Alguns colocam o dinheiro no gazofilácio, outros deixam
propriedades em testamento para que a Obra prossiga, e (aleluia!) ainda outros
entregam a vida, certos de que receberão aqui cem vezes tanto, e, no porvir, a
vida eterna.
Mas hoje, no dia dos cravos vermelhos e brancos, das canções
de glorificação à maternidade e dos presentes preparados por mãos infantis, eu
me dirijo a ti, que colocaste sobre o altar mais que a própria vida, quando
entregaste a Deus a filha da tua carne e do teu coração.
Que história linda não estará escrita atrás dessa entrega?
Desde o momento em que descobriste que estavas para ser mãe, que de renúncia
não te foi exigida? A espera, a confecção das camisolinhas e casaquinhos, as
noites à beira do berço, a angústia, quando o termômetro marcava alguns graus a
mais na temperatura daquela coisinha pequenina e linda que Deus te dera para
guardar? Os remédios e alimentos na hora certa, o primeiro dia de aula, os primeiros
vestidos de mocinha, os sacrifícios para dar a ela um preparo melhor, os sonhos
que começaram a voltar com a mesma intensidade de teu tempo de moça. A filha
ocupando o papel principal... um casamento vantajoso, um lar feliz, netos... o
novo ciclo que se reiniciaria.
E, então, lá do alto, a voz soou a teus ouvidos como aquela
que fez estremecer Abraão:
- A tua filha para o meu serviço... o campo não pode
esperar...
Eu te posso ver, mãe, num banco de igreja, vendo marchar à
frente a filha do teu amor, ao som do:
“Nem sempre será para o lugar que eu quiser, que o Mestre me
tem de mandar...”
Posso imaginar a luta que se travou em teu coração Tu mesma
lhe havias ensinado a entregar o melhor; tu mesma lhe havias faiado do grande
campo sem ceifeiros, mas, talvez, nunca tivesses pensado que ela — a tua menina
— seria a escolhida. No entanto, lá estava ela, entre outros, os olhos úmidos
de emoção, uma expressão tão linda como a de um anjo.
Bem sei por que choraste quando te foram felicitar. Tu sabias
que isto significaria não ouvir por muito tempo os passos queridos no fim da
tarde, muitos anos se passariam antes que aquele riso moço ressoasse outra vez
a teus ouvidos como uma canção.
Aonde a levaria aquele Deus que tu mesma lhe colocara no
coração? Quando estaria de volta? Naquelas distâncias, quem lhe prepararia a
comida? lhe ouviria as confidências? Quem a aceitaria incondicionalmente,
sempre, sempre?
As interrogações eram tantas, tantas, que tu mesma te
sentiste sobre o altar, devolvendo a Deus a muita felicidade que ele te dera a
salvação, o lar, o amor, a graça de ser mãe. Era justo, apesar de tuas
lágrimas, e tu lhe cantaste aleluias por levar para longe de ti a menina do teu
coração.
Isso foi há muito tempo, lembra-te, mãe? Mas a tua saudade
ainda é a mesma, o desejo de tê-la junto a ti é mais intenso que nunca. Só por
isso vou contar-te um segredo que te fará feliz: lá tão longe, ela pensa em ti
com um amor maior no coração.
Mas, sobretudo, que se pode comparar à bênção de sabê-la
abençoando o mundo? fazendo felizes centenas, milhares de vidas? fazendo maior
a glória de Deus? Tua renúncia, mãe, é tua participação nessa obra que nem aos
anjos foi dada a executar.
Mas, por que sei que muitos falam sobre tua filha, escrevem
sobre ela, oram por ela, e poucos, talvez, se lembrem da tua renúncia de 24
horas por dia dos teus cabelos que ficaram brancos; das rugas que te surgiram
no rosto; dos teus passos que se tornaram mais lentos, sem que ela esteja a teu
lado para dar-te o braço e levar-te à igreja nessa manhã de domingo, é que te
beijo as mãos, e afirmo, sem exagero, e sem querer plagiar o poeta, porque sei
que haverá no céu uma recompensa especial para todas aquelas que, como tu,
sabem entregar o melhor:
- A filha é missionária, mas a mãe é santa!
Do livro Deus Precisa de Você (JUERP).
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