domingo, 5 de outubro de 2008

Sobre Missões Urbanas


A cidade Urbana X A igreja Urbana

Rubens Muzio

Introdução

Cada vez mais precisamos admitir que existe uma estreita relação entre o contexto urbano e as igrejas urbanas. Eu gostaria de destacar neste texto que nós, cristãos precisamos reconhecer as fortes e dramáticas relações que existem entre o contexto urbano onde estamos e as igrejas que pastoreamos na cidade. Minha impressão, porém, é que a maioria das igrejas enfatiza muito mais seus sonhos pessoais e projetos ministeriais do que seu contexto urbano. As igrejas em geral, investem seus recursos e melhores líderes na resolução de seus próprios problemas, ensimesmadas em seus prédios e instituições, dando pouquíssima atenção ao contexto social e cultural onde se encontram inseridas. É necessário que pesquisemos melhor os temas ligados ao urbanismo do Brasil (macro) e das cidades brasileiras (micro) especialmente com a explosão urbana. A igreja brasileira necessita de uma hermenêutica de vida mais bíblica e urbana!

Em sua relação com as cidades e a urbanização, em conversa com muios pastores e observando muitas igrejas tenho percebido alguns conceitos errôneos por trás do discurso dos pastores e prática das igrejas brasileiras:

O primeiro conceito errôneo que igrejas e pastores demonstram com relação à cidade onde moram, sem dúvida, é a afirmação de que a cidade, em si mesma, define-se como má e pecadora. Como não podemos escapar dela, devemos agüentá-la e suportá-la, sempre buscando nos isolar de sua maldade e escaparmos de sua contaminação moral.

Bem, precisamos notar que nem todos os problemas urbanos presentes são produzidos pelas cidades. A cidade é a arena para onde se transferem os grandes confrontos da sociedade. A cidade brasileira reflete as contradições e crises de origem local, estadual, regional, nacional e internacional. Não se trata simplesmente de crise da cidade, mas crise na cidade. Como compostos químicos, problemas, medos e hostilidades são atraídos à cidade e se misturam gerando novos conflitos e combinações mais venenosas ainda. Um amigo meu de Londrina José Barrera, professor da UEL por muitos anos, aplica este conceito da seguinte maneira:

A cidade acaba por ser o lugar das hostilidades dissimuladas e ostensivas, das violências abertas, das desordens de todo tipo, das inseguranças e dos medos. Há medos urbanos de toda natureza: objetivos e subjetivos; individuais e coletivos; passageiros e duradouros; fundados e infundados. Esses medos habitam o cotidiano dos “cidadãos” numa espécie de drama criando novos medos. O grande dilema: há um medo maior das vítimas da pobreza (os pobres e os miseráveis) que das suas causas.

Neste contexto, a igreja deve enxergar a cidade como objeto do amor de Deus e enxergar a si mesma como sinal e instrumento de redenção, paz (shalom), esperança e justiça para a cidade. Romanos 8:18-22 fala sobre a criação estar frustrada, gemendo com as dores de parto, esperando a manifestação da glória dos filhos de Deus. Muitos crêem que esta manifestação apenas refere-se à volta do filho de Deus. Mas da mesma forma que o Reino de Deus já chegou e está presente em nós, cada cristão tem a responsabilidade de manifestar o Reino aquí-e-agora e cada igreja tem o papel de ser instrumento do Reino na cidade. Somos cooperadores e co-criadores do Reino de Deus em nosso emprego, comunidade local, bairro, cidade, país, até os confins da terra!

O segundo conceito errôneo que os pastores demonstram com relação à cidade onde moram é aquele que afirma que a igreja é impotente e está derrotada diante da magnitude dos problemas que confrontam a sociedade brasileira. Não se pode fazer absolutamente nada diante dos problemas sociais da cidade e ninguém dispõe dos recursos necessários para isso. Sendo assim, em sua maioria, embaraçosa e vergonhosamente, as comunidades cristãs es esqueceram de falar e enfrentar os problemas nacionais e internacionais.

