente em sua cosmovisão. A sociedade em geral tende a acreditar nisso por desconhecer a realidade sócio-cultural das nações indígenas. Na verdade, todos que têm contato com os povos indígenas mudam sua cosmovisão, porque não existe cultura humana estática. Ora, todos os grupos humanos sofrem constantes mudanças em sua maneira de ver e se relacionar com o mundo. A Funai, entre todos os grupos, é o que mais tem contato permanente com povos indígenas – então, seria a maior causadora de mudança de sua cosmovisão.

Quais foram os desdobramentos das críticas do relatório do sertanista Antenor Vaz?

Até agora, estamos ainda sendo investigados e oficialmente proibidos de manter uma equipe na área suruwahá . A Jocum, na maioria de seus projetos, usa o método missiológico C5. Nesta abordagem missionária, não se prega religião ou se impõe qualquer noção ocidental de organização da revelação de Deus. Deus se manifesta e se revela à cultura, e hábitos culturais e formas religiosas são mantidos – a não ser que os próprios índios os definam como conflitantes com a revelação que receberam. No caso dos suruwahá, a valorização da vida foi o efeito mais sentido diretamente. Teve como conseqüência o próprio confronto dos índios com o governo para salvar seus filhos que anteriormente seriam destinados ao infanticídio. Foi exatamente esta mudança cultural que colocou a Jocum no centro deste conflito que perdura até hoje. Foram os próprios índios, implorando por ajuda para salvar seus filhos, que nos levaram a isto. O dossiê pseudo-acadêmico de Antenor Vaz diz que a Jocum cometeu todos os crimes, pecados e erros e possíveis como missão. Pense em uma acusação qualquer que se faz contra ONGs na Amazônia. Pois esta acusação provavelmente está no dossiê, usada contra nós. É uma tentativa desesperada de nos achar em alguma falta.

Mas a Jocum não cometeu nenhum equívoco que justificasse a pressão que tem recebido da Funai, do governo e de setores acadêmicos?

Dos setores acadêmicos, não. Não existe nenhum rigor acadêmico no que foi feito. Pelo contrário – se houvesse, teríamos que ser reconhecidos como lingüistas que classificamos, descrevemos, analisamos e apresentamos para o mundo científico a língua suruwahá e a cultura de seu povo. Este trabalho já valeu aos nossos lingüistas publicações nacionais e internacionais, teses de mestrado defendidas na Unicamp e na Unir. Márcia Suzuki, da ONG Atini, recebeu até uma proposta para doutoramento na Universidade Paris X, uma das melhores universidades européias na área. Se cometemos algum erro, foi o de manter a nossa comunicação com o mundo externo cifrada em crentês por muitos anos, não denunciando com mais eficiência os abusos cometidos pela Funai – e o de não militar com eficiência e ardor pelo respeito governamental aos direitos humanos dos povos indígenas.

Setores da Funai acusam a Jocum de agir a serviço de interesses estrangeiros. Tendo sido a agência fundada por um missionário americano, o que existe de verdade e de mentira nesta acusação?

Apesar de termos fundadores americanos, a Jocum é a mais – ou uma das mais – brasileira das missões do país. Está no próprio “DNA” da missão a capacidade de se metamorfosear de acordo com o ambiente onde atua. A Jocum Brasil nasceu popular, povão mesmo, na década de 1970, dando espaço para que os jovens vindos das classes C e D participassem e liderassem nosso movimento de missões. Eram jovens que, até então, não tinham acesso aos cursos missionários mais tradicionais, que geralmente custavam caro. Por sermos um movimento basicamente leigo, tivemos muita liberdade para desenvolver nossa própria missiologia, uma missiologia brasileira. Eu me lembro de quando comecei na Jocum. Nossa equipe não tinha dinheiro para fazer compras na cidade, então ficávamos nas aldeias e vivíamos como índios, caçando, pescando e plantando como eles. Mais tarde, vim a saber que este estilo de fazer missões era chamado de encarnacional pelos especialistas. E descobrimos que isso nos aproximava das pessoas, nos dava uma capacidade de entender melhor a cultura junto à qual atuávamos e de sermos entendidos pelos indivíduos daquela cultura de maneira muito mais intensa do que se vivêssemos isolados em nossa própria estrutura missionária. Em meu livro Chamado radical, publicado pela Editora Ultimato, conto a história do nascimento de nosso trabalho com crianças de rua em Belém, ribeirinhos e do trabalho indígena. Na Jocum, temos espaço para o sonho e a iniciativa individuais. Não temos um pacote pronto institucional de alvos e interesses organizacionais. Não temos dinheiro centralizado, e cada projeto tem que se auto-financiar. Cremos que o jovem romântico de mochila nas costas é quem vai nos mostrar o próximo passo a dar. Acho que é por isso que a Jocum se mantém, com quase 50 anos de existência, como a missão que ainda mais cresce no mundo.

