João Marcos Barreto Soares
é Diretor Executivo da Junta de Missões Mundiais da Convenção Batista
Brasileira. Em seu livro O Chamado Inadiável Para Completar a Missão (Convicção
Editora, 2025), ele esclarece os princípios missiológicos que atualmente regem
o trabalho da JMM, uma das maiores agências missionárias do mundo:
Quero ressaltar nossos
três princípios missiológicos, que são a nossa atual base em Missões Mundiais:
TODOS ENVIANDO PARA
TODOS
Missões Mundiais foi
pensada e estruturada por muitos anos para enviar brasileiros para o campo
missionário. Entretanto, hoje entendemos que precisamos enviar todos os povos
para todos os lugares onde há povos não alcançados.
PROTAGONISMO DO
NACIONAL
No passado, nossas ações
missionárias eram focadas nos brasileiros. Os brasileiros eram as pessoas-chave
das intervenções missionárias. Hoje, nós acreditamos e defendemos que esse
protagonismo deve pertencer à igreja local.
OS QUATRO AUTOS DAS
COMUNIDADES DO REINO
O padrão de medida que
usamos para a Plantação de igrejas em Missões Mundiais são os três
princípios de autonomia, já consagrados. O princípio de autonomia das igrejas
batistas afirma que cada igreja local é autônoma e independente, o que
significa que cada igreja tem a liberdade de tomar suas próprias decisões,
tanto no âmbito de sua própria gestão, administração e estrutura
organizacional, quanto na sua teologia.
Por isso, Missões Mundiais
propõe mais um princípio, além dos três princípios consagrados na perspectiva
denominacional batista, Vejamos estes princípios:
AUTOSSUSTENTO – A igreja local precisa levantar seus próprios
recursos para que o trabalho aconteça. Temos histórias de igrejas,
principalmente na América do Sul, que dependeram de nós por mais de 40 anos.
Mas, a crise financeira chegou ao Brasil. Como continuar mantendo aquela igreja
com recursos financeiros limitados? Como aquela igreja conseguiria dar um
sustento digno para seu pastor local, se sempre teve um missionário brasileiro,
sustentado pelas igrejas batistas brasileiras in loco?
A igreja acabava não
colocando em seu orçamento o sustento do pastor, porque eles sabiam que Missões
Mundiais mandaria uma família missionária para ocupar aquela posição. Então, é
extremamente importante que a Igreja local entenda seu papel em gerar e cuidar
dos seus próprios recursos financeiros.
AUTOGOVERNO – A igreja local precisa ter líderes maduros com
condições suficientes para cuidar de todo o trabalho. Por que muitas vezes uma
igreja não cresce? Um dos motivos é a falta de preparo de novos líderes. Um dos
indicadores monitorados por Missões Mundiais é a "capacitação de
líderes".
Nós queremos que nossos
missionários de plantação de igreja foquem sua atuação no preparo de novos
líderes, porque entendemos que serão esses líderes que darão continuidade ao
trabalho.
Uma igreja precisa ter uma
liderança forte e competente para que o trabalho continue sem depender de
outros.
AUTOPROPAGAÇÃO – A igreja local precisa ter crentes com disposição em
anunciar Jesus Cristo a todos. Precisa crescer por si mesma, sem depender de
ninguém.
O crescimento da igreja
precisa ser orgânico. Há igrejas que entendem que a função de evangelizar é
exclusiva dos pastores, dos missionários ou do Departamento de Evangelismo e
Missões, mas a evangelização deve ser responsabilidade de todos.
AUTOTEOLOGIZAÇÃO – Missões Mundiais incluiu mais um princípio que é a
autoteologização, que significa que a igreja local, por ela própria, precisa
conhecer a Bíblia e interpretar a mensagem bíblica em sua própria cultura.
Isso não significa que a
verdade bíblica muda de um contexto para o outro, mas que igrejas, em
diferentes contextos culturais, devem expressar os temas centrais da doutrina bíblica
em seu próprio idioma, enquanto tratam também de questões específicas do seu
próprio contexto com base nas Escrituras Sagradas.
Nós devemos ir e fazer
discípulos de todas as nações respeitando a cultura local. Eu, como
missionário, não posso impor.
Isso me faz lembrar do
livro da Analzira Nascimento, nossa missionária em Angola durante a guerra
civil – “Evangelização ou colonização? O risco de fazer missão sem se
importar com o outro”. Este modelo missionário reproduz uma prática
missionária colonialista, em que os "superiores" são aqueles que
sabem o que é melhor para "eles".
Precisamos de um modelo
missionário que trabalha e vive com o outro, e não pelo outro.
Nós, igreja brasileira, devemos respeitar a cultura local, viabilizando para
que eles possam conhecer a Bíblia e interpretar a mensagem bíblica em sua
própria realidade.

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