terça-feira, 22 de abril de 2008

A CAMINHADA MISSIONÁRIA E A QUESTÃO DOS TRÊS MEDIDORES


O que você faria se, viajando no seu automóvel, percebesse no painel do veiculo uma luz acesa indicando que a temperatura do motor está além do normal ?

· primeira possibilidade: você continuaria com o pé no acelerador, tranqüilamente;

· segunda, retiraria o fusível que possibilita aquela luz de se acender ou

· terceira, pararia o carro tão logo pudesse, tendo o cuidado de mantê-lo ligado para não trancar o motor ?

A questão é simples, os automóveis têm medidores que mostram como está a temperatura do motor, a carga da bateria, a quantidade de combustível no tanque, a velocidade do carro na pista, etc.

Ignorar os fatos que esses medidores mostram ao motorista, pode resultar em graves acidentes, e, quando não, em desagradáveis momentos.

Qual motorista, e parece que a maioria já passou por este momento, andou sorridente e satisfeito aqueles longos dois quilômetros atrás de um posto de gasolina, porque não prestou a atenção devida ou ignorou o que o medidor do combustível dizia ?

Sem contar que alguns caminharam aquela parte da estrada de noite e debaixo de chuva.

Mas, que tem a ver de interessante o painel de um automóvel para a com a caminhada missionária ? Tem muito a ver.

Na vida missionária ha também alguns medidores que, se ignorados, podem resultar em estresses desnecessários, desânimos, retornos, ferimentos de difícil recuperação, etc.

Todos nós, não importa quem somos, temos pelo menos três áreas que devem funcionar bem para avançarmos. E, mesmo que estejamos muito bem em duas delas se, apenas uma, for ignorada, pararemos na estrada, e nada alegres.

Atentemos para os três medidores: O medidor físico, o medidor emocional e o medidor espiritual.

O MEDIDOR FÍSICO:

Todo o homem, enquanto nesta terra, e, portanto, também o obreiro cristão, precisa de um corpo para existir e trabalhar.

Deus nos fez corpo, alma e espírito. Seria tolice pensar que podemos desenvolver nosso ministério sem uma dessas três partes. Logo, é sensatez questionar como esta o estado do nosso corpo, o que o seu medidor esta marcando.

Ha reservas ou as energias estão esgotadas ?

O missionário se expõe a desgastes físicos, dantes, desconhecidos:

O aprendizado de idiomas, - o contato com um povo diferente, - atividades que fogem dos horários normais de trabalho, - uma nova alimentação que pode refletir no seu desempenho físico, etc., alem do estresse natural das tarefas diárias.

O próprio fato de estar em um país que não o seu, o expõe a novas doenças que podem acometê-lo.

As diferenças do clima, da alimentação, condições de vida, poderão afetar, de uma forma ou outra, na saúde física do obreiro.Ignorar o mal funcionamento do organismo, uma doença, ou o simples cansaço semanal, pode levar o missionário de volta aa sua terra para, simplesmente, ter umas ferias para descanso ou um tempo de recuperação física.Mas, porque não, ainda no campo, o obreiro não considerar a importância do sono, do descanso físico, de um dia de descanso semanal, de uma alimentação balanceada, etc. ?!

Se o medidor físico esta mostrando que o corpo está sendo usado alem do que se deve, e é fácil perceber seu sinal, seu dono deve considerar “estacionar o veiculo para um descanso ou diminuir a marcha.”

A mãe está cansada da casa, o pai está cansado do escritório ou do movimento do centro da cidade, as crianças estão cansadas da escola e das tarefas de casa, todos se sentem esgotados e continuam acelerando o carro.

Quando a questão em foco é DESCANSO FÍSICO, estão buscando mais e mais atividades desconsiderando em que pode resultar todo esse esforço.

E, quando alguém da sinal de que não caminhara nem um metro a mais, vem os descansos programados, mas, mais para escaparem de uma situação constrangedora do que como uma filosofia de trabalho. No momento em que se puder mexer com os dedos, as atividades voltarão com todos os atrasos do descanso.