O que a senhora tem a dizer acerca da abordagem antropológica que considera o infanticídio como mera prática ritual?

O mito da tolerância cultural absoluta nos tirou a capacidade de perceber os seres humanos por trás da coletividade, ou da cultura indígena. A Jocum, em 2005, comprou uma briga com o governo ao retirar de uma tribo indígena considerada isolada uma garota para tratamento médico, que nasceu com defeito genético. Para os antropólogos do Ministério Público envolvidos, no caso somos culpados do crime de interferência cultural. Para eles, claramente, a vida da menina não tinha valor singular ou inerente – o costume cultural do infanticídio era o único valor a ser preservado. O que eles queriam, na verdade, não é a preservação da cultura, porque até a pessoa mais ignorante sabe que sem pessoas, sem indivíduos que a vivam, não existe cultura; portanto, a preservação das pessoas tem que vir antes da abstração da cultura. Mas o que eles queriam é a manutenção do darwinismo social mal-disfarçado que permeia o indigenismo brasileiro. Este é hoje o conceito prevalente no meio indigenista. Como erro curioso na cadeia evolucionista, estas culturas “primitivas” devem ser preservadas ao preço até da vida dos indivíduos que as compõem. Não por elas, mas pelo “serviço” que elas prestam à ciência ocidental, como propôs o próprio Napoleon Chagnon, durante sua carreira de antropólogo entre os yanomami.

Quem mais, além da Jocum, levanta a bandeira contra o infanticídio?

Hoje, o movimento contra o infanticídio vai muito além da Jocum ou das missões cristãs – e não se trata de uma questão religiosa, apesar de que, maliciosamente, alguns querem tratá-la assim. Trata-se de direitos constitucionais e fundamentais, que são negados aos povos indígenas por causa da miopia do darwinismo social. Com o nascimento de ONGs importantes como a Atini – Voz pela Vida e o Movimento Indígena contra o Infanticídio, o debate ganhou corpo nacional. Povos indígenas do Oiapoque ao Chuí, falantes diferentes línguas e com diferentes cosmovisões, insistem com o governo pelo direito à assistência médica eficiente para suas crianças. Exames clínicos básicos e obrigatórios para a população brasileira em geral, como o teste do pezinho – que pode diagnosticar doenças precocemente, permitindo seu correto tratamento –, não são feitos até hoje nas nações indígenas. Abandonar essas crianças é condena-las a morrer.

A repercussão do filme Hakani beneficiou de alguma forma a ação da Jocum contra a prática do infanticídio indígena?

Nós ajudamos na produção do filme, mas os povos indígenas representados por várias associações que hoje representam esta voz contra o infanticídio é que são os protagonistas do movimento. E claro – sendo nosso mundo tão audiovisual, o filme deu uma tremenda força à causa, tanto dentro das comunidades indígenas como fora. O filme narra a história real de uma garotinha indígena salva do infanticídio por seu próprio irmão. O documentário-drama foi realizado com a participação voluntária de integrantes de 16 nações indígenas. Hakani de maneira nenhuma difama ou diminui os povos indígenas, mas mostra como, de maneira altruísta e nobre, muitos índios se levantam para acabar com um costume cruel que só subsiste até hoje por causa da indiferença do Estado e das falácias que dão aos indígenas um status não-humano a nosso olhos brasileiros.

Qual é a posição da agência diante da atual política adotada pelo governo em relação aos índios isolados, que é a de impedir qualquer contato com os brancos?