Em resposta a isso é importante lembrarmos que Deus mesmo está urbanizando o mundo. Não é necessário provar isso numericamente. Em todos os cantos do planeta, em todos os continentes, isso está acontecendo sob o domínio do nosso Deus soberano. Quer aceitemos ou não, a cidade urbana é uma marca destaque do século XXI. Este século será o século das cidades. Este mundo será um mundo das cidades. Mais de 80% da população brasileira já vive nas cidades. Esta explosão urbana é uma realidade presente e parece que marcará o futuro imediato do mundo de forma determinante. O mesmo Deus que preparou e formou a sua igreja para evangelismo urbano em contextos de exílio e diáspora em cidades do Oriente Médio é o mesmo Deus que está formando imensas cidades urbanas, policulturais e cosmopolitanas e inserindo sua igreja nelas. Sua relação com a cidade é de unidade. A igreja se faz una com a cidade, a igreja está em mix com a cidade. A paz da cidade é sua paz. A justiça da cidade é sua justiça.

A igreja é chamada a preservar, transformar e criar novas possibilidades para a cidade, numa autêntica missão diaconal. Esta ação diaconal tem também a ver com a reconciliação a nível social. Nas palavras de Costa, a ação sócio-diaconal busca participar da vida, conflitos, temores e esperanças da sociedade de tal maneira que estas expressões concretas do amor de Deus contribuam eficazmente para o alívio da dor humana e ao “quebrantamento das condicões sociais que mantem as pessoas na pobreza, impotência e opressão."

O terceiro conceito errôneo que igrejas e pastores demonstram com relação à cidade onde moram é a tendência ao isolamento e ausência de cooperação e unidade com outros grupos evangélicos. Com o crescente medo de perder membros neste competitivo mercado evangélico, muitos têm se fechado e levantado as cercas para “protegerem” suas ovelhas. Lá no fundo do coração, a impressão que tenho é que cremos que, para manter nossa identidade e pureza, devemos nos manter isolados dos outros grupos evangélicos. Sinto que utilizar-se do discurso da unidade entre os pastores é como falar de dieta para quem está obeso. O indivíduo sabe que precisa emagrecer mas ninguém venha com o dedo em riste, apontando para os seus quilos a mais. Sabemos que a unidade é importante e quão bom e agradável é viverem unidos os irmãos. Sabemos que precisamos de companheiros, amigos e não podemos caminhar sozinhos no ministério, correndo diversos riscos desde o esgotamento até queda.

As complexidades sociais, políticas, econômicas, raciais, geográficas presentes em uma nação sempre irão exigir um trabalho abrangente da Igreja como um todo. Para cumprirmos a Grande Comissão, é necessário o desenvolvimento orgânico do corpo de Cristo com todas as suas cores e bandeiras, com todos os seus dons e habilidades. Nenhuma igreja ou pastor, por mais poderosa ou influente que seja, será capaz de alcançar todos os brasileiros e influenciar todo o Brasil.

O fator unificador da igreja brasileira é sua missão integral na cidade. A igreja não atua com responsabilidade amorosa pela cidade quando revela a intenção de retirar-se, construindo seus próprios reinados ou se beneficiar-se dela, aproveitando-se de seus necessitados e sofredores para crescer numericamente.

Em cooperação e parceria, a igreja deve ser impulsionada com o desejo de sacrificar-se por ela. Com toda sua diversidade e multiplicidade de doutrinas, estilos e ministérios a igreja deve doar-se à cidade como sinal da paz de Deus em todos os níveis: indivíduos, famílias, comunidades, bairros, organizações, enfim, em todas as esferas sociais e culturais. Sua motivação é o amor de Cristo e não o sucesso ministerial. Sua ação é o serviço e não o gerencimento empresarial. Sua metolodogia é a encarnação é não meramente marketing e tecnologia.

O quarto conceito errôneo que igrejas e pastores demonstram com relação à cidade onde moram é a visão de sua vocação e ministério como sendo estritamente espiritual. Qualquer esforço dirigido a solucionar os problemas sociais poderia impedir o ministério de evangelização e crescimento numérico da igreja. A cidade é vista como um aglomerado humano a ser evangelizado. A ênfase está na conversão individual, na busca do crescimento numérico através de novas técnicas e métodos e no estabelecimento de novas igrejas da denominação.