Ou então, muitos saem para um passeio com seus companheiros de trabalho e levam, cada qual, alem das cestas de lanche, todas as discussões que ficaram pendentes na ultima reunião da equipe.

Um complemento para o descanso físico pode estar, também, na própria companhia no lazer. Às vezes os missionários passam, toda a semana, em trabalho conjunto com um circulo de companheiros. E, quando saem para descansar, saem, sempre, com aquele grupo fechado. Não que seja negativo a unidade do grupo também no lazer, mas quantas vezes uma pitada de variação não traria um resultado melhor ?

Outra consideração sobre o descanso está no que fazer. Normalmente a esposa e filhos, devido ao tempo que ficam em casa, não se sentirão descansados em programas realizados no seu local de trabalho. Por outro lado, o marido passou a semana fora de casa e, no dia de descanso, sonha em poder dormir até mais tarde, um boa espreguiçada depois do almoço fará muito bem. Para que pais e filhos possam ter, realmente, um dia de descanso, deve-se levar em conta esses fatos para que uma parte da família não fique sempre no prejuízo.

Outra fonte de descanso pode estar na própria amizade cultivada entre marido e esposa, em escapes que podem ter juntos, depois de um dia de atividade. Mesmo que não fizesse isso todos os dias, mas o fato despercebido de que juntos e a sós, poderiam conversar livres dos ouvidos e participação dos pequenos, e já se sentiriam, sem dúvida, um tanto descansados.

Alem da questão do descanso físico, entra também o fato de uma alimentação correta. A alimentação do campo missionário nem sempre é o que se pode chamar de ideal. Pode faltar vitaminas necessárias para o corpo nos alimentos mais consumidos pelo povo em geral ou o missionário se limita a uma alimentação comprometedora em razão do que recebe no campo. Alem do mencionado acima, entra o fato das doenças e o obreiro deve encará-lo com sensatez.

Quais as doenças que ha no campo missionário ?

Ha medicação no caso de contraí-las ?

O obreiro esta fazendo a prevenção correta para não contraí-la, ou a esta menosprezando ?

Em suma, o fato e a saúde física comprometida, comprometerá a presença missionária no campo.

O SEGUNDO MEDIDOR QUE DEVEMOS OBSERVAR BEM É: O MEDIDOR EMOCIONAL:


Como estamos emocionalmente ?

O desgaste físico, o cansaço, os desafios do campo, as dificuldades de adaptação, as diferenças culturais, a falta dos resultados esperados, o processo de assentamento no campo, preparação de documentos, aluguel de casa, escola para as crianças, a adaptação com os da equipe de trabalho, essas e muitas outras facetas das atividades missionárias afetarão, de uma forma ou de outra, desgastando emocionalmente o obreiro e sua família.

Pode chegar o momento em que o obreiro ficará surpreso por suas reações com fatos que, antes, eram fontes de risos de si para si mesmo. Porque sempre riem do meu sotaque ?

Porque não posso errar um termo na língua deles ? Porque tenho que comer deste prato ?

Porque estão sempre na minha casa ? Já não agüento ouvir esta língua !

Que povo mais estranho!...Que forma de negociar mais esquisita! Porque comem deste jeito ?!

E aquelas curiosidades que o missionário colocava nas cartas de oração, logo que chegara ao campo, se tornaram ocasiões para debates ferrenhos com nacionais, entre marido e esposa, colegas de equipe ou outros obreiros que trabalham no país.

O missionário não agüenta sair na rua e se isola no seu escritório de trabalho e estudo. Pede para não receber pessoas ou se afasta dos locais onde possa ser encontrado.

A esposa corre para o mercado e passa horas e horas vendo vitrines. Perguntas inocentes ganham respostas mal educadas, a altura do dialogo no lar aumenta de volume ou o silencio toma o espaço do dialogo do inicio. A obrigação toma o lugar do coração voluntário.