Nós não somos uma missão integracionista, ou seja, que trabalha com integração cultural das tribos à cultura nacional. Pelo contrário – até representamos uma missiologia ainda muito pouco conhecida e aplicada no Brasil, e que separa claramente a ocidentalização, ou aculturação, da mensagem supracultural de Jesus. Durante nossos vinte e quatro anos de contato com os suruwahá, não introduzimos nenhum hábito material novo. Eles continuam vivendo como sempre viveram, autônomos e independentes da sociedade envolvente. Se compararmos a situação dos suruwahá no contato pela Funai na mesma época, perceberemos uma diferença enorme. Enquanto os suruwahá mantém sua dignidade auto-estima, autonomia e têm o mesmo número de habitantes de 30 anos atrás, os urueu-wauwau de Rondônia, por exemplo, vivem na dependência material das bolsas assistenciais do governo, atormentados pelo alcoolismo e desestruturados socialmente. Esse povo perdeu sessenta por cento de sua população no mesmo período de 30 anos. No entanto, apesar de manter a autonomia sócio-econômica, os povos semi-isolados precisam de um trabalho de educação e de pontes com o mundo externo. Eles têm que se preparar para o confronto inevitável, têm que entender nosso mundo e saber que podem se relacionar de igual para igual com ele. A Amazônia é enorme e a vigilância constante naquela região é muito difícil, ou mesmo impossível. Eles têm que também receber assistência de saúde boa e completa, de preferência que inclua também o treinamento de agentes de saúde indígenas, a fim de que as ações sejam continuadas, e não esporádicas, dependendo apenas da visita de médicos a cada seis meses. Esta história que a medicina tradicional dá conta do recado é puro descaso. Se abandonados à sua própria sorte, estes grupos vão acabar desaparecendo.

Além do trabalho religioso propriamente dito, quais são as outras atividades dos obreiros da Jocum em áreas indígenas?

Entenda que o trabalho considerado “religioso” só acontece em populações aculturadas e a pedido destas mesmas populações. Eu tentei explicar isto numa reportagem de TV e minhas palavras foram mal-compreendidas e distorcidas como se eu tivesse intenção de negar a fé. Um missionário da Jocum em área indígena – e acredito que de outras missões também – se ocupa mais em tarefas diárias relacionadas à sobrevivência destes povos do que com tarefas religiosas. Não existe, pelo menos de nossa parte, uma “catequese” sistemática. Tudo acontece no contexto de relacionamento. A cosmovisão cristã está muito mais próxima da cultura indígena do que a cosmovisão secular liberal, o cientificismo cético que praticam os indigenistas não-cristãos. Enquanto o secularismo nega a existência de um mundo sobrenatural e atribui tudo à mitologia e ao folclore indígena, o cristão crê na sobrenaturalidade que permeia o dia a dia indígena e participa desta realidade com suas orações, amizades e crença no Criador, no “Espírito do Bem”, que é Jesus. Isto é, não forçamos nada aos índios; simplesmente vivemos uma vida de dedicação, amizade e compromisso com o bem-estar social da aldeia.

Mas e a questão da moral cristã? Ela pode ser seguida numa tribo indígena?

Olha, a moral cristã também se parece mais com a vida tribal, que na maioria das vezes tem o núcleo familiar forte e bem apoiado por sanções sociais, do que a amoralidade permissiva que alguns pesquisadores retrataram erradamente. Alguns missionários fazem a tradução do Novo Testamento, sim. Mas fazem também a tradução de lendas e mitos da cultura indígena. A própria tarefa de tradução da Bíblia obriga o missionário a um conhecimento real e um respeito pela língua e cultura indígenas maior do que o de um antropólogo que passa dois ou três meses numa tribo ajudado por tradutores quase sempre ruins. O resultado disso é uma dissertação na maioria das vezes planejada para provar uma tese científica qualquer já pré-estabelecida.

E até onde o conteúdo da Bíblia, escrita no contexto judaico-cristão da Antigüidade, tem algo a ver com a realidade do indígena?

Quando, nas aldeias mais aculturadas, acontece o ensino bíblico sistemático, este ensino é mais um em meio a tantos outros ensinos necessários para a sobrevivência do povo – e, ao invés de diminuir a auto-estima e força cultural daquela comunidade, faz com que eles tenham mais orgulho de quem são, e portanto vontade de manter sua organização social e familiar. A Bíblia é basicamente a história de um povo tribal lutando para sobreviver em meio a nações mais desenvolvidas e que os oprimiam. Conhecer esta história só ajuda aos povos indígenas a saber que não estão sozinhos e que também podem sobreviver. Não posso aceitar a acusação de que trocamos assistência de saúde e educação por conversão, ou de que usamos nossa estrutura de apoio para obrigar os indígenas a se tornarem “prosélitos” do Evangelho. Como muitas afirmei em meu livro Chamado radical, a verdadeira missão cristã não é religiosa. É uma missão de amor. Não somos chamados a nada, a não para amar à custa de nossas próprias vidas.

Quais são os benefícios da presença missionária entre as etnias indígenas brasileiras no que se refere a trabalhos de preservação lingüística e cultural?