A missao de Deus não é apenas espiritual mas tem caráter integral, abarca a totalidade de todas as experiências do ser humano, em seu contexto e história. A finalidade da missão de Deus é a reconciliação de todas as pessoas e a regeneração de toda a criação. Deus é criador e criou o ser humano à sua semelhança (Gn. 1.29). Não no mesmo nível de Deus, obviamente, mas somos co-criadores com Ele. Deus capacitou homens e mulheres com o dom da criação. Deus espera que utilizemos este dom de maneira responsável em nosso esforço de melhorar este mundo imperfeito agredido e ferido pelo pecado. Quando nos doamos pela cidade, procurando transformar as suas situações imperfeitas, ministrando às suas feridas sociais e restaurando as suas dores culturais. Quando promovemos a reconciliação e a paz – desde o indivíduo e suas necessidades pessoas, até a família e as cidades a nível social e cultural em direção a todo a criação no qual vive a humanidade - estamos exercendo e manifestando este dom, num verdadeiro processo de co-criação com o Deus do Universo e podemos orar dizendo: Pai Nosso, venha o Teu Reino, seja feita a Tua vontade assim na terra como é feita nos céus.

Concluindo, nosso ponto de referência para começarmos a entender a pesquisa na cidade urbana é teológico e não sociológico. A pergunta que precisa ser feita tem a ver com a relação entre a urbanização presente nos textos bíblicos e a urbanização das cidades brasileiras. As mais de 1200 referências à cidades na Bíblia são apenas um ponto de lançamento para a descoberta da agenda de Deus para a urbanização do mundo. Precisamos, portanto, estudar a Palabra de Deus a partir de sua perspectiva da realidade urbana, enfocando os tópicos da igreja e sua missão na cidade. Eu creio que a cidade é um aglomerado humano que necessita desesperadamente ser pastoreada por nós, cristãos. A missão de Deus na cidade implica na presença de igrejas saudáveis e pastores cheios de vitalidade espiritual que renovem e dinamizem a comunidade local e, desta forma, influenciem positivamente o Brasil.

E-mail para contato: rubens@sepal.org.br

FONTE: www.sepal.org.br

2 comentários:

Cal disse...

A paz irmão!

Fiquei feliz com o seu comentário.
e gostei dos seus blogs sobre Missões, e realmente a igreja está precisando de pessoas pra despertarem outros membros pra missões.
Hoje em dia é difícil você passar pros irmãos o quão escêncial e importante é o que devemos fazer.

Te coloquei nos meus links também!
abraços,
fique na paz!

Anônimo disse...

a PAZ queridos irmão em CRITO, Bom Dia!!

Somos um ministerio de Missoes chamado G.E.U.J – Grupo Evangelistico Ungidos de Jesus…
Temos um DESAFIO de ir aonde a IGREJA não vai, como: PARADA DO ORGULHO GAY, VIDARA CULTURAL, CRACOLANDIA, REVITALIZAR IGREJAS e muito mais para o LOUVOR de JESUS.

Este ano nos Unificaremos com a JOCUM – Jovens Com Uma Missao.
Tudo isso para Melhor Servir o REI JESUS, esta programação da virada cultural será dia
22 de maio, na GRANDE SP…faremos Missoes a madrugada inteira das 23:00 até 5:00 será BENÇÃO para Gloria, Louvor e Magestade de JESUS.

Convito os Irmão a serem benção conosco, e SOMAREM no REINO de DEUS…Anunciando a VINDA do FILHO do HOMEM, e a PROCLAMA SALVAÇÃO.

Peço uma Posição dos IRMÃO, de CONTATO…dizendo se poderam somar conoco!!

se os irmão quiserem SOMAR conosco, LIGUE: 011 6512 7890 ou 011 6503 7814
Ou mande E-MAIL: geuj.missoes@hotmail.com

AGUARDAMOS O CONTATO ORANDO….A PAZ DE JESUS.

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