O medidor emocional acendeu sua luzinha há muito tempo e o obreiro , ele, ela ou eles, não a consideraram ou crêem que este estilo de ser, faz parte de toda caminhada missionária e seguem avante, ferindo e sendo feridos.

Até quando agüentarão será só uma questão de tempo

O momento virá que, emocionalmente atrofiados e com um forte sentimento de vitima, se quedarão inertes e, muitas vezes, ressentidos. A gota d'agua que fará entornar o copo serão enfermidades que surgirão do nada, sem explicação aparente e, ao mesmo tempo, com graves e assustadores sintomas.

A saúde emocional desceu água abaixo e já afeta a saúde física que ecoa novamente nas emoções em frangalhos.

Os ecos desses dois pólos comprometidos é, antes de tudo, desastroso. O missionário não vigiou nos primeiros alertas que recebeu, desconsiderou princípios, valores, prioridades, não estabeleceu uma filosofia de trabalho, ignorou horários, não deu atenção as suas resistências, partiu para uma caminhada competitiva, trocou os papeis no lar, cobrou de si o que é obra do Espírito de Deus, não teve paciência de esperar, partiu para uma marcha estafante e, agora, se sente inútil, envergonhado, desiludo com o campo e com o trabalho missionário.

Se sente incompreendido e, quase que amargurado, se vê usado e descartado. Neste clima de derrota, o dialogo no lar perde espaço, e quando vem, surge na forma de acusações ou depreciações. E a situação se agrava. Os filhos não compreendem tudo o que está se passando, os familiares tomam partido, a igreja edita desiludida e não previa esses resultados. Algumas das igrejas cortam o apoio aos missionários em questão. Abismo chama abismo. E verdade que nem sempre se chega a este nível de coisas, todavia, quantos não estão além deste estado, mas acobertados com uma capa, avançam como se tudo vai bem ?!...

A recuperação emocional envolve mais tempo que uma recuperação física e o medico não será um clinico geral ou um psicólogo não cristão. E verdade que serão exigidos vários exames médicos, mas a recuperação emocional é feita sob o acompanhamento de cristãos maduros e leva mais tempo do que gostaríamos que levasse. Mas, não precisamos esperar que nos afundemos nessa areia movediça. No momento em que percebemos o medidor mostrando que alguma coisa esta errada no nosso viver emocional diário, devemos reavaliar nossas prioridades, valores, atitudes, princípios, papeis, e tudo o mais que o Espírito nos mostrar.

POIS BEM, O TERCEIRO É O MEDIDOR ESPIRITUAL:

O que faria sua luz acender-se no painel ?

Nada tocará mais na nossa consciência que a impureza do pecado. A falta de vigilância na vida crista terminará em tropeço que resultará em sinais na consciência mostrando que nem tudo vai tão bem quanto parece. E, uma consciência sem paz é um arrastar de pés. A vida crista é, antes de tudo, uma vida de comunhão com Deus. Tê-lo e amá-lo será o que podemos pensar como o leito do rio. E o rio que corre também será obra do Espírito Santo. Pecados serão obstruções que impedirão o fluir do Espírito, e, nessa caminhada, a vida do missionário se tornará seca, sem vida e infrutífera. Qualquer resultado aparente ali, em nada melhorará ou fará que Deus se torne complacente com uma vida desajustada espiritualmente.

Outra questão que torna a vida do crente um pingue-pongue espiritual é a maneira como ele trabalha na sua lista de valores.

Jesus nos ensinara que seu reino e sua justiça deveriam ser buscados em primeiro lugar. As demais coisas, nos disse Ele, seriam acrescentadas por Ele mesmo e em seguida. Logo, nossa preocupação real deve ser se seu reino fora ou não, com todos seus valores, implantados no nosso coração. E o seu reino, nos assegura o Mestre, não é isso ou aquilo, mas gozo, paz e alegria no Espírito Santo. Gozo, paz e alegria no Espírito. Eis uma vida saudável espiritualmente.

Nossa vida crista tem sido uma fonte de gozo ou caminhamos ressentidos com Deus, com a igreja e com os que nos cercam ?