São inúmeros os benefícios. Eu poderia falar sobre as reduções jesuítas, que eram os maiores pólos de desenvolvimento do Brasil-Colônia e da contribuição cristã aos direitos humanos e respeito às línguas e culturas indígenas, numa época onde imperava apenas a barbárie, quando o comércio de escravos e o genocídio de povos inteiros eram parte essencial do tecido sócio-econômico. Em 1560, quando os índios eram considerados quase como animais, o padre José de Anchieta publicou a primeira gramática em uma língua brasileira – a Gramática da língua mais falada na Costa Brasileira. Mas, falando apenas no século 20, vamos pensar nas missões indígenas protestantes, ou modernas. O respeitado antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro convidou o Summer Institute of Linguistics (SIL), para se estabelecer no Brasil. Parte dos maiores pesquisadores em lingüística descritiva e antropologia cultural do mundo eram membros e líderes daquela entidade, que no Brasil chama-se Sociedade Internacional de Lingüística. Darcy, como o visionário que era, percebeu o impulso que uma organização como a SIL poderia dar ao estudo dos povos brasileiros. Repare que havia já outras missões agindo entre indígenas, como a missão Caiuá, por exemplo, que focalizava a questão da saúde. Mas foi a entrada da SIL que sistematizou a documentação de dados culturais e lingüísticos dos povos indígenas de todo o Brasil. Ainda hoje, o acervo científico da SIL é maior do que o de qualquer universidade brasileira. Por muitos anos, os únicos a levarem educação chamada bilíngüe e bicultural, que usa como base a língua materna e treina professores indígenas, foram as missões protestantes. Apesar da Lei de Diretrizes e Bases da Educação prever a obrigatoriadade do uso da língua tribal na educação indígena, os municípios não têm pessoal técnico para fazer isso. Já as missões não só têm recursos humanos, mas possuem documentação lingüística, experiência e a confiança das populações indígenas para possibilitar a aplicação da lei. Mas, infelizmente, o preconceito e a discriminação contra as missões hoje fazem com que a educação indígena seja descaracterizada e aleijada.

Se missões como a Jocum alcançaram tanta excelência nos estudos lingüísticos e culturais, porque as organizações não-governamentais leigas são mais prestigiadas pelo governo e a opinião pública em geral?

As ONGs indigenistas militam sempre para poder manter seu controle, e contra as missões. O domínio da questão indígena por concepções tacanhas e estranhas ao interesse real dos povos indígenas tem que acabar. Nosso pessoal, que é brasileiro, tem sido retirado das áreas indígenas e impedido de atuar como tradutores, apesar de mais de duas décadas de experiência com as línguas nativas. Contudo, temos informação de que um alemão entrou em nosso lugar. Não sabemos o que ele faz lá, mas vai ter que começar do zero. Estranho, não?

Muito se fala numa suposta interferência do Evangelho sobre o ethos tribal. Afinal, a pregação da fé cristã pode representar um risco ao modo de ser do indígena?

Narro em meu livro a história de um índio suruwahá, pajé, que teve uma visão de Jesus no caminho. Ele viu Jesus numa das trilhas da mata, totalmente caracterizado de índio suruwahá, nu, pintado de vermelho usando cordão peniano. Ninguém contou pra ele como Jesus se vestia ou que jeito tinha. O Evangelho traz aos homens uma revelação supracultural. De acordo com o antropólogo Don Richardson, 100% das culturas do mundo têm o conceito de um Deus Criador como parte de sua cosmovisão. Para as culturas brasileiras, em geral, dizer que existe um Deus Criador não é introduzir um conceito novo, mas é afirmar uma parte essencial da religião tribal. Todas elas têm o nome para o Criador e algumas até para seu filho, que muitas vezes é o principal herói mítico. O que o Evangelho traz de novo é a participação de um espírito bom (Jesus) e que tem poder sobre os maus, a salvação individual e as conseqüências desta salvação – ou seja, a revelação geral já está presente. O que levamos são apenas detalhes; não existe rompimento com o núcleo cosmológico. O secularismo, no entanto, que chega através de tantos outros meios, inclusive a própria escola, confronta diretamente o universo tribal, relegando todas suas crenças fundamentais à categoria de mitologia.


Leia também a entrevista sobre esse mesmo assunto com Edward Gomes da Luz da Missão Novas Tribos do Brasil: http://www.cristianismohoje.com.br/artigo.php?artigoid

Um comentário:

Natalino da Silva disse...

Olá! Paz do Senhor!
Passando para fazer uma visita e desejar tudo de bom dentro da vontade de Deus! Que Deus continue te abençoando e te usando nesse lindo trabalho que você vem fazendo!!!

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