quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Os três princípios missiológicos adotados pela maior agência missionária brasileira

 


João Marcos Barreto Soares é Diretor Executivo da Junta de Missões Mundiais da Convenção Batista Brasileira. Em seu livro O Chamado Inadiável Para Completar a Missão (Convicção Editora, 2025), ele esclarece os princípios missiológicos que atualmente regem o trabalho da JMM, uma das maiores agências missionárias do mundo:

 

Quero ressaltar nossos três princípios missiológicos, que são a nossa atual base em Missões Mundiais:

 

TODOS ENVIANDO PARA TODOS

Missões Mundiais foi pensada e estruturada por muitos anos para enviar brasileiros para o campo missionário. Entretanto, hoje entendemos que precisamos enviar todos os povos para todos os lugares onde há povos não alcançados.

 

PROTAGONISMO DO NACIONAL

No passado, nossas ações missionárias eram focadas nos brasileiros. Os brasileiros eram as pessoas-chave das intervenções missionárias. Hoje, nós acreditamos e defendemos que esse protagonismo deve pertencer à igreja local.

 

OS QUATRO AUTOS DAS COMUNIDADES DO REINO

O padrão de medida que usamos para a Plantação de igrejas em Missões Mundiais são os três princípios de autonomia, já consagrados. O princípio de autonomia das igrejas batistas afirma que cada igreja local é autônoma e independente, o que significa que cada igreja tem a liberdade de tomar suas próprias decisões, tanto no âmbito de sua própria gestão, administração e estrutura organizacional, quanto na sua teologia.

Por isso, Missões Mundiais propõe mais um princípio, além dos três princípios consagrados na perspectiva denominacional batista, Vejamos estes princípios:

 

AUTOSSUSTENTO – A igreja local precisa levantar seus próprios recursos para que o trabalho aconteça. Temos histórias de igrejas, principalmente na América do Sul, que dependeram de nós por mais de 40 anos. Mas, a crise financeira chegou ao Brasil. Como continuar mantendo aquela igreja com recursos financeiros limitados? Como aquela igreja conseguiria dar um sustento digno para seu pastor local, se sempre teve um missionário brasileiro, sustentado pelas igrejas batistas brasileiras in loco?

A igreja acabava não colocando em seu orçamento o sustento do pastor, porque eles sabiam que Missões Mundiais mandaria uma família missionária para ocupar aquela posição. Então, é extremamente importante que a Igreja local entenda seu papel em gerar e cuidar dos seus próprios recursos financeiros.

 

AUTOGOVERNO – A igreja local precisa ter líderes maduros com condições suficientes para cuidar de todo o trabalho. Por que muitas vezes uma igreja não cresce? Um dos motivos é a falta de preparo de novos líderes. Um dos indicadores monitorados por Missões Mundiais é a "capacitação de líderes".

Nós queremos que nossos missionários de plantação de igreja foquem sua atuação no preparo de novos líderes, porque entendemos que serão esses líderes que darão continuidade ao trabalho.

Uma igreja precisa ter uma liderança forte e competente para que o trabalho continue sem depender de outros.

 

AUTOPROPAGAÇÃO – A igreja local precisa ter crentes com disposição em anunciar Jesus Cristo a todos. Precisa crescer por si mesma, sem depender de ninguém.

O crescimento da igreja precisa ser orgânico. Há igrejas que entendem que a função de evangelizar é exclusiva dos pastores, dos missionários ou do Departamento de Evangelismo e Missões, mas a evangelização deve ser responsabilidade de todos.

 

AUTOTEOLOGIZAÇÃO – Missões Mundiais incluiu mais um princípio que é a autoteologização, que significa que a igreja local, por ela própria, precisa conhecer a Bíblia e interpretar a mensagem bíblica em sua própria cultura.

Isso não significa que a verdade bíblica muda de um contexto para o outro, mas que igrejas, em diferentes contextos culturais, devem expressar os temas centrais da doutrina bíblica em seu próprio idioma, enquanto tratam também de questões específicas do seu próprio contexto com base nas Escrituras Sagradas.

Nós devemos ir e fazer discípulos de todas as nações respeitando a cultura local. Eu, como missionário, não posso impor.

Isso me faz lembrar do livro da Analzira Nascimento, nossa missionária em Angola durante a guerra civil – “Evangelização ou colonização? O risco de fazer missão sem se importar com o outro”. Este modelo missionário reproduz uma prática missionária colonialista, em que os "superiores" são aqueles que sabem o que é melhor para "eles".

Precisamos de um modelo missionário que trabalha e vive com o outro, e não pelo outro. Nós, igreja brasileira, devemos respeitar a cultura local, viabilizando para que eles possam conhecer a Bíblia e interpretar a mensagem bíblica em sua própria realidade.


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