A paz de Deus que excede todo o entendimento tem sido nossa passarela segura ou estamos tentando atravessar a rodovia temerosos e inseguros porque, na passarela, o Pai nos veria com facilidade? Por fim, a alegria do Senhor tem sido nossa força ou estamos correndo atrás de paliativos ou de mascaras que escondem um estado crítico de tristeza? O reino de Deus não é para ser apenas estabelecido em nosso coração. E, também, para ser vivido dia a dia. Outra consideração sobre nossa saúde espiritual está em como encaramos o valor da oração e da Palavra de Deus em nossa vida. Através da oração falamos com nosso Pai Celeste e ele nos reponde.

O corpo de Cristo, a igreja, deve saber das nossas necessidades a fim de nos acompanharem em oração. Mas, quem agirá na nossa vida será o Senhor. Logo, mais do que todos, Ele deve estar a par de nossas necessidades, temores, lutas, carências, tropeços e outros sentimentos que nos assaltam no dia a dia.

Não que Ele já não saiba antes mesmo de orarmos. Não está a palavra na nossa língua, e Ele já a conhece.

Mas, o fato é que Ele estabeleceu princípios de relacionamento no qual ele espera que lhe contemos pessoalmente.

Outra fonte de saúde é a Palavra de Deus. Jesus deixou claro a importância da Palavra na nossa frutificação.

Ela nos limpa, nos lava, nos direciona, nos cura. O Espírito de Deus atua através da Palavra de Deus. Qual é o contato que temos com a Palavra do nosso Pai e qual é a atitude que temos ao lê-la? Seria sensato perguntar até que ponto amamos a sua lei, e se ela é nossa meditação todo o dia. Em suma, se queremos ter vida saudável espiritualmente, convém questionar qual tem sido nossa atitude para com a comunhão com Deus, para com sua Palavra, oração, nossa atitude para com os valores do reino, para com o pecado e uma vida de santidade.

Considerar os medidores Físico, Emocional e Espiritual, não é uma opção na caminhada missionária. E, sobretudo, um dever. Ignorá-los não será uma falta pequena, poderá devolver o missionário de volta a sua pátria em tristeza incontida ou em contumaz revolta. E, considerar o que os medidores dizem não é tarefa para especialistas.

Qualquer um sabe quando o cansaço bate a porta.

Todos sabem se o sono está sendo o bastante para a caminhada. Qualquer um percebe quando as emoções se descontrolaram e o tratamento para com os filhos, esposa, amigos de equipe e, sobretudo, para com povo alvo, se tornou de amigável para espinhoso. Ninguém é tão surdo que não possa ouvir a voz do Espírito Santo que avisa que tal e tal área da vida precisa de uma entrega total e definitiva. Mas, estaríamos todos abertos para dirigir nosso carro, considerando os medidores de temperatura, óleo, velocidade, e tudo o que for necessário? Ou queremos sentir o vento da velocidade batendo no nosso rosto e a alegria de termos, pelo nosso pé no acelerador e nossa mão ao volante, avançado alguns quilômetros na estrada da vida ?!

Se o carro fosse nosso e nós, os únicos no veiculo, todo o prejuízo resultante de qualquer insensatez seria unicamente nosso.

E verdade que nem isso justificaria nossas ações, mas de uma forma já limitaria os resultados do acidente.

Contudo, na caminhada missionária não estamos sozinhos. A igreja de Cristo segue conosco, há uma equipe que segue junto. Nossa família, esposa ou esposo, e filhos, estão conosco no campo. Enfim, é um sem numero de pessoas ligadas a nós.

Os próprios não cristãos estão de olho em nosso desempenho. Se ele parte para boas obras, Jesus disse que eles glorificariam ao Pai do céu. Se nosso desempenho parte para uma caminhada insensata, é certo que virá o escândalo. Que o Senhor nos ajude.

Baseado numa palestra do Pr.Eduardo Dudek a nossa equipe no Senegal.
Moises Suriba. Equipe da Missão Betania.

Fonte: http://www.missaoavante.org.br